sexta-feira, 13 de outubro de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XIII)

61. Como se deu a sexta aparição de Nossa Senhora?

A Cova da Iria foi invadida por uma imensa multidão naquela manhã do dia 13 de outubro de 1917, movidos pela aparição em si e pela promessa do milagre da Virgem. Cerca de 70 mil pessoas se aglomeravam no local, muitos deles desde a noite anterior, protegidos da chuva incessante por roupas grossas e  botas (como era costumeiro na época, muitas mulheres estavam descalças). As pessoas ficavam praticamente confinadas pelas outras e pelo terreno completamente encharcado e lamacento. 

Por volta das dez horas da manhã, a chuva tornou-se um aguaceiro e um mar de guarda-chuvas pretos se esparramou pela charneca de Fátima. Por volta do meio dia, a chuva tornara-se mais fina e irregular e o povo agora rezava em silêncio. Um arco rústico, ladeado por um arranjo retangular de pedras arrumadas e com uma pequena abertura frontal, havia sido montado diante da pequena azinheira, a esta altura praticamente reduzida ao seu tronco central e enfeitada por flores e fitas por Maria da Capelinha. 


Lúcia foi acompanhada pela mãe que temia de fato pela vida da filha. Os pais de Francisco e Jacinta também se colocaram junto à azinheira. Passou o meio dia. Uma certa apreensão começou a tomar conta dos mais próximos às três crianças. Mas, então, olhando para o nascente, Lúcia vislumbrou o relâmpago e se pôs de joelhos, pedindo a Jacinta que fizesse o mesmo. Em seguida, viram Nossa Senhora, envolvida numa torrente de luz, pairando sobre as grinaldas de flores que ornavam a pequena azinheira.

62. Como foi o diálogo de Lúcia com Nossa Senhora nesta sexta aparição?

Com os olhos fixados na Virgem, Lúcia deu início ao diálogo da sexta aparição:

– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o Terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para as suas casas.
– Eu tenho muitas coisas para Lhe pedir: a cura de uns doentes e a conversão de alguns pecadores... 
– Uns sim, outros não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. 

E tomando um aspecto singularmente triste, continuou: 

– Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido!
– Não quer mais nada de mim?
– Não quero mais nada.
– E eu também não quero mais nada.

Nossa Senhora abriu então as mãos e se elevou numa torrente de luz tão intensa, que parecia espargir pelo firmamento e empalidecer a própria luz solar. Em êxtase, as crianças viram Nossa Senhora desaparecer em meio a um turbilhão de luz.

(reconstituição ilustrativa da aparição)

63. Quais foram as visões de Lúcia ao final da sexta aparição?

Foram três as visões de Lúcia, em quadros sucessivos que se desvaneciam em sequência: 

(i) Visão da Sagrada Família: São José e o Menino Jesus em seus braços faziam gestos com as mãos em forma de cruz, como que abençoando o mundo; ao lado deles, Nossa Senhora estava vestida de branco e coberta com um manto azul (como Nossa Senhora do Rosário);

(ii) Visão de Jesus e Nossa Senhora: Jesus Cristo, como o Divino Redentor, vestido de vermelho e a abençoar o Mundo, junto a Nossa Senhora, vestida de roxo como Nossa Senhora das Dores; 

(iii) Visão de Nossa Senhora: Nossa Senhora como Nossa Senhora do Carmo.

Somente a primeira destas visões foi compartilhada pelos demais videntes. Ninguém da multidão foi testemunha de quaisquer destas visões. 

64. Quais foram os eventos que se seguiram então na Cova da Iria?

Ao final da aparição, no lado oposto do céu, as nuvens pesadas abriram-se de repente e o sol apareceu radiante. A multidão reunida na Cova da Iria, volvendo-se para trás, foi testemunha, então, de um série extraordinária de fenômenos  que ficou conhecida como 'o milagre do sol', que podem ser assim sintetizados:

(i) o sol tinha a forma de um disco luminoso, com a borda claramente delineada como um faixo luminoso e podia ser visado diretamente por longo tempo, sem cegar ou fuscar a visão das pessoas;

(ii) o sol pareceu dançar no firmamento, passando a girar aceleradamente sobre o seu eixo para, em seguida, interromper e recomeçar outras vezes esse movimento vertiginoso; 


(iii) o sol começou a irradiar luzes diferentes e cambiantes, que foram disseminadas e refletidas sobre todo o ambiente da Cova da Iria (sobre as pessoas, a paisagem, os montes e as árvores);

(iv) ao final dos eventos, o sol pareceu precipitar-se sobre a terra num movimento apocalíptico que produziu nas pessoas um enorme temor e uma impressão geral de 'fim do mundo'; interrompendo esse processo de arremetida em ziguezague, o sol retornou então à sua posição natural e passou a ser visto na sua conformação original e ofuscante à visão direta;

(v) os mesmos fenômenos foram vistos por inúmeras outras pessoas, muitas delas a quilômetros de distância da Cova da Iria.

(fotografia publicada pelo jornal  L'Osservatore Romano em 1951)

65. Como foi publicada à época a reportagem mais famosa do 'milagre do sol'?

A reportagem à época mais famosa dos extraordinários acontecimentos ocorridos em Fátima em 13 de outubro de 1917 foi feita pelo jornalista Avelino Almeida*, testemunha ocular dos acontecimentos, e publicada no dia 15/10/1917 pelo jornal 'O Século' de Lisboa. 

*  nasceu em Sintra em 10 de novembro de 1873 e faleceu em Lisboa em 2 de de agosto de 1932.

O texto descrevia o ambiente local, a chuva torrencial, a grande multidão e o chamado 'milagre do sol'. A manchete principal e os respectivos subtítulos da reportagem eram os seguintes:

COISAS ESPANTOSAS! COMO O SOL BAILOU AO MEIO DIA EM FÁTIMA

As aparições da Virgem – Em que consistiu o sinal do céu – Muitos milhares de pessoas afirmam ter-se produzido um milagre – A guerra e a paz


Seguia-se então uma fotografia com os três videntes e o texto extenso, do qual são destacados os seguintes excertos relativos ao chamado 'milagre do sol':

... 'A manifestação miraculosa, o sinal visível anunciado está prestes a produzir-se – asseguram muitos romeiros... E assiste-se então a um espetáculo único e inacreditável para quem não foi testemunha dele. Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zênite. 

O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-ia estar-se realizando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espetadores que se encontram mais perto se ouve gritar: – 'Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!' Aos olhos deslumbrados daquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos bíblicos e que, pálido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fora de todas as leis cósmicas – o sol 'bailou', segundo a típica expressão dos camponeses...

... 'E, a seguir, perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior número confessa que viu a tremura, o bailado do sol; outros, porém, declaram ter visto o rosto risonho da própria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como uma roda de fogo de artifício, que ele baixou quase a ponto de queimar a terra com os seus raios... Há quem diga que o viu mudar sucessivamente de cor...'

Um relato adicional pormenorizado dos eventos feito pelo mesmo jornalista, mas complementado por um grande número de fotografias da multidão presente na Cova da Iria, foi publicado posteriormente pela revista 'Illustração Portugueza', na sua edição de 29 de outubro de 1917, sob o título 'O Milagre de Fátima'.