domingo, 24 de agosto de 2014

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum


Num dado dia, na 'região da Cesareia de Felipe', Jesus revelou a seus discípulos, num mesmo momento, a sua própria identidade divina e o primado da Igreja. Neste tesouro das grandes revelações divinas, o apóstolo Pedro será contemplado, neste dia, por privilégios extraordinários: seu ato humano de fé perfeita será convertido por Cristo na pedra angular da qual nascerá a Santa Igreja.

Nesta ocasião, as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Então, Jesus retira-se para um lugar isolado, afastando-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que O tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. E se aproxima intimamente daqueles que haverão de ser os primeiros apóstolos da Igreja nascente, compartilhando-lhes na pergunta do juízo de fé: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mt 16, 15). A resposta de Pedro é um símbolo da confissão perfeita da sua fé: 'Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo' (Mt 16, 16).

Sim, Jesus Cristo é o Filho de Deus Vivo: Deus feito homem na eternidade de Deus. A missão salvífica de Jesus há de passar não por um triunfo de epopeias mundanas, mas por um tributo de Paixão, Morte e Ressurreição; não pelo manejo da espada ou por eventos feitos de glórias humanas, mas pela humildade, perseverança e um legado de Cruz. A Cruz de Cristo é o caminho da nossa salvação e da vida eterna, ontem e sempre. Por isso, a mesma pergunta se impõe a todos os homens, de todos os tempos: quem é Jesus para nós, o Filho de Deus Vivo da confissão de Pedro ou um arauto de nossas próprias incertezas, refeito sob a ótica dos interesses humanos?

Em resposta ao apóstolo fiel, Jesus vai oferecer a Pedro as primícias do papado e o primado da Igreja, como privilégio da glória, poder e realeza de Cristo: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 17 - 18). E Jesus vai declarar em seguida o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

sábado, 23 de agosto de 2014

PALAVRAS DE SALVAÇÃO



'Retiras o peixe da água e dali a pouco está morto. Retira-te ou afasta-te da oração, e a tua alma vai morrer para Deus e para a graça. Para que o peixe viva, precisa de estar na água; para que a tua alma viva em graça, precisa de andar em oração. Se o peixe tivesse fé e razão, havia de compreender que tinha o dever rigoroso de não sair da água para não perder a vida; o cristão tem o dever rigoroso de não deixar a oração para não perder a vida da eterna bem-aventurança'.

(São João Crisóstomo)

23 DE AGOSTO - SANTA ROSA DE LIMA


Isabel Mariana de Jesus Paredes Flores y Oliva, descendente dos conquistadores espanhóis, nasceu na Vila de Quives, em Lima, capital do Peru, no dia 30 de abril de 1586. De Isabel passou a Rosa ainda criança, em virtude de sua beleza singular. De Rosa passou a ser Irmã Rosa de Santa Maria, quando ingressou, em 1606, aos vinte anos, na Ordem Terceira Dominicana. E haveria de se tornar, um dia, Santa Rosa de Lima.

Modelo de vida contemplativa e penitência, de jejuns severos e oração contínua, foi movida por diversas experiências místicas, que incluíram dons de cura, previsões, milagres, conversões e domínio sobre os fatores climáticos. Todos os anos, na festa de São Bartolomeu, dia 24 de agosto, Rosa vivia este dia ainda com mais fervor religioso de penitência, oração e despojamento do que o habitual, resumindo numa frase a justificativa por este ato diário de extremo zelo espiritual: 'Porque este é o dia das minhas núpcias eternas'.

E assim ocorreu realmente; com apenas 31 anos de idade, Rosa faleceu em 24 de agosto de 1617 para as suas núpcias eternas. Foi beatificada em 1667, pelo papa Clemente IX e canonizada pelo papa Clemente X em 12 de abril de 1671, como Santa Rosa de Lima, tornando-se a primeira santa da América do Sul. Sua festa litúrgica é comemorada no dia 23 de agosto. Santa Rosa de Lima é padroeira do Peru, das Filipinas e da América Latina.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A PALAVRA MAIS DIFÍCIL


Falei já tantas e tantas vezes a Jesus, falo-lhe todos os dias, digo-lhe um mundo de coisas, as mais belas e as mais suaves palavras que o coração me pode sugerir; mas há uma palavra mais bela que qualquer outra, uma palavra aprendida desde criança, repetida cada dia e quase a cada hora, uma palavra sem a qual toda a oração perde a beleza e o valor, e que eu não lhe disse jamais.

Ela aflora-me espontânea aos lábios nos momentos de angústia, mas eu não a ouso pronunciar, porque o coração recusa-se a acompanhá-la. E porque havia de dizer uma palavra que será uma ficção? Jesus disse-a no Getsêmani, ordenou a todos que a repetissem, porque é a mais bela que podem pronunciar os lábios cristãos: fiat voluntas Tua — faça-se a Tua vontade.

Oh! Quantas vezes vou encontrar o meu Jesus para derramar-lhe no coração um mar de amarguras, para contar-lhe a minha dor e as minhas esperanças, para constrangê-lo a ter piedade de mim. E no fim, venho embora com o coração pesaroso por não ter dito tudo, por não lhe ter dito — fiat voluntas Tua. Enquanto oro, Jesus dá-me a perceber que quer absolutamente de mim a palavra difícil, porque lhe é mais cara; e eu repilo obstinada a inspiração santa e insisto em apresentar-lhe os desejos da minha vontade; quero receber d'Ele o que eu entendo, e não quero dar-lhe o que Ele deseja de mim. 

Compreendo a minha insensatez, mas como é difícil apresentar-se a Jesus com uma cruz sobre os ombros e o coração esmagado, e dizer-lhe com sinceridade: — ó Jesus, queres que eu sofra este martírio? Pois bem, também eu o quero! Como é difícil renunciar ao desejo e à esperança de ter ainda sobre a terra um dia sereno só para lhe ser agradável! Quando já se está cansado de sofrer, como é difícil querer sofrer ainda, só porque assim se agrada a Jesus!

Todavia, a santidade consiste nisto e só nisto: em fazer a vontade de Jesus. Portanto, que faço eu com as minhas repugnâncias ao — fiat? Jesus, para me fazer santo, talvez não espere de mim mais que esta palavra. Portanto?

'Ó Jesus, eu compreendo tudo com a mente; mas é o coração que se revolta. Toca a ti completar a obra da tua graça, pertence a ti tornar dócil este miserável coração sempre em revolta. Ó Jesus, dá-me aquilo que mandas, e depois manda aquilo que queresda quod jubes et jube quod vis'.

(Excertos da obra 'Centelhas Eucarísticas', de original italiano, 1906; trad. de Adolfo Tarroso Gomes, 1924)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

21 DE AGOSTO - SÃO PIO X

Instaurare omnia in Christo

Restaurar todas as coisas em Cristo

Pio X (02/06/1835 - 20/08/1914)

No início do Século XX, inúmeras heresias associadas ao Modernismo (movimento precursor do atual Progressismo Católico) tentavam minar a Igreja. Neste quadro de graves dificuldades, a Providência Divina legou à cristandade um Papa Santo, o único papa canonizado do Século XX. Em 04 de agosto de 1903, o Cardeal Giusepe Sarto de Veneza foi eleito como Pio X, 259º sucessor de São Pedro, sucedendo a Leão XIII, sendo coroado para o Sumo Pontificado cinco dias depois. No seu pontificado de apenas 11 anos (faleceu em 20/08/1914), Pio X promoveu uma guerra sem tréguas às heresias do Modernismo (que condenou por inteiro na Encíclica Pascendi Dominici Gregis, de 8 de setembro de 1907), coordenou a compilação de um novo Código Canônico, restaurou as bases da música sacra e promulgou várias ações e documentos relacionados a uma melhor e mais perfeita devoção aos sacramentos eucarísticos. Foi canonizado pelo Papa Pio XII em 03/09/1954. Celebra-se a sua festa de santidade em 21 de agosto.

Excertos da Encíclica Pascendi Dominici Gregis - 08/08/1907 (de São Pio X): condenação explícita do Movimento Modernista na Igreja Católica

"Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que  meneiam eles o machado".

"Batida pois esta raiz da imortalidade, continuam a derramar o vírus por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica, nenhuma verdade há que não intentem contaminar. E ainda vão mais longe; pois pondo em obra o sem número de seus maléficos ardis, não há quem os vença em manhas e astúcias:  porquanto, fazem promiscuamente o papel ora de racionalistas, ora de católicos, e isto com tal dissimulação que arrastam sem dificuldade ao erro qualquer incauto; e sendo ousados como os que mais o são, não há conseqüências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos. Acrescente-se-lhes ainda, coisa aptíssima para enganar o ânimo alheio, uma operosidade incansável, uma assídua e vigorosa aplicação a todo o ramo de estudos e, o mais das vezes, a fama de uma vida austera. Finalmente, e é isto o que faz desvanecer toda esperança de cura, pelas suas mesmas doutrinas são formadas numa escola de desprezo a toda autoridade e a todo freio; e, confiados em uma consciência falsa, persuadem-se de que é amor de verdade o que não passa de soberba e obstinação".

"Efetivamente, o orgulho fá-los confiar tanto em si que se julgam e dão a si mesmos como regra dos outros. Por orgulho loucamente se gloriam de ser os únicos que possuem o saber, e dizem desvanecidos e inchados: Nós cá não somos como os outros homens. E, de fato, para o não serem, abraçam e devaneiam toda a sorte de novidades, até das mais absurdas. Por orgulho repelem toda a sujeição, e afirmam que a autoridade deve aliar-se com a liberdade. Por orgulho, esquecidos de si mesmos, pensam unicamente em reformar os outros, sem respeitarem nisto qualquer posição, nem mesmo a suprema autoridade. Para se chegar ao modernismo não há, com efeito, caminho mais direto do que o orgulho. Se algum leigo ou também algum sacerdote católico esquecer o preceito da vida cristã, que nos manda negarmos a nós mesmos para podermos seguir a Cristo, e se não afastar de seu coração o orgulho, ninguém mais do ele se acha naturalmente disposto a abraçar o modernismo!

"Nada, portanto, Veneráveis Irmãos, se pode dizer estável ou imutável na Igreja, segundo o modo de agir e de pensar dos modernistas. Para o que também não lhes faltaram precursores, esses de quem o nosso predecessor Pio IX escreveu: estes inimigos da revelação divina, que exaltam com os maiores louvores o progresso humano, desejariam com temerário e sacrílego atrevimento introduzi-lo na religião católica, como se a mesma não fosse obra de Deus, mas obra dos homens, ou algum sistema filosófico, que se possa aperfeiçoar por meios humanos" (Enc. "Qui pluribus", 9 de nov. de 1846). 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ORAÇÃO: 'LEMBRAI-VOS' (SÃO BERNARDO DE CLARAVAL)

São Bernardo nasceu no Castelo de Fontaine, próximo a Dijon (França) no ano de 1090 e tornou-se monge cisterciense, assim como praticamente toda a sua família, que lhe seguiram o exemplo. Dedicou toda a sua vida a praticar e a ensinar com rigor a regra beneditina: oração e trabalho, seja no mosteiro de Claraval, onde foi abade por 38 anos, seja nas dezenas de outros mosteiros que ajudou a fundar. Escreveu obras religiosas como o 'Tratado do Amor de Deus' e o 'Comentário ao Cântico dos Cânticos', esta de devoção mariana. Compôs ainda inúmeras orações e hinos religiosos como 'Lembrai-vos' e 'Ave Maris Stella', bem como invocações como 'Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria', recitada na Salve-Rainha. Faleceu em  20 de agosto do ano 1153. Foi canonizado pelo papa Alexandre III em janeiro de 1174 e proclamado Doutor da Igreja em 1830 pelo papa Pio VIII.


Lembrai-Vos ('Memorare')
                                                            (São Bernardo de Claraval)

Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como Mãe recorro; de Vós me valho, gemendo sob o peso dos meus pecados, e me prostro a vossos pés. Não desprezeis minhas súplicas, ó Mãe do Filho (Verbo) de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia, e de me alcançar o que vos rogo. Amém.

Memorare, o piissima Virgo Maria,
non esse auditum a saeculo,
quemquam ad tua currentem praesidia,
tua implorantem auxilia,
tua petentem suffragia,
esse derelictum.
Ego tali animatus confidentia,
ad te, Virgo Virginum, Mater, curro, ad te venio,
coram te gemens peccator assisto.
Noli, Mater Verbi, verba mea despicere;
sed audi propitia et exaudi.
Amen.

São Bernardo de Claraval, rogai por nós!