sábado, 13 de julho de 2013

VÍDEOS CATÓLICOS

Alguns gestos simples nos mostram o quanto podemos ser criaturas miseráveis...


... mas certas palavras confirmam que fomos criados à Imagem de Deus.

Gianna Jessen - Sobrevivente de um Aborto (Parte I)



Gianna Jessen - Sobrevivente de um Aborto (Parte II)




sexta-feira, 12 de julho de 2013

A ORAÇÃO DA PAZ QUE SÃO FRANCISCO NÃO ESCREVEU

A bela e famosa 'Oração de São Francisco' pela paz não foi escrita por São Francisco de Assis (1182 - 1226), e tem história muito mais recente. A referência mais antiga da oração data de 1912, em um texto em francês, publicado em Paris, em uma pequena revista católica chamada La Clochette (O Sininho) pertencente à chamada La Ligue de la Sainte-Messe (A Liga da Santa Missa), cujo fundador foi Fr. Esther Bouquerel, que poderia ter sido o seu provável autor. Mas isso também não é certo e, portanto, a oração tem autor desconhecido. 

A referência a São Francisco se deve ao fato de que a versão original (ou alguma das primeiras impressões do texto) foi impressa junto a uma imagem deste santo, o que teria resultado em uma associação direta (e equivocada) do texto da oração com a autoria atribuída a São Francisco de Assis. Abaixo, são apresentados o texto original da oração e a tradução da mesma mais difundida em português.

Seigneur, fais de moi un instrument de ta paix,
Là où est la haine, que je mette l’amour
Là où est l’offense, que je mette le pardon
Là où est la discorde, que je mette l’union
Là où est l’erreur, que je mette la vérité
Là où est le doute, que je mette la foi
Là où est le désespoir, que je mette l’espérance
Là où sont les ténèbres, que je mette la lumière
Là où est la tristesse, que je mette la joie.

O Seigneur, que je ne cherche pas tant à
être consolé qu’à consoler,
à être compris qu’à comprendre,
à être aimé qu’à aimer.
Car c’est en se donnant qu’on reçoit,
c’est en s’oubliant qu’on se retrouve,
c’est en pardonnant qu’on est pardonné,
c’est en mourant qu’on ressuscite à l’éternelle vie.

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó mestre, fazei que eu procure mais: consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado;
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

AS REGRAS DA HUMILDADE DE SÃO BENTO

São Bento de Núrsia (480 - 547), monge italiano e irmão gêmeo de Santa Escolástica, foi o fundador da Ordem dos Beneditinos e autor das chamadas 'Regras de São Bento' (excerto abaixo), uma série de regulamentos e prescrições para a vida monástica, que serviram de modelo para várias outras comunidades religiosas. Sua festa litúrgica é comemorada no dia 11 de julho (ver também Medalha de São Bento).

DAS REGRAS DE HUMILDADE

[1] Irmãos, a Escritura divina nos clama dizendo: 'Todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado". [2] Indica-nos com isso que toda elevação é um gênero da soberba, [3] da qual o Profeta mostra precaver-se quando diz: 'Senhor, o meu coração não se exaltou, nem foram altivos meus olhos; não andei nas grandezas, nem em maravilhas acima de mim'. [4] Mas, que seria de mim se não me tivesse feito humilde, se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que é desmamado de sua mãe, assim retribuirias a minha alma.

[5] Se, portanto, irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, [6] deve ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a Jacó, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. [7] Essa descida e subida, sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce e pela humildade se sobe. [8] Essa escada ereta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha. [9] Quanto aos lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.

[10] Assim, o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o monge diante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, [11] e esteja, ao contrário, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no espírito, não só que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam a Deus, mas também que a vida eterna está preparada para os que temem a Deus; [12] e, defendendo-se a todo tempo dos pecados e vícios, isto é, dos pecados do pensamento, da língua, das mãos, dos pés e da vontade própria, como também dos desejos da carne, [13]considere-se o homem visto do céu, a todo momento, por Deus, e suas ações vistas em toda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos. [14] Mostra-nos isso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente aos nossos pensamentos: 'Deus que perscruta os corações e os rins'. [15] E também: 'Deus conhece os pensamentos dos homens'. [16] E ainda: 'De longe percebestes os meus pensamentos' [17] e 'o pensamento do homem vos será confessado'. [18] Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre, em seu coração, o irmão empenhado em seu próprio bem: 'se me preservar da minha iniquidade, serei, então, imaculado diante d’Ele'.

[19] Assim, é-nos proibido fazer a própria vontade, visto que nos diz a Escritura: 'Afasta-te das tuas próprias vontades'. [20] E, também, porque rogamos a Deus na oração que se faça em nós a sua vontade.

[21] Aprendemos, pois, com razão, a não fazer a própria vontade, enquanto nos acautelamos com aquilo que diz a Escritura: 'Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha até o fundo do inferno', [22] e enquanto, também, nos apavoramos com o que foi dito dos negligentes: 'Corromperam-se e tornaram-se abomináveis nos seus prazeres'. [23] Por isso, quando nos achamos diante dos desejos da carne, creiamos que Deus está sempre presente junto a nós, pois disse o Profeta ao Senhor: 'Diante de vós está todo o meu desejo'.

[24] Devemos, portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada junto à porta do prazer. [25] Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: 'Não andes atrás de tuas concupiscências'. [26] Logo, se os olhos do Senhor 'observam os bons e os maus', [27] e 'o Senhor sempre olha do céu os filhos dos homens para ver se há algum inteligente ou que procura a Deus' [28] e se, pelos anjos que nos foram designados, todas as coisas que fazemos são, cotidianamente, dia e noite, anunciadas ao Senhor, [29] devemos ter cuidado, irmãos, a toda hora, como diz o Profeta no salmo, para que não aconteça que Deus nos veja no momento em que caímos no mal, tornando-nos inúteis, [30] e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasião porque é Bom e espera sempre que nos tornemos melhores, não venha a dizer-nos no futuro: 'Fizeste isto e calei-me'.

[31] O segundo grau da humildade consiste em que, não amando a própria vontade, não se deleite o monge em realizar os seus desejos, [32] mas imite nas ações aquela palavra do Senhor: 'Não vim fazer a minha vontade, mas a d’Aquele que me enviou'. [33] Do mesmo modo, diz a Escritura: 'O prazer traz consigo a pena e a necessidade gera a coroa'.

[34] O terceiro grau da humildade consiste em que, por amor de Deus, se submeta o monge, com inteira obediência ao superior, imitando o Senhor, de quem disse o Apóstolo: 'Fez-se obediente até a morte'.

[35] O quarto grau da humildade consiste em que, no exercício dessa mesma obediência abrace o monge a paciência, de ânimo sereno, nas coisas duras e adversas, ainda mesmo que se lhe tenham dirigido injúrias, [36] e, suportando tudo, não se entregue nem se vá embora, pois diz a Escritura: 'Aquele que perseverar até o fim será salvo'. [37] E também: 'Que se revigore o teu coração e suporta o Senhor'. [38] E a fim de mostrar que o que é fiel deve suportar todas as coisas, mesmo as adversas, pelo Senhor, diz a Escritura, na pessoa dos que sofrem: 'Por vós, somos entregues todos os dias à morte; somos considerados como ovelhas a serem sacrificadas'. [39] Seguros na esperança da retribuição divina, prosseguem alegres dizendo: 'Mas superamos tudo por causa daquele que nos amou'. [40] Também, em outro lugar, diz a Escritura: 'Ó Deus, provastes-nos, experimentastes-nos no fogo, como no fogo é provada a prata: induzistes-nos a cair no laço, impusestes tribulações sobre os nossos ombros'. [41] E para mostrar que devemos estar submetidos a um superior, continua: 'Impusestes homens sobre nossas cabeças'. [42] Cumprindo, além disso, com paciência o preceito do Senhor nas adversidades e injúrias, se lhes batem numa face, oferecem a outra; a quem lhes toma a túnica cedem também o manto; obrigados a uma milha, andam duas; [43] suportam, como Paulo Apóstolo, os falsos irmãos e abençoam aqueles que os amaldiçoam.

[44] O quinto grau da humildade consiste em não esconder o monge ao seu Abade todos os maus pensamentos que lhe vêm ao coração, ou o que de mal tenha cometido ocultamente, mas em lho revelar humildemente, [45] exortando-nos a este respeito a Escritura quando diz: 'Revela ao Senhor o teu caminho e espera nele'. [46] E quando diz ainda: 'Confessai ao Senhor porque ele é bom, porque sua misericórdia é eterna'. [47] Do mesmo modo o Profeta: 'Dei a conhecer a Vós a minha falta e não escondi as minhas injustiças. [48] Disse: acusar-me-ei de minhas injustiças diante do Senhor, e perdoastes a maldade de meu coração'.

[49] O sexto grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o que há de mais vil e com a situação mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, se considere mau e indigno operário, [50] dizendo-se a si mesmo com o Profeta: 'Fui reduzido a nada e não o sabia; tornei-me como um animal diante de Vós, porém estou sempre convosco'.

[51] O sétimo grau da humildade consiste em que o monge se diga inferior e mais vil que todos, não só com a boca, mas que também o creia no íntimo pulsar do coração, [52] humilhando-se e dizendo com o Profeta: 'Eu, porém, sou um verme e não um homem, a vergonha dos homens e a abjeção do povo: [53]exaltei-me, mas, depois fui humilhado e confundido'. [54] E ainda: 'É bom para mim que me tenhais humilhado, para que aprenda os vossos mandamentos'.

[55] O oitavo grau da humildade consiste em que só faça o monge o que lhe exortam a Regra comum do mosteiro e os exemplos de seus maiores.

[56] O nono grau da humildade consiste em que o monge negue o falar a sua língua, entregando-se ao silêncio; nada diga, até que seja interrogado, [57] pois mostra a Escritura que 'no muito falar não se foge ao pecado' [58] e que 'o homem que fala muito não se encaminhará bem sobre a terra'.

[59] O décimo grau da humildade consiste em que não seja o monge fácil e pronto ao riso, porque está escrito: 'O estulto eleva sua voz quando ri'.

[60] O undécimo grau da humildade consiste em, quando falar, fazê-lo o monge suavemente e sem riso, humildemente e com gravidade, com poucas e razoáveis palavras e não em alta voz, [61] conforme o que está escrito: 'O sábio manifesta-se com poucas palavras'.

[62] O duodécimo grau da humildade consiste em que não só no coração tenha o monge a humildade, mas a deixe transparecer sempre, no próprio corpo, aos que o vêem, [63] isto é, que no ofício divino, no oratório, no mosteiro, na horta, quando em caminho, no campo ou onde quer que esteja, sentado, andando ou em pé, tenha sempre a cabeça inclinada, os olhos fixos no chão, [64] considerando-se a cada momento culpado de seus pecados, tenha-se já como presente diante do tremendo juízo de Deus, [65] dizendo-se a si mesmo, no coração, aquilo que aquele publicano do Evangelho disse, com os olhos pregados no chão: 'Senhor, não sou digno, eu pecador, de levantar os olhos aos céus'. [66] E ainda, com o Profeta: 'Estou completamente curvado e humilhado'.

[67] Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor; [68] por meio dela tudo o que observava antes não sem medo começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente, pelo costume, [69] não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio costume bom e pela deleitação das virtudes.

[70] Eis o que, no seu operário, já purificado dos vícios e pecados, se dignará o Senhor manifestar-Se por meio do Espírito Santo.

(Excertos da 'Regras de São Bento', tradução de Dom João Evangelista Enout)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (54)


Um sacerdote não é um homem comum: ele fala como um homem comum, ele se veste como um homem comum, ele vai aos lugares aonde vão os homens comuns, ele tem sentimentos e fraquezas como um homem comum, ele se diverte como um homem comum, a sua fé é a de um homem comum? Filho, este homem é um homem comum, mas não é um sacerdote. Um sacerdote não é um homem comum: como pode alguém capaz de perdoar pecados e realizar o extraordinário milagre da transubstanciação a cada missa ser um homem comum? Ame profundamente os sacerdotes e reze constantemente por aqueles que parecem homens comuns.

O CÉU É AQUI...

PALAVRAS DE SALVAÇÃO


'Meu Deus! Que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça? ... Eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus. ... Eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior: a Santidade de Deus! Meu Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado!'

(Santa Teresa de Ávila)

terça-feira, 9 de julho de 2013

EU VENHO EM NOME DE DEUS: O PURGATÓRIO

Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem. Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra. 

Eu venho pra dizer a vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: – 'Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga-lhes que desde que nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas! Oh! Quem poderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!' 

Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: – 'Livrai-nos dessa dor, você pode!' Considerem então meus caros amigos: (i) a magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório; (ii) os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. 

Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito Santo e a qual, consequentemente, não pode se enganar nem nos enganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles. 

Nas Sagradas Escrituras, há muitos textos que mostram claramente que, embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório. Veja o que aconteceu com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado, mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar: '... maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com  trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar...1 (Gênesis 3, 17). 

Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Consequentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso, ele enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre três tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste, a fome ou a guerra. Davi então respondeu: 'Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem...' (I Crônicas 21). 

Ele escolheu a peste e esta durou apenas três dias, mas matou sete mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo o mal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações? 

Meus caros irmãos, o que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida? Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. 

O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno. Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que estão mergulhadas nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: – 'Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus! Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!... Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!... 

Oh! Meus filhos! - gritam os pais e as mães - como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto os amamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranquilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês têm coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!... E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruéis são estes sofrimentos!...'. 

Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de 'leve' algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, se mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! 

'Meu Deus!' – disse Santa Tereza de Ávila – 'que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?' Em sua última doença, ela de repente gritou: 'Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!' Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: – 'Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!' – 'Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus'. – 'Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações?' – 'Sim minhas filhas' - respondeu Tereza - 'eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior!' – 'Seria então, o julgamento?' – 'Sim, eu temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principalmente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror'. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. – 'Madre, seria por acaso o Inferno?' – 'Não' - respondeu ela - 'O inferno, graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meu Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado!' – 'Ai de nós!' - gritaram as pobres irmãs - 'O que será então no dia das nossas mortes?' 

O que será então de nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos punir?... Vamos pagar muito caro por todas essas 'pequenas falhas' que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas 'pequenas mentirinhas' que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo. 

Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório. 

São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: – 'Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas!' 

Um sacerdote contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer de nossa própria salvação! 

Você talvez me dirá: – 'Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas!' Ah! Se vocês soubessem que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório. São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã. 

Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível para essas almas!


(São João Maria Vianney, o Cura d’Ars