sábado, 19 de outubro de 2019

OS TRÊS MORTOS DOS EVANGELHOS

No Evangelho (Lc 7, 11-17), encontramos três mortos ressuscitados pelo Senhor de forma visível e milhares de forma invisível. A filha do chefe da sinagoga (Mc 5,22-ss), o filho da viúva de Naim e Lázaro (Jo 11) são símbolos dos três tipos de pecadores ainda hoje ressuscitados pelo Senhor. A menina ainda se encontrava em casa de seu pai, o filho da viúva já não estava em casa da sua mãe, mas também ainda não estava no túmulo e Lázaro já estava sepultado. 

Assim, há pessoas com o pecado dentro do coração mas que ainda não o cometeram. Tendo consentido no pecado, ele habita-lhes a alma como morto, mas não saiu ainda para fora. Ora, acontece amiúde aos homens esta experiência interior: depois de terem escutado a palavra de Deus, parece-lhes que o Senhor lhes diz: 'Levanta-te!' E, condenando o consentimento que dantes haviam dado ao mal, retomam fôlego para viver na salvação e na justiça. 

Outros, após aquele consentimento, partem para as ações, transportando assim o morto que traziam escondido no fundo do coração para o expor diante de todos. Deveremos desesperar deles? Não disse o Salvador ao jovem de Naim: 'Eu te ordeno: Levanta-te!'? Não o devolveu a sua mãe? O mesmo acontece a quem atuou desse modo: tocado e comovido pela Palavra da Verdade, ressuscita à voz de Cristo e volta à vida. É certo que deu mais um passo na via do pecado, mas não pereceu para sempre. 

Já aqueles que se embrenham nos maus hábitos, ao ponto de perderem a noção do próprio mal que cometem, procuram defender os seus maus atos e encolerizam-se quando alguém lhes censura. A esses, esmagados pelo peso do hábito de pecar, albergam as mortalhas e os túmulos e cada pedra colocada sobre o seu sepulcro mais não é do que a força tirânica desse mau uso que lhes oprime a alma e não lhes permite, nem levantar-se, nem respirar. Por isso, irmãos caríssimos, façamos de tal modo que quem vive viva, e quem está morto volte à vida e faça penitência. Os que vivem conservem a vida e os que estão mortos apressem-se a ressuscitar.

(Sermões, Santo Agostinho)