quarta-feira, 7 de agosto de 2019

TRÊS PERGUNTAS SOBRE AS VIRTUDES QUE NOS FALTAM

Primeira: 

'Onde está o teu tesouro, lá também está o teu coração' (Mt 6,21)

'Tesouro” é aquilo que mais prezamos, que mais valorizamos. Pode ser uma pessoa querida, ou o nosso sucesso, ou o dinheiro, ou o prazer... O 'coração' – o mundo íntimo dos nossos pensamentos, sonhos, projetos e desejos – está centrado naquilo que mais estimamos e julgamos necessário para a nossa felicidade. Qual é seu ' tesouro'? Qual é o 'rei' que reina em seu mundo íntimo? Para muitas pessoas, o 'tesouro' são os três esses: Sucesso, Satisfação, Sossego. Se você se enquadra aí, não duvide: precisa urgentemente começar a lutar contra o egoísmo.

Para outras, o 'tesouro' consiste em acumular riquezas, entrar na lista dos 'mais'. Não entendem que, se os bens materiais são o seu Tesouro – assim, com maiúscula – estão a caminho de um suicídio moral, e podem despedir-se da felicidade que Cristo promete: 'Felizes os pobres em espírito [os que são desprendidos e generosos, ainda que tenham bens], porque deles é o Reino dos céus' (Mt 5,3). Para outros é a liberdade. Por enquanto, vou limitar-me a perguntar: Liberdade para quê? Dependendo da resposta, você vai conhecer seu coração. Se é liberdade para 'fazer o que eu quero', você é um lamentável egoísta; se for liberdade para poder dar-se mais a Deus e dedicar-se a grandes ideais em favor dos outros, você tem a virtude da generosidade. 

Segunda: 

'A boca fala daquilo de que o coração está cheio' (Lc 6,45) 

De que fala mais você? De você mesmo? Fala demais e escuta pouco? Não precisa refletir muito: você tem que lutar contra a vaidade. Talvez o despertem estas palavras de Caminho: 'Obstinas-te em ser o sal de todos os pratos... e – não te zangues se te falo claramente – tens pouca graça para ser sal... Falta-te espírito de sacrifício. E sobra-te espírito de curiosidade e de exibição' (n. 48). Você critica muito os outros? Acha logo defeito em tudo o que dizem ou fazem? Precisa adquirir a virtude da compreensão. E, se curte mágoas e rancores, precisa – mais do que o ar que respira – aprender a virtude da misericórdia. 

Você é boca-suja, que não pára de falar de sexo e baixarias? Precisa descobrir e começar a praticar uma virtude que provavelmente ignora, e até despreza, a castidade; e precisa também praticar a veracidade, isto é, lutar para não ficar enganando, traindo os compromissos de fidelidade que assumiu. Você pensa até dormindo – como se fosse um ingrediente imprescindível da felicidade – em requintes de comida, em bebidas, em prazeres do gosto que não consegue largar? Também é urgente que aprenda como se adquire a virtude da temperança. 

Terceira: 

'Por que estais tristes?' (Lc 24,17)

Essa é a primeira pergunta que Jesus ressuscitado fez aos discípulos de Emaús, quando voltavam para casa desesperançados, depois do 'fracasso' de Jesus na Cruz. As alegrias e as tristezas (não falo das que procedem do amor a Deus aos outros) são excelentes radiografias das doenças do coração. Causa-lhe alegria o que é 'fácil' ou o que é 'certo'? Diz, todo feliz: 'Consegui driblar um compromisso'? Então, no seu coração há um buraco negro no lugar que deveria ocupar a virtude da responsabilidade. 

Causa-lhe muito mais alegria o que recebe do que aquilo que dá? Há um vazio no lugar da caridade e da abnegação. Quando se porta mal, entristecem-no as ofensas feitas a Deus e ao próximo, ou só a humilhação de se ver fraco e ruim? Precisa, então, ganhar as virtudes da humildade e do arrependimento. Alegra-se com o fracasso dos outros, quando faz brilhar mais o seu sucesso? Não demore a iniciar uma luta séria contra os feios vícios da inveja e da vanglória. 

As perguntas poderiam prosseguir e continuarão em outros capítulos. Mas vou terminar agora com palavras de um sermão de Quaresma de São Bernardo, que inspiraram as perguntas acima: 'Examina com cuidado o que é que amas, o que é que temes, de que te alegras, com que te entristeces. Todo o coração consiste nestes quatro afetos' (Sermão no começo do jejum, n. 2-3). As virtudes que nos faltam são um cartaz luminoso. Cada uma delas nos lança um apelo: veja o caminho que ainda deve percorrer, e comece a andar. Pense. Reze. Peça luz a Deus e procure ver a verdade no fundo do seu coração (Sl 50, 8).

(Excertos da obra 'A Conquista das Virtudes', de Francisco Faus)