terça-feira, 20 de agosto de 2024

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'A água que eu lhe der se tornará nele fonte de água viva, que jorra para a vida eterna' (Jo 4,14). Água diferente, esta que vive e jorra; mas jorra apenas sobre os que são dignos dela. Por que motivo o Senhor dá o nome de 'água' à graça do Espírito Santo? Certamente porque tudo tem necessidade de água; ela sustenta as ervas e os animais. A água das chuvas cai dos céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muito variados. De fato, o efeito que produz na palmeira não é o mesmo que produz na videira; e assim em todas as coisas, apesar de sua natureza ser sempre a mesma e não poder ser diferente de si própria. Na verdade, a chuva não se modifica a si mesma em qualquer das suas manifestações. Contudo, ao cair sobre a terra, acomoda-se às estruturas dos seres que a recebem, dando a cada um deles o que necessita. Com o Espírito Santo acontece o mesmo. Sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui a graça a cada um conforme lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos.

(São Cirilo de Jerusalém)

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

AS SEIS PREMISSAS DA ORAÇÃO PERFEITA

1. A FÉ

A primeira condição é a fé, de acordo com as palavras do apóstolo: 'Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé?' (Rm 10,14a), com as quais São Tiago concorda: 'mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação' (Tg 1,6a). Mas a necessidade de fé não deve ser entendida como se fosse importante acreditar que Deus deva certamente atender ao que é pedido, pois neste caso nossa fé seria provada falsa e então não obteríamos nada. Devemos acreditar que Deus é mais poderoso, mais sábio e mais digno de fé; e que Ele sabe, tem poder e está preparado para atender os nossos pedidos, se entender como apropriado e útil para nós, recebermos o que pedimos. Esta fé Cristo pediu aos dois homens cegos que curou: 'Credes que eu posso fazer isso?' (Mt 9, 28) Com a mesma fé, Davi rezou pelo seu filho adoentado, como provam suas palavras, pois ele acreditava não ser seguro que Deus atenderia suas preces, mas que somente Deus seria capaz de conceder tal graça: 'Quem sabe, talvez o Senhor terá pena de mim e o menino ficará bom?' (2Sm 12,22). Disto não se pode duvidar. Com a mesma fé o apóstolo Paulo rezou para se livrar de um 'espinho na carne'. Pois o apóstolo rezou com fé, e sua fé não era falsa se ele acreditava que Deus poderia lhe conceder a cura que pedia, embora não tenha obtido o que pedia. E, com a mesma fé, a Igreja pede por todos heréticos, pagãos, cismáticos e maus cristãos que possam ser converter e, no entanto, é certo que nem todos se converterão.

2. A ESPERANÇA

Outra condição muito necessária para rezar é a esperança. Pois ainda que pela fé, que é consequência da compreensão, nós não acreditemos que Deus atenderá nossos pedidos; pela esperança, que é um ato de desejo, podemos firmemente nos apoiar na bondade divina e termos confiança que Deus poderá nos atender. Esta condição Deus requer do paralítico, para quem diz: 'Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados' (Mt 9,2). O mesmo pede o apóstolo para todos, quando diz: 'Aproximemo-nos, pois, confiantemente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno' (Hb 4,16). E muito antes dele, o profeta apresenta Deus, falando: 'Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele' (Sl 90,15). Mas como a esperança brota da fé perfeita, quando a Escritura requer fé nas grandes coisas, ela acrescenta algo sobre esperança. Assim lemos em São Marcos: 'Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre' (Mc 11,23). Que a fé produz confiança, podemos entender destas palavras do apóstolo: 'mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas' (1Cor 13,2b). João Cassiano escreve em seu Tratado sobre a Oração que um sinal certo que nossos pedidos serão atendidos ocorre, quando em oração, nós não duvidamos que Deus certamente nos atenderá, e não hesitamos de nenhuma maneira, mas derramos nossas orações com alegria espiritual.

3. A CARIDADE

A terceira condição é a caridade pela qual nos libertamos dos pecados, pois os amigos de Deus obtém os seus dons. Assim fala Davi em um salmo: 'Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores' (Sl 33,15) e em outro: 'Se eu intentasse no coração o mal, não me teria ouvido o Senhor' (Sl 65, 18). E, no Novo Testamento, o Senhor mesmo confirma: 'Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito' (Jo 15,7). E o amado discípulo fala: 'Caríssimos, se a nossa consciência nada nos censura, temos confiança diante de Deus, e tudo o que lhe pedirmos, receberemos dele porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável a seus olhos' (1Jo 3,21-22).

Isto não é contrário à doutrina. Quando o publicano suplica por perdão de seus pecados, ele retorna para casa justificado; pois um pecador arrependido não obtém perdão por ser pecador, mas por estar arrependido; pois, como pecador, ele é inimigo de Deus; como penitente, amigo de Deus. Aquele que peca, desagrada a Deus; mas quem se arrepende de seus pecados, faz o que mais agrada ao Senhor.

4. A HUMILDADE

A quarta condição é a humildade, pela qual o suplicante, confia não em sua própria justiça, mas na bondade de Deus: 'Fui eu quem fez o universo, e tudo me pertence', declara o Senhor. É o angustiado que atrai meus olhares, o coração contrito que teme a minha palavra (Is 66,2). E o Livro do Eclesiástico acrescenta: 'A oração do humilde penetra as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar [a Deus], e não se afastará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos' (Eclo 35,21).

5. A DEVOÇÃO

A quinta condição é a devoção, pela qual não devemos rezar de maneira negligente, como muitos costumam fazer, mas com atenção, sinceridade, diligência e fervor. Nosso Senhor severamente adverte aqueles que rezam apenas com os lábios. Assim Ele nos fala em Isaias: 'O Senhor disse: Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim' (Is 29, 13). Esta virtude é fruto de uma fé viva e consiste não apenas no hábito de orar, mas na ação. Para aqueles que, com fé firme e atenção, consideram a grandeza de sua majestade Nosso Senhor, quão grande é nossa insignificância, e como são importantes nossos pedidos, não pode fazer diferente que rezar com grande humildade, reverência, devoção e fervor.

Aqui devemos acrescentar o testemunho importante de dois santos padres. São Jerônimo escreve: 'começo pela oração: não devo orar se não acreditar; mas se eu tiver fé verdadeira, este coração, que Deus vê, posso limpá-lo; posso bater no peito, posso molhar minhas faces com minhas lágrimas, posso negligenciar toda atenção ao meu corpo e tornar-me fraco; posso me jogar aos pés do meu Senhor, molhá-los com minhas lágrimas e secá-los com meus cabelos; me apoiar na cruz, e não abandoná-la enquanto não obtiver misericórdia. Porém mais frequentemente durante minhas orações encontro-me caminhando pela cidade e sendo levado por pensamentos maus, entretenho-me em coisas das quais me envergonho de falar. Onde está nossa fé? Supomos que Jonas rezou assim? Os três jovens? Daniel na cova dos leões? Ou o bom ladrão na cruz?'

São Bernardo, no seu Sermão sobre os Quatro Métodos da Oração, escreve: 'sobretudo nos impele, durante o tempo de oração, entrar no quarto celestial, no qual o Rei dos Reis encontra-se sentado em seu trono, cercado por inumerável e glorioso exército de almas abençoadas. Com tal reverência, tal temor, tal humildade, nos aproximamos com pó e cinzas, nós que não somos nada além de pequenos insetos rastejantes. Com tal temor, seriedade, atenção e solicitude deve tão miserável homem estar próximo da divina majestade, na presença de anjos, na assembléia dos justos? Em todas nossas ações temos necessidade de vigilância, especialmente na oração'.

6. A PERSEVERANÇA 

A sexta condição é a perseverança, que nosso Senhor em duas parábolas recomenda: uma sobre o amigo importuno que pede dois pães em um horário inconveniente, no meio da noite, e recebe pela sua perserverança (Lc 11,5-8) e outra sobre a viúva que pede sem esmorecer para que o juiz a livre de seu adversário; e o juiz, embora sendo iníquo, homem que não temia nem Deus nem os homens, sobrepujado pela perseverança da mulher, livrou-a de seu inimigo. Destes exemplos o Senhor conclui, que muito mais perseverantes devemos ser na oração a Deus, porque ele é justo e misericordioso. E São Tiago completa: 'Deus concede generosamente a todos, sem recriminações' (Tg 1,5). Ou seja, ele concede seus dons liberalmente a todos que pedem, e 'sem recriminações' por serem inoportunos, pois Deus não tem limites em suas riquezas e nem em sua misericórdia.

(Excertos da obra 'A Arte de Morrer Bem', de São Roberto Belarmino, texto publicado originalmente no blog Tesouros da Igreja Católica)

domingo, 18 de agosto de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'À vossa direita se encontra a rainha,
com veste esplendente de ouro de Ofir' (Sl 44)

Primeira Leitura (Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab) - Segunda Leitura (I Cor 15,20-27a) -  Evangelho (Lc 1,39-56)

  18/08/2024 - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

38. ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

 'O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor'

As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem tornou-se Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.

Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é o reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).

E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre' (Lc 1, 46-55).

Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção.

sábado, 17 de agosto de 2024

SERVÍS A DEUS OU AO MUNDO?

Sois, por vossas ações, meus queridos Amigos da Cruz, aquilo que vosso grande nome significa? Ou pelo menos, tendes verdadeiro desejo e vontade verdadeira de assim vos tornardes, com a graça de Deus, à sombra da Cruz do Calvário e de Nossa Senhora da Piedade? Entrastes no verdadeiro caminho da vida, que é o caminho estreito e espinhoso do Calvário? Não estareis, sem o pensar, no caminho da perdição? 

Sabeis bem que há um caminho que parece ao homem reto e seguro, e que conduz à morte? Distinguís bem a voz de Deus e de sua graça da voz do mundo e da natureza? Ouvís bem a voz de Deus, nosso Pai, que, depois de ter dado sua tríplice maldição a todos os que seguem as concupiscências do mundo: vae, vae, vae habitantibus in terra - maldição, maldição, maldição aos habitantes da terra... (Ap 8, 13), grita-vos amorosamente, estendendo-vos os braços: Separamini, popule meus. Separai-vos, meu povo escolhido, queridos Amigos da Cruz de meu Filho; separai-vos dos mundanos, malditos por minha Majestade, excomungados por meu Filho e condenados pelo meu Espírito Santo. 

Tomai cuidado para não vos sentardes em sua cadeira toda empestada, não sigais os seus conselhos, nem mesmo pareis em seu caminho. Fugi do meio da grande e infame Babilônia; não escuteis outra voz e não sigais outras pegadas que não as de meu Filho bem amado, que vos dei para que fosse vosso caminho, vossa verdade, vossa vida e vosso modelo: Ipsum audite - ouvi-o (Mt 17,5). Ouvís o amável Jesus que, carregando sua Cruz, vos grita: Venite post me: - vinde após mim; o que me segue não anda em trevas; confidite, ego vici mundum - tende confiança, eu venci o mundo (Jo 16,33)?

(Excertos da obra 'Carta aos Amigos da Cruz', de São Luís Maria de Montfort)

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (361/365)

 

361. É PREFERÍVEL A MISSA

Henrique III, rei da Inglaterra, ouvia duas ou três missas por dia. Quando um cortesão lhe disse que, a seu juízo, era preferível ouvir sermões, replicou o rei: 'Ouvir sermões é muito bom; mas eu prefiro ver o amigo a ouvir falar dele, por muito que o louvem'.

362. O SEGREDO DA CONFISSÃO

Um sacerdote renegado, excomungado e apóstata, anunciou que, no Teatro Lírico de Santiago do Chile, revelaria os mais interessantes segredos de confissão dos tempos de seu sagrado ministério. Era 18 de maio de 1905. No momento exato em que o desgraçado ia abrir a boca para começar a falar, desabaram estrepitosamente as galerias do teatro, ficando sepultadas debaixo de suas ruínas 600 pessoas. Assim Deus o castigou, não permitindo que se violasse o segredo da Confissão.

363. SE NÃO BLASFEMARES, DOU-TE UMA MOEDA

Um soldado blasfemador dizia que não se corrigia por não poder. Disse-lhe um dia um cavalheiro: 'Se hoje não blasfemares, dou-te uma moeda de ouro'. O soldado, naquele dia, percorreu a caserna, falou, discutiu com os outros soldados, mas não deixou escapar nem uma só blasfêmia. Deu-lhe o cavalheiro a moeda, mas fez-lhe notar que se não se corrigia era porque não queria, mas porque não fazia propósito eficaz; pois, se podia abster-se de blasfemar por uma moeda, muito mais devia abster-se para ganhar o céu. E com esta lição emendou-se aquele soldado.

364. PEQUENOS EXEMPLOS

Em 1763, o general Marquês de Broc inspecionava o regimento do conde de Provença. Perguntou a um cabo do regimento: 'Camarada, como começas o seu dia? 'Meu general, começo rezando as minhas orações'. 'Basta, o próximo. Um soldado que começa o dia assim, seguramente cumprirá seu dever'.

A. Um certo bispo visitava um hospital militar. Aproximando-se de um soldado, recomendou-lhe que não deixasse de rezar pela manhã e à noite. Respondeu-lhe: 'Senhor, eu rezo todas as manhãs e todas as noites, mas à moda militar, brevemente'. 'E como rezas? 'Assim: de manhã, ao despertar, digo: Meu Deus, teu servo se levanta, tem compaixão dele. E ao deitar-me, digo: Meu Deus, teu servo se deita, tem compaixão dele'. 'Bravo! Magnífico!'

B. Nos terremotos de 1906 em São Francisco (Califórnia), enquanto todos corriam como loucos de um lugar para outro, as Irmãs do Sagrado Coração de Jesus, da rua Franklin, com sua superiora Madre Germana, refugiaram-se a orar na capela e rezavam a ladainha do Coração de Jesus, entre os gritos de espanto da multidão. Num instante um mar de fogo e fumo cercou todo o convento; mas, acalmado o incêndio, entre as ruínas dos arredores apareceu o convento intacto, sem sequer ter queimado uma persiana.

C. Um homem casado, mas muito desordeiro, que por conselho de sua esposa rezava sempre uma Ave-Maria, viu que o Menino Jesus estava coberto de chagas e lhe virava as costas. Compreendeu que eram seus pecados e pediu perdão, e rogou a Nossa Senhora que intercedesse por ele. Assim o fez Nossa Senhora, mas o Menino recusava-se a perdoar. Pareceu-lhe então que a Virgem pôs-se de joelhos diante do Filho. Este comoveu-se, perdoou, mas exigiu que o pecador lhe beijasse as chagas, e estas, à medida que eram beijadas, desapareciam. Aquele esposo mudou de vida e tornou-se um cristão fervoroso.

D. Era na Alemanha. Um capelão não conseguia converter um condenado que ia ser enforcado. Por fim, isse-lhe: Reze comigo ao menos uma Ave-Maria. Ele a rezou e, banhado em lágrimas, confessou-se e morreu bem.

E. 'A missa é tão longa!' - dizia alguém ao bispo de Amiens, Mons. de la Motte. 'Que vergonha!' - respondeu o prelado - 'um filho se cansa de estar com o seu pai; um homem se cansa de estar com o seu Deus!'

F. Carlos XII, rei da Suécia, embriagou-se e fez um insulto à sua mãe. Esta retirou-se e, no outro dia, não se apresentou ao filho. Carlos, ao saber da causa, tomou um copo de vinho e, apresentando-se à rainha, disse: 'Senhora, sei que ontem vos insultei; perdoai-me. Bebo este vinho à vossa saúde'. Em seguida, quebrou o copo e acrescentou: 'Este é o último copo de vinho que bebo em minha vida'. E cumpriu a palavra.

G. Henrique VIII, rei católico, para casar-se com Ana Bolena (posto que já era casado com outra), abjurou a religião católica e tornou-se um rei perseguidor e sanguinário. Imolou 2 cardeais, 13 abades, 18 bispos, 50 doutores, 200 padres, 360 senhores e mais de 72.000 vítimas. Ao morrer dizia: 'Desgraçado de mim! Não perdoei durante minha vida nem a um homem em minha cólera, nem a uma mulher em minha sensualidade, e morro execrado dos homens e amaldiçoado de Deus'.

H. São Medardo possuía uma novilha, que trazia ao pescoço um cincerro. Um dia um amigo do alheio roubou-lhe a novilha. O cincerro começou a soar; o ladrão encheu-o de palha, e soava; tirou-o do pescoço da vaca e meteu-o num balaio, e este continuava a tinir; enterrou-o, e mesmo assim continuava a tinir. Cheio de terror, devorado pelo remorso, aquele ladrão confessou a sua culpa, entregando a novilha ao seu legítimo dono.

I. Um rapaz foi condenado à morte. Estava preso e naquele dia seria executado. Sua mãe foi visitá-lo, mas ele a repeliu e não a quis receber, dizendo: 'A senhora tem a culpa. Se, quando eu fazia pequenos furtos, me tivesse castigado, eu não estaria aqui. A senhora, uma má mãe, aprovou aqueles furtos pelo que agora estou condenado'.

J.  Washington, um dos mais célebres presidentes dos Estados Unidos, era um menino travesso. Um dia, deu uma machadada numa cerejeira, que seu pai estimava muito e a arvorezinha secou. Perguntou o pai tal fato aos criados. O menino, a essa altura, apresentou-se ao pai e disse: 'Pai, eu não devo mentir: fui eu'. E o pai: 'Muito mais estimo a tua sinceridade que todas as cerejeiras do mundo. Perdoo-te, uma vez que disseste a verdade'.

K. O médico Hipócrates, que chegou à idade de 140 anos, dizia: 'Nunca comi até ficar farto'. São Francisco de Paula chegou aos 91 e Santo Afonso também; Santo Hilário chegou aos 104 e, como eles, muitos outros jejuadores chegaram a idades avançadas.

L. Um santo bispo mandou por em seu epitáfio estas palavras: 'Lembrai-vos de santificar o dia do Senhor'. O santo bispo de Poitiers, Mgr. Pie, dizia: 'Quisera que na sepultura de todos os nossos diocesanos se pudesse pôr êste epitáfio: Êste homem descansou todos os domingos, e os santificou'. O santo cura de Ars dizia: 'O domingo é dia de Deus... Conheço dois meios de empobrecer: trabalhar aos domingos e roubar'.

M. Alguém perguntou ao sábio Diógenes que deveria fazer para vingar-se de um inimigo. Diógenes respondeu: 'Seja mais virtuoso que ele'.

365. SAVONAROLA E O CARNAVAL

Conta-se que, em represália aos excessos do carnaval florentino, organizou Savonarola em 1496 uma procissão de 10.000 jovens, que desfilou pelas ruas principais da cidade cantando hinos religiosos de penitência. Chegando a uma praça, onde se erguera uma grande pirâmide de livros maus, recolhidos com antecedência, a um sinal dado, deitaram-lhes fogo. Ao mesmo tempo soaram as trombetas da Signoria, repicaram os sinos da Igreja de São Marcos e a multidão prorrompeu em aclamações. Encerrou-se a função com uma missa solene no meio da praça, onde fôra erguido um grande Crucifixo.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU

  

A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)

"Pronunciamos, declaramos e de­finimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.

                            (Papa Pio XII, na Constituição Dogmática  Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)


A solenidade da Assunção da Virgem Maria (celebrada pela Igreja no dia 15 de agosto) existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana: 

1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;

2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;  

3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;

4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;

5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;

6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.


Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

VERSUS: BONDADE DIVINA X MISÉRIA HUMANA

Poderá haver prova mais eloquente da misericórdia de Deus do que assumir nossa miséria? Poderá haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus se tornar como a erva do campo por nossa causa? 'Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?' (Sl 8,5). Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó homem, por que sofres, mas por que ele sofreu por ti. Vendo tudo o que fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se tornou em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto mais se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador. Na verdade, como é grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma grande prova de bondade Aquele que quis associar à humanidade o nome de Deus.

(São Bernardo)


Todas as delícias e doçuras que a vontade saboreia nas coisas terrenas, comparadas aos gozos e às delícias da união divina, são suma aflição, tormento e amargura. Assim todo aquele que prende o coração aos prazeres terrenos é digno diante do Senhor de suma pena, tormento e amargura, e jamais poderá gozar os suaves abraços da união de Deus. Toda a glória e todas as riquezas das criaturas, comparadas à infinita riqueza que é Deus, são suma pobreza e miséria. Logo a alma afeiçoada à posse das coisas terrenas é profundamente pobre e miserável aos olhos do Senhor, e por isto jamais alcançará o bem-aventurado estado da glória e riqueza, isto é, a transformação em Deus.

(São João de Deus)