terça-feira, 23 de julho de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXIV)

L

DA SOBRIEDADE — VÍCIO OPOSTO: A EMBRIAGUEZ

Existe, além da abstinência, alguma outra virtude que ajude o homem a evitar tão desastrosos resultados?
Sim, Senhor; a virtude da sobriedade (CXLIX)*.

Que entendeis por sobriedade?
Uma virtude cujo fim é moderar o uso das bebidas alcoólicas (CXLIX, 1, 2).

Como se peca contra ela?
Excedendo-se no uso desta classe de bebidas até chegar ao estado de embriaguez (CL).

Que entendeis por estado de embriaguez?
O estado físico no qual, por abusar da bebida, se chega a perder o uso da razão (CL, 1).

Constitui sempre pecado?
Quando provém, como consequência de não se tomarem precauções, nem reparar nos resultados que podia trazer o excesso da bebida, sim, Senhor (CL, 2).

Quando será pecado mortal?
Quando, previsto o resultado, se prefere o estado de embriaguez ao de privar-se do prazer da bebida (CL, 2).

É a embriaguez um vício repugnante e embrutecedor?
Sim, Senhor; porque priva o homem do uso da razão e o rebaixa a um nível inferior ao dos animais que sempre conservam expedito o instinto para se governarem. (CL 3).

LI

DA CASTIDADE E VIRGINDADE — VÍCIO OPOSTO: A LUXÚRIA

Além da abstinência e sobriedade, qual é a outra grande virtude de que forma por si só uma das espécies da temperança?
A virtude da Castidade (CLI).

Que entendeis por virtude da castidade?
A que faz o homem senhor de todos os movimentos do apetite sensitivo em matéria venérea (CLI, 1).

Em que virtude se compendiam e resumem todas as perfeições da castidade?
Na Virgindade (CLII).

Que entendeis por virgindade?
O propósito firme, confirmado com voto, de renunciar para sempre aos prazeres do matrimônio (CLII, 1-3).

Que vício se opõe à castidade?
O vício da luxúria (CLIII).

Em que consiste?
Em procurar, por obras, desejos ou pensamentos consentidos, os prazeres dos atos destinados à propagação da espécie, prescindindo do que exige a honestidade ou impõe a natureza (CLIII, 1-3).

Tem a luxúria várias espécies?
Sim, Senhor; tantas quantas as maneiras de cair nela (CLIV).

Quais são?
A simples fornicação, contrária ao fim do matrimônio, que é a criação e educação dos filhos; os pecados contra a natureza, os mais graves nesta matéria, opostos ao fim primário do matrimônio, isto é, à procriação; o incesto, adultério, estupro e rapto, que consistem: o primeiro, em abusar dos parentes próximos; o segundo, de pessoas casadas; o terceiro, dos que vivem sob a tutela de seus pais ou encarregados e tutores e o quarto, em enganar ou violentar a qualquer pessoa com fins libidinosos (CLIV, 1-12).

O vício da luxúria, base e trama de todos os enumerados, é pecado capital?
Sim, Senhor; por ser o que, com maior força e veemência, fustiga os homens (CLIII, 4).

Quais são as filhas da luxúria?
A cegueira do espírito, a precipitação, a inconsideração, a inconstância, o amor de si mesmo, o ódio a Deus, o apego a esta vida e o horror à futura (CLIII, 5).

Têm estes vícios alguma qualidade ou traço comum?
Sim, Senhor; concordam na propensão para sobrepor a carne ao espírito, como para aniquilá-lo; e a sua torpeza, como a de sua mãe, a luxúria, consiste em degradar o homem, reduzindo-o à condição dos brutos (CLIII, 5).

LII

DAS VIRTUDES ANEXAS À TEMPERANÇA: A CONTINÊNCIA  VÍCIO OPOSTO: A INCONTINÊNCIA

Além das virtudes que constituem espécies da temperança, não há outras que se relacionam com ela na qualidade de agregadas?
Sim, Senhor; aquelas cujos atos são análogos aos da temperança, ainda que elas sejam diferentes, não só por terem objetos mais dóceis e fáceis, mas também porque os seus atos não se lhe igualam em perfeição (CLV).

Quais são?
A continência, a clemência, a mansidão e a modéstia (CLV-CLXX).

Que entendeis por continência?
A virtude, ainda que como tal imperfeita, de resistir às cadeias e encantos das paixões, com os olhos postos no dever (CLV, 1).

Por que dizeis que como virtude é imperfeita?
Porque a virtude perfeita avassala e domina as paixões e a continência delimita-lhes a ação (Ibid).

Opõe-se-lhe algum vício?
Sim, senhor; a incontinência (CLVI).

Em que consiste?
Em ceder à paixão e deixar-se por ela dominar e arrastar (CLVI, 1).

Qual é o pecado mais grave, o da intemperança ou o da incontinência?
O da intemperança, porque assim como a temperança é virtude mais perfeita do que a continência, o vício oposto a ela é mais grave pecado (CLVI, 3).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

segunda-feira, 22 de julho de 2019

22 DE JULHO - SANTA MARIA MADALENA


Maria Madalena. Para se fazer distinção do nome Maria tão comum entre os habitantes de Israel (esse era o nome, por exemplo, da irmã de Moisés), os textos bíblicos nomeavam as diferentes Marias por um acréscimo singular do personagem - assim, Maria Madalena é a Maria de Magdala, povoado situado às margens do Lago da Galileia e próximo à cidade de Tiberíades. Eis as pouquíssimas referências a ela nas Sagradas Escrituras:

[Lc 8, 2-3]: 'Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses'.

[Jo 19, 25]: 'Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena'.

[Mc 15,40-41; 47]: 'Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que o tinham seguido e o haviam assistido, quando ele estava na Galileia; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele a Jerusalém... Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositavam'.

[Mc 16, 1; 5-6; 9-10]: 'Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus... Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele lhes falou: Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram... Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha expulsado sete demônios. Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos'.

[Jo 20, 1-2; 18]: 'No primeiro dia que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro. Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram! ... Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado'.

Ela é a figura bíblica 'Maria de Magdala', da qual Jesus havia expulsado sete demônios. Esta acepção não implica a interpretação direta de 'uma grande pecadora'. O fato de ter-se livrado de 'sete demônios' (sete é o número da perfeição, da plenitude) implica que ela foi curada de todos os seus males tanto físicos (enfermidades) como espirituais (pecados, estes de naturezas quaisquer). É absolutamente forçada e despropositada a conjectura de que Maria Madalena pudesse ter sido uma 'prostituta' na sua condição pregressa antes do seu encontro com Jesus. Desta interpretação espúria, nasceram inúmeras outras lendas e desdobramentos fantasiosos da participação e do envolvimento desta mulher singular na vida pública de Jesus e dos seus apóstolos. 

domingo, 21 de julho de 2019

SÓ UMA COISA É NECESSÁRIA

Páginas do Evangelho - Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum


Em meio às suas muitas viagens e peregrinações, em certa ocasião, Jesus parou para descansar na pequena comunidade de Betânia e ali se hospedou numa casa de propriedade de Marta. Marta era irmã de Maria e Lázaro, família religiosa e de posses, pela qual Jesus nutria grande apreço e amizade. Desta feita, aparentemente já se passara algum tempo sem Jesus ter estado com eles, pois, diante de sua chegada, Maria não arredava pé de sua Santa Presença, ouvindo com admiração e profunda alegria as palavras do Mestre.

Tão absorta e tão entretida estava Maria com a chegada do Senhor, que relegara ao completo esquecimento quaisquer outras tarefas ou atribuições, ainda que motivadas pela chegada de visitante de tal honra. Honra maior do que servi-lO ou preparar-Lhe a refeição, era amá-lO, era estar envolvida pela sua presença, era encher o coração de graça e de se deleitar na graça do Senhor. Atitude diversa tivera a sua irmã Marta. Na praticidade e nas exigências das ações humanas, movia-se de esforços concentrados em dar ao Mestre a refeição mais ligeira e mais substanciosa. E, nesse intuito, estava imersa por completo em mil afazeres e preparativos, moldada pelo intento de oferecer uma generosa hospitalidade e propiciar uma acolhida calorosa ao Senhor em sua casa. Santas e gratas intenções do coração humano!

Foi, pois, movida por tais preocupações imediatas, que Marta abordou Jesus, buscando a sua intervenção em induzir Maria a ajudá-la nas tarefas a cumprir: 'Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!' (Lc 10, 40). A hospitalidade e a docilidade da acolhida são afligidas pelas queixas e uma certa admoestação a Jesus no pedido de Marta: 'não importas?';  'manda'... Diante de Deus, Maria se alimenta do Verbo Encarnado; diante de Deus, Marta se apequena nas suas próprias tribulações humanas.

Jesus vai conduzi-las ambas a Si. Com Maria, mediante as palavras e os ensinamentos que o Evangelho não transcreveu. Com Marta, com as palavras que ressoam para todos nós: 'Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária' (Lc 10, 41-42). Todas as ações humanas podem ser belas e santas, desde que comecem no espírito da Santa Presença de Deus. Por Cristo, com Cristo, em Cristo: tudo em Cristo para a glória de Deus! Maria escolheu a melhor parte porque fez a acolhida do Senhor Que Vem primeiro na alma. E esta escolha, ratificada por Jesus, é outra verdade que ressoa para cada um de nós, no agora da vida humana e no depois da eternidade: a melhor parte definitivamente 'não lhe será tirada' (Lc 10, 42).

sábado, 20 de julho de 2019

A MEDIDA DOS PECADOS NÃO É IGUAL PARA TODOS

Dirá talvez o pecador que Deus é Deus de misericórdia… Quem o nega? A misericórdia do Senhor é infinita; mas, apesar dela, quantas almas se condenam todos os dias? Deus cura os que têm boa vontade (Is 61,1). Perdoa o pecado, mas não pode perdoar a vontade de pecar.

Replicará o pecador que ainda é muito jovem… És moço? Deus não conta os anos, conta as culpas. Ora, a medida dos pecados não é igual para todos. A um perdoa Deus cem pecados; a outro, mil; outro, ao segundo pecado, se verá precipitado no inferno. A quantos condenou após o primeiro pecado! Refere São Gregório que um menino de cinco anos, por ter proferido uma blasfêmia, foi lançado no inferno. Segundo revelou a Santíssima Virgem à bem-aventurada Benedita de Florença, uma menina de doze anos fora condenada por seu primeiro pecado. Outro menino, de oito anos de idade, também morreu com o primeiro pecado e se condenou. 

Lemos no Evangelho de São Mateus que o Senhor, a primeira vez em que achou a figueira sem fruto a amaldiçoou, e a árvore secou (Mt 21,19). Em outro lugar diz o Senhor: 'Depois das maldades que o povo de Damasco cometeu três e quatro vezes, eu não mudarei o meu decreto' (não revogarei os castigos que lhe tenho decretado) (Am 1,3). 

Algum temerário talvez ouse perguntar por que Deus perdoa a tal pecador três culpas e não quatro. Neste ponto é preciso adorar os inefáveis juízos de Deus e exclamar com o Apóstolo: 'Ó profundidade das riquezas da sabedoria e ciência de Deus! Quão incompreensíveis são seus juízos e imperscrutáveis seus caminhos' (Rm 11,33). 'O Senhor sabe', diz Santo Agostinho, 'a quem há de perdoar e a quem não. Àqueles a quem se concede misericórdia, gratuitamente se concede a mesma, e àqueles a quem se lha nega, com justiça lhes é negada'.

Replicará a alma obstinada que, tendo ofendido tantas vezes a Deus, e Deus lhe tendo perdoado, espera que ele ainda lhe perdoará um novo pecado… Mas porque Deus não o tem castigado até esta hora, segue-se que sempre há de proceder assim? Encher-se-á a medida e o castigo virá. Sem interromper as relações com Dalila, esperava Sansão salvar-se das mãos dos filisteus, como antes tinha feito (Jt 16,20); mas nesta última vez foi preso e perdeu a vida. 'Não digas' — exclama o Senhor — 'pequei, e qual a adversidade que me sobreveio? Porque o Altíssimo, ainda que nos tolere, dá-nos o que merecemos' (Ecl 5,4), isto é: chegará o dia em que tudo lhe pagaremos e, quanto maior tiver sido a misericórdia, tanto maior será a pena. 

Afiança-nos São João Crisóstomo que há mais para recear quando Deus tolera um pecador obstinado, do que quando lhe aplica o castigo sem detença. Com efeito, observa São Gregório, todos aqueles a quem Deus espera com mais paciência, são depois, se perseverarem na sua ingratidão, castigados com mais rigor; e, muitas vezes, acontece, acrescenta o mesmo santo, que os que foram por mais tempo tolerados por Deus, morrem de improviso sem ter tempo de se converter. Especialmente, quanto maiores tenham sido as luzes que Deus te haja dado, tanto maiores serão tua cegueira e obstinação no pecado, se a tempo não fizeres penitência.

'Era-lhe melhor' — diz São Pedro — 'não ter conhecido o caminho da justiça que, depois do conhecimento, voltar-lhe as costas' (2Pd 2,21). São Paulo diz que é (moralmente) impossível que uma alma ilustrada por luzes celestes, quando reincidir no pecado, se converta de novo (Hb 6,4.6). Terríveis são as palavras do Senhor contra aqueles que não querem atender a seu convite: 'Já que vos chamei e dissestes: não… eu também me rirei na hora da vossa morte e vos escarnecerei' (Pr 1,24-26). Note-se que as palavras eu também significam que, assim como o pecador zombou de Deus, confessando-se, fazendo propósitos e não os cumprindo nunca, assim o Senhor zombará dele na hora da morte.

O sábio diz além disso: 'Como cão que volta ao que vomitou, assim é o imprudente que recai na sua loucura' (Pr 26,11). Dionísio, o Cartuxo, desenvolve este pensamento e diz que tão abominável e asqueroso como o cão que devora o que tinha vomitado, se faz odioso a Deus o pecador que volta a cometer os pecados de que se arrependeu no sacramento da Penitência.

AFETOS E SÚPLICAS

Eis me aqui, Senhor, a vossos pés. Sou como o cão repugnante e asqueroso, que tantas vezes voltei a deleitar-me com o que antes tinha detestado. Não mereço perdão, meu Redentor. O precioso sangue, porém, que por mim derramastes, me alenta e me obriga a esperar… Quantas vezes vos ofendi e vós me perdoastes! Prometi não tornar a ofender-vos e daí a pouco de novo recaí, e vós outra vez me concedestes perdão! 

Que devo esperar, pois? Que me envieis ao inferno ou que me abandoneis aos meus pecados, castigo maior que o próprio inferno? Não, meu Deus; quero emendar-me, e, para vos ser fiel, ponho em vós toda minha confiança e prometo recorrer sempre a vós quando me vir assediado de tentações. No passado fiei-me em minhas promessas e resoluções, olvidando encomendar-me a vós nas tentações. Daí proveio a minha ruína. 

Mas, de hoje em diante, sereis vós minha esperança, minha fortaleza e assim tudo me será possível (Fp 4,13). Dai-me, pois, meu Jesus, por vossos méritos, a graça de encomendar-me sempre a vós, e de pedir vosso auxílio em todas as minhas necessidades. Amo-vos, Sumo Bem, digno de ser amado sobre todos os bens e só a vós amarei se me ajudais para isso. Vós também, ó Maria, Mãe nossa, auxiliai-me por vossa intercessão; abrigai-me debaixo de vosso manto; fazei que vos invoque sempre na tentação, e vosso nome dulcíssimo será minha defesa.

(Excertos da obra 'Preparação para a Morte', de Santo Afonso Maria de Ligório)

sexta-feira, 19 de julho de 2019

OREMUS! (200)

A sequência completa destes pensamentos e reflexões é publicada diariamente na Página OREMUS na Biblioteca Digital deste blog.

19 DE JULHO

Adhortamini invicem! [animai-vos mutuamente! (Hb 3,13)]

Este é o conselho que o Apóstolo nos dá ut non obduretur quis ex vobis fallacia peccati [para que nenhum de vós seja obscurecido pela sedução do pecado (Hb 3, 13)]. Sempre, em toda parte, eu devo realizar o apostolado do bom exemplo. E se esse apostolado deve atingir a todos, de um modo especial deve ele chegar aos meus colegas de sacerdócio. Eles têm direito ao meu bom exemplo.

Não os posso desanimar, contagiando-os com o meu pessimismo, com o meu espírito negativo, que tudo censura e destrói. Não lhes devo ser uma pedra no caminho, com certas ideias ou hábitos que mais pregam a tibieza do que o fervor. Com a palavra e com o exemplo, tenho que ser um estímulo para todos.

Não posso ignorar que os mais novos, e menos experientes, olham para mim como para um modelo. Com minha tibieza, eu poderia contribuir para que eles não fossem o que deveriam ser. Vale também para mim aquela palavra: confirma fratres tuos [fortalece os teus irmãos (Lc 22, 32)]. Será esse o fruto do meu bom exemplo. A caridade, a discrição, o zelo, a obediência, o desapego, enfim, o fervor, eis o que eu desejo ver nos meus colegas e o que eles também querem ver em mim. Timeamus, ne forte relicta pollicitatione introeundi in requiem eius, existimetur aliqui ex vobis deesse [embora subsista a promessa de entrar no seu repouso, cuidemos para que alguns não sejam excluídos (Hb 4,1)].

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog).

quinta-feira, 18 de julho de 2019

ORAÇÃO PARA A MINHA MORTE


Não me sepulteis com aromas suaves, 
porque essa honra de nada me serve. 
Nem useis incensos e perfumes, 
porque essa honra não me traz benefícios.

Queimai incenso no lugar sagrado; 
quanto a mim, 
acompanhai-me somente com vossas orações.

Oferecei vosso incenso a Deus; 
e enviai hinos para o lugar onde eu estiver. 
Em vez de perfumes e aromas,
lembrai-vos de mim em vossas orações...

Foi decretado 
que eu não possa me demorar aqui por muito tempo. 
Dai-me, como provisão para a viagem, 
vossas orações, salmos e sacrifícios...

(Santo Efrém, o Sírio)

quarta-feira, 17 de julho de 2019

O PENSAMENTO VIVO DE MONSENHOR FULTON SHEEN

O ateu moderno não descrê por causa do seu intelecto, mas por causa da sua vontade. Não é o conhecimento que o torna um ateu, mas a perversidade. A negação de Deus brota de um desejo do homem de não ter um Deus – da sua vontade de que não haja justiça por trás do universo, de modo que as suas injustiças não receiem retribuição; do seu desejo de que não haja lei, de modo que não possa ser julgado por ela; do seu querer que não haja bondade absoluta, para que ele possa continuar a pecar com impunidade. É por isso que o ateu moderno se mostra sempre encolerizado quando ouve dizer alguma coisa a respeito de Deus e da Religião... O ateu pós-cristão sabe que Deus existe, mas deseja que Ele não existisse.

O mundo gosta do que é medíocre e assim é que tanto odeia o que é extremamente bom como o que é demasiadamente mau. O que é muito bom, constitui vergonha para o medíocre, e o que é muito mau afigura-se-lhe aborrecimento e até perigo.

Se as almas não forem salvas, nada se salvará. Não poderá haver paz no mundo, se não houver paz de alma. As guerras mundiais não passam de projeções dos conflitos travados dentro das almas dos homens modernos, pois nada acontece no mundo exterior que não haja primeiro acontecido dentro de uma alma. 

É uma ilusão supor que a guerra é sempre um erro e que o mundo se poderá ver livre dela. Isto é falso. A guerra deve existir sempre; mas não a guerra exterior: a interna. Quando travamos guerra, contra o mal em nós, diminuem ao mesmo tempo as guerras exteriores. A razão por que vivemos num século de guerras exteriores é a de nos descurarmos no travar da batalha interior contra as forças que destroem a mente e a alma. Aquele que não descobrir o inimigo dentro de si, encontrá-lo-á, sem dúvida alguma, fora...Se a mente estiver no erro, então o mundo será uma loucura.

O homem mau fará coisas erradas, tais como enganar, roubar, difamar, matar, violar; mas ainda assim, admitirá a existência da lei... O homem perverso pode não fazer nenhuma destas coisas más... mas o seu desejo é o de destruir completamente a bondade, a religião e a moralidade, com um fanatismo louco... Procura fazer uma transmutação de valores em que a noite pareça dia e o dia pareça noite; o bem pareça o mal e o mal pareça o bem.