quinta-feira, 5 de novembro de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (VII)

Monsenhor Louvet, na sua obra 'Le purgatoire d’ápres les revélations des Saints', narra um fato prodigioso da proteção das almas aos que a elas socor­rem com sufrágios.

Um padre italiano, Luiz Monaci, religioso dos Clérigos Menores, era um fervoroso devoto das al­mas. Em toda parte e em todas as ocasiões procura­va meios de ajudar as benditas almas sofredoras. Em uma noite teve de viajar e atravessar sozinho uma planície deserta e perigosa, porque infestada de bandidos e salteadores, os quais já haviam tirado a vida a muita gente para roubar. 

Pelo caminho, o bom pa­dre não perdia tempo: ia recitando piedosamente o rosário de Maria pelas almas do purgatório. Ao avis­tar de longe o pobre sacerdote sozinho e desprovido de armas, um grupo de bandidos preparou-se para o assaltar e puseram-se de emboscada. Qual não foi o espanto de todos quando ouviram o soar de trombetas e um grupo de soldados que marchava armado aos lados do padre. Aterrorizados, esconderam-se os bandidos; pensando que os soldados tinham vindo para prendê-los. 

Viam, entretanto o padre muito tranquilo a caminhar, recitando o rosário. Saindo dessa região, o padre entrou em uma hospedaria para cear. Enquanto ceava, dois dos bandidos se aproximaram dele e perguntaram curiosos: 'Que padre é este que anda acompanha­do pelas estradas de soldados que o protegem?' — 'Aqui não chegou soldado algum e este padre aqui nunca andou assim em viagem'.

Os bandidos, furiosos, procuraram entrar em pa­lestra com o sacerdote e perguntaram-lhe do bata­lhão que o escoltava — 'Meus filhos, eu ando sozinho pelos caminhos. Só tenho um companheiro, o meu rosário, que recito sempre pelas santas almas do purgatório para que elas me protejam. — 'Pois bem, meu padr'e, confessa um bandido, 'estas almas vos salvaram. Somos bandidos e estávamos na estrada prontos para vos despojar e matar. E só não o fizemos porque um batalhão vos seguia pela estrada, e, aterrorizados, fugimos e viemos aqui curiosos saber do que se tratava. Cremos que as almas das quais sois tão devoto vos salvaram da morte. Tocados pela graça, ali mesmo os bandidos de joelhos pediram perdão dos pecados e confessaram-se humildemente.

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Um príncipe polonês, incrédulo e muito conhe­cido pelo seu materialismo, havia escrito um livro contra a imortalidade da alma. Estava já pronto o livro e prestes a entrar no prelo, quando ao passear pelo jardim veio-lhe ao encontro uma pobre mulher e banhada em lágrimas lançou-se aos seus pés, dizen­do: 'Meu caro senhor, meu marido morreu. A sua alma deve estar no purgatório e há de sofrer muito. Eu sou muito pobre, não tenho dinheiro para a es­pórtula de uma Missa por sua alma. Tenha a carida­de de me dar uma esmola para mandar celebrar uma Santa Missa pela alma de meu marido'.

O incrédulo príncipe teve pena da pobre mulher, e embora não acreditasse na imortalidade da alma e combatesse toda crença, levou a mão ao bolso e en­controu uma moeda de ouro. Deu-a logo à mulher. A pobrezinha, radiante de alegria, foi logo à primeira igreja e encomendou diversas missas pela alma do sau­doso esposo. 

Cinco dias depois, o príncipe relia os manuscritos do seu livro já em vésperas de ser pu­blicado — o terrível livro contra a imortalidade da alma. De repente, levantando a cabeça, deu com os olhos num homem misterioso que lhe parou em frente à mesa de trabalho do escritório. Era um camponês. 'Príncipe', disse o desconhecido, 'venho agra­decer-lhe. Sou o marido daquela pobre senhora que há poucos dias pediu a Vossa Alteza uma esmola para mandar celebrar missas pela alma do esposo falecido, pela minha alma. A caridade de Vossa Alteza foi tão bem aceita de Deus, que me foi permitido vir até vós para agra­decer tão grande benefício'.

Diante disto o príncipe, comovido, logo se converteu, rasgou os originais do livro ímpio que havia escrito, lançando-o ao fogo e tornou-se um bom cristão até a morte.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XIII)

Emídio Esquivel cerrou os olhos cansados. Muito, muitíssimo cansados. Embora a claridade do dia ensolarado entrasse aos borbotões pelas altas janelas e o envolvessem em um manto de fúria luminosa, suas retinas planavam em penumbras cada vez mais volumosas. O ar vinha e voltava sem quietude nos pulmões em brasa, num arremedo do eco vital; suas narinas abriam desesperadas buscando o vazio e o peito arfava em compressões e expansões cada vez menos regulares e cada vez mais espasmódicas. A morte se esgueirava pelos cantos do espaçoso quarto de hospital e tateava, pelo chão impecavelmente branco, em busca da posição agônica da última espreita. Emídio estava morrendo.

Os olhos fechados apagaram a penumbra e os sentidos entorpecidos pelos medicamentos contra a dor. Em algum abismo indefinível do seu corpo, a própria dor se aquietara e parecia à espera. Somente o peito inflava e zunia o ar que fugia celeremente pelo respirar ofegante. Estava só, irremediavelmente só, para cruzar a fronteira definitiva, o último abismo. Teve medo. Um medo peculiar, uma noção clara de que nervos, membros e pensamentos não sustentavam por completo a compleição do ser. Que podia haver algo mais, algo além da epiderme vegetativa, da degeneração contínua dos anseios e gemidos, da falência inevitável dos sentidos e dos sonhos prematuros.

Viu silenciosamente como num filme o desenrolar de toda uma vida, encenada em detalhes e esmero absoluto, tão nitidamente como se o tempo dos anos vividos fosse apenas o momento do agora. Projetou-se em milhares de imagens translúcidas que invadiam corpos, mentes, pensamentos, gestos e sentimentos e, de todos eles, renasceu com a dimensão da eternidade. Compreendeu o seu eu e o seu eu em tudo e em todos, mirante de toda a verdade. Desvestiu-se do homem que é pó e assumiu-se criatura infante de Deus.

O filme começou, então, a rodar celeremente ao contrário e em saltos mirabolantes. As imagens passavam trêmulas e esmaecidas, em meio ao vozerio de ruas e sons estridentes vindos de todos os lados e de todas as direções. Ora distorcidas, ora congeladas, mais e mais imagens confluíam como um fluxo de visões irreais à sua volta, arrastando-o em vertigem espantosa e convergindo para um enorme e colossal abismo negro. Algo estava agora errado, muito errado. À silente e caudalosa trilha de luz que seguira até há pouco convertera-se num emaranhado de vórtices e de redemoinhos espantosos, que o submergia num oceano de trevas indescritíveis. 

'A luz, quero a luz!' O grito lhe pareceu vir de abismos ainda mais inimagináveis do seu ser, e teve a convicção clara do que seria a sua alma. 'A luz, quero a luz!' A sua voz lhe pareceu demasiado nítida  e teve a suspeição de estar sendo ouvido com perfeição claríssima. Tentou abrir os olhos, captar a luz ensolarada da manhã singular. Apenas despertou a dor aquietada em abismos insondáveis que tomou de impulso todo o seu ser, consumido agora em agonia pura. Os pulmões ardiam como brasas e o ar calcinava a sua língua. 'A luz, quero a luz!' O último espasmo consumiu sua derradeira entrega. O quarto inteiro mergulhou, então, em trevas e a luz se difundiu por completo nos abismos da alma diante de Deus.

('Histórias que Ouvi Contar' são crônicas do autor deste blog)

DA VIDA ESPIRITUAL (86)



Pai, que eu aprenda, mais do que ser ou ter, a me doar e compartilhar com todos os dons que possuo e que não são meus. E que eu tenha a humildade de buscar nos vossos filhos os dons que, sendo meus, eu ainda não possua...

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

ALMA DO PURGATÓRIO


Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
que vive agora a pena do fogo purificador,
à espera de ir ao encontro de Deus:
imploro a Misericórdia do Pai para aliviar vossa agonia
e o sofrimento de vossa alma ainda sem Deus.

Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
que anseia encontrar quem já vos encontrou,
na plenitude de todos os tempos:
imploro que o Sangue e Água do Coração de Jesus
lavem as vossas imperfeições e vossos pecados.

Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
que tateia nas trevas ansiando a Luz
que esteve perdida em tantas manhãs de sol:
imploro ao Espírito Santo Consolador,
que seja abreviado vosso tempo para a Plena Visão.

Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
que lamenta as penitências não feitas
e o cálice das dores não provadas:
imploro à Santa Virgem Maria, mãe de Deus e nossa,
lançar o Santo Rosário em vosso socorro.

Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
que geme e agoniza desvarios e pecados
na tremenda dor que inteira vos devora:
imploro a todos os Santos e Santas
que intercedam por vós diante do Altíssimo.

Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
que tem dívidas a pagar em penas
por tantas graças que não foram recebidas: 
imploro aos coros de anjos e arcanjos,
que movam sem descanso suas asas sobre vós.

Alma do Purgatório, 
bendita alma do Purgatório,
imploro a vós, quando na Infinita Glória,
cercada por muitos a quem imploro agora:
Reze pela minha alma com tanta graça e zelo 
que um dia Deus não tenha que esperar por mim
no Purgatório.
(Arcos de Pilares)


DAS INDULGÊNCIAS AOS FIÉIS DEFUNTOS

Lembrem-se das indulgências especiais que podem ser concedidas às almas do purgatório, particularmente nestes dias:

Indulgência Parcial: concedida apenas às almas do purgatório e dada por meio do fiel que visitar devotamente um cemitério e rezar, mesmo em espírito, pelos defuntos.

Indulgência Plenária: concedida apenas às almas do purgatório e dada por meio do fiel que visitar devotamente um cemitério e rezar, mesmo em espírito, pelos defuntos, no período de 1 a 8 de novembro de cada ano.

domingo, 1 de novembro de 2015

AS BEM AVENTURANÇAS

  Páginas do Evangelho - Solenidade de Todos os Santos


Neste domingo da Solenidade de Todos os Santos, nós somos por inteiro a Santa Igreja de Deus, o Corpo Místico de Cristo: almas peregrinas do Céu da Igreja Militante, almas sob a justiça divina da Igreja Padecente, almas santificadas da Igreja Triunfante, testemunhas da Visão Beatífica e cidadãos eternos da Jerusalém Celeste, nem mais peregrinos e nem mais sujeitos à Santa Justiça, mas tornados eleitos do Pai e herdeiros da Glória de Deus.

Com efeito, Filhos de Deus já o somos desde agora, como peregrinos do Céu mergulhados nas penumbras da fé e nas vertigens das realidades humanas... 'mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é (1 Jo 3, 2). Filhos de Deus, gerados para a eternidade da glória de Deus, seremos os vestidos de roupas brancas, enquanto perseverantes na fé e revestidos da luz de Cristo: 'Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro' (Ap 7, 14). 

Na solenidade de Todos os Santos, os que seremos santos amanhã se confortam dessa certeza nos que já são santos na Glória Celeste, vivendo a felicidade perfeita, e indescritível sob o ponto de vista das palavras e pensamentos humanos. Jesus nos fala dessa realidade transcendente na comunhão dos santos e na unidade da família de Deus: 'Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus' (Mt 5, 12). Em contraponto à fidelidade e à fé dos que almejaram ser santos, Deus os recompensará com limites insondáveis de graça, as chamadas bem-aventuranças de Deus (Mt 5, 3 - 11).

Bem-aventurados os pobres de espírito, os simples de coração. Bem-aventurados os aflitos que anseiam por consolação. Bem-aventurados os mansos que se espelham no Coração de Jesus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Bem-aventurados os misericordiosos, filhos prediletos da caridade. Bem-aventurados os puros de coração, transformados em novas manjedouras do Sagrado Coração de Jesus. Bem-aventurados os que promovem a paz e os que são perseguidos por causa da justiça. E bem-aventurados os que foram injuriados e perseguidos em nome da Cruz, do Calvário, dos Evangelhos e de Jesus Cristo porque serão os santos dos santos de Deus!


Biblioteca Digital do Blog: Páginas do Evangelho (2015) - 44

01 DE NOVEMBRO - DIA DE TODOS OS SANTOS


"Vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do Trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão."

LADAINHA DE TODOS OS SANTOS

Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós. 
Senhor, tende piedade de nós. 
Jesus Cristo, ouvi-nos. 
Jesus Cristo, atendei-nos. 
Deus pai do céu, tende piedade de nós.
Deus filho, redentor do mundo, tende piedade de nós. 
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós. 
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós. 
Santa Maria, rogai por nós. 
Santa Mãe de Deus, rogai por nós. 
Santa Virgem das virgens, rogai por nós. 
São Miguel, rogai por nós. 
São Gabriel, rogai por nós. 
São Rafael, rogai por nós. 
Todos os santos Anjos e Arcanjos, rogai por nós. 
Todos as santas ordens de Espíritos bem-aventurados, rogai por nós. 
São João Batista, rogai por nós. 
São José, rogai por nós. 
Todos os santos patriarcas e profetas, rogai por nós. 


São Pedro, rogai por nós. 
São Paulo, rogai por nós. 
Santo André, rogai por nós. 
São Thiago (Maior), rogai por nós.


São João, rogai por nós. 
São Tomé, rogai por nós. 
São Thiago (Menor), rogai por nós. 
São Felipe, rogai por nós. 


São Bartolomeu, rogai por nós. 
São Mateus, rogai por nós. 
São Simão, rogai por nós. 
São Tadeu, rogai por nós. 


São Matias, rogai por nós. 
São Barnabé, rogai por nós. 
São Lucas, rogai por nós. 
São Marcos, rogai por nós. 

Todos os santos apóstolos e evangelistas, rogai por nós. 
Todos os santos discípulos do Senhor, rogai por nós. 
Todos os santos inocentes, rogai por nós. 


Santo Estêvão, rogai por nós. 
São Lourenço, rogai por nós. 

São Vicente, rogai por nós. 
Santos Fabiano e Sebastião, rogai por nós. 
Santos João e Paulo, rogai por nós.
Santos Cosme e Damião, rogai por nós. 
Santos Gervásio e Protásio, rogai por nós. 
Todos os santos Mártires, rogai por nós. 


São Silvestre, rogai por nós. 
São Gregório, rogai por nós. 
Santo Ambrósio, rogai por nós.
Santo Agostinho, rogai por nós. 

São Jerônimo, rogai por nós. 
São Martim, rogai por nós. 
São Nicolau, rogai por nós. 
Todos os santos pontífices e confessores, rogai por nós. 
Todos os santos doutores, rogai por nós. 
Santo Antônio, rogai por nós. 
São Bento, rogai por nós. 
São Bernardo, rogai por nós. 
São Domingos, rogai por nós. 
São Francisco, rogai por nós.
Todos os santos sacerdotes e levitas, rogai por nós. 
Todos os santos Monges e eremitas, rogai por nós. 
Santa Maria Madalena, rogai por nós. 


Santa Águeda, rogai por nós. 
Santa Lúcia, rogai por nós. 
Santa Inês, rogai por nós. 
Santa Cecília, rogai por nós. 
Santa Anastásia, rogai por nós. 

Todas as santas virgens e viúvas, rogai por nós. 
Todos os santos e santas de Deus, intercedei por nós. 
Sêde propício, perdoai-nos Senhor. 
Sêde propício, ouvi-nos Senhor. 
De todo o mal, livrai-nos Senhor. 
De todo o pecado, livrai-nos Senhor. 
De vossa ira, livrai-nos Senhor. 
Da morte repentina e imprevista, livrai-nos Senhor. 
Das ciladas do demônio, livrai-nos Senhor. 
De toda a ira, ódio e má vontade, livrai-nos Senhor. 
Do espírito da fornicação, livrai-nos Senhor. 
Do raio e da tempestade, livrai-nos Senhor. 
Do flagelo do terremoto, livrai-nos Senhor. 
Da peste da fome e da guerra, livrai-nos Senhor. 
Da morte eterna, livrai-nos Senhor. 
Pelo mistério de vossa santa encarnação, livrai-nos Senhor. 
Pela vossa vinda, livrai-nos Senhor. 
Pelo vosso nascimento, livrai-nos Senhor. 
Por vosso batismo e santo jejum, livrai-nos Senhor. 
Por vossa cruz e paixão, livrai-nos Senhor.
Por vossa morte e sepultura, livrai-nos Senhor. 
Por vossa santa ressurreição, livrai-nos Senhor. 
Por vossa admirável ascensão, livrai-nos Senhor. 
Pela vinda do Espírito Santo Consolador, livrai-nos Senhor. 
No dia do juízo, livrai-nos Senhor. 
Pecadores que somos, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos perdoeis, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que useis de indulgência conosco, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis conduzir-nos à verdadeira penitência, nós vos rogamos: ouvi-nos.
Que nos digneis reagir e conservar a vossa santa igreja, nós vos rogamos: ouvi-nos.
Que nos digneis conservar a vossa santa religião, o Sumo Pontífice e a todos as ordens da hierarquia eclesiástica, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis humilhar os inimigos da igreja, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis conceder a verdadeira paz e concórdia entre os reis e príncipes cristãos, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis conceder a paz e a união a todo o povo cristão, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis chamar à unidade da Igreja, a todos os que estão alheios a ela, para iluminar todos os infiéis com a luz do Evangelho, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que vos digneis confortar-nos e conservar-nos em vosso santo serviço, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que levanteis nossos corações a desejar as coisas celestiais, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis retribuir, com os bens eternos a todos os nossos benfeitores, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que livreis da morte eterna nossas almas e as de nossos irmãos, parentes e benfeitores, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis dar e conservar os frutos da terra, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Que nos digneis conceder o eterno descanso a todos os fiéis defuntos, nós vos rogamos: ouvi-nos.
Que nos digneis atender-nos, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Filho de Deus, nós vos rogamos: ouvi-nos. 
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor. 
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor. 
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. 
Jesus Cristo, ouvi-nos. 
Jesus Cristo, atendei-nos. 
Senhor, tende piedade de nós. 
Jesus Cristo, tende piedade de nós. 
Senhor, tende piedade de nós. 
Pai nosso (silêncio) 
E não nos deixeis cair em tentação. Mas livrai-nos do mal. Amém.

sábado, 31 de outubro de 2015

DAS VERDADEIRAS AMIZADES

Ó Filoteia, ama a todos os homens com um grande amor de caridade cristã, mas não traves amizade senão com aquelas pessoas cujo convívio pode te ser proveitoso; e quanto mais perfeitas forem estas relações, tanto mais perfeita será a tua amizade.

Se a relação é de ciências, a amizade será honesta e louvável e o será muito mais ainda se a relação for de virtudes morais, como prudência, justiça, fortaleza; mas se for a religião, a devoção e o amor de Deus e o desejo da perfeição o objeto duma comunicação mútua e doce entre ti e as pessoas que amas, ah! então tua amizade é preciosíssima. É excelente, porque vem de Deus; excelente, porque Deus é o laço que a une, excelente, enfim, porque durará eternamente em Deus.

Ah! quanto é bom amar já na terra o que se amará no céu e aprender a amar aqui estas coisas como as amaremos eternamente na vida futura. Não falo, pois, aqui simplesmente do amor cristão que devemos ao nosso próximo, todo e qualquer que seja, mas aludo à amizade espiritual, pela qual duas, três ou mais pessoas se comunicam mutuamente as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor de Deus, tornando-se um só coração e uma só alma. Com toda a razão podem cantar então as palavras de Davi: Oh! quão bom e agradável é habitarem juntamente os irmãos! Sim, Filoteia, porque o bálsamo precioso da devoção está sempre passando de um coração ao outro por uma contínua e mútua participação; tanto assim que se pode dizer que Deus lançou sobre esta amizade a sua bênção por todos os séculos dos séculos.

Todas as outras amizades são como as sombras desta e os seus laços são frágeis como o vidro, ao passo que estes corações ditosos, unidos em espírito de devoção, estão presos por uma corrente toda de ouro. Filoteia, todas as tuas amizades sejam desta natureza, isto é, todas aquelas que dependem de tua livre escolha, porque não deves romper nem negligenciar as que a natureza e outros deveres te obrigam a manter, como em relação a teus pais, parentes, benfeitores e vizinhos.

Hás de ouvir talvez que não se deve consagrar afeto particular ou amizade a ninguém, porque isto ocupa por demais o coração, distrai o espírito e causa ciúmes; mas é um mau conselho, porque, se muitos autores sábios e santos ensinam que as amizades particulares são muito nocivas aos religiosos, não podemos, no entanto, aplicar o mesmo princípio às pessoas que vivem no século — e há aqui uma grande diferença.

Num mosteiro onde há fervor, todos visam o mesmo fim, que é a perfeição do seu estado e, por isso, a manutenção das amizades particulares não pode ser tolerada aí, para precaver que, procurando alguns em particular o que é comum a todos, passem das particularidades aos partidos. Mas no mundo é necessário que aqueles que se entregam à prática da virtude se unam por uma santa amizade, para mutuamente se animarem e conservarem nesses santos exercícios. Na religião os caminhos de Deus são fáceis e planos e os que aí vivem se assemelham a viajantes que caminham numa bela planície, sem necessitar de pedir a mão em auxílio. Mas os que vivem no século, onde há tantas dificuldades a vencer para ir a Deus, se parecem com os viajantes que andam por caminhos difíceis, escabrosos e escorregadiços, precisando sustentar-se uns nos outros para caminhar com mais segurança.

Não, no mundo nem todos têm o mesmo fim e o mesmo espírito e daí vem a necessidade desses laços particulares que o Espírito Santo forma e conserva nos corações que lhe querem ser fiéis. Concedo que esta particularidade forme um partido, mas é um partido santo, que somente separa o bem do mal: as ovelhas das cabras, as abelhas dos zangões, separação esta que é absolutamente necessária. Em verdade não se pode negar que Nosso Senhor amava com um amor mais terno e especial a São João, a Marta, a Madalena e a Lázaro, seu irmão, pois que o Evangelho o dá a entender claramente. Sabe-se que São Pedro amava ternamente a São Marcos e a Santa Petronila, como São Paulo ao seu querido Timóteo e a Santa Tecla.

São Gregório Nazianzeno, amigo de São Basílio, fala com muito prazer e ufania de sua íntima amizade, descrevendo-a do modo seguinte: 'parecia que em nós havia uma só alma, para animar os nossos corpos, e que não se devia mais crer nos que dizem que uma coisa é em si mesma tudo quanto é e não numa outra; estávamos, pois, ambos em um de nós e um no outro. Uma única e a mesma vontade nos unia em nossos propósitos de cultivar a virtude, de conformar toda a nossa vida com a esperança do céu, trabalhando ambos unidos como uma só pessoa, para sair, já antes de morrer, desta terra perecedora'.

Santo Agostinho testemunha que Santo Ambrósio amava a Santa Mônica unicamente devido às raras virtudes que via nela e que ela mesma estimava este santo prelado como um anjo de Deus. Mas para que deter-te tanto tempo numa coisa tão clara? São Jerônimo, Santo Agostinho, São. Gregório, São Bernardo e todos os grandes servos de Deus tiveram amizades particulares, sem dano algum para a sua santidade.

São Paulo, repreendendo os pagãos pela corrupção de suas vidas, acusa-os de gente sem afeto, isto é, sem amizade de qualidade alguma. Santo Tomás reconhecia, com todos os bons filósofos, que a amizade é uma virtude e entende a amizade particular, porque diz expressamente que a verdadeira amizade não pode se estender a muitas pessoas. A perfeição, portanto, não consiste em não ter nenhuma amizade, mas em não ter nenhuma que não seja boa e santa.

(Excertos da obra 'Filoteia ou Introdução à Vida Devota', de São Francisco de Sales)