quarta-feira, 15 de maio de 2013

QUARTA-FEIRA PARA A ETERNIDADE

MEDITAÇÕES ETERNAS PARA CADA DIA DA SEMANA 
(Santo Afonso de Ligório)

Atos de preparação às meditações


1. Alma minha reaviva tua Fé, porquanto te achas diante de teu Deus. Adora-O profundamente.

2. Humilha-te aos pés de Deus e peça-Lhe, do fundo do coração, perdão.


QUARTA-FEIRA - A Morte

1. Considera que esta vida há de acabar. Já está pronunciada a sentença; tens de morrer. A morte é certa; a hora, porém, é incerta. O que será necessário para morrer? Um ataque apoplético, a ruptura de uma veia no peito, um catarro sufocante, um vômito de sangue, a mordedura de um animal venenoso, uma febre, uma pneumonia, uma chaga, uma inundação, um terremoto, um raio basta para te tirar a vida. A morte te assaltará, quando menos pensares.Quantos se deitaram à noite com saúde, e pela manhã foram encontrados mortos! E não poderá acontecer-te o mesmo a ti?

Dos que tem morrido repentinamente, nenhum esperava morrer deste modo; e não obstante assim morreram. Se estavam em pecado, onde estão agora, e onde estarão por toda a eternidade? Seja, porém, como for, é indubitável que chegará uma ocasião em que anoitecerá para ti, e não amanhecerá, ou antes, amanhecerá, e não anoitecerá. 'Virei como ladrão' diz Jesus Cristo; o que quer dizer: quando menos pensares e às escondidas. Avisa-te com tempo este teu amante Senhor, porque deseja a tua salvação. Corresponde, pois ao teu Deus; aproveita o aviso; prepara-te para bem morrer, antes de chegar a morte. Então não é tempo de preparação, porque já deve estar feita. É fora de dúvida que hás de morrer. Há de terminar para ti a cena este mundo, e não sabes quando. Quem sabe se será dentro de um ano ou dentro de um mês? Quem sabe se amanhã mesmo ainda estarás vivo? Meu Jesus, ilumine-me, e perdoe-me.

2. Considera que na hora da morte assistido de um sacerdote, que fará a encomendarão da tua alma, rodeado de parentes que por ti chorarão, com o Crucifixo à cabeceira e a vela benta aos pés, já prestes a passar à eternidade. Terás a cabeça dolorida, os olhos amortecidos, a língua abrasada, a garganta cerrada, o peito opresso, o sangue gelado, as carnes gastas e o coração transpassado de dor. Ao morrer deixarás tudo; pobre e indigente serás lançado a um sepulcro, e ali apodrecerás.

Os vermes e outros animais imundos roerão tuas carnes, e de ti ficarão apenas alguns ossos descarnados, um pouco de pó hediondo e nada mais. Abre uma sepultura, e vê a que ficou reduzido aquele homem opulento, aquele avaro, aquela mulher vaidosa. Assim termina a vida! Na hora da morte ver-te-ás rodeado de demônios que te apresentarão o sudário dos teus pecados, cometidos desde a tua infância. Agora o demônio, para induzir-te a pecar, encobre e desculpa as tuas faltas. Diz que é pequeno mal aquela amizade, aquela vaidade, aquele prazer, aquele rancor que alimentas em teu peito; que não há intenções criminosas naquelas conversações. Mas no momento da morte patenteará a enormidade dos teus pecados; e à luz daquela eternidade em que brevemente terás de entrar, conhecerás a gravidade da pena em que incorreste ofendendo a um Deus infinito. Apressa-te, enquanto é tempo, a remediar o mal que tens feito.

3. Considera que a morte é um momento de que depende a eternidade. Encontra-se o homem já próximo a expirar, e por conseguinte prestes a entrar em uma das duas eternidades. Sua sorte depende daquele último suspiro, imediatamente ao qual a alma é salva ou condenada para sempre. Ó momento! Ó último suspiro! Ó momento de que depende uma eternidade de glória ou de pena! Uma eternidade sempre feliz ou sempre desditosa! Uma eternidade de toda a espécie de bens ou de males! Uma eternidade, enfim, de Paraíso ou de Inferno! O que quer dizer: que, se naquele momento te salvares, em vez da desventura estarão sempre ao teu lado o contentamento e a felicidade; mas, se errares o golpe, e te condenares, serão teus companheiros inseparáveis e cruéis a aflição e o desespero. 

Na morte compreenderás o que quer dizer glória, Inferno, Pecado, Deus ofendido, lei de Deus desprezada, pecados calados na confissão, roubo não restituído. 'miserável de mim! dirá o moribundo, daqui a poucos momentos hei de comparecer diante de Deus. E quem sabe a sentença que me tocará! Para onde irei? Para o Céu, ou para o inferno? A gozar com os Anjos, ou a arder com os condenados? Serei ou filho de Deus, ou escravo do demônio? Ai de mim! Sabê-lo-ei dentro em pouco, e aonde entrar pela primeira vez ali permanecerei eternamente. Ah! Daqui a poucas horas, daqui a poucos momentos que será de mim? Que será de mim, se não reparar aquele escândalo, se não restituir aquele furto, aquela fama, se não perdoar de coração ao meu inimigo, se não me confessar bem?'. 

Então detestarás mil vezes o dia em que pecaste, o prazer que desfrutaste, a vingança que tomaste! Mas demasiado tarde e sem fruto, porque o farás simplesmente por temor do castigo, e não por amor de Deus. - Ah, Senhor! Desde este momento me converto a Vós: não quero esperar pelo momento em que a morte chegue; desde já Vos amo, abraço, e quero morrer abraçado Convosco. Maria, minha Mãe, fazei que eu morra sob o manto da vossa proteção; auxiliai-me naquele derradeiro transe.

Fruto I. Encararei com desprezo a vaidade do mundo e de meu corpo, origem de tantos pecados que tenho cometido.
Fruto II. Quando o demônio me tentar para ofender a Deus, direi prontamente: 'Considera que hás de morrer'.

DA VIDA ESPIRITUAL (50)

Pensa nos pobres, desconsidera os ricos; pede pelos humildes e descarta os soberbos, suplica a graça divina pelos seus parentes, mas omite os seus inimigos em suas orações? Você não é cristão! Ama a todos sem distinção alguma: nem pelo peso das riquezas, nem pelas atitudes de orgulho extremado, nem pela ação tresloucada e, ainda mais do que tudo, nunca pela sua deplorável capacidade humana de julgar e condenar tão facilmente! Ama apenas... Seja esta a sua via gloriosa, ornada pela quietude e mansidão do Bom Pastor; não faça julgamentos precipitados... Não partilhe desta via dolorosa formada pelos cacos de vidro de tantos espelhos quebrados de consciências que somente percebem o reflexo das misérias alheias.

terça-feira, 14 de maio de 2013

UM SACERDOTE NO NAUFRÁGIO DO TITANIC

No célebre naufrágio do Titanic, a história registra a presença de um padre católico, chamado Thomas Roussel Davids Byles. Filho mais velho de um pastor protestante, convertera-se ao catolicismo enquanto estudava teologia na Universidade de Oxford. Foi ordenado sacerdote em Roma aos 32 anos de idade e à época atuava na paróquia de Ongar em Essex, Inglaterra. Sua viagem para Nova York, como passageiro na segunda classe, tinha o objetivo de oficiar o casamento de um dos seus irmãos, que já morava nos Estados Unidos. 

(Padre Byles: 1870 - 1912)

De acordo com o relato dos sobreviventes, na manhã do fatídico domingo, 14 de abril de 1912, Padre Byles rezara missas para os passageiros da segunda e da terceira classe do navio 'que nem Deus seria capaz de afundar'. Após a colisão com o iceberg, atuou intensamente no deslocamento das pessoas para a proa e daí aos botes salva-vidas (rejeitando ocupar algum destes lugares disponíveis, o que salvaria a sua vida), ouviu em confissão dezenas de passageiros e orou com eles muitas orações até a consumação final da tragédia. Das mais de 1500 vítimas do acidente, apenas 333 corpos foram resgatados. O corpo do Padre Byles nunca foi encontrado.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças,  milagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, também serão esquecidos por Deus.















Audiências: P. Philippe, Comissário do S.O., que me traz a carta que contém a terceira parte dos segredos de Fátima. Reservo-me de a ler com o meu Confessor (Do diário de João XXIII, de 17 de Agosto de 1959)


Texto original do 'Terceiro Segredo', divulgado publicamente pelo Vaticano em 26 de junho de 2000.

'A terceira parte do segredo refere-se às palavras de Nossa Senhora: “Se não, [a Rússia] espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas” (13-VII-1917).

A terceira parte do segredo é uma revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem, condicionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, etc”.

Porque não temos atendido a este apelo da Mensagem, verificamos que ela se tem cumprido, a Rússia foi invadindo o mundo com os seus erros. E se não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da violência, etc.

E não digamos que é Deus que assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se preparam o castigo. Deus apenas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando a liberdade que nos deu; por isso os homens são responsáveis'.


Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!

domingo, 12 de maio de 2013

TESTEMUNHAS DA ESPERANÇA


SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta a seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'e no seu nome (de Jesus) serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém' (Lc 24, 47). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança: 'Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 48). Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações. Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória. Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança como santos' (Ef 1, 18).

E Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho e para preparar para cada um de nós 'as muitas moradas da casa do Pai', levando consigo a nossa humanidade, tornando-nos participantes do seu mistério pascal e herdeiros de sua glória. Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança eterna em Cristo e herdeiros dos Céus.

96 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (IV)

O TRIUNFO DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

A mensagem de Fátima possui atributos condicionais e incondicionais. Assim, ao discorrer sobre o advento de castigos para a humanidade pecadora, Nossa Senhora prescreve claramente que tais acontecimentos eram passíveis de ocorrer ou não, dependendo da resposta dos homens aos apelos de emenda e conversão, renúncia ao pecado e vida na graça de Deus. 

É importante compreender que Deus, independentemente de todos os seus atributos infinitos, não tem um única estratégia de atuação sobre a raça humana, pronta e fechada desde séculos imemoriais. Deus atua essencialmente em sintonia com o homem criado à sua imagem e semelhança e, assim, a sua intervenção na história humana traduz, em maior ou menor escala, a resposta concreta ou não de cada um nós, e da Igreja em particular, ao plano de salvação delineado para toda a humanidade. Deus guia a humanidade de acordo com o livre arbítrio de todos os homens e, por conseqüência, os planos de Deus são muitos e insondáveis ao homem. 

Como os pedidos de Nossa Senhora não foram atendidos, os castigos anunciados deverão ocorrer inexoravelmente: 'a Rússia espalhará seus erros pelo mundo... guerras e perseguições... o Papa terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas... a apostasia universal, a crise da Igreja, etc', eventos de longa duração e de abrangência universal. Embora estes eventos sejam hoje definitivos, nem assim são imutáveis: com certeza, a oração, a conversão e a devoção aos Imaculados corações de Jesus e de Maria por um número cada vez maior de homens e mulheres tem propiciado a mitigação e, principalmente, a abreviação de muitos destes castigos e, de uma forma mais geral, a própria abreviação deste período tenebroso da história humana. 

A mensagem decisiva – a definitiva e primordial mensagem de Fátima – é, entretanto, celestialmente incondicional: 'Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!'. É uma afirmação categórica, apaziguadora, essencial, conclusiva e extraordinariamente definitiva: 'Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!'. Não existe aqui nenhuma margem para dúvidas, vacilações ou contestações, não se antepõe condição alguma e nem nenhum pré-requisito para a vitória final sobre a ação do demônio e sobre o pecado: 'Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!'. Esta é a mensagem de Fátima, escrita para você e para mim, homens deste século XX e na aurora do terceiro milênio: 'Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!'

O triunfo do Coração Imaculado de Maria é o triunfo de Deus no mundo sob a forma de uma nova Terra, renovada e transformada como a água em vinho nas bodas de Caná, na abundância dos dons do Espírito Santo e com almas escolhidas que amarão e glorificarão Jesus Cristo com o coração de Maria. Neste tempo inserido nas mensagens de Fátima e, portanto, tão próximo de nós, estaremos vivendo o Reino de Maria, previsto por São Luís Maria Grignion de Montfort (1673 – 1716) duzentos anos antes de Nossa Senhora ratificar definitivamente em Fátima o triunfo do seu Imaculado Coração no mundo: 'Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!'. Que seja assim: Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae -Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o Reino de Jesus!

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, do autor do blog).


sábado, 11 de maio de 2013

96 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (III)

A MISSÃO DO ANJO DE PORTUGAL E A MENSAGEM ESQUECIDA DE FÁTIMA

Um anjo é um mensageiro de Deus destinado a realizar, em Seu nome, uma missão particular, sendo inúmeras as intervenções das entidades angélicas nos acontecimentos da história humana. Sabemos, do livro de Daniel, que eles são muitos ('mil milhares O serviam e miríades e miríades O assistiam') e que as Sagradas Escrituras incluem nas hostes celestiais, além dos anjos, também os arcanjos, os principados, as potestades, as virtudes, as dominações, os tronos, os querubins e os serafins. Entretanto, destas miríades de anjos, só nos foram dados a conhecer os nomes de três anjos: Gabriel, Miguel e Rafael. Que os anjos intercedem pelos homens, é matéria de fé e que cada um de nós tem um anjo da guarda pessoal, embora não seja matéria de fé, é crença comumente aceita por todos os católicos. As aparições de Fátima confirmam que não somente pessoas, mas grupos específicos de pessoas (no caso, países) têm a proteção específica de uma entidade angélica. 

A missão específica do Anjo de Portugal, nas suas três aparições entre 1915 e 1916, foi a de preparar as crianças para as futuras aparições e revelações de Nossa Senhora: '... Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e de Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia...' No papel do precursor das extraordinárias revelações e mensagens proféticas que Nossa Senhora daria à humanidade do século XX através dos três pastorinhos de Fátima, as aparições iniciais do anjo propiciaram às crianças a experiência prévia de contato com o sobrenatural, a vivência de uma atmosfera sobrenatural, o êxtase da presença intensa e íntima com Deus, o conhecimento do valor meritório das orações, sacrifícios e penitências, a sensação de uma profunda paz interior e uma crescente mobilização interior no sentido de uma reorientação completa da vida espiritual. 

Assim também, nestes tempos dolorosos, os anjos estão destinados a cumprir missões muito especiais. Em várias manifestações recentes, Nossa Senhora faz menção a um gigantesco combate entre as forças do bem e do mal que se trava no domínio espiritual, envolvendo os anjos e os demônios e a humanidade inteira (esta batalha espiritual é exposta como evento apocalíptico em Apoc 12); é uma luta tremenda e incessante entre os espíritos fiéis ao Criador e os sequazes de satanás, desencadeada pelo orgulho e soberba de Lúcifer em ser maior do que Deus. Expulsos do paraíso e precipitados no inferno, os demônios atuam sobre a humanidade, buscando prostrá-la sob o jugo do ódio, da violência, das guerras, do egoísmo, do prazer, da soberba e da apostasia. 

Estas mensagens confirmam a revelação do século de provações contida na visão do Papa Leão XIII (1878-1903), ou seja, de que satanás teria sido liberado do inferno para submeter a Igreja à prova, com o intuito de destruí-la completamente e perverter toda a humanidade. Em se aproximando o fim deste período sem conseguir seu intento, satanás estremece de fúria contra Deus e os homens e intensifica ao extremo todas as suas iniquidades. A completa libertação de todo mal e pecado implica o triunfo do Imaculado Coração de Maria e a sua vitória final sobre satanás e seus sequazes, através dos eventos inseridos no âmbito do primeiro combate escatológico (Apoc 19, 19-21). Aos anjos do Senhor está destinada a missão de anunciar a todos os justos os tempos da libertação e do fim de todas as iniquidades impostas à humanidade ao longo de um século de provações.

Além da afirmação do triunfo do Coração Imaculado de Maria e do impacto relativo ao Segredo de Fátima, muitos outros aspectos da mensagem assumiram importância capital no contexto das revelações. A consagração aos Primeiros Cinco Sábados, as orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, o milagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal constituem exemplos marcantes destes fatos, tendo sido descritos e abordados em detalhe nos livros e documentos sobre as aparições de Fátima.

Um aspecto, porém, exatamente por não se enquadrar no espírito das revelações, não tem sido analisado com igual rigor, mas, embora secundário, deveria merecer muita atenção e reflexão por parte de todos os homens. É o que poderíamos chamar de “mensagem esquecida de Fátima”. Este fato ocorreu já na primeira aparição e a sua revelação deveu-se a uma resposta de Nossa Senhora a uma pergunta de Lúcia. Recapitulemos o diálogo entre a Mãe de Deus e a pastorinha de Fátima:

'A Maria das Neves já está no céu?
Sim, está.
E a Amélia?
Estará no Purgatório até o fim do mundo'.

Maria das Neves e Amélia eram duas amigas de Lúcia que frequentavam a sua casa “para aprender a tecer com sua irmã mais velha” e teriam falecido pouco antes das aparições (Maria das Neves faleceu em 26/02/1917 e Amélia faleceu a 28/03/1917, ambas com 20 anos de idade). A resposta de Nossa Senhora quanto ao destino eterno de Amélia é categórico: 'Estará no Purgatório até o fim do mundo'.

São palavras duras e preocupantes quando revelam a justiça de Deus aplicada a uma jovem portuguesa que vivera apenas 20 anos, no início do século XX, em um lugar isolado e deserto, perdido nos contrafortes da Serra do Aire, então distante cerca de 150 km do norte de Lisboa, onde predominam colinas pedregosas e azinheiras, descendente de um povo bom e ordeiro, católicos praticantes e devotos do terço diário. Fátima, em 1917, representava provavelmente um ambiente de extrema religiosidade e de prática corrente da moral cristã. Que pecados terríveis teriam sido cometidos por esta moça de modo a ter que pagar as penas e danos devido a eles no Purgatório até o fim do mundo?

A primeira questão que surge desta revelação deveria ser a de uma reflexão profunda sobre o pecado e a justiça divina. É evidente que morar em Fátima em 1917 não constituiu garantia de salvação a ninguém e que é possível que alguma alma tenha, inclusive, sido condenada eternamente. Mas isto é uma absoluta elucubração; o destino de Amélia, ao contrário, é fato, é uma revelação direta de Nossa Senhora aos homens. Qual seria a nossa reflexão sobre a justiça divina transferindo a realidade do destino eterno de Amélia à realidade dos homens e mulheres, jovens e crianças das nossas grandes e pequenas cidades, às Amélias (almas) do nosso tempo? Não deveríamos nós reavaliarmos profundamente os conceitos de misericórdia e justiça de Deus e começarmos a praticar, na vida diária de cada um, o preceito lógico de São Domingos Sávio: 'antes morrer do que pecar?'.

Uma segunda questão que se apresenta refere-se ao próprio destino final de Amélia. A alma no Purgatório nada pode fazer para diminuir ou abreviar os seus sofrimentos, mas as orações daqueles que ainda vivemos na terra podem intervir profundamente nesta condição, por graça e obra da misericórdia divina. Esta interação de bens espirituais dos filhos de Deus constitui a comunhão dos santos e o tesouro da Igreja, obtido através dos méritos infinitamente satisfatórios da redenção de Cristo. Assim, pois, deve-se entender que Amélia estará no Purgatório até o fim do mundo se não houver quem reze por ela ou mande celebrar missas em sua intenção. E novamente, a mensagem de Fátima mostra a sua unidade perfeita ao relacionar o exemplo de Amélia com o apelo fervoroso de Nossa Senhora: 'Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas'. 

Reconheçamos definitivamente o valor imponderável das orações, penitências e sofrimentos no plano salvífico de Deus. Todas as grandes obras de Deus, e em particular àquelas relacionadas à conversão e salvação das almas, são feitas com a dor e o sacrifício de algumas almas privilegiadas. Em Fátima, estas foram as missões específicas desempenhadas por Jacinta e Francisco Marto – as duas crianças morreram em circunstâncias extremamente sofridas e dolorosas - almas escolhidas por Deus como vítimas da expiação e reparação dos pecados de Amélia e de todos nós.

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, do autor do blog).