sexta-feira, 24 de maio de 2013

CONCÍLIO VATICANO I

O Concílio Vaticano I (vigésimo concílio ecumênico da Igreja Católica) foi realizado entre 8 de dezembro de 1869 e 18 de julho de 1870. Sua proposição, mais de trezentos anos após a última assembléia do Concílio de Trento (3-4/12/1563), foi comunicada aos cardeais em dezembro de 1864 e convocada formalmente em 29/06/1868 pelo Papa Pio IX (1846 - 1878).


O concílio foi aberto em 08/12/1869, em sessão pública, na Basílica de São Pedro e se estendeu por um período de cerca de sete meses, comportando 86 congregações gerais e mais três sessões públicas, além daquela da sua abertura oficial. Na segunda sessão, em 06 de janeiro de 1870, foi proclamada  pelo papa uma profissão pública da fé católica em resposta à ascensão e influências já crescentes do liberalismo e do modernismo. Na terceira sessão pública, realizada em 24 de abril de 1870, foi promulgada a Constituição Dogmática Dei Filius, dividida em quatro capítulos (Deus, criador de todas as coisas; a Revelação; a Fé; A Fé e a Razão). 

Na quarta e última sessão pública, realizada em 18 de julho de 1870, foi aprovada a Constituição Pastor Aeternus, constituição dogmática sobre a Igreja de Cristo, prescrevendo os dogmas do primado e da infalibilidade papal. No seu quarto capítulo, prescreve-se, como dogma revelado por Deus, que as definições do Romano Pontífice, proferidas ex cathedra (ou seja, enquanto no ministério de Pastor da lgreja) e envolvendo questões de Fé e de Moral, gozam de especial assistência do Espírito Santo e são, portanto, infalíveis e irreformáveis por si mesmas, sem necessitar da aprovação formal da igreja.

Logo após esta sessão, embora ainda estivesse no início das suas atividades, o Concílio teve de ser interrompido abruptamente pois, no dia seguinte (19/07/1870), estourou a guerra franco-alemã, que culminou com a ocupação de Roma em 20/09/1870, pelas tropas de Victor Emmanuel II. Em 20/10/1870, o Papa suspendeu formalmente o Concílio para posterior reabertura e continuação, o que  nunca ocorreu. O Concílio Vaticano II, que o sucedeu, somente seria realizado quase cem anos depois. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

ORAÇÃO: COROA DE NOSSA SENHORA DAS LÁGRIMAS


A Coroa (ou Rosário) de Nossa Senhora das Lágrimas é composta por sete conjuntos iguais de contas brancas (uma conta grande seguida de sete contas menores), ligadas a um cordão contendo três outras contas brancas menores e uma medalha de Nossa Senhora das Lágrimas, devendo ser rezada com as seguintes orações:

Oração Inicial

Eis-nos aos Vossos pés, ó dulcíssimo Jesus Crucificado, para Vos oferecer as Lágrimas d’Aquela que, com tanto amor, Vos acompanhou no caminho doloroso do Calvário. Fazei, ó bom Mestre, que nós saibamos aproveitar a lição que elas nos dão, para que, realizando a Vossa Santíssima Vontade na terra, possamos um dia, nos Céus, Vos louvar por toda a eternidade. Amém.

Nas contas maiores

Vede, ó Jesus, que são as lágrimas d’Aquela que mais Vos amou na terra... E que mais Vos ama nos Céus.

Nas contas menores

Meu Jesus, ouvi os nossos rogos, Pelas lágrimas de Vossa Mãe Santíssima.
Vede, ó Jesus, que são as lágrimas d’Aquela que mais Vos amou na terra... E que mais Vos ama nos Céus. (três vezes)

Oração Final

Virgem Santíssima e Mãe das Dores, nós Vos pedimos que junteis os Vossos pedidos aos nossos, a fim de que Jesus, Vosso Divino Filho, a Quem nos dirigimos, em nome das Vossas Lágrimas de Mãe, ouça as nossas preces e nos conceda, com as graças que desejamos, a coroa eterna. Amém.

Jaculatórias

Coração de Jesus Crucificado, fonte de amor e de perdão! Por Vossa mansidão divina renovai a face da terra, e reinai em nossos corações. Ó Virgem dolorosíssima! As Vossas lágrimas derrubaram o império infernal.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A BÍBLIA EXPLICADA (V)


Como foram escritos os evangelhos? 

A Igreja afirma sem vacilar que os quatro evangelhos canônicos 'transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, realmente operou e ensinou (...), durante a sua vida entre os homens' (Concilio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 19). Estes quatro evangelhos 'têm origem apostólica; pois aquelas coisas que os Apóstolos, por mandato de Cristo, pregaram, foram depois, sob inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por homens do seu grupo, como fundamento da fé' (ibidem, n. 18). 

Os escritores cristãos antigos interessaram-se em explicar como é que os evangelistas realizaram este trabalho. Santo Irineu, por exemplo, diz que 'Mateus publicou entre os hebreus, na sua própria língua, uma forma escrita do evangelho, enquanto Pedro e Paulo, em Roma, anunciavam o evangelho e fundavam a Igreja. Foi depois da sua partida que Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu também por escrito o que tinha sido pregado por Pedro. Lucas, companheiro de Paulo, consignou também num livro o que tinha sido pregado por este. Depois João, o discípulo do Senhor, o que se tinha reclinado sobre o seu peito (Jo 13, 23), publicou também o evangelho enquanto residia em Éfeso' (Contra as heresias, III,1, 1). 

Comentários muito semelhantes encontram-se em Papias de Hierápolis ou Clemente de Alexandria (cf. Eusébio de Cesareia, Hist. Ecl., 3, 39, 15; 6, 14, 5-7); os evangelhos foram escritos pelos Apóstolos (Mateus e João) ou por discípulos dos Apóstolos (Marcos e Lucas), mas sempre recolhendo a pregação do evangelho por parte dos Apóstolos.

A exegese moderna, com um estudo muito minucioso dos textos evangélicos, explicou de maneira mais pormenorizada este processo de composição. O Senhor Jesus não enviou os seus discípulos a escrever, mas a pregar o evangelho. Os Apóstolos e a comunidade apostólica procederam desse modo, e, para facilitar a atividade evangelizadora, puseram parte desses ensinamentos por escrito. Finalmente, no momento em que os apóstolos e os da sua geração começaram a desaparecer, 'os autores sagrados escreveram os quatro evangelhos, escolhendo algumas coisas dentre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando algumas, ou explicando outras segundo o estado das Igrejas' (Dei Verbum, n. 19).

Portanto, pode concluir-se que os quatro evangelhos são fiéis à pregação dos Apóstolos sobre Jesus e que a pregação dos Apóstolos sobre Jesus é fiel ao que Jesus fez e disse. Este é o caminho pelo qual podemos dizer que os evangelhos são fiéis a Jesus. De fato, os nomes que os antigos escritos cristãos dão a estes textos, 'Recordações dos Apóstolos', 'Comentários, Palavras sobre o Senhor' (cf. São Justino, Apologia,1, 66; Diálogo com Trifão, 100), apontam para este significado. Com os escritos evangélicos temos acesso ao que os Apóstolos pregavam sobre Jesus Cristo.


Que registros as fontes romanas e judaicas nos dão sobre Jesus? 

As primeiras referências a Jesus em documentos literários, fora dos escritos cristãos, podem ser encontrados em alguns historiadores helênicos e romanos que viveram na segunda metade do século I ou na primeira do século II, portanto, bastante próximo dos acontecimentos. O texto mais antigo onde se menciona Jesus, ainda que de um modo implícito, foi escrito por um filósofo estoico originário de Samosata (Síria), chamado Marabar Sarapiton, por volta do ano 73. Refere-se a Jesus como o 'sábio rei' dos judeus, dizendo que promulgou 'novas leis', talvez em alusão às antíteses do Sermão da Montanha (cfr. Mt 5, 21-48) e que de nada serviu aos judeus dar-lhe a morte.

A menção explícita de Jesus mais antiga e célebre é a que faz o historiador Flávio Josefo (Antiquitates Iudaicae XVIII, 63-64), nos finais do século I, também conhecida como Testimonium Flavianum. Esse texto, que se conservou em todos os manuscritos gregos da obra de Josefo, chega a insinuar que podia ser o Messias, pelo que muitos autores alegam que terá sido interpolado por copistas medievais. Hoje em dia, os investigadores pensam que as palavras originais de Josefo deviam ser muito parecidas com as que se conservaram numa versão árabe do texto citado por Agápio, um Bispo de Hierápolis, no século X, onde já não figuram as presumíveis interpolações. 

Diz assim: 'Por este tempo, um homem sábio chamado Jesus teve uma boa conduta e era conhecido como virtuoso. Teve como discípulos muitas pessoas de entre os judeus e outros povos. Pilatos condenou-o a ser crucificado e morrer. Mas, os que se tinham feito seus discípulos não abandonaram o seu seguimento e contaram que se lhes apareceu três dias após a crucificação e estava vivo, e que por isso podia ser o Messias do qual os profetas tinham dito coisas maravilhosas'. Entre os escritores romanos do século II (Plínio, o Moço; Epistolarum ad Traianum Imperatorem Cumeiusdem Responsis Liber X, 96; Tácito, Anais XV, 44; Suetonio, Vida de Cláudio, 25, 4) há algumas alusões à figura de Jesus e à ação dos seus seguidores. Nas fontes judaicas, particularmente no Talmude ,também há várias alusões a Jesus e a certas coisas que se diziam d’Ele e que permitem corroborar alguns detalhes históricos por fontes aparentemente pouco ou nada suspeitas de manipulação cristã. 

(Da obra 'Jesus Cristo e a Igreja' - Universidade de Navarra)

terça-feira, 21 de maio de 2013

VERSUS: DOIS CAMINHOS

Dois caminhos bem distintos pode percorrer a nossa alma prisioneira de um corpo livre: com o olhar em Deus ou com os pés fincados no mundo. No horizonte longínquo ou na próxima curva da estrada, vão possuir asas os que não almejaram pés para viver ou vão sucumbir nas trevas os que nunca ansiaram pela luz.



TERÇA-FEIRA PARA A ETERNIDADE

MEDITAÇÕES ETERNAS PARA CADA DIA DA SEMANA 
(Santo Afonso de Ligório)


Atos de preparação às meditações


1. Alma minha reaviva tua Fé, porquanto te achas diante de teu Deus. Adora-O profundamente.

2. Humilha-te aos pés de Deus e peça-Lhe, do fundo do coração, perdão.

TERÇA-FEIRA - O PECADO MORTAL

1. Considera como, tendo sido criado por Deus para amá-Lo, com infernal ingratidão te rebelaste contra Ele, tratando-O como inimigo, desprezando sua graça e amizade. Tu sabias que com aquele pecado Lhe causavas amaríssimo desgosto, e não obstante cometeste-O. Como procede quem peca? Volta a Deus as costas; deixa de O respeitar, levanta a mão para O ferir, e tortura seu divino coração. O homem, quando peca, diz a Deus com as suas obras: afasta-Te de mim, não Te quero obedecer, nem servir, nem reconhecer por meu Senhor, nem O ter por meu Deus. 

O meu deus é o prazer, o interesse, a vingança. Tal foi a linguagem do teu coração, quando preferiste a Deus a criatura. Santa Maria Madalena de Pazzi não podia acreditar que um cristão fosse capaz de cometer um pecado mortal com plena advertência. E tu, querido leitor, o que dizes? Quantos pecados não tens cometidos já! 'Perdoa-me, meu Deus, e tende piedade de mim. Eu Vos ofendi, ó Bondade infinita. Detesto os meus pecados, amo-Vos, e arrependo-me de ter caído na torpeza de Vos injuriar, ó meu Deus, digno de infinito amor'. 

2. Considera como Deus te falava, quando pecavas: 'Meu filho, eu Sou o teu Deus, que te criei do nada e remi com o meu sangue; Eu proíbo-te, sob pena de incorreres no meu desagrado, que cometas este pecado'. Mas tu, pecando, dirias a Deus: 'Senhor, eu não quero obedecer-Te, quero satisfazer meus apetites, e é-me indiferente desagradar-Te e perder a Tua graça'. 'Eis aqui, ó meu Deus, o que eu tenho feito tantas vezes. Como pude fazer-Vos sofrer? Oxalá eu tivesse morrido antes de Vos ter ofendido. De agora em diante não quero desgostar-Vos mais. Quero amar-Vos, ó Bondade infinita! Dai-me a perseverança, dai-me o Vosso santo Amor'. 

3. Considera que, quando os pecados chegam a um certo e determinado número, Deus abandona o pecador. Por isso, se te vires tentado a pecar de novo, ó meu irmão, não digas: confessar-me-ei depois; porque se Deus te fizer morrer então repentinamente, se Deus te abandonar, é fora de dúvida que se não te confessaras; em tais casos, que será de ti por toda a eternidade? Eis o motivo porque tantos homens têm-se  condenado. Estes também esperavam o perdão; mas a morte surpreendeu-os, e perderam-se. Teme que te sobrevenha a mesma calamidade, porque não merece misericórdia quem se serve da bondade de Deus para ofendê-lO. 

Depois de tantos pecados que Deus te tem perdoado, deves com razão temer que não te perdoe mais, se reincidires no caminho do mal. Dai-Lhe graças por haver te esperado até agora, e faze neste momento o propósito firme de sofrer antes a morte que cometer outro pecado mortal, dizendo sinceramente: 'Já bastam, Senhor, as ofensas que Vos tenho feito; a vida que me resta não a quero empregá-la em Vos ofender, a Vós que não O mereceis. Quero empregá-la só em amar-Vos e em chorar as ofensas que vos tenho feito. Arrependo-me, meu Jesus, de todo o meu coração; quero amar-Vos; dai-me forças para Vos amar. Maria, minha Mãe, auxiliai-me'. 

Fruto I. Farei frequentemente atos de arrependimentos, dizendo: 'Misericórdia, ó meu Jesus; arrependo-me de Vos ter ofendido, peço-Vos perdão para os meus pecados'. 
Fruto II. Examinarei se há em mim algum afeto desordenado que possa afastar-me de Deus, e desterrá-lo-ei do coração.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará. Pois,

que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? 

Ou, o que o homem poderia dar em troca de sua alma? Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos'. 
(Mc 8, 34-38)

SEGUNDA-FEIRA PARA A ETERNIDADE

MEDITAÇÕES ETERNAS PARA CADA DIA DA SEMANA 
(Santo Afonso de Ligório)


Atos de preparação às meditações


1. Alma minha reaviva tua Fé, porquanto te achas diante de teu Deus. Adora-O profundamente.

2. Humilha-te aos pés de Deus e peça-Lhe, do fundo do coração, perdão.

SEGUNDA-FEIRA - A IMPORTÂNCIA DO FIM DO HOMEM

1. Considera, ó homem, quanto tens a lucrar na consecução do teu grande fim. Tens a lucrar tudo, porque, se o conseguires, salvar-te-ás, serás para sempre ditoso, gozarás em teu corpo e em tua alma toda a sorte de bens; mas se o malograres, perderás a alma e o corpo, perderás o Céu, perderás a Deus; serás eternamente desgraçado, porque condenar-te-ás para sempre. É por isso que a ocupação das ocupações, a única e importante, a única necessária, é servir a Deus e salvar a alma. Não digas pois, cristão: Agora quero satisfazer meus apetites: depois consagrar-me-ei a Deus, e espero salvar-me. Esta esperança vã tem precipitado no inferno muitos que diziam isto mesmo, e agora estão irremediavelmente condenados. 

Qual dos réprobos quereria em vida condenar-se? Nenhum por certo; mas Deus amaldiçoa o que peca, fiado em sua misericórdia. Maldito o homem que peca com esperança. Tu dizes: Quero cometer este pecado, e confessá-lo-ei depois. Mas tens a certeza de que não te faltará tempo para isso? Quem de assegura que não morreras repentinamente depois do pecado? É certo que pecando perdes a graça divina  e é igualmente certo que voltarás a recuperá-la? Deus usa de misericórdia com os que O temem, mas não com os que O desprezam. Também não digas:  é-me indiferente confessar dois pecados ou três. 

Não, porque bem pode suceder que Deus esteja disposto a perdoar-te dois, e não a perdoar-te três. Deus sofre com paciência, mas não sofre sempre. Quando se enche a medida, não só não perdoa, mas castiga o pecador com a morte, ou abandona-o, de maneira que este, multiplicando os seus pecados, precipitar-se-á no inferno. Castigo muito pior que a própria morte. Meu irmão, por isto proceda com cuidado, deixa a vida desordenada que levas e consagra-te ao serviço de Deus; teme não seja este o último aviso que Deus te manda; já bastam as ofensas que Lhe tens feito, e que então grande número te tem sofrido; teme não obter perdão para mais algum outro pecado mortal que cometas. Adverte que se trata da tua alma e da tua eternidade. 

Oh! a quantos não tem feito abandonar o mundo, internando-os nos claustros, nas grutas e desertos, este grande pensamento da eternidade! Ah! Pobre de mim! Que vantagens advieram de tantos pecados por mim cometidos? O coração angustiado, a alma presa de dor, e o ter perdido a Deus e merecido o inferno. Ó meu Deus e meu Pai, convertei-me e fazei-me cativo do Vosso Amor. 

2. Considera que este negócio é, por desgraça, o mais descurado de todos os negócios. Em tudo se pensa, menos na salvação. Para tudo há tempo, menos para servir a Deus. Dizei a um homem mundano que frequente os Sacramentos, que faça ao menos meia hora de oração mental cada dia; responderás: Tenho filhos, tenho família, tenho interesses, tenho outras ocupações. Mas, desgraçado, não tens também tua alma para salvar? Pensas que tuas riquezas, teus filhos, teus parentes te poderão prestar algum auxílio na hora da morte ou livrar-te do inferno, se tens a desgraça de te condenares? Não presumas de poder conciliar Deus com o mundo ou o céu o com o pecado. A salvação não é um negócio que se deva tratar com indolência. 

É preciso que faças violência a ti mesmo, e trabalhes, se queres ganhar a coroa imortal. Quantos cristãos contavam com poder mais tarde servir a Deus e deste modo salvar-se; e, não obstante, estão agora no inferno! Loucura tão rematada pensar sempre no que tão depressa acaba, e tão raras vezes no que não terá fim! Ah! Cristão! Olha por ti; pensa que em breve hás de abandonar este mundo e entrar na eternidade. Pobre de ti se te condenares, porque jamais poderás remediar a tua desgraça. 

3. Medita, cristão, e dize contigo mesmo: Tenho uma alma só: se a perco, terei perdido tudo. Tenho uma alma só: se consigo conquistar o mundo, condenando-a, de que me servirá tão grande conquista? Se chego a ser um homem distinto, mas perco a minha alma, de que me servirá a minha distinção? Se acumulo riquezas, se aumento os meus haveres, se engrandeço minha família, e não obstante perco a minha alma, de que me servirá tudo isso? De que aproveitaram as riquezas, os prazeres, as vaidades a tantos os que viveram no mundo, quando seus corpos são agora cinza e pó na sepultura e suas almas estão condenadas no inferno? Se, pois, minha alma só a mim pertence, se não tenho mais que uma, e se, perdendo-a uma vez, a perco para sempre, devo pensar seriamente em salvá-la. É este um ponto de suma importância, porque se trata de ser sempre feliz ou sempre desgraçado. 

No meio da minha confusão, meu Deus, confesso-O: até aqui tenho vivido como cego; afastei-me muito de Vós; não tenho pensado em salvar esta minha única alma. Salvai-me, ó meu Pai, pelo amor de Jesus Cristo. Resigno-me a perder tudo, contanto que não vos perca a Vós, ó meu Deus. Maria, esperança minha, salvai-me com a vossa intercessão. 

Fruto I. Preparar-me-ei prontamente para a morte com uma confissão. 
Fruto II. Aplicar-me-ei com o empenho e fervor aos exercícios de piedade.