terça-feira, 26 de março de 2013

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (IV)


JESUS NA CRUZ

1. Jesus na cruz. Eis a prova do amor de um Deus. Eis a última aparição que o Verbo encarnado fez sobre a terra; aparição de dor, mais ainda de amor. São Francisco de Paula, contemplando um dia o amor divino na pessoa de Jesus crucificado e entrando em êxtase, exclamou três vezes: ‘Ó Deus caridade! Ó Deus caridade! Ó Deus caridade!’ querendo com isso significar que não podemos compreender quão grande foi o amor de Deus para conosco, para morrer por nosso amor.

2. Ó meu querido Jesus, se vos contemplo exteriormente nessa cruz, nada mais vejo senão chagas e sangue. Se, porém, observo o vosso coração, encontro-o todo aflito e triste. Leio nessa cruz que vós sois rei, mas qual a insígnia de rei que ainda tendes? Eu não vejo outro espólio real senão esse madeiro de opróbrio; não vejo outra púrpura, senão a vossa carne dilacerada e ensanguentada; outra coroa, senão esse feixe de espinhos que vos atormenta. Ah, tudo isso, porém, vos consagra como rei de amor, sim, porque essa cruz, esses cravos, essa coroa e essas chagas são insígnias de amor.

3. Jesus, do alto da cruz, não nos pede tanto compaixão mas nossos afetos e, se procura compaixão, busca-a unicamente para que ela nos mova a amá-lo. Ele, por ser a bondade infinita, já merece todo o nosso amor, mas, posto na cruz, procura que o amemos ao menos por compaixão. Ah, meu Jesus, quem não vos há de amar, se vos reconhece pelo Deus que sois e vos contempla na cruz? Ó que setas de fogo vós disparais sobre as almas desse trono de amor. Ó quantos corações atraístes a vós dessa mesma cruz. Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, recebei-me no meio de vós, para que me abrase, não já no fogo do inferno por mim merecido, mas nas santas chamas de amor por aquele Deus que, consumido de tormentos, quis morrer por mim. Meu caro Redentor, recebei um pecador, que, arrependido de vos ter ofendido, vos deseja amar sinceramente. Eu vos amo, bondade infinita; eu vos amo, amor infinito. Ouvi-me, ó meu Jesus, eu vos amo, eu vos amo, eu vos amo. Ó Maria, ó Mãe do belo amor, impetrai-me mais amor para que me consuma de amor por esse Deus que morreu consumido de amor por mim.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 25 de março de 2013

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DA PÁSCOA

No riquíssimo acervo das indulgências (ver links abaixo) concedidas pela Santa Igreja, especial concessão nos é dada (e aos fieis defuntos) por ocasião do Tríduo Pascal (Quinta-feira santa, Sexta-feira santa, Vigília Pascal) mediante a obtenção de indulgências plenárias nestes dias, nas seguintes condições:

Quinta-feira Santa

· Recitação ou canto do hino eucarístico 'Tantum Ergo' durante a solene adoração ao Santíssimo Sacramento que segue à Missa da Ceia do Senhor;

· Visita e adoração ao Santíssimo Sacramento pelo prazo de meia hora.

Sexta-feira Santa - 15 horas

· Participação piedosa da Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo  

· Recitação do Santo Rosário.

Vigília Pascal - 21 horas

· Participação piedosa da celebração da Vigília Pascal, com renovação sincera das promessas do nosso Santo Batismo.

Condições adicionais:

1. Exclusão de todo afeto a qualquer pecado, inclusive venial.

2. Confissão sacramental, Comunhão eucarística e Oração pelas intenções do Sumo Pontífice. 

(i) estas condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária, mas é da maior conveniência que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

(ii) a condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice é cumprida por meio da oração de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou uma outra oração segundo a piedosa devoção de cada um.



MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (III)


JESUS É PREGADO NA CRUZ

1. Apenas chegou o Redentor ao Calvário, triturado de dores e fatigado, arrancam-lhe as vestes já pegadas às suas carnes dilaceradas e arremessam-no sobre a cruz. Jesus estende seus sagrados braços e oferece ao mesmo tempo ao eterno Pai o sacrifício de sua vida, rogando-lhe que o aceite pela salvação dos homens. Os carrascos tomam, então, com fúria os cravos e os martelos e, atravessando-lhe os pés e as mãos, pregam-no na cruz. Ó mãos sagradas, que só com o vosso contato curastes tantos enfermos, por que vos pregam nessa cruz? Ó pés santos, que tanto vos cansastes para nos buscar a nós, ovelhas desgarradas, por que vos atravessam com tanta crueldade? Quando se fere um nervo do corpo humano, é tão aguda a dor, que ocasiona espasmos e delírios. Ora, quão grande terá sido a dor de Jesus, quando lhe foram atravessados os pés e as mãos, cheios de nervos e músculos, pelos duros cravos! Ó meu doce Salvador, tanto vos custou o desejo de ver-me salvo e de conquistar o meu amor e eu, ingrato, tantas vezes desprezei o vosso amor por um nada; agora, porém, o estimo acima de todos os bens.

2. Levantam a cruz com o crucificado e fazem-na cair com violência no buraco feito no rochedo. Esse buraco é em seguida entupido com pedras e madeira e Jesus fica pendente na cruz, para aí consumar sua vida. Estando Jesus já agonizando naquele leito de dores e achando-se tão abandonado e triste, procura quem o console, mas não encontra. Ao menos terão compaixão de vós, ó meu Senhor, os homens que vos veem morrer? Pelo contrário; vejo que uns o injuriam, outros zombam dele; estes blasfemam, aqueles o encarnecem, dizendo: ‘Desça da cruz se é o Filho de Deus. Salvou os outros e agora não pode salvar-se a si mesmo’ (Mt 27, 40). Ah, bárbaros, ele já está expirando, como é que assim gritais; ao mesmo tempo não o atormenteis com as vossas zombarias.

3. Vê quanto padece naquele patíbulo o teu Redentor. Cada membro sofre o seu tormento e um não pode aliviar o outro. A cada momento ele experimenta penas mortais. Pode-se dizer que durante aquelas três horas que Jesus agonizou na cruz, ele sofreu tantas mortes quantos foram os momentos que aí passou. Não encontra na cruz o mínimo alívio ou repouso. Se se apoia nas mãos ou nos pés, aumenta a dor, já que seu corpo sacrossanto está pendente dessas mesmas chagas. Corre, minha alma, e chega-te enternecida a essa cruz, beija esse altar, sobre o qual morre como vítima de amor por ti o teu Senhor. Coloca-te debaixo de seus pés e deixa que caia sobre ti aquele sangue divino. Sim, meu caro Jesus, que esse sangue me lave de todos os meus pecados e me inflame todo em amor para convosco, meu Deus, que quisestes morrer por meu amor. Ó Mãe das dores, que estais ao pé da cruz, rogai a Jesus por mim.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

domingo, 24 de março de 2013

HOSANA AO FILHO DE DAVI!


No Domingo de Ramos, tem início a Semana Santa da paixão, morte e ressurreição de Nosso senhor Jesus Cristo. Jesus entra na cidade de Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com os seus discípulos e é recebido como um rei, como o libertador do povo judeu da escravidão e da opressão do império romano. Mantos e ramos de oliveira dispostos no chão conformavam o tapete de honra por meio do qual o povo aclamava o Messias Prometido: 'Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas'.

Jesus, montado em um jumento, passa e abençoa a multidão em polvorosa excitação. Ele conhece o coração humano e pode captar o frenesi e a euforia fácil destas pessoas como assomos de uma mobilização emotiva e superficial; por mais sinceras que sejam as manifestações espontâneas e favoráveis, falta-lhes a densidade dos propósitos e a plena compreensão do ministério salvífico de Cristo. Sim, eles querem e preconizam nEle o rei, o Ungido de Deus, movidos pelas fáceis tentações humanas de revanche, libertação, glória e poder.

Mas Jesus, rei dos reis, veio para servir e não para reinar sobre impérios forjados pelos homens. '... meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Jesus vai passar no meio da multidão sob ovações e hosanas de aclamação festiva; Jesus vai ser levado sob o silêncio e o desprezo de tantos deles, uns poucos dias depois, para o cimo de uma cruz no Gólgota.

Neste Domingo de Ramos, o Evangelho evoca todas as cenas e acontecimentos que culminam no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo: os julgamentos de Pilatos e Herodes, a condenação de Jesus, a subida do calvário, a crucificação entre dois ladrões e a morte na cruz...'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito' (Lc 23,46). E desnuda a perfídia, a ingratidão, a falsidade e a traição dos que se propõem a amar com um amor eivado de privilégios e concessões aos seus próprios interesses e vantagens. 

A fé é forjada no cadinho da perseverança e do despojamento; sem isso, toda crença é superficial e inócua e, ao sabor dos ventos, tende a se tornar em desvario. Dos hosanas de agora ao 'Crucifica-O! Crucifica-O!' (Lc 23, 20) de mais além, o desvario humano fez Deus morrer na cruz.  O mesmo desvario, o mesmo ultraje, a mesma loucura que se repete à exaustão, agora e mais além no mundo de hoje, quando, em hosanas ao pecado, uma imensa multidão, em frenesi descontrolado, crucifica Jesus de novo em seus corações! 

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (II)


 JESUS LEVA A CRUZ AO CALVÁRIO

1. Publicada a sentença contra nosso Salvador, apoderam-se imediatamente dele com fúria. Arrancam-lhe novamente aquele trapo de púrpura e o revestem com suas vestes, para ser crucificado sobre o Calvário, lugar destinado para a morte dos malfeitores. ‘Despiram-lhe a clâmide e o revestiram com suas vestes e o conduziram para ser crucificado’ (Mt 27, 31). Arranjam duas rudes traves, fazem com elas às pressas uma cruz e obrigam-no a carregá-la sobre os ombros até ao lugar de seu suplício. Que barbaridade impor nos ombros do réu o patíbulo sobre o qual deve morrer. Mas assim deve ser, ó meu Jesus, pois que vós tomastes sobre vós todos os meus pecados.

2. Jesus não recusa a cruz, abraça-a até com amor, sendo ela o altar destinado para a consumação do sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. ‘E levando sua cruz às costas, saiu para aquele lugar que se chama Calvário’ (Jo 19, 17). Os condenados saem da casa de Pilatos e entre eles se acha também nosso divino Salvador. Ó espetáculo que causou admiração ao céu e à terra: ver o Filho de Deus que segue para morrer por esses mesmos homens que a ela o condenam. Eis realizada a profecia: ‘E eu sou como um cordeiro que é levado para ser sacrificado’ (Lm 11, 19). Jesus oferecia um aspecto tão lastimoso, que as mulheres judias, ao vê-lo, não puderam deixar de chorar: ‘E o choravam e lamentavam’ (Lc 23, 27). Meu caro Redentor, pelos merecimentos dessa viagem dolorosa, dai-me a força de levar com paciência a minha cruz. Eu aceito todas as dores e desprezos que me destinais a sofrer; vós os tornastes amáveis e doces, abraçando-os por vosso amor. Dai-me força de suportá-los com paciência.

3. Contempla, minha alma, o que se passa com o vosso Salvador; vê como de suas chagas ainda frescas escorre o sangue, como está coroado de espinhos e carregado com a cruz. A cada movimento, renovam-se as dores de todas as suas chagas. A cruz começa a atormentá-lo já antes do tempo, pisando seus ombros chagados e martelando-lhes os espinhos da coroa. Ó Deus, quantas dores a cada passo. Consideremos também os sentimentos de amor com que Jesus vai subindo o Calvário, onde o espera a morte. Ó meu Jesus, vós ides morrer por nós. Eu vos voltei as costas no passado e quereria morrer de dor: mas no futuro não sou capaz de abandonar-vos mais, meu Redentor, meu Deus, meu amor, meu tudo. Ó Maria, minha Mãe, alcançai-me a graça de levar a minha cruz com toda a paz.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

sábado, 23 de março de 2013

MEDITAÇÕES SOBRE A PAIXÃO DE JESUS (I)


JESUS É CONDENADO POR PILATOS

1. Pilatos, depois de haver tantas vezes declarado a inocência de Jesus, mais uma vez a proclama, protestando ser ele inocente do sangue daquele justo (Mt 27, 24), e contudo pronunciou a sentença e o condenou à morte. Ó injustiça nunca vista no mundo! Ao mesmo tempo que o juiz declara inocente o acusado, ele o condena. Ah, meu Jesus, vós não mereceis a morte, mas eu a mereço. Visto, porém, que quereis satisfazer por mim, não é Pilatos, mas é o vosso próprio Pai que vos condena a pagar a pena a mim devida. Eu vos amo, ó Pai eterno, que condenais vosso Filho inocente para livrar-me a mim que sou réu. Eu vos amo, ó Filho eterno, que aceitais a morte devida a um pecador.

2. Pilatos, tendo condenado a Jesus, o entrega às mãos dos judeus, para que façam com ele o que desejavam: ‘Entregou Jesus ao arbítrio deles’ (Lc 23, 25). É de fato o que acontece: quando se condena um inocente, não se limita a pena, mas é ele abandonado às mãos dos inimigos, para que o façam padecer e morrer como lhes aprouver. Pobres judeus, vós então pedistes o castigo, dizendo: ‘Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos’ (Mt 27, 25). E o castigo já veio! Desgraçados, sofreis e haveis de sofrer até ao fim do mundo o castigo desse sangue inocente. Ó meu Jesus, tende piedade de mim, que com minhas culpas também motivei a vossa morte. Não quero ficar obstinado como os judeus, quero chorar os maus tratos que vos dei e amar-vos sempre, sempre, sempre.

3. Eis que se lê diante do Senhor a injusta sentença, condenando-o à morte da cruz. Ele a ouve, e, inteiramente submisso à vontade do Pai, obediente a aceita com toda a humildade: ‘Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz’ (Fl 2, 8). Pilatos na terra diz: 'Morra Jesus!' E o eterno Pai no céu diz também: 'Morra o meu Filho'. E o Filho responde por sua vez: 'Eis-me aqui; eu obedeço e aceito a morte e a morte da cruz'. Meu amado Redentor, vós aceitais a morte que me é devida. Seja bendita a vossa misericórdia para sempre: eu vos agradeço sumamente. Mas visto que vós, inocente, aceitais a morte da cruz por mim, eu, pecador, aceito a morte que me destinardes com todos os sofrimentos que a acompanharem e desde já a uno à vossa morte e a ofereço ao vosso eterno Pai. Vós morrestes por meu amor e eu quero morrer por amor de vós. Pelos merecimentos de vossa santa morte, fazei-me morrer na vossa graça e abrasado no vosso santo amor. Maria, minha esperança, recordai-vos de mim.

('A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo', de Santo Afonso Maria de Ligório)

sexta-feira, 22 de março de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (46)

Diante do pecado, tua alma, em dor profunda, gritaria do fundo do teu coração: ‘Eis o que me fizeste agora, uma casa envolta em trevas, um caos de vertigens e medo! Aonde a luz do Santo Espírito que irrompia em cascatas sem fim através do teu corpo revestido da graça do Pai? Aonde o júbilo sem medidas do amor eucarístico? Aonde o perfume inebriante das coisas do céu? Nada mais, a não ser o vazio imenso de um coração que pulsa pelo fogo tíbio das paixões humanas, que bombeia o sangue que te torna cidadão do mundo e órfão da eternidade? 

Como dói esta brusca ruptura, esta implosão de ideais, este abismo de destroços e ruínas! Aspiravas ser espírito da vontade divina e agora és carne de um mendigo da loucura; de discípulo do Filho do Homem passaste a ser peregrino de atalhos sem fim; do calor abrasador do fogo de Cristo volveste a tua face à seiva pegajosa das tentações humanas; com o mesmo preço vil das moedas de Judas compraste com a tibieza todos os prazeres do mundo; do mistério da graça me levaste aos sumidouros infernais dos desesperados. 

Dentro do teu coração fechado, não mais repousa uma alma de esplêndida beleza; dentro do teu peito humano, esconde-se a miséria dos instintos e a falange dos teus desejos e ambições. São elas que destrancam as portas da tua mansidão, sulcam a superfície polida do teu caráter, violam os segredos de teus sentimentos, perturbam a calmaria de tuas convicções, achincalham as certezas de tua fidelidade, destroem as correntes de tua perseverança, descalçam os apoios de tua generosidade e corroem as fontes de tua fé; são elas que te banqueteiam com tantos amores divididos, crenças dispersas, meias verdades e os frutos da insensatez. Teu corpo exala odor de obra temporária, tua alma agoniza sem luz e sem ar...' 

E, então, meu filho, tu irias correndo buscar o tesouro da oração, da confissão, da santa eucaristia... E aprenderias a ouvir, com a nitidez de todos os trovões, o grito de tua alma...