segunda-feira, 17 de setembro de 2018

CRISTO SEM CRUZ


No mundo de hoje, quantos são os católicos de fachada que se multiplicam no meio da Igreja deturpada de seus valores eternos. E isso se deve, em larga medida, à premissa de que seria possível viver e praticar os ensinamentos de Cristo sem a Cruz. Cristo sem Cruz. A catolicidade, esvaída da dor e do sofrimento, transformada em uma religião adocicada de católicos convertidos pelos chamamentos e prazeres estéreis do mundo. 

Cristo sem Cruz permite assumir estandartes e palavras de ordem de quaisquer seitas e doutrinas, ainda que formalmente contrárias aos ditames da autêntica fé cristã. Cristo sem Cruz é joeirar no terreno árido do sentimentalismo e das vicissitudes humanas; é proclamar a turbidez como virtude nas fontes cristalinas da graça;  é fomentar todo tipo de erva e de joio como frutos saudáveis das Santas Vinhas do Senhor. Cristo sem Cruz é viver o heroísmo da fé cristã com a fidelidade e a perseverança de um espantalho.

Sem a Cruz, torna-se fácil ao homem buscar um arremedo de fé nos apelos de um mundo indiferente a Deus, arraigado às frivolidades e comodismos de uma vida vazia. O ecumenismo passa a ser assimilado como causa de tolerância universal. Aceitar as distorções, os abusos, as aberrações, a iniquidade delirante é um atestado de sensibilidade e de sensatez. Mas ai de quem se opõe e se manifesta com veemência contra o domínio do mal: é atacado, ridicularizado, incriminado e perseguido de todas as formas possíveis. Porque a indiferença para com Deus por si só já não basta e é insuficiente, é preciso brandir, cada vez mais e com mais audácia e vigor, a espada do inconformismo contra a ideia de Deus, é preciso blasfemar contra o sagrado, é preciso impor ao mundo inteiro a negação de Deus, a morte de Deus. Enquanto isso tudo não é a realidade de todos, é preciso idolatrar o Cristo sem a Cruz.

Sem a Cruz, o homossexualismo passa a ser tratado com filial condescendência, o aborto é defendido como causa feminista, a eutanásia é uma opção admissível, a promiscuidade torna-se um libelo sexual do livre arbítrio, a iniquidade é aceita impassivelmente nos labirintos do respeito humano como uma personagem a mais nos domínios da graça. Sem a Cruz, basta aos homens serem homens; a ordem moral torna-se um mero pressuposto da razão incendida de questionamentos; a pequenez da alma se defronta com uma certeza: o relativismo do pecado, de todo e qualquer pecado. 

Sem a Cruz, Deus tem dimensões de um grande Anjo da Guarda, que nos indulta sempre de todos os nossos erros e pecados, posto que é infinitamente bom para nos condenar, posto que é infinitamente misericordioso para não nos salvar. Sem a Cruz, a justiça divina não existe, a ira divina não existe, não existe o inferno. A vida ordeira e cotidiana constitui, independentemente das almas ressequidas e duras, uma seara branda, amena e segura nos caminhos da eternidade com Deus. Assim, sempre que nos impacta a presença da morte que porventura se lamenta, vislumbra-se de pronto a certeza tenebrosa de que a alma libertada já pranteia jubilosa as delícias do Céu. Quanta insensatez e loucura!  

Sem a aceitação da dor e do sofrimento, sem as provações das injustiças e das falsas acusações, sem os percalços e dificuldades da vida em família e na sociedade, sem a Cruz de Cristo, não há salvação porque não existe merecimento, não há vida eterna para quem não perdeu a sua vida pelo amor ao Evangelho e porque ninguém - ninguém mesmo - pode entrar nos Céus sem carregar nos ombros a sua própria cruz, tesouro da glória emanado da Cruz de Cristo.

Sob a Cruz de Cristo, são forjadas convicções e não crenças fortuitas. Não há lugar para relativismos e concessões à iniquidade. No bom combate, os soldados de Cristo dão a sua vida em defesa da fé cristã e não se subordinam à covardia das almas tíbias e mornas, das almas insossas e adocicadas de católicos de fachada e de porão! Porque os que creem verdadeiramente vivem na crença confiante e definitiva das palavras do Senhor: 'quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la' (Mc 8, 35). Na Cruz de Cristo, resplandece toda a glória dos Filhos da Luz.
(texto do autor do blog)

domingo, 16 de setembro de 2018

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Num dado dia, na 'região da Cesareia de Felipe' (Mc 8, 27), Jesus revelou a seus discípulos a sua própria identidade divina e o legado da Cruz. Neste tesouro das grandes revelações divinas, o apóstolo Pedro será exposto a duas manifestações bastante distintas, fruto das próprias contradições humanas: num primeiro momento, dá um testemunho extraordinário de fé; num segundo momento, entretanto, é incapaz de entender a dimensão salvífica dAquele que acabara de saudar como o Messias Prometido.

Nesta ocasião, as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Então, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem dizem os homens que eu sou?' (Mc 8, 28) e, logo em seguida, 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mc 8, 29). Se os homens do mundo O tomam por João Batista, por Elias ou por um dos antigos profetas, a resposta de Pedro é um primado de confissão de fé, transcrita pelo mais sintético dos evangelistas:  'Tu és o Messias' (Mc 7, 32). 

Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias' (Mc 8, 31). E, diante da incompreensão dos apóstolos expressa na repreensão pública de Pedro, dá o testemunho da cruz pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la' (Mc 8, 34 - 35).

Sim, Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Deus Vivo: Deus feito homem na eternidade de Deus. Mas a missão salvífica de Jesus há de passar não por um triunfo de epopeias mundanas, mas por um tributo de Paixão, Morte e Ressurreição; não pelo manejo da espada ou por eventos feitos de glórias humanas, mas pela humildade, perseverança e um legado de Cruz. Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lo na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

14 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ


'Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12, 32)

A festa da Exaltação da Santa Cruz tem origem na descoberta do Sagrado Lenho por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e na dedicação de duas basílicas construídas por ele, uma no Calvário e outra no Santo Sepulcro, dedicação esta realizada no dia 14 de setembro do ano de 335. No ano de 629, a celebração tomou grande vulto com a restituição da Santa Cruz pelo imperador Heráclio, retomada dos persas que a haviam furtado. Levada às costas pelo próprio imperador, de Tiberíades até Jerusalém, a Santa Cruz foi entregue, então, ao Patriarca Zacarias de Jerusalém.


O imperador Constantino e sua mãe, Santa Helena, veneram a Santa Cruz 

Conta-se, então, que o imperador Heráclio, coberto de ornamentos de ouro e pedrarias, não conseguia passar com a cruz pela porta que conduzia até o Calvário; quanto mais se esforçava nesse sentido, mais parecia ficar retido no mesmo lugar. Zacarias, diante desse fato, ponderou ao imperador que a sua ornamentação luxuosa não refletia a humildade de Cristo. Despojado, então, da vestimenta, e com pés descalços, o imperador completou sem dificuldades o trajeto final, encimando no lugar próprio a Cruz no Calvário, de onde tinha sido retirada pelos persas.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo converteu a Cruz de um objeto de infâmia e repulsa na glória maior da fé cristã. A Festa da Exaltação da Cruz celebra, portanto, o triunfo de Jesus Cristo sobre o mundo e a imprimação do Evangelho no coração de toda a humanidade.

SALVE CRUX SANCTA

Salve, crux sancta, salve mundi gloria,
vera spes nostra, vera ferens gaudia,
signum salutis, salus in periculis,
vitale lignum vitam portans omnium.

Te adorandam, te crucem vivificam,
in te redempti, dulce decus sæculi,
semper laudamus, semper tibi canimus,
per lignum servi, per te, lignum, liberi.

Originale crimen necans in cruce
nos a privatis Christe, munda maculis, 
humanitatem miseratus fragilem 
per crucem sanctam lapsis dona veniam.

Protege salva benedic sanctifica 
populum cunctum crucis per signaculum, 
morbos averte corporis et animae 
hoc contra signum nullum stet periculum.

Sit Deo Patri laus in cruce filii 
sit coequalis laus sancto spiritui, 
civibus summis gaudium et angelis 
honor sit mundo crucis exaltatio. Amen.


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

VIDA DO PADRE PIO EM FATOS E FOTOS (V)

ESTIGMAS

Eu pedi a Jesus para me livrar dos sinais que me causavam tanto sofrimento. E Ele me respondeu: 'Você vai suportá-los por cinquenta anos'






 


terça-feira, 11 de setembro de 2018

JULGAR NÃO É PRATICAR A CARIDADE

Ouvi alguns falarem mal do seu próximo e repreendi-os. Para se defenderem, esses operários do mal replicaram: 'É por caridade e por solicitude que falamos assim!' Mas eu respondi-lhes: Deixai de praticar tal caridade, pois estaríeis a chamar mentiroso ao que diz: 'Afasto de Mim quem denigre em segredo o seu próximo' (Sl 100,5). 

Se amas essa pessoa como afirmas, reza em segredo por ela e não te rias do que faz. É essa maneira de amar que agrada ao Senhor; não percas isto de vista e esforça-te cuidadosamente por não julgar os pecadores. Judas pertencia ao número dos apóstolos e o ladrão fazia parte dos malfeitores, mas que espantosa mudança se deu nele num só instante! 

Responde, pois, ao que diz mal do seu próximo: 'Pára, irmão! Eu próprio caio todos os dias em faltas mais graves; como poderei condenar essa pessoa?' Obterás assim um duplo proveito: curar-te-ás a ti mesmo e curarás o teu próximo. Não julgar é um atalho que conduz ao perdão dos pecados, pois está dito: 'Não julgueis e não sereis julgados'. 

Alguns cometeram grandes faltas à vista de todos mas realizaram em segredo os maiores atos de virtude, de tal maneira que os seus acusadores se enganaram, dando atenção ao fumo sem verem o sol. Os críticos diligentes e severos caem nessa ilusão porque não guardam a memória nem a preocupação dos seus próprios pecados. 

Julgar os outros é usurpar sem vergonha uma prerrogativa divina; condená-los é arruinar a nossa própria alma. Tal como um bom vindimador come as uvas maduras e não colhe as verdes, assim também um espírito benevolente e sensato anota cuidadosamente todas as virtudes que vê nos outros; mas o insensato perscruta as faltas e as deficiências.

(Excertos da obra 'A Escada Santa' por São João Clímaco)