terça-feira, 27 de agosto de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (XIX)


91. Se São José é cultuado nas igrejas, o que dizer de sua presença na Basílica de São Pedro no Vaticano? 

Se São José foi proclamado por Pio IX, em 1870, Patrono da Igreja Universal com o Decreto Quemadmodum Deus e se o mesmo Papa, em 1847, tinha estendido a Festa do Patrocínio para toda a Igreja Universal com o Decreto Inclytus Patriarcha Joseph, quis também o Papa João XXIII, em 19 de março de 1963, que no maior templo do cristianismo houvesse um altar com sua imagem para acender ainda mais a devoção a São José, Protetor da Santa Igreja e também do Concílio Vaticano II. Além desta presença central na basílica vaticana, encontramos um mosaico de 1647 representando o 'sonho de São José', onde o Anjo revela a José a prodigiosa concepção de Maria por obra do Espírito Santo. Também na chamada 'Capela do Crucifixo', foi colocado em 19 de março de 1851 uma tela que representa São José com o Menino Jesus nos braços. Encontramos também na parte esquerda do Colonnato del Bernini, quase no início da praça de São Pedro, uma belíssima estátua de São José representando um homem vigoroso, com os olhos voltados para os céus, com a mão direita sobre o peito e tendo na esquerda um bastão florido. Uma outra representação no átrio da basílica apresenta a 'morte de São José'. Tudo isto mostra a necessidade de dar a São José um lugar de destaque, correspondente à sua dignidade. Digno de consideração é o fato que no altar de São José, 'Patrono da Igreja Universal', é celebrada diariamente uma missa para a paz. 

92. Dentre as várias representações que a arte fez sobre São José, quais são as que chamam mais atenção? 

Há algumas raras iconografias sobre São José, não tanto pela beleza da arte, mas pelo motivo representado, como aquela que enfoca José ensinando a Torá ou a Lei a Jesus, fato raro, porém em perfeita harmonia com a tarefa que a Sagrada Escritura e a tradição hebraica asseguram ao pai, ou seja, de ensinar ao filho as leis divinas. É fácil encontrar José representado entre as suas ferramentas na carpintaria, porém é raro vê-lo como um 'instruído', um conhecedor das Escrituras. Esta nova visão pela arte começou no Renascimento (1450-1600), onde ele é representado com um lírio na mão ou lendo. Desta forma, o bastão com o qual se identificava o nosso santo não foi a única forma que os artistas encontraram para representá-lo.

93. Ao representar São José lendo um livro, os artistas abandonaram as características onde ele é representado com o bastão florido, o lírio ou no trabalho da carpintaria? 

Não. Encontramos diversas obras onde São José é reconhecido pelo lírio na mão direita e tendo um livro na mão esquerda, ou ainda representado sentado ao lado de sua mesa de carpinteiro cheia de ferramentas e concentrado, à luz de uma vela, na leitura de um livro. Um outro afresco de 1524 representa a Virgem com o Menino à esquerda de José com uma auréola, tendo um ramo florido na mão direita e de novo um livro fechado na mão esquerda. Por fim, encontra-se na National Gallery de Londres uma obra atribuída a João Batista Moroni, morto em 1578, onde José é representado como jovem com um turbante no lugar da auréola, segurando na mão direita um ramo florido e na esquerda um livro fechado. Tudo isso indica que, embora os artistas quiseram exprimir outros particulares da vida de José, não esqueceram de realçar conjuntamente aqueles que lhes foram mais característicos. 

94. Podemos afirmar que a arte sacra evolui em relação a São José na medida em que a Teologia e a devoção josefina também evoluíram? 

Em certo sentido sim, pois nos séculos em que a teologia de São José estava ainda em germe, a figura do nosso santo é enfocada no conjunto das cenas evangélicas da infância de Jesus; depois, na medida em que as reflexões teológicas se concentram sobre ele, a arte lentamente começa a representá-lo intimamente ligado à Sagrada Família, onde vem reconhecida a sua missão de esposo e chefe e em atitudes paternas para com Jesus. Um bom exemplo disto é o quadro de Gabriel Wüger de 1892 onde São José é representado com um rosto jovem, com uma farta barba e cabelo, olhar sereno e voltado para o Menino, o qual é sustentado sem dificuldades no seu braço esquerdo, enquanto Jesus tem a mão apoiada no peito de José e com a outra acaricia o seu rosto num gesto de delicadeza, confiança, respeito, amor e admiração. Portanto, evidencia fortemente a paternidade de José. Por outro lado, sua cabeça é ornada com uma auréola assinalando o prêmio que recebeu de Deus pelas suas virtudes e também para realçar sua realeza humana, descendente de Davi, de estirpe real, a qual José transmitiu a Jesus dando-lhe o título de 'Filho de Davi'. José é ilustrado ainda neste quadro com o bastão na mão direita, símbolo de sua eleição divina e de sua autoridade: o bastão florido com um ramo de amendoeira indicam a sua vigilância sobre a Sagrada Família. O lírio encontra-se aos pés de São José, perto das ferramentas de trabalho, para indicar que a virtude de sua castidade e a fadiga diária foram os instrumentos com os quais ele exerceu sua paternidade. 

95. A arte moderna continua acompanhando a evolução da teologia josefina? 

Podemos dizer que sim e um exemplo significativo disso encontra-se no grandioso afresco que ocupa a parte central da capela da Casa Geral dos Oblatos de São José em Roma, executado pelo pintor romano Pagliardini no ano de 1960, no clima de preparação do Concilio Vaticano II, cujo tema é expresso no afresco com a frase: quasi arcus refulget Joseph - José resplandece como um arco-íris, uma expressão acomodada do livro do Eclesiástico (Eclo 50,8), num elogio ao sumo sacerdote Simeão II. O arco-íris é um símbolo conhecido na Bíblia como sinal de aliança de Deus com o povo depois do dilúvio. A presença de São José na história da salvação dá-se no momento em que Deus faz pessoalmente a sua aliança com os homens através do dom de seu Filho; por isso, José ocupa o centro da cena sustentando o Filho de Deus com seu braço vigoroso, tendo na mão esquerda o lírio, símbolo de sua castidade. O Menino se agarra confiante em José que manifesta uma expressão de tranquila segurança. Dois Anjos seguram uma faixa com a frase: Te Joseph celebrent agmina coelitum - 'te celebrem, ó José, as cortes celestes', um convite às potestades celestes para festejarem José, o arco-íris da paz. À esquerda uma outra frase: Protector Sanctae Ecclesiae - Protetor da Santa Igreja e o espaço é ocupado por João XXIII, apresentando a São José a Igreja representada pela Basílica de São Pedro, ele que o declararia, depois, em 19 de março de 1961, o Protetor do Concílio Vaticano II. O quadro apresenta ainda outras representações referentes ao patrocínio de São José sobre a Congregação dos Oblatos de São José. Esta obra de notável valor artístico indica a consonância da arte com a atual teologia josefina.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)