terça-feira, 6 de maio de 2025

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XXII)

 

100. Depois de Jesus Cristo, que é o Rei dos humildes, que belo exemplo de humildade temos na Santíssima Virgem Maria, que é a sua Rainha! Nenhuma criatura a superou em mérito, nem a ultrapassou em humildade. Pela sua humildade mereceu ser a Mãe de Deus, e só pela humildade conservou a dignidade e a honra da sublime Maternidade.

Imaginemos Maria no seu quarto em Nazaré, quando lhe foi anunciado pelo Arcanjo Gabriel que era chegado o momento de o Verbo Eterno se encarnar no seu seio, pela ação do Espírito Santo. Ela não mostra nenhum sinal de orgulho por ter sido abençoada entre as mulheres e escolhida para uma honra tão alta, mas, pelo contrário, ficou angustiada e 'perturbou-se com a sua palavra' [Lc 1,29], sem poder entender por que foi escolhida para uma honra tão grande. E o que é que ela exclama? Eu -  a Mãe de Deus! Eu, uma vil criatura, tornar-me a Mãe de Deus! Não sou senão a sua serva, e seria demasiada honra para mim ser sequer a sua serva. 'Eis aqui a serva do Senhor' [Lc 1,38]. Assim Maria humilhou-se tanto quanto estava ao seu alcance e continuou nesta profunda humildade durante toda a sua vida, comportando-se em todas as coisas como serva do Senhor, sem nunca atribuir a si própria a menor glória por ser sua Mãe. Que belo exemplo para nós! 

Por isso, se temos devoção a Nossa Senhora, devemos procurar imitá-la na sua humildade; e em todas as orações, comunhões e mortificações que fizermos em sua honra, peçamos-lhe sempre que nos obtenha, por sua intercessão, a graça da santa humildade. Não há nenhuma graça que a Virgem Santíssima peça tão prontamente a Jesus para os seus devotos, e que Jesus conceda tão prontamente a Maria, como a graça da humildade, pois tanto Jesus como Maria têm esta virtude em singular afeto. Recomendemo-nos à sua proteção e depositemos nela toda a nossa confiança, suplicando-lhe, pelo amor que ela própria tem à humildade, que nos conceda também a nós sermos verdadeiramente humildes de coração; e não duvidemos de que as nossas preces sinceras serão ouvidas e os nossos desejos atendidos.

Ó minha alma, é pela humildade que chegaremos ao Paraíso. E o que é que faremos no Paraíso? Lá, a prática de todas as outras virtudes cessa e só a caridade e a humildade permanecem. Veremos Deus e, ao vê-lo, saberemos que Ele é o Bem infinito; e este conhecimento perfeito trará consigo um amor mais perfeito, e quanto mais amarmos Deus, melhor o conheceremos, e quanto melhor o conhecermos, mais humildes seremos, praticando a humildade por toda a eternidade, como os antigos, vistos no Apocalipse pelo Apóstolo São João: 'Que se prostraram sobre os seus rostos e adoraram a Deus, dizendo: Graças Te damos, Senhor Deus todo-poderoso, que és, que eras e que hás-de vir' [Ap 11,17]. 

Comecemos a praticar na terra as virtudes que esperamos praticar para todo o sempre, através de todos os séculos, no Céu: 'Nosso Senhor Jesus Cristo humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por esta razão, também Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes' [Fp 2,8-9]. 'Livrai-me, Senhor, do homem mau, resgatai-me do homem injusto' [Sl 139,2]. Quem é esse homem mau e injusto de quem peço para ser libertado? É o meu eu interior, que é todo vício, corrupção e orgulho, isto é o mesmo que eu dizer: 'Livrai-me, Senhor, de mim mesmo, isto é, dai-me a graça de me emendar e de me reformar, a fim de que eu não seja mais a criatura terrena, mundana e orgulhosa que fui até agora, dominada pela paixão, mas que eu seja renovado e conformado ao espírito do meu humilde Mestre e Senhor Jesus Cristo' - 'Livrai-me, Senhor, do homem mau; resgatai-me do homem injusto'.

Oração

Ó Deus, que resistis aos soberbos e dais vossa graça aos humildes, concedei-nos a graça da verdadeira humildade, de que o vosso Filho Unigênito deu exemplo aos fiéis, para que nunca, ensoberbecidos pelo orgulho, incorramos na vossa cólera, mas para que, submissos à vossa vontade, recebamos os dons da vossa graça.

Exame Prático sobre a Virtude da Humildade

Agora que já conheceis a idéia da humildade, da sua necessidade, da sua excelência e dos seus motivos, estou persuadido de que se despertou no vosso coração um desejo ardente de a praticar. Mas, porque, por um lado, não o podeis fazer sem a ajuda especial de Deus e, por outro, Deus nada fará em vós sem a cooperação da vossa vontade, segue-se, portanto, que, depois de terdes invocado o auxílio divino, não duvidando senão de que o recebereis, deveis aplicar-vos a adotar os meios que mais vos ajudem a alcançar essa virtude. E porque todos os mestres de vida espiritual concordam nisto, que é mais eficaz fazer todos os dias um exame particular sobre a virtude que queremos adquirir, vou expor para vosso esclarecimento um exame prático sobre a humildade cristã; e, para que façais bom uso dele, dou-vos três conselhos.

O primeiro é que, ao fazerdes o vosso exame uma vez por dia, pelo menos, para assinalardes as faltas que porventura tenhais cometido contra a humildade, não escolhais mais do que uma ou duas das mais flagrantes que tenhais o hábito de cometer, e assim, depois de vos terdes habituado a emendá-las, passareis pouco a pouco às outras, até que o orgulho seja gradualmente erradicado e a humildade brote no vosso coração.

É assim também que devemos meditar. Certas resoluções gerais, tais como dominar o orgulho e praticar a humildade, nunca servem para nada; pelo contrário, geram frequentemente confusão e criam conflitos na mente: por isso é necessário entrar em pormenores sobre as coisas em que durante o dia fomos mais sensíveis às nossas imperfeições e, mesmo assim, não devemos formar uma intenção geral de não voltar a cair nelas durante toda a nossa vida, mas basta que tomemos a firme resolução de não voltar a cair nelas durante esse dia. Foi assim que o santo rei Davi tomou resoluções e as renovou, não tentando mantê-las de ano para ano, nem de mês para mês, mas de dia para dia: 'Pagarei os meus votos a cada dia' [SL 60,9]. E, para as manter, nunca é demais insistir na necessidade de impor a si mesmo uma penitência e de a cumprir fielmente. Por exemplo, quantas vezes eu não tiver cumprido as minhas resoluções de hoje, tantas vezes beijarei a chaga do lado de Cristo e recitarei devotamente tantas Ave-Marias...

A segunda é tomar estas faltas que constituem o objeto do nosso exame e acusarmo-nos delas nas nossas confissões, para nos envergonharmos ainda mais da nossa soberba diante de Deus, e também porque o sacramento da Penitência confere uma graça singular que nos ajuda a emendar as faltas de que nos acusamos, como ensina São Tomás [P. 3. qu. lxxxiv, art. 8 ad 1]. E embora nenhum desses defeitos possa absolutamente ser chamado de pecado, e sejam simplesmente imperfeições, não se segue que não devamos prestar atenção a eles, porque ou servem para nos manter no vício ou são um impedimento para a virtude.

Quando se trata de humildade, que é a virtude mais necessária para a nossa salvação eterna, é sempre melhor e mais seguro tê-la em excesso do que tê-la em falta. E é certo que aquele que se contenta em ter apenas a quantidade que lhe é absolutamente essencial nunca adquirirá realmente essa virtude. 'Se não vos tornardes como criancinhas, não podereis entrar no reino dos céus', disse o Salvador do mundo, e não temos outro meio de nos tornarmos como criancinhas senão eliminar o nosso amor-próprio pelo exercício vigoroso da humildade.

A terceira é que deves ler frequentemente este exame prático, para refletires seriamente sobre ti mesmo e veres como estás em relação à humildade, para que não sejas daqueles que se julgam humildes e não o são realmente. São Tomás diz que é próprio da humildade examinar as faltas cometidas contra qualquer virtude que seja. Quanto mais, portanto, deve examinar as faltas que se cometem contra essa mesma humildade!

Você encontrará muitos pontos pequenos nesse exame, mas se você se achar defeituoso em muitos deles, não deve considerá-los do ponto de vista de seu tamanho, mas de seu número, e quanto mais você descobrir que eles são habituais em você, mais eles devem enchê-lo de medo e apreensão. E na medida em que descobrir que não é humilde nesse ou naquele ponto, poderá inferir que é orgulhoso; e se esse exame sobre humildade apenas o ensinar a conhecer seu próprio orgulho, não será um ganho pequeno, porque começamos a ser humildes quando abrimos os olhos e reconhecemos que somos orgulhosos.

Muitas coisas consideradas em si mesmas são apenas um conselho; mas, em relação a tais e tais circunstâncias, elas podem, no entanto, ser obrigatórias, e são necessárias também para que não transgridamos o preceito, de acordo com o ensinamento de São Tomás [2a 2æ, qu. lxxii, art. 3; et qu. clxxxvi, art. 2] Em conclusão, você não deve fazer esse exame com escrúpulos ou muita ansiedade, como se toda imperfeição fosse um pecado e como se você tivesse a presunção de querer ser humilde de uma só vez, nem deve rejeitar com desprezo tudo o que não lhe parece positivamente de preceito.

Você deve ser solícito em seu desejo e vontade de adquirir humildade e deve ter diligência e cuidado para não omitir os meios que o levariam a obtê-la, e então, recomendando-se a Deus, continue a fazer esse exame de acordo com a inspiração de Deus e os ditames de sua própria consciência. Como a humildade pode ser considerada sob três aspectos diferentes, em relação a Deus, ao próximo e a nós mesmos, e praticada de duas maneiras, isto é, interior e exteriormente, segue-se, portanto, que podemos pecar dessas várias maneiras, assim como pecamos contra as leis de qualquer outra virtude, seja por nossos pensamentos, palavras, atos ou omissões. 

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

segunda-feira, 5 de maio de 2025

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'O Espírito Santo, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui a graça a cada um conforme lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos. Serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá o poder de expulsar os demônios; àquele concede o dom de interpretar as Sagradas Escrituras. A uns fortalece na temperança, a outros ensina a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e como suportar as austeridades da vida ascética; e àqueles o domínio das tendências carnais; a outros ainda prepara para o martírio... Branda e suave é a sua aproximação; benigna e agradá­vel é a sua presença; levíssimo é o seu jugo!...  vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, ilu­minar a alma de quem o recebe, e, depois, por meio desse, a alma dos outros. Quem se encontra nas trevas, ao nascer do sol recebe nos olhos a sua luz, começando a enxergar claramente coisas que até então não via. Assim também, aquele que se tornou digno do Espírito Santo, recebe na alma a sua luz e, elevado acima da inteligência humana, começa a ver o que antes ignorava'.

(São Cirilo de Jerusalém)

domingo, 4 de maio de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Eu vos exalto, ó Senhor, porque Vós me livrastes' (Sl 29)

Primeira Leitura (At 5,27b-32.40b-41) - Segunda Leitura (Ap 5,11-14) -  Evangelho (Jo 21,1-19)

  04/05/2025 - TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA

TESTEMUNHAS DO AMOR


Às margens do mar de Tiberíades, Jesus Ressuscitado aparece pela terceira vez a seus discípulos. E lhes aparece após uma longa noite de aparentes fracassos porque eles não haviam conseguido pescar peixe algum. Aqueles homens, pescadores exímios, bem o tentaram; sabedores dos humores e segredos do mar, bem o tentaram; sabedores das nuances dos ventos e das propícias condições noturnas, bem o tentaram. E tentaram em vão, porque são vãos todos os esforços quando não compartilhados pela graça de Deus.

Ao amanhecer, resignados e confusos, aqueles pescadores obedecem a recomendação de Jesus, embora não o tivessem ainda em plenitude, pois 'os discípulos não sabiam que era Jesus' (Jo 21,4). Mas, ainda assim, lançam as redes à direita da barca, pois aqueles que estiverem à direita de Cristo não serão confundidos e verão as maravilhas de Deus (Mt 25, 33-34). E agora, não lhes é vã a tentativa; a rede se enche de 153 grandes peixes, símbolo de uma pesca extremada, milagrosa porque eivada da graça manifesta de Deus aos homens.

E, tomado de assombro, o discípulo a quem Jesus amava faz um imediato testemunho de amor: 'É o Senhor!' (Jo 21,4). É um testemunho de fé no Filho do Homem, testemunho de esperança, testemunho em Jesus Ressuscitado, condutor verdadeiro dessa barca, que representa a Santa Igreja, testemunho que perpassa os tempos e as gerações humanas dos bem-aventurados que haverão de crer como João. Sim, é o Senhor! Eis o cordeiro imolado para a redenção do mundo, o Salvador, o Ungido do Pai.

Mas é Pedro quem se arroja nas águas frias do mar naquele amanhecer de novos tempos ao encontro do Jesus amado e retorna, na mesma toada, para arrastar a rede cheia de grandes peixes até a margem. Mais uma vez, Jesus prepara-lhes o alimento e distribui o pão e os peixes entre eles. E é a Pedro quem Jesus pergunta por três vezes: 'Simão, filho de João, tu me amas?' (Jo 21, 15-17). E o sim de Pedro, por três vezes, é a prova manifesta universalmente do amor verdadeiro do homem em resposta ao infinito amor de Deus: 'Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo' (Jo 21, 17). E ante a resposta firme e decidida de Pedro, Jesus o tornará o pastor de suas ovelhas e a pedra da Igreja: 'Segue-me' (Jo 21, 19).

sábado, 3 de maio de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (V)

O Papa Francisco foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, perto de uma imagem de Nossa Senhora, Saúde do Povo Romano - Salus Populi Romani - considerada padroeira de Roma. Esta imagem foi mostrada de forma recorrente em muitas transmissões do funeral do pontífice. A tradição manifesta que este ícone foi pintado por São Lucas e levado a Roma no século VI.

A contextualização da imagem sugere que não se trata de uma abordagem medieval, mas de um conceito muito mais próximo do cristianismo primitivo que data da antiguidade, por não inserir composições típicas da interação entre Mãe e Filho de ícones medievais. A rigor, entretanto, há uma transição óbvia destes diferentes estilos de pintura entre a imagem atual (fruto de restaurações diversas) e a peça original, que passaram a inserir elementos da iconologia medieval como, por exemplo, o formato dos rostos, alterações do contorno da vestimenta azul que envolve o corpo da Virgem e os halos matizados em torno das cabeças dos personagens representados.  

A composição apresenta a Virgem,  com um manto azul escuro em detalhes dourados sobre uma túnica vermelha, olhando diretamente para a frente, com uma pose ereta e imponente de uma rainha. As letras em grego no topo da imagem (ΜHΤHΡ ΘΕΟΥ em maiúsculas) identificam Maria como 'Mãe de Deus'. A posição imperial da Virgem é simbolizada também pela sua mão esquerda segurando um lenço cerimonial bordado (conhecido como mappula), símbolo de poder e realeza. 

A Virgem envolve em seus braços o Menino Jesus, que mantém a mão direita levantada como um sinal de bênção, enquanto a mão esquerda segura um livro (representação da sua doutrina, manifestada nos Evangelhos das Sagradas Escrituras). Maria olha diretamente para os seus filhos e Jesus abençoa aqueles que detêm em si o olhar de Maria. No abraço afetuoso da Mãe, Maria nos ensina a abraçar plenamente o seu Filho, como nosso único Caminho, Verdade e Vida.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XIII)

P. 27 - Mas suponhamos que uma pessoa viva em uma religião falsa e morra sem ser reunida à comunhão da Igreja de Cristo, pode dizer-se que ela está então definitivamente perdida?

Tenho de colocar aqui outra questão. Suponhamos que um grande pecador continue a viver em seus pecados e morra sem qualquer aparência de arrependimento, poder-se-ia dizer que ele está irremedivalmente perdido? Certamente que não, porque ninguém sabe, ou pode saber, o que se passou entre Deus e a sua alma nos seus últimos momentos; tudo o que se pode dizer é que, se ele realmente morreu sem arrependimento, está certamente perdido; mas se Deus, pela sua infinita bondade, deu a ele a graça de um arrependimento perfeito e ele correspondeu da sua parte a tão grande favor, será salvo. Da mesma forma, se uma pessoa que vive em uma religião falsa morre sem dar qualquer sinal de abraçar a verdadeira fé ou sem se reconciliar com a Igreja de Cristo, nunca poderemos dizer com certeza que ela está perdida; tudo o que podemos dizer deve estar sob a mesma condição que no outro caso: se ela realmente morreu como viveu, separada da verdadeira Igreja de Cristo, e sem a verdadeira fé de Cristo, ela não pode ser salva. Mas se Deus, por sua grande misericórdia, deu a ela, em seus últimos momentos, luz e graça para ver e abraçar a verdadeira fé, e ela correspondeu com um favor tão grande como Deus requer, será salva. Ora, como ninguém sabe, ou pode saber, o que pode ter passado na alma de um ou de outro nos seus últimos momentos, assim nenhum homem pode pronunciar com certeza que a alma de um ou de outro estará irremedivalmente perdida.

P. 28 -  Mas, no caso proposto, se uma pessoa, em seus últimos momentos, receber a luz da fé de Deus e abraçá-la com todo o seu coração, isso seria suficiente para torná-la um membro da verdadeira Igreja aos olhos de Deus?

Sem dúvida; o caso é o mesmo neste como no caso do batismo. Embora Jesus Cristo diga expressamente: 'Se alguém não nascer de novo da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus' (Jo 3,5), tal premissa estabelece a necessidade absoluta do batismo para a salvação; contudo, suponhamos que um pagão seja instruído na fé de Cristo e a abrace de todo o coração, mas morra subitamente sem batismo, ou seja levado por amigos infiéis, ou colocado na impossibilidade absoluta de receber o batismo, e morra nas disposições acima com arrependimento sincero e desejo de batismo, essa pessoa receberá indubitavelmente de Deus todos os frutos do batismo, e por isso se diz que foi batizada em desejo. Da mesma forma, suponhamos que uma pessoa educada em uma religião falsa abraça de todo o coração a luz da verdadeira fé, que Deus lhe dá nos seus últimos momentos, uma vez que lhe é absolutamente impossível, nesse estado, juntar-se à comunhão externa da Igreja aos olhos dos homens, no entanto, será certamente considerada unida a ela aos olhos de Deus, por meio da verdadeira fé que abraça e do seu desejo de se unir à Igreja, se isso estiver ou estivesse ao seu alcance.

P. 29 - Há alguma razão para acreditar que Deus Todo-Poderoso muitas vezes concede a luz da fé, ou a graça do arrependimento, na hora da morte, àqueles que viveram toda a sua vida em heresia ou em pecado?

Que Deus pode, num único instante, converter o coração mais obstinado à verdadeira fé ou ao arrependimento, é manifesto pelos exemplos de São Paulo, do publicano Zaqueu, do apóstolo São Mateus e de muitos outros; e, em particular, de São Pedro, a quem revelou, num instante, a divindade de Jesus Cristo, que lhe disse: 'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus' (Mt 16,17). Que Ele pode fazer isso na hora da morte, tão facilmente quanto em qualquer momento da vida, não pode ser duvidado, como vemos no caso do bom ladrão na cruz. Ele é o mesmo Deus todo-poderoso em todos os momentos. Mas é preciso reconhecer que há muito pouca razão para pensar que isso seja frequentemente o caso. Certamente não há a menor base da revelação para pensar assim. Não, as Escrituras, como vimos acima, ameaçam o contrário. Tudo o que pode ser dito é que, como Deus é capaz, Ele pode fazê-lo; e como Ele é misericordioso, Ele pode fazê-lo: e a possibilidade disso é suficiente para nos impedir de julgar o estado de qualquer alma que tenha deixado este mundo: mas seria certamente o cúmulo da loucura, e uma manifesta tentação de Deus, uma pessoa se agarrar a isso e continuar em um caminho mau na esperança de encontrar tal misericórdia no final da vida.

P. 30 - Não vemos, mesmo entre as falsas religiões, muitas pessoas sérias e bem-dispostas, que vivem bem, e são até mesmo devotas e piedosas à sua própria maneira; não é difícil pensar que tais pessoas não serão salvas?

Mas não é muito mais razoável em si mesmo, bem como mais conforme a todo o teor do que Deus revelou, dizer que se eles são verdadeiramente tais diante de Deus como eles aparecem aos olhos dos homens, e tais como Ele sabe que continuarão a corresponder às graças que Ele lhes dá, Ele não permitirá que eles morram em sua falsa religião, mas sem dúvida os trará para a verdadeira fé antes que morram? A porta da salvação não está de modo algum fechada a essas pessoas por nada do que aqui foi dito; a única dificuldade está no modo como podem chegar a ela. Supor que eles podem alcançá-la, embora morram em sua falsa religião, é supor que Deus age contrariamente a si mesmo, e em oposição a tudo o que Ele tem revelado aos homens sobre este assunto.

Mas aderindo à sua santa Palavra, e acreditando firmemente que Deus 'acrescenta diariamente à Igreja aqueles que serão salvos', sem dúvida acrescentará aqueles aqui mencionados, se eles forem desse número feliz, não tornando a sua salvação mais difícil nem para eles mesmos nem para Deus; assim, evitamos a terrível consequência de supor que Deus poderia agir contrariamente a si mesmo e à sua própria vontade revelada. Se essas pessoas são realmente tais aos olhos de Deus como aparecem aos homens e se Jesus Cristo, prevendo a sua perseverança em melhorar as graças que lhes concede, as reconhece entre o número de suas ovelhas, 'às quais dá a vida eterna', então é evidente que elas estão no estado daquelas de quem Ele diz no Evangelho: 'Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco' (Jo 10,16).

Mas, sobre estas, Ele imediatamente acrescenta: 'Também as hei-de trazer e elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor'. Não era suficiente para a sua salvação serem reconhecidas como suas ovelhas; mas porque o eram, era necessário que fossem reunidas ao aprisco ao qual então não pertenciam. O mesmo deve ser então o caso daqueles de quem aqui falamos: são ovelhas de Jesus Cristo, porque Ele prevê que serão finalmente salvas; mas como não estão atualmente no aprisco da sua Igreja, a fim de assegurar a sua salvação, 'também é necessário que Ele as traga para ela' antes de morrerem, para que haja 'um só rebanho e um só pastor'.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

quinta-feira, 1 de maio de 2025

01 DE MAIO - SÃO JOSÉ OPERÁRIO


São José, São José carpinteiro,
dai-me o cinzel do entalhador
para que eu molde almas, muitas almas,
com a sagrada face do Senhor...


São José, modelo de virtudes,
imprimi em mim virtuoso labor
para que eu seja luz, luz que alumie,
os santos caminhos do Senhor...


São José, homem de oração,
dai-me a graça da vida interior
para que eu leve ovelhas, muitas ovelhas,
 ao rebanho do Bom Pastor...
  

São José, São José missionário,
guiai-me no apostolado do amor
pelos homens, para que muitos se salvem,
 na infinita misericórdia do Senhor...



 São José, esposo de Maria,
ungi-me a fronte com especial fervor
de levar as almas, todas as almas,
às fontes da graça do Senhor...


São José, São José camponês,
dai-me o arado e fazei-me semeador
que eu possa dar frutos, muitos frutos,
nas vinhas gloriosas do Senhor...


São José, homem justo na fé,
fazei de mim esteio consolador
de todos que sofrem, dos que padecem,
crucificados como o Senhor...



São José, São José operário,
fazei de mim um santo trabalhador
que eu seja obra de muitos nomes
nas moradas eternas do Senhor...

('Poema a São José', de Arcos de Pilares)

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quarta-feira, 30 de abril de 2025

ORAÇÃO EFICAZ AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


I. Ó meu Jesus, que dissestes: 'Em verdade vos digo: Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto': eis que eu bato, procuro e vos peço a graça de...

Pai Nosso... Ave Maria... Glória ao Pai... 

Sagrado Coração de Jesus, eu deposito a minha confiança em Vós!

II. Ó meu Jesus, que dissestes: 'Em verdade vos digo que, se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la concederá': eis que, em Vosso nome, peço ao Pai a graça de...

Pai Nosso... Ave Maria... Glória ao Pai... 

Sagrado Coração de Jesus, eu deposito a minha confiança em Vós!

III. Ó meu Jesus, que dissestes: 'Em verdade vos digo que o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão': eis que, encorajado pelas vossas palavras infalíveis, peço-vos agora a graça de...

Pai Nosso... Ave Maria... Glória ao Pai... 

Sagrado Coração de Jesus, eu deposito a minha confiança em Vós!

Ó Sagrado Coração de Jesus, para quem é impossível não ter compaixão dos aflitos, tende piedade de nós, pobres pecadores, e concedei-nos a graça que vos pedimos, pelo Coração Doloroso e Imaculado de Maria, vossa terna Mãe e nossa.

Salve Rainha... 

São José, pai adotivo de Jesus, rogai por nós!

(Oração recitada pelo Santo Padre Pio todos os dias, por intercessão daqueles que lhe pediam suas orações)