terça-feira, 12 de janeiro de 2016

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Os vícios pelos quais crucificam meu Filho, em um sentido espiritual, são mais abomináveis e mais sérios para Ele que os vícios de quem o crucificou no corpo. Mas você pode perguntar ‘Como o crucificam?’ Bem, primeiro o colocam sobre a cruz que prepararam para Ele, isto é, quando não têm em conta os preceitos de seu Criador e Senhor. Depois o desonram quando Ele os adverte através de seus servos, desprezando as advertências e fazem o que lhes apetece.

Crucificam sua mão direita confundindo justiça e injustiça ao dizer: ‘O pecado não é tão grave nem odioso para Deus como se diz, nem Deus castiga ninguém para sempre, mas suas ameaças são para assustar-nos'. Crucificam sua mão esquerda convertendo a virtude em vício. Querem continuar pecando até o fim, dizendo: ‘Se, ao final, uma única vez dissermos: "Deus tem misericórdia de mim”, a misericórdia de Deus é tão grande, que Ele nos perdoará’. O querer pecar sem emendar-se, querer a recompensa sem lutar por ela, não é virtude, a menos que haja algo de contrição em seu coração, ou ao menos que a pessoa deseja realmente emendar seu caminho, sempre que não o impeça uma enfermidade ou qualquer outra condição.'
(Palavras de Nossa Senhora a Santa Brígida da Suécia)

domingo, 10 de janeiro de 2016

O BATISMO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Batismo do Senhor


No Evangelho do Batismo do Senhor, encerra-se na liturgia o tempo do Natal. João Batista, nas águas do Jordão, realizava um batismo de penitência, de ação meramente simbólica, pois não imprimia ao batizado o caráter sobrenatural e a graça santificante imposta pelo Batismo Sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo: 'Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo' (Lc 3, 16).

O Batismo de Jesus constitui, ao contrário, um ato litúrgico por excelência, pois o Senhor se manifesta publicamente em sua missão salvífica. Chega ao fim o tempo dos Profetas: o Messias tão anunciado torna-se realidade diante o Precursor nas águas do Jordão. E o batismo de Jesus é um ato de extrema humildade e de misericórdia de Deus: assumindo plenamente a condição humana, Jesus quis ser batizado por João não para se purificar pois o Cordeiro sem mácula alguma não necessitava do batismo, mas para purificar a humanidade pecadora sob a herança dos pecados de Adão. Ao santificar as águas do Jordão e nelas submergir os nossos pecados, Jesus santificou todas as águas do Batismo Sacramental de todos os homens assim batizados.

Ao receber o batismo de João, Jesus rezava: 'E, enquanto rezava...' (Lc 3, 21). E, enquanto Jesus rezava, 'o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus...' (Lc 3, 21-22). O Espírito Santo manifesta-se diante da oração proferida na intimidade com o Pai, sem anelos de vanglória e clamor. Oração humilde, profunda, de absoluta confiança e louvor ao Pai, que induz a primeira manifestação da Santíssima Trindade, ratificada pela pomba e pela voz que vem do Céu: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer' (Lc 3, 22). No batismo do Jordão, manifesta-se em plenitude a divindade de Cristo. 

Eis a síntese da nossa fé cristã, legado de Deus a toda a humanidade, sem distinção de pessoas: 'ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença' (At 10, 35). No Jordão, o céu se abriu para o Espírito Santo descer sobre a terra. No Jordão, igualmente, manifestou-se por inteiro o perdão e a misericórdia de Deus e a graça da salvação humana por meio do batismo. E, com o batismo de Jesus, tem início a vida pública do Messias preanunciado por gerações. Esta liturgia marca, portanto, o início do Tempo Comum, período em que a Igreja acompanha, a cada domingo e a cada semana, as pregações, ensinamentos e milagres de Jesus sobre a terra, o tempo em que o próprio amor de Deus habitou em nós. 

sábado, 9 de janeiro de 2016

A LITURGIA DA SANTA MISSA (II)

2. A ESTRUTURA DA MISSA

O ritual da missa como conhecemos atualmente, em linhas gerais, já estava praticamente estabelecido no ano 150 da nossa era, compartimentada na Liturgia da Palavra* (leitura dos evangelhos e discurso ou sermão) e na Liturgia Eucarística, com a distribuição das espécies consagradas. A sua proposição completa, porém, demandaria ainda mais quatros séculos e meio, somente sendo concluída nos tempos do Papa Gregório Magno, falecido no ano 604.

* designada originalmente como 'missa dos catecúmenos' porque, nos primeiros tempos da Igreja, os potenciais conversos mas ainda não batizados (catecúmenos) só podiam assistir a esta parte da missa primitiva, não tendo acesso à parte principal em seguida, a chamada 'missa dos fieis' ou Liturgia Eucarística.

Neste período, foram acrescentados os chamados Ritos Iniciais, compreendendo o Introito ou Canto de Entrada, o Kyrie, o Glória e a Oração (Coleta), como etapa de abertura da Santa Missa. A procissão do Introito (caminhada do celebrante e dos auxiliares da sacristia - situada então próxima à porta da igreja - até o altar) constituía junto com as procissões do evangelho, do ofertório e da comunhão, as quatro procissões inseridas no ritual da Santa Missa desde tempos remotos. Os Ritos Finais compreendem os elementos de encerramento formal da celebração.

Todas as orações e cerimônias inseridas na celebração da Santa Missa estão contidas e detalhadas num livro chamado Missal Romano. É chamado Missal Romano porque descreve o rito eucarístico chamado rito latino, segundo a Igreja Romana e seguido por nós, distinto dos ritos adotados pela Igreja católica dos ritos orientais (ambrosiano,  melquita,  maronita, etc), e que nos foi legado por grandes santos da Igreja como Metódio, Patrício, Agostinho e Cirilo. No Missal latino, os textos das leituras são impressos em preto e as respectivas instruções em vermelho, chamadas rubricas (do latim ruber, que significa 'vermelho').

Com o Missal, temos não apenas uma referência para a celebração da Santa Missa, mas a instrução normativa da Santa Igreja para a sua efetiva e completa celebração, como instrumento de unidade e no rigor litúrgico exigido pela Santa Igreja. Por meio dele, é estabelecida a adequada ordenação do rito litúrgico da Missa, bem como sistematizadas as regras e os procedimentos para cada etapa ou parte de sua inteira celebração. Embora sejam previstas certas adaptações (cantos, leituras, etc), o próprio texto do missal ressalta enfaticamente que o sacerdote é 'servidor da sagrada liturgia' e, nesta condição, não pode, por conta própria, 'acrescentar, tirar ou mesmo mudar qualquer coisa na celebração da Missa' (Missal Romano, Capítulo I, 24).

A Missa vai começar. Dignidade, devoção e silêncio, ó cristão, porque vai começar o milagre, o grande milagre, o maior milagre que alguém pode conceber nesta terra: 'Existe uma hierarquia de valores. Só a missa é um milagre de primeira ordem, de primeira classe. É o único milagre. Nem a ressurreição de Lázaro, nem outros milagres podem lhe comparar. São milagres de segunda classe as conversões: a conversão de São Paulo ou a de Santo Agostinho ... Tais milagres não são nada, se comparados aos da missa. Apressamo-nos a ver os pequenos milagres, mas não nos ocupamos do único que há: a missa' ('A Missa não é apenas a Comunhão', do Pe. Mateo Crawley-Boevey).


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

DO ABANDONO À DIVINA PROVIDÊNCIA (II)

Se a obra da nossa santificação nos oferece dificuldades tão insuperáveis na aparência, é porque não temos dela uma ideia exata. De fato, a santidade reduz-se toda a uma só coisa, — a fideli­dade à vontade de Deus. Ora esta fide­lidade está ao alcance de todos, tanto na sua prática ativa como no seu exer­cício passivo. A prática ativa da fidelidade con­siste no cumprimento das obrigações que nos são impostas, quer pelas leis ge­rais de Deus e da Igreja, quer pelo es­tado particular que abraçamos. E o exercício passivo consiste na aceitação amorosa de tudo o que Deus nos envia a cada instante.

Destas duas partes da santidade, qual é a que está acima das nossas forças? Não é a fidelidade ativa, pois as obri­gações que ela nos impõe cessam de ser obrigações desde que o seu cumprimento excede realmente as nossas forças. O es­tado de saúde em que vos encontrais não vos permite ir assistir a missa? Não estais obrigados a ouvi-la. E o mesmo se diga de todas as obrigações positivas, isto é daquelas que nos prescrevem o cumprimento de algum ato. Só as que nos proíbem de fazer coisas que são más em si mesmas, é que não sofrem exceção alguma, pois nunca é permitido fazer o mal.

Haverá, portanto coisa mais fácil, e mais razoável? Que desculpa é que poderemos alegar? Ora, é precisamente isso o que Deus exige da alma, no trabalho da sua santificação. Exige-o aos grandes e aos pequenos, aos fortes e aos fracos, numa palavra, a todos, em todo o tempo e em todo o lugar. Por conse­guinte, é muito verdade que não exige da nossa parte senão o que é possível e fácil; pois basta possuir este fundo tão simples, para chegar a uma santidade muito elevada.

Se para além dos mandamentos nos aponta os conselhos, como alvo mais perfeito para o qual havemos de tender, tem contudo o cuidado de acomodar a prática desses conselhos a nossa situa­ção e ao nosso caráter. Como sinal principal da nossa vocação para os seguir, dá-nos os auxílios da graça que nos facilitam a sua prática. Nem chama a ninguém senão na medida das suas forças e no sentido das suas aptidões. Mais uma vez ainda: poderia imagi­nar-se alguma coisa mais razoável?

Ó vós todos que tendeis à perfeição e vos sentis tentados ao desânimo à vista do que ledes nas vidas dos santos e do que certos livros de piedade vos prescrevem; ó almas que vos afligis a vós mesmas com as ideias terríveis que ten­des da perfeição; é para vossa consola­ção que Deus quer que eu escreva estas palavras. Aprendei pois o que pareceis ignorar. Este Deus de bondade tornou fáceis de adquirir todas as coisas necessárias e comuns na ordem natural, como o ar, a água e a terra. Nada mais necessário do que a respiração, o sono e o alimento; mas também nada mais fácil. O amor e a fidelidade não são menos necessários na ordem sobrenatural; por isso a dificuldade em os alcançar não deve ser tão grande como no-la repre­sentamos.

Reparai na nossa vida de que é que se compõe? De uma série de ações de bem pouca monta. Ora destas coisas de tão mesquinha importância é que Deus se digna contentar-Se. Essa é a parte que toca à alma no trabalho da perfeição. E para que não pudéssemos ter disso dúvida, quis isto explicar-nos bem claramente: 'Temei a Deus e observai os seus mandamentos; isso é convosco'. Quer dizer: eis tudo o que o homem deve fazer pela sua parte, eis em que consiste a sua fidelidade ativa. Cum­pra o homem o que lhe toca, e Deus fará o resto. A graça divina reserva para si mesma a realização de maravilhas: que ultrapassam toda a inteligência do homem. Porque nem os ouvidos ouviram, nem os olhos viram, nem o coração sentiu o que Deus concebe na Sua ideia, resolve na Sua vontade e executa pelo Seu poder, nas almas que a Ele Se aban­donam.

A parte passiva da santidade é ainda muito mais fácil, pois não consiste se­não em aceitar o que na grande maioria dos casos não se pode evitar; e em sofrer com amor, isto é com suavidade e consolação, o que tantas vezes se suporta com aborrecimento e desgosto. Mais uma vez ainda: eis a santidade toda inteira. Eis o grão de mostarda, cujos frutos não recolhemos porque não sabemos reconhecê-lo pela sua insignifi­cância. Eis a dracma do Evangelho, o tesouro que não encontramos porque o su­pomos muito afastado para o ir buscar.

Nem me pergunteis qual é o segredo, de encontrar este tesouro. Porque ver­dadeiramente não há segredo. Este tesouro está em toda a parte, e a todos se oferece em todo o lugar e em todo o tempo. As criaturas amigas e inimigas dão-no-lo a mãos cheias e fazem-no cor­rer pelas faculdades do nosso corpo e alma, até ao mais fundo do nosso coração. Basta abrir a boca, e ficará re­pleta. A ação divina inunda o universo, penetra todas as criaturas, sobrenada acima de todas, está em toda a parte onde elas estão; adianta-se a elas, acom­panha-as, segue-as; não temos senão que deixar-nos levar pelas suas ondas.

Prouvera a Deus que os reis e seus ministros, os príncipes da Igreja e do mundo, os sacerdotes, os soldados, os patrões e os operários, numa palavra todos os homens, conhecessem quanto é fácil atingir uma santidade eminente. Para eles não se trata senão de cumprir os simples deveres do cristianismo e do seu estado, e abraçar com submissão as cruzes que lhes estão inerentes, e submeter-se com fé de amor à vontade da Providência, em tudo o que se lhes apresenta para fazer ou sofrer, sem mesmo o buscarem. Esta espiritualidade foi a que santificou os profetas, muito antes de que houvesse tantas regras e tantos mestres. É a espiritualidade de todas as idades e de todos os estados, que certamente não podem ser santificados de maneira mais elevada, mais extraordinária e mais ao nosso alcance, do que realizando simplesmente o que Deus, soberano diretor das almas, lhes dá em cada momento a fazer ou sofrer.

(Excertos da obra 'O Abandono à Divina Providência', de P.J.P de Caussade)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A ADORAÇÃO DOS TRÊS REIS MAGOS


No Evangelho de Mateus (Mt 2, 1ss), encontra-se a narrativa geral da adoração ao menino-deus pelos três reis magos do Oriente. Melquior, o mais velho, ofereceu ouro como presente a Jesus, símbolo de realeza; Gaspar, o mais moço, ofereceu incenso, símbolo da divindade de Cristo, enquanto Baltasar, o mouro, ofertou mirra, em adoração à humanidade de Jesus. A mirra, como símbolo de sofrimento, torna-se uma pré-anunciação e uma profecia das dores da Paixão do Senhor.



Mas, além da narrativa tão sobejamente conhecida, é importante ressaltar que o ato de adoração dos reis magos diante o Menino-Deus foi um ato de prostração de joelhos. Três reis, de origens incertas e longínquas, símbolos e representantes dos reis de toda a terra e da soberania sobre todas as nações (Sl 71, 11), dotados de poderes humanos e munidos de graças sobrenaturais, prostraram-se diante de Jesus Menino e O adoraram. De joelhos, de joelhos no chão.

Um antigo Pai da Igreja dizia que o diabo não tem joelhos e, em sendo assim, não pode ajoelhar-se, não pode prostrar-se, não pode adorar. A essência do mal é a não adoração, é a não prostração de joelhos. Que a Festa da Epifania do Senhor nos lembre deste grande exemplo dos reis magos: prostrar-nos de joelhos diante o Menino-Deus; dar-nos conta que temos joelhos e somos Filhos da Luz e, assim, inclinados e reclinados diante de Deus, possamos ser testemunhas e ofertas puras de sua santa redenção.