segunda-feira, 3 de junho de 2013

'LEIA-ME OU LAMENTA-O' (I)

Prefácio

O titulo é algo alarmante. Assim, estimado leitor, se tu lês este pequeno livro, verás por ti mesmo quão merecido é. O livro nos conta como salvar a nós mesmos e a outros de um sofrimento inenarrável. Alguns livros são bons e alguns outros podem ser de proveito. Outros são melhores e devem ser lidos sem falta. Há, sem dúvida, livros de excelente mérito por razão de seus conselhos, a convicção que acarretam e a ação urgente a que nos impulsionam. 

'Leia-me ou lamenta-o' pertence a essa classe de livros. É para teu maior interesse, estimado amigo, que o leias e o releias, para ponderá-lo bem e profundamente em seus conteúdos. Nunca te arrependerás disto; pelo contrário, grande e amargo será teu arrependimento se tu deixas de estudá-lo em suas substanciosas páginas.

Auxílio, Auxílio, sofremos muito!

I. Nunca chegaremos a compreender suficientemente de modo claro como uma esmola, pequena ou grande, dada em favor das almas sofredoras, é dada diretamente a Deus. Que a aceita e se recorda como se a houvessem dado diretamente a Ele. Assim, tudo o que façamos por elas, Deus o aceita como feito para Ele. É como se o aliviássemos ou liberássemos a Ele mesmo do Purgatório. E de que maneira nos pagará!

II. Não há maior sede, pobreza, necessidade, pena, dor, sofrimento que se compare aos das Almas do Purgatório, por tanto não há esmolas mais merecidas, nem mais agradáveis a Deus, nem mérito mais alto para nós, que rezar, pedir celebrações de Missas, e dar esmolas em favor das pobres Santas Almas. 

III. É muito possível que alguns de nossos mais próximos e queridos parentes estejam, todavia, sofrendo as purificantes penas do Purgatório e lamentando entre lastimosos gemidos para que os ajudemos e aliviemos.

IV. Não é terrível que sejamos tão duros que não possamos pensar neles, nem tampouco possamos ser tão cruéis que deliberadamente os esqueçamos? Pelo amor de Cristo, façamos tudo, mas tudo, o que pudermos por elas. Todo católico deveria unir-se a uma Associação para o bem das Almas do Purgatório.

Purgatório


'Tenham piedade de mim, tenham piedade de mim, pelo menos vocês meus amigos, porque a mão do Senhor me tem tocado" (Job 19:21).

Esta é a comovedora súplica que a Igreja Padecente envia a seus amigos na terra. Terra, comecem, implorem sua ajuda, em resposta a angústia mais profunda. Muitos dependem de suas orações. É incompreensível como alguns católicos, ainda aqueles que de uma ou outra forma são devotos, vergonhosamente desatendem as almas do Purgatório. Parecerá que não creem no Purgatório. Certamente é que suas idéias acerca dele são muito difusas.

Dias, semanas e meses passam sem que eles ofereçam uma Missa em intenção delas (as almas)! Raramente também, ouvem Missa por elas, raramente rezam por elas, raramente pensam nelas! Entretanto, estão gozando a plenitude da saúde e a felicidade, ocupados em seus trabalhos; divertindo-se, enquanto as pobres almas sofrem inenarráveis agonias em seus leitos de chamas.

Qual é a causa desta horrível insensibilidade? Ignorância: inexplicável ignorância. As pessoas não se dão conta do que é o Purgatório. Não concebem as espantosas penas, nem tem ideia dos largos anos que as almas são retidas nessas horríveis chamas. Como resultado, fazem pouco ou nada para evitar a outros e a si mesmos o Purgatório, e ainda pior, cruelmente ignoram as pobres almas que já estão ali e que dependem inteiramente deles para ser auxiliadas. Estimado leitor, lê atentamente este pequeno livro com cuidado e irá bendizer o dia em que ele caiu em tuas mãos.

Capítulo I - O que é o Purgatório?


I. É uma prisão de fogo na qual quase todas as almas salvas são submersas depois da morte e na qual sofrem as mais intensas penas. Aqui está o que os maiores doutores da igreja nos dizem acerca do Purgatório. Tão lastimoso é o sofrimento delas que um minuto desse horrível fogo parece ser um século.

II. Santo Tomás de Aquino, o príncipe dos teólogos, disse que o fogo do Purgatório é igual em intensidade ao fogo do inferno, e que o mínimo contato com ele é mais aterrador que todos os sofrimentos possíveis desta terra! Santo Agostinho, o maior de todos os santos doutores, ensina que, para serem purificadas de suas faltas antes de serem aceitas no Céu, as almas depois de mortas estão sujeitas a um fogo mais penetrante e mais terrível do que nenhum que se possa ver, sentir ou conceber nesta vida. Ainda que este fogo esteja destinado a limpar e purificar a alma, disse o Santo Doutor, ainda é mais agudo que qualquer coisa que possamos resistir na Terra. 

III. São Cirilo de Alexandria não duvida em dizer que 'seria preferível sofrer todos os possíveis tormentos na Terra até o dia final que passar um só dia no Purgatório'. Outro grande Santo disse: 'Nosso fogo, em comparação com o fogo do Purgatório, é uma brisa fresca'. Outros santos escritores falam em idênticos termos desse horrível fogo.

Como é que as penas do Purgatório são tão severas?

I. O fogo que vemos na Terra foi feito pela bondade de Deus para nossa comodidade e nosso bem estar. Às vezes é usado como tormento, e é o mais terrível que podemos imaginar. O fogo do Purgatório, pelo contrário, foi feito pela Justiça de Deus para penar e purificar-nos e é, por conseguinte, incomparavelmente mais severo.

II. Nosso fogo, como máximo, arde até consumir nosso corpo feito de matéria; ao contrário, o fogo do Purgatório atua sobre a alma espiritual, a qual é inexplicavelmente mais sensível à pena. Quanto mais intenso é o fogo, mais rapidamente destrói a sua vitima; a qual, por conseguinte cessa de sofrer; por outro lado, o  fogo do Purgatório inflige a mais aguda e a mais violenta pena, mas nunca mata a alma nem lhe tira a sensibilidade. 

III. Tão severo como é o fogo do Purgatório, é a pena da separação de Deus, a qual a alma também sofre no Purgatório, e esta é a pena mais severa. A alma separada do corpo deseja com toda a intensidade de sua natureza espiritual estar com Deus. É consumida de intenso desejo de voar até Ele. Mas ainda é retida, e não há palavras para descrever a angústia dessa aspiração insatisfeita. 

IV. Que loucura, então, é para um ser inteligente como o ser humano negar qualquer precaução para evitar tal espantoso feito. É infantil dizer que não pode ser assim, que não o podemos entender, que é melhor não pensar ou não falar dele. O fato é que, creiamos ou não, todas as penas do Purgatório são mais elevadas do que podemos imaginar ou conceber. Estas são palavras de Santo Agostinho.

Capítulo II - Sobre o Purgatório: Pode tudo isto ser verdade?



I. A existência do Purgatório é tão certa que nenhum católico tem tido nunca qualquer dúvida acerca dele. Foi ensinado desde os tempos mais remotos pela Igreja e foi aceita com indubitável fé quando a Palavra de Deus foi pregada. A doutrina é revelada na Sagrada Escritura e crida por milhões e milhões de crentes de todos os tempos.

II. Ainda, tal como o temos remarcado, as ideias de alguns são tão vagas e superficiais, neste tema tão importante, que são como pessoas que cerram seus olhos e caminham deliberadamente no fio de um precipício. Seria bem em recordar que a melhor maneira de cortar nossa estadia no Purgatório - e ainda mais, evitá-lo - é ter uma clara ideia dele, de pensar bem nele e adotar os remédios que Deus nos oferece para evitá-lo. Não pensar nele é fatal. É cavar para eles mesmos uma fossa, e preparar para eles mesmos um terrível, largo e rigoroso Purgatório.

O Príncipe Polaco

III. Houve um príncipe polaco, que por uma razão política, foi exilado de seu pais natal, e chegado à França, comprou um lindo castelo ali. Desafortunadamente, perdeu a Fé de sua infância e estava ocupado em escrever um livro contra Deus e a existência da vida eterna. Dando um passeio uma noite em seu jardim, encontrou-se com uma mulher que chorava amargamente. Perguntou-lhe o porquê de seu desconsolo.

IV. 'Oh, príncipe', ela replicou, 'sou a esposa de John Marie, seu mordomo, o qual faleceu faz dois dias'. 'Ele foi um bom marido e um devoto servente de Sua Alteza. Sua enfermidade foi larga e gastei todos os recursos em médicos, e agora não tenho dinheiro para ir a oferecer uma Missa por sua alma'. O príncipe, tocado pelo desconsolo desta mulher, lhe disse algumas palavras, e ainda que professava já não crer mais na vida eterna, lhe deu algumas moedas de ouro para se ter a Missa por seu defunto esposo. 

V. Um tempo depois, também de noite, o Príncipe estava em seu estúdio trabalhando febrilmente em seu livro. Escutou um ruidoso tocar a porta, e sem levantar a vista de seus escritos, convidou a quem fosse a entrar. A porta se abriu e um homem entrou e parou frente ao escritório de Sua Majestade. Ao levantar a vista, qual não foi a surpresa do Príncipe ao ver John Marie, seu mordomo morto, que o olhava com um doce sorriso. 'Príncipe', ele lhe disse, 'venho agradecer-lhe pelas Missas que você permitiu que minha mulher encomendasse por minha alma. Graças ao Salvador Sangue de Cristo, oferecido por mim, vou agora ao Céu , mas Deus me permitiu vir aqui e agradecer-lhe por suas generosas esmolas'. Em seguida, o alertou  solenemente 'Príncipe, há um Deus, uma vida futura, um Céu e um Inferno'. Dito isto, desapareceu. O Príncipe caiu de joelhos e recitou um Credo.

Santo Antônio e seu amigo

VI. Aqui há uma narração de diferente classe, mas não menos instrutiva. Santo Antônio, o ilustre Arcebispo de Florença, relata que um piedoso cavaleiro havia morrido, o qual tinha um amigo em um convento dominicano no qual o Santo residia. Varias Missas foram sufragadas por sua alma. O Santo se afligiu muito quando, depois de um prolongado lapso, a alma do falecido lhe apareceu, sofrendo muitíssimo.

VII. 'Oh meu querido amigo' exclamou o Arcebispo, estás todavia no Purgatório, tu, que levaste tal piedosa e devota vida?' 'Assim é, e terei que permanecer aqui por um largo tempo' replicou o pobre sofredor, 'pois em minha vida na terra fui negligente em oferecer sufrágios pelas almas do Purgatório. Agora, Deus por seu justo juízo aplica os sufrágios que deviam ser aplicados por mim, em favor daqueles pelos quais devia ter rezado'.

VIII. 'Mas Deus, também, em sua justiça, me dará todos os méritos de minhas boas obras quando entrar ao Céu ; mas, primeiro de tudo, tenho que expiar minha grave negligência de não me lembrar dos outros'. Tão certas são as palavras de Nosso Senhor: 'Com a vara com que medes serás medido'. Recorda, tu que lês estas linhas, o terrível destino desse piedoso cavaleiro será o daqueles que deixam de orar e recusam a ajudar as Santas Almas.

('Léeme o laméntalo', livreto de autoria do Pe. Sullivan, que assina-o como EDM - Enfant De Marie)

domingo, 2 de junho de 2013

'EU NÃO SOU DIGNO QUE ENTRES EM MINHA CASA'


Neste domingo, a liturgia da Igreja nos faz retomar a caminhada do Tempo Comum, na revelação diária dos tempos de salvação pelas promessas de Cristo e na vivência cotidiana dos mistérios do Senhor (encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão). As palavras e os ensinamentos de Jesus, sempre tomados à luz dos Evangelhos, são proclamados a cada domingo e reverberam por toda a nossa vida ela vida como caminho seguro e pleno de nossa santificação.

Naquele dia, quando 'entrou em Cafarnaum' (Lc, 7,1), logo após ter proclamado o sermão das bem-aventuranças, Jesus vai defrontar-se com uma profunda e sincera manifestação de fé de um oficial romano, o que lhe vai causar admiração. Sim, admiração do próprio Filho de Deus; não pela fé do homem em si, posto que esta é virtude inata ao próprio Deus, mas pela infusão pura e espontânea de tão elevada graça na alma de um gentio (pagão). Tal confissão admirável de fé propiciou o próprio testemunho público do Senhor: 'Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé' (Lc, 7,9) que, imortalizada pelo Evangelho, foi inserida como manifestação corrente na Santa Liturgia da missa como modelo de súplica ao Senhor em face da nossa indignidade humana diante os sagrados mistérios da comunhão eucarística: 'Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo'.

Aquele homem vai ser o primeiro testemunho de que a salvação e o reino de Deus se abre à humanidade inteira, aos judeus e aos gentios, a todos os homens que professem como Única Verdade o Evangelho de Cristo, fora do qual não existe salvação: 'Se alguém vos pregar um evangelho diferente daquele que recebestes (de Jesus), seja excomungado'  (Gl 1, 9). Aquele centurião, homem de posses (pois podia até mesmo construir e doar uma sinagoga pra os judeus) e de grande autoridade (pois tinha muitos soldados e empregados sob suas ordens imediatas), não tem um nome, mas a glória do anonimato se revela nas suas atitudes extremadas de fé, humildade e confiança diante do Senhor. 

E Jesus concede o milagre da cura ao empregado, sem ter entrado na casa do centurião, solícito às súplicas do homem que O encontrara antes pela fé. A mesma fé que nos invoca o Senhor: 'Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o recebereis' (Mt 21, 22) e que reverbera pelo Tempo Comum, como instrumento definitivo da graça divina para a nossa plena conversão e santificação como filhos de Deus.

sábado, 1 de junho de 2013

PRIMEIRO SÁBADO DE JUNHO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: FESTA DA VISITAÇÃO


MAGNIFICAT

Magnificat anima mea Dominum
et exsultavit spiritus meus in Deo salvatore meo, 
quia respexit humilitatem ancillae suae. 
Ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes, 

quia fecit mihi magna, qui potens est, 
et sanctum nomen eius, 
et misericordia eius in progenies et progenies 
timentibus eum. 

Fecit potentiam in brachio suo, 
dispersit superbos mente cordis sui; 
deposuit potentes de sede
et exaltavit humiles; 
esurientes implevit bonis
et divites dimisit inanes. 

Suscepit Israel puerum suum, 
recordatus misericordiae, 
sicut locutus est ad patres nostros, 
Abraham et semini eius in saecula.


(vídeo: trecho)

A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva.
De hoje em diante me chamarão bem aventurada todas as gerações,

O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas,
Santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração
Sobre aqueles que o temem.

Manifestou o poder do seu braço
E dispersou os soberbos,
Derrubou os poderosos de seus tronos
E exaltou os humildes;
Aos famintos encheu de bens
E aos ricos despediu de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo, 
Lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais 
A Abraão e à sua descendência para sempre.

A MORTE DE SANTA JOANA D' ARC

Na manhã de 30 de maio, quarta-feira após a festa da Santíssima Trindade, por volta das sete horas da manhã, os dois dominicanos, Martin Ladvenu e Jean Toutmouillé, vieram à prisão; eles tinham sido encarregados, enquanto filhos da Inquisição, de informar à Joana o horrível suplício ao qual ela deveria se preparar imediatamente. Estes dois religiosos eram muito jovens; talvez, apesar de seu bem querer, eles não tinham toda a experiência necessária para cumprir uma tarefa tão delicada e tão pesada. Tomando conhecimento de uma só vez de que ela deveria morrer na mesma manhã entre as chamas, Joana teve uma crise de verdadeira aflição. Ela soluçava dolorosamente e agarrava seus cabelos em gestos convulsivos, os arrancando. Quando ela se recuperou um pouco, ela exclamou: 'Infelizmente tratam-me tão horrivelmente que meu corpo límpido, por completo, que nunca foi corrompido, hoje será consumido e reduzido em cinzas! Ah! ah! preferiria ser decapitada sete vezes do que ser queimada… Invoco diante de Deus, o grande juiz, estes grandes erros e injustiças que me fazem'. Como Pierre Cauchon entrava, ela lhe diz: 'Bispo, morro por vós'. Mas como pouco importava a Pierre Cauchon a morte de uma pobre moça, ele lhe respondeu com indiferença: 'Ah! Joana, tenha paciência, você morre porque você não manteve o que tinha prometido…' – 'Se o senhor tivesse me colocado na prisão da Igreja, replicou Joana, isso não teria acontecido, eis porque eu o cito diante de Deus'…
O apelo reiterado de Joana à justiça divina nos indica por demais que sua angústia, por mais profunda que fosse, não era de alguma forma de desesperança. Mas na agonia que ela atravessava, a santa deu provas mais formais de esperança. Assim que o doutor Pierre Maurice, que tinha por várias vezes a aconselhado e confessado, se aproximou, ela lhe perguntou: 'Mestre Pierre, onde estarei hoje, nesta mesma noite?'  - 'Você não tem esperança no Senhor?' – 'Sim, respondeu ela, e com a graça de Deus, eu estarei no Paraíso'.
Quando todos se retiraram, o dominicano Martin Ladvenu permaneceu junto dela; ela se confessou longamente e minuciosamente, repassando por duas vezes toda a sequência de suas menores faltas; depois do que ela pediu para receber a santa Comunhão. O irmão Martin estava completamente disposto a lha administrar, mas ele não ousava a isso sem o consentimento do bispo de Beauvais. O oficial Massieu que, apesar de algumas fraquezas, sempre tivera certo interesse pela Donzela, teve a coragem de se dirigir ao bispo. Ele obteve além do esperado. Pierre Cauchon tinha alcançado seus fins políticos ao conseguir condenar a Donzela, não lhe importava que ela recebesse ou não os Sacramentos. Após ter deliberado por um instante com seus amigos, ele respondeu: 'Vá dizer ao irmão Martin para lhe dar o sacramento da Eucaristia e tudo o que ela desejar'. Mas se Joana fosse herética, relapsa e obstinada em seus erros diabólicos, como se poderia admiti-la à Comunhão?
Contudo, fizeram isso com todas as honras devidas ao Santo Sacramento. Com efeito, como um padre carregava a hóstia de uma maneira clandestina, sobre a patena, coberta somente com um véu, sem chamas e sem séquito, sem sobrepeliz e sem estola, o irmão Martin Ladvenu, que a confissão e os sentimentos da santa tinham por demais edificado, indignou-se com esta falta e requisitou que o pároco vizinho trouxesse o corpo de Cristo com solenidade. Logo o clero da paróquia chegou em procissão, a cruz à frente; o oficiante, revestido com os ornamentos sacerdotais, carregava o Santo Sacramento, um coroinha agitava o sinete e uma multidão de fiéis seguiam munidos de tochas; um clérigo cantava no tom monótono do dia ferial as litanias dos santos, e, em cada invocação, a multidão respondia: 'Rogai por ela. Rogai por ela'. Quando o Santíssimo Sacramento entrou na prisão, Joana caiu de joelhos; ela recebeu o corpo de seu Senhor com lágrimas de amor e de consolação. Respeitaram por algum tempo o fervor de sua ação de graças, depois lhe anunciaram que tinha chegado a hora de ir ao martírio.
Até então, ao que tudo indica, Joana continuara a usar o hábito de homem que ela tinha recuperado, o que prova que os próprios padres não acreditavam que este fosse um crime tão grande, um sacrilégio. Antes de deixar a prisão, vestiram-na com uma longa túnica preta de penitência, com um capuchinho ou boné na cabeça. Um carro pesado e grosseiro esperava há algum tempo no pátio do castelo, era a charrete do carrasco. Fizeram-na subir. O padre Jean Massieu, de batina preta, e o dominicano Martin Ladvenu, com túnica branca, entraram também no carro; o carrasco, sentado, pôs os cavalos em marcha. O governo inglês, por uma demonstração militar completamente excepcional, assinalou a importância política desta execução.
Mais de setecentos soldados armados com lanças e espadas escoltaram Joana d’Arc; parecia que era a própria França que conduziam ao suplício. A multidão, avisada de véspera da hora da execução, estava em massa nas ruas, ao longo dos muros, nos cruzamentos, nas portas, nas janelas das casas. Do entorno da cidade, os próprios camponeses tinham vindo para assistir ao espetáculo. O carro, através de todo esse mundo e apesar dos esforços, dos gritos, dos golpes dados pelos soldados contra a população, só avançava com muito esforço. Joana, com as mãos juntas, rezava com tantas lágrimas e fervor, que os espectadores dela estavam profundamente comovidos. Mesmo aqueles que lhe tinham sido mais hostis, assim que a viram, foram ganhados pela emoção contagiosa e ficaram em silêncio. Nicolas Loyseleur, o traidor, o Judas, que tinha tão odiosamente abusado da confiança da jovem e de sua autoridade de confessor, não pôde suportar por muito tempo este espetáculo. Coberto por remorsos, uma verdadeira crise de desesperança o tomou. Foi como um acesso de terror e de loucura. Viram-no, fora de si, com gestos estranhos e gritos frenéticos, dividir a multidão, atravessar o cinturão dos soldados, chegar até a carroça, que ele tentou escalar, e gritar por perdão. Os soldados, entendendo o que ele queria, caíram sobre ele e o encheram de socos; ele iria ser morto, quando Warwick chegou, o protegeu e lhe aconselhou para deixar Rouen o mais rápido, se ele desejasse viver.
Contudo, a pesada charrete chegou diante da praça do Velho Mercado. Joana perguntou: 'É aqui que eu devo morrer?' Os padres que a acompanhavam não tiveram coragem de lhe responder; as disposições tomadas para o suplício eram muito mais significativas do que as palavras. Na praça, três estrados tinham sido levantados: um, grande e suntuosamente adornado, para o cardeal de Winchester, o bispo de Beauvais e todos os prelados e assessores; outro, ainda considerável, para o intendente de Rouen, seu tenente, seus oficiais e todo o poder secular; um terceiro, mais elevado, mas menor, formava um tipo de cátedra onde deveriam se colocar o pregador e a condenada. Diante, elevava-se a fogueira, que tinham tido o cuidado de construir mais larga e mais elevada do que de costume, a fim de permitir que todos constatassem a realidade do suplício e da morte da Donzela. Sobre este cadafalso de gesso tinham pregado este epíteto em letras maiúsculas:
'Joana, que se fez nomear a Donzela, mentirosa, perniciosa, abusadora do povo, advinha, supersticiosa, blasfemadora de Deus, presunçosa, que não professa a fé de Jesus Cristo, vingadora, idólatra, cruel, dissoluta, invocadora de demônios, apóstata, cismática e herética'
O cardeal de Winchester, o bispo de Beauvais, o Inquisidor e todo o clero, o governador Warwick com os senhores ingleses, o intendente com os vereadores, tinham ocupado seus assentos sobre seus respectivos estrados. Mil soldados ingleses cercavam os três andaimes. Uma multidão de mais de dez mil pessoas espremia-se na praça, nas fachadas das casas, e até nas saídas das ruas vizinhas. Joana apareceu no topo do ambão. Ao seu lado, o pregador tomou seu lugar e se colocou a falar. Era Nicolas Midi, da Universidade de Paris. Ele escolheu como texto de seu discurso o versículo da primeira epístola aos Coríntios, capítulo XII. Sid quid patitur unum mem brum compatiuntur alia membra. 'O que sofre um membro, todos os outros o sofrerão'. E ele se colocou a desenvolver este tema, esforçando-se para demonstrar como a Donzela era um membro pútrido e como ela deveria ser arrancada da Igreja e da humanidade. Ele falou durante um longo tempo com uma extrema veemência e terminou por estas palavras de uma caridade fingida: 'Joana, vá em paz, a Igreja não pode mais te defender e te remete às mãos do poder secular' [...]
[...] Enfim, os carrascos, armados com tochas em chamas, aproximam-se da fogueira. Joana suplica para que o irmão Martin Ladvenu permaneça junto dela; ele faz isso, mas agarrando a grande cruz, ele a mantém 'elevada, reta, diante dos olhos de Joana, até o passo da morte'. A fogueira, sendo feita, em parte, por feixes muito secos, o fogo aceso nos quatro cantos colocou-se a crepitar e a se elevar rapidamente. Ouviram Joana professar Deus, seus santos, o nome de Jesus, e protestar que suas vozes não a tinham enganado. A chama invadiu rapidamente toda a fogueira, subiu com uma única labareda até o céu, iluminando os rostos dos carrascos e dos soldados; no meio de um silêncio absoluto, ouviram Joana gritar profundamente: 'Jesus, Jesus, Jesus…'
(Texto publicado originalmente no site Apostolado Católico Arauto da Verdade)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

INDULGÊNCIAS DO DIA DA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI

Neste dia da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, o católico pode ser contemplado com as seguintes indulgências:

(i) Indulgência parcial: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Alma de Cristo':

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossa chagas, escondei-me.
Não permitais que eu me separe de vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da morte chamai-me e
mandai-me ir para vós,
para que com vossos Santos vos louve
por todos os séculos dos séculos.
Amém. 

(ii) Indulgência plenária: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Tantum Ergo' ou 'Tão sublime Sacramento':

Tão sublime sacramento
vamos todos adorar,
pois um Novo testamento
vem o antigo suplantar!
Seja a fé nosso argumento
se o sentido nos faltar.
Ao eterno Pai cantemos
e a Jesus, o Salvador,
igual honra tributemos,
ao Espírito de amor.
Nossos hinos cantaremos,
chegue aos céus nosso louvor.
Amém.

Do céu lhes deste o pão,
Que contém todo o sabor.

Oremos: Senhor Jesus Cristo, neste admirável Sacramento, nos deixastes o memorial da vossa Paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso corpo e do vosso sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós que viveis e reinais para sempre. Amém.

CORPUS CHRISTI


Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo, é uma festa litúrgica da Igreja sempre celebrada na quinta–feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. Abaixo, duas orações características desta data litúrgica:

Anima Christi

Anima Christi, sanctifica me.
Corpus Christi, salva me.
Sanguis Christi, inebria me.
Aqua lateris Christi, lava me.
Passio Christi, conforta me.
O bone Iesu, exaudi me.
Intra tua vulnera absconde me.
Ne permittas me separari a te.
Ab hoste maligno defende me.
In hora mortis meæ voca me.
Et iube me venire ad te,
ut cum Sanctis tuis laudem te
in sæcula sæculorum. 
Amen.


Tantum Ergo

  Tantum ergo Sacramentum
Veneremur cernui:
Et antiquum documentum
Novo cedat ritui:
Praestet fides supplementum
Sensuum defectui.

Genitori, Genitoque
Laus et iubilatio,
Salus, honor, virtus quoque
Sit et benedictio:
Procedenti ab utroque
Compar sit laudatio.

Amen.