segunda-feira, 9 de julho de 2018

INTERPRETAÇÕES DOS SONHOS DE DOM BOSCO (I)



No cenário do primeiro sonho de Dom Bosco, são descritas as seguintes visões:

(i) a presença de uma nave majestosa em mar revolto e sob forte ventania e tempestade; a nave majestosa tem por comandante supremo o Romano Pontífice.
(ii) uma esquadra gigantesca de navios, 'cujas proas eram terminadas por um agudo esporão de ferro em forma de lança' buscam, a todo custo e usando todo tipo de armas, afundar a nave majestosa.
(iii) a grande nave é escoltada por muitas outras naves menores que combatiam os navios inimigos.

A nave majestosa é a Igreja de Cristo, a única igreja verdadeira, Santa e Católica, sob o comando supremo do Romano Pontífice desde São Pedro. Muitas naves pequenas - as ações integradas de tantos e tantos religiosos e leigos que professam e preservam inalteradas a autêntica fé católica - escoltam e defendem a nave-mãe dos ataques, agressões, heresias e sacrilégios impetrados pelos inimigos da Igreja - e são tantos! - utilizando-se do indiferentismo religioso, do hedonismo, da proliferação de seitas e 'igrejas' irmanadas pelo ódio à nave de Pedro, pelo ateísmo militante, pela tentativa desenfreada de destruição completa das primícias da fé católica e da doutrina de Cristo! No mar revolto e tempestuoso do mundo, a Igreja continua a navegar incólume e firme, mesmo sob tenebrosas oscilações e percalços, porque os poderes do inferno nunca poderão prevalecer contra ela!

(iv) duas colunas gigantescas, muito próximas: uma mais robusta e mais elevada, encimada pela Hóstia; a outra, menos robusta e menos elevada, encimada por uma estátua de Nossa Senhora.
(v) as duas colunas encontravam-se afastadas da grande nau, 'no meio da imensa extensão do mar'.

A nave-mãe afastada das duas colunas significa uma perda de referências da Igreja com a sua Cabeça, que é Cristo, um tremendo afastamento da Fé, uma renúncia explícita à tradição bimilenar da Igreja e da doutrina do Salvador, manifestadas primariamente pelo abandono de dois portos seguros: as devoções à Eucaristia (e à Santa Missa de sempre) e à Nossa Senhora. A Igreja, sem estas âncoras seguras, torna-se nau sem rumo nas águas revoltas deste mundo.

(vi) o Sumo Pontífice tenta reunir o Conselho da Igreja duas vezes; na primeira vez, os membros são dispersos mas, na segunda vez, se mantêm sempre em torno do Pontífice.
(vii) os ataques dos inimigos tornam-se, então, extremados, mas são todos repelidos e anulados pela Igreja de Cristo.
(viii) os inimigos da Igreja, então, ficam ensandecidos de ódio e matam o Sumo Pontífice.

No primeiro Conselho, a Igreja ainda está à deriva e todos os esforços do Sumo Pontífice tornam-se infrutíferos, resultando em uma grande dispersão dos combatentes. No segundo Conselho, a nau assume agora uma rota fixa em direção de retorno ao porto seguro das duas colunas, rumo que nunca deveria ter sido abandonado. Muitas naves menores seguem resolutas e com grande júbilo a nave-mãe: a Igreja não está mais totalmente dispersa e a rota é a mesma para muitos, embora muitas outras naves ainda titubeiem e busquem se afastar do centro da batalha, receosos dos combates violentos que ocorrem sobre as águas. 

Diante da força recomposta da Igreja, os ataques inimigos recrudescem em escala violentíssima, as heresias e blasfêmias se avolumam como a espuma das águas em turbilhão, o estertor do mal se revela por inteiro (tristes e inglórios tempos dos homens), mas a nave-mãe e sua escolta fiel, apesar dos estragos e das avarias profundas, se recompõem de imediato pela aliança fiel aos desígnios da graça e rompem o mar em fúria em direção às duas colunas. Ensandecidos de furor diabólico, os ataques passam a ser abertos e pessoais (com 'armas curtas') contra os justos e os homens de fé, contra os religiosos, os bispos e governantes da Igreja e até mesmo contra o próprio pontífice, que é ferido duas vezes e morto.

(ix) os inimigos da Igreja se regozijam diante do triunfo final iminente, mas a morte do Pontífice é apenas o início da bancarrota geral da esquadra inimiga.
(x) a nave-mãe é firmemente ancorada às duas colunas e tem fim a batalha no mar.

Após um breve júbilo delirante dos inimigos diante a morte do Pontífice, outro imediatamente se levanta e assume o comando da nave-mãe, com firmeza ainda maior e ainda maior segurança, na rota em direção às duas colunas. O resultado, então, é espantoso: numa reviravolta tremenda, os navios inimigos se dispersam abruptamente, colidem entre si e se destroçam, submergindo num mar de águas escuras e profundas. A nave-mãe alcança finalmente o porto seguro e faz âncora firme entre os dois pilares da Eucaristia e da devoção à Nossa Senhora, acompanhadas pelas pequenas naves que combateram vivamente e, um pouco depois, também pelas que se mantiveram alheias à luta terrível. A Igreja do mundo é novamente a Igreja de Cristo em plenitude. Reina a calmaria no mar e ao mundo é concedido o tempo de paz.