quarta-feira, 24 de maio de 2023

VERSUS: ORAÇÃO PELO CÉU X ORAÇÃO CONTRA O INFERNO


Oração para obter o paraíso 

Meu Jesus Crucificado, fazei-me conhecer as magníficas recompensas que tendes preparadas para as almas que Vos amam. Dai-me tal desejo do paraíso que, esquecendo a terra, faça nele a minha morada contínua e, pelo resto da minha vida, não aspire senão a sair deste exílio, para ir Vos ver face a face e Vos amar perfeitamente no Vosso reino eterno. Não mereço esta felicidade, sei até que o meu nome esteve outrora escrito no livro dos condenados ao inferno; mas hoje, porque nutro a confiança de estar em graça, Vos conjuro, pelo sangue que derramastes por mim na cruz, inscrevei-me no Livro da Vida. Morrestes para me fazer adquirir o paraíso; eu o quero, ardentemente o desejo, e espero obtê-lo pelos Vossos merecimentos, ó meu Salvador; sim, espero Vos amar um dia com todas as minhas forças e consumir-me todo de amor para convosco; lá, esquecendo-me de mim mesmo e esquecendo-me de tudo o que não é vosso, pensarei somente em Vos amar, só Vos desejarei amar, e nada mais farei do que amar-Vos. Ó meu Jesus, quando chegará esse dia feliz? Ó Maria, Mãe de Deus, as vossas orações devem-me abrir o paraíso: já que sois a minha advogada, cumpri o vosso ofício, tirai-me deste exílio e conduzi-me a Jesus, fruto bendito do vosso ventre. Amém.


Oração para evitar o inferno 

Amadíssimo Jesus, meu Salvador e Juiz, quando vierdes a me julgar, por piedade não me condeneis ao inferno. Nessa negra prisão, não vos poderia amar, mas odiar-vos sempre; como, porém, odiar-vos, se sois tão amável e tanto me haveis amado? Se quereis condenar-me ao inferno, concedei-me ao menos a graça de vos amar de todo o meu coração. Não mereço esta graça por causa dos meus pecados; mas, se não a mereço, para mim a merecestes pelo sangue que derramastes com tanta dor na cruz. Numa palavra, ó meu divino Juiz, infligi-me todas as penas que quiserdes, mas não me priveis da faculdade de vos amar. Mãe do meu Deus, vede o perigo que corro de ser condenado e não poder mais amar o vosso Filho adorável que merece um amor infinito. Vinde em meu socorro e tende compaixão de mim. Amém.

(Excertos da obra 'As Mais Belas Orações de Santo Afonso', do Pe. Saint-Omer)

terça-feira, 23 de maio de 2023

BREVIÁRIO DIGITAL - LEGENDA ÁUREA (VII)


Certa vez, ao cair do dia, quando Jerônimo estava sentado com seus irmãos para escutar a leitura sagrada, entrou de repente no mosteiro um leão que mancava. Vendo-o, todos os irmãos fugiram, mas Jerônimo foi ao seu encontro como se ele fosse um hóspede. O leão mostrou que estava ferido na pata e Jerônimo chamou os irmãos, ordenando-lhes que lavassem a sua pata e procurassem atentamente o lugar da ferida. Assim fazendo, descobriram que espinhos haviam machucado a planta da pata. Todo cuidado foi dedicado ao leão, que, curado, passou a morar com eles quase como um animal doméstico.

Então Jerônimo percebeu que não era tanto para curar a pata do leão, quanto pela utilidade que disso se poderia tirar, que o Senhor o enviara. A conselho dos irmãos, decidiu confiar-lhe a tarefa de conduzir ao pasto e proteger o asno que a comunidade empregava para trazer lenha da floresta. Assim foi feito. O leão cuidava do asno como um hábil pastor, servia de companheiro que todos os dias ia aos campos com ele e era seu vigilante defensor enquanto ele pastava. Só o deixava um pouco para procurar seu próprio alimento, e todos os dias na mesma hora voltava com ele para casa. 

Um dia, porém, o asno estava pastando e o leão adormeceu profundamente, quando passaram por ali mercadores com camelos, que viram o asno sozinho e o raptaram. Ao acordar, não achando seu companheiro, o leão pôs-se a correr aqui e ali, rugindo. Enfim, não o encontrando, voltou muito triste para as portas do mosteiro, e cheio de vergonha não teve coragem de entrar como fazia habitualmente. Os irmãos, vendo-o voltar mais tarde que de costume e sem o asno, acharam que, levado pela fome, ele comera o animal e não quiseram lhe dar sua ração costumeira, dizendo-lhe: 'Vá comer o que sobrou do burrico, vá saciar a sua gula'. Entretanto, como não estavam certos de que ele tivesse cometido essa má ação, foram ao pasto ver se encontravam um indício de que o asno estava morto. Não encontraram nada e foram relatar tudo a Jerônimo, que impôs ao leão a função do asno: trazer nas costas a lenha cortada. O leão suportou isso com paciência. 

Um dia, depois de cumprida sua tarefa, foi ao campo e pôs-se a correr aqui e ali desejando saber o que fora feito de seu companheiro, quando viu ao longe chegar negociantes conduzindo camelos carregados, tendo um asno na frente. O hábito nessa região é que quando se percorre uma longa distância com camelos, estes, para seguir um caminho mais direto, são precedidos por um asno que os conduz por meio de uma corda presa ao pescoço. O leão reconheceu o asno, lançou-se com terríveis rugidos sobre os negociantes e pôs todos os homens em fuga... [Após o retorno do asno], o leão começou a correr pelo mosteiro, cheio de alegria, como fazia antigamente, prostrando-se aos pés de cada irmão. Parecia, brincando com a cauda, pedir perdão por uma falta que não cometera.

(Excertos da obra 'Legenda Áurea - Vidas de Santos, de Jacopo de Varazze)

Legenda Áurea constitui meramente um livro de devoção católica, acessível às pessoas comuns de todas as épocas, sem nenhum propósito de abordagem biográfica da vida dos santos sob o escopo da veracidade ou da confiabilidade histórica. Trata-se, portanto, de uma coletânea de fatos ficcionais e inverídicos (lendários) que, uma vez associados às virtudes heroicas específicas dos diferentes santos da Igreja, tinha por objetivo incrementar a devoção católica do leitor pelos santos para a sua própria santificação pessoal. Alguns deles serão publicados no blog. A excelência dos objetivos e resultados alcançados pela obra pode ser aferida pelo enorme sucesso das muitas e diversas versões e traduções realizadas desde a sua publicação original no século XIII. 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (223/225)

223. O TEMOR DO JUÍZO

Na manhã de 14 de setembro do ano de 258, no campo Sextio, ainda molhado pelo orvalho da noite, degolaram o bispo de Cartago. Prenderam-no os inimigos de Cristo e conduziram-no ao tribunal do procônsul Galério, que lhe fez esta pergunta: 'És tu Táscio Cipriano?'. Ao que Cipriano respondeu com firmeza: 'Sou'. Galério ordenou: 'Que Táscio Cipriano seja degolado'. E o mártir respondeu: 'Deo gratias'.

Mas, quando os soldados se dispunham a executar a sentença; quando, despidos os ornamentos episcopais, os fieis estendiam os seus lenços para recolher o sangue que ia jorrar, o santo tremeu e cobrindo as faces com as mãos exclamou: 'Vae mihi cum ad judicium venero' - ou seja - 'Ai de mim quando vier o Juízo! Foi só por um instante, pois logo inclinou a cabeça e ofereceu a Deus o sacrifício. Se a lembrança do Juízo fazia tremer os mártires, o que será de nós? O que iremos dizer ao divino Juiz?

224. A VITÓRIA SERÁ NOSSA!

Santa Joana d'Arc estava no sítio de Orleans. Combatera por sete horas, sempre calma e intrépida no meio dos soldados. Era chegado o momento de tomar ao inimigo a famosa fortaleza de Tourelles. De repente avançou e tomou a escada para subir impetuosamente até à torre. Feriu-a no peito uma flecha. Jorrou o sangue. Ela empalideceu e tremeu indecisa no meio da escada. Chorando de dor e de medo, desceu a escada e recolheu-se para se curar. Era a debilidade humana. Os ingleses animaram-se e os franceses atemorizados cederam o campo e iniciam a retirada. 

Mas ao primeiro toque de clarim, Joana levanta-se, recorda-se da visão que tivera, das vozes que ouvira e faz uma breve oração. Em seguida, de um golpe arranca a flecha e com o peito manchado de sangue gritou: 'Avante! Seremos os vencedores!' E venceu.

Cristãos, a vida é uma batalha pela conquista do reino de Deus. Se algum dia nos assaltarem o temor e a debilidade, recordemos nossa fé, avivemos nossas convicções e fortaleçamo-nos com a oração. Em seguida, como Santa Joana, sigamos avante, seguros de que a vitória será nossa.

225. ANIMA VESTRA IN MANIBUS VESTRIS

O Pe. Segneri costumava contar o seguinte episódio. Havia na praça de Atenas um famoso adivinho, que a todos dava prognósticos, predizia o futuro e descobria o passado. Um dia, querendo zombar dele, apresentou-se um homem astuto que tinha um pequeno passarinho fechado na mão.
➖ Sabes dizer-me - perguntou ao adivinho - se este passarinho está vivo ou morto?
O astuto pensava assim: se ele disser que está morto, eu o deixarei voar mas, se disser que está vivo, eu o apertarei com o polegar e o matarei.

O adivinho, porém, foi mais esperto e respondeu: 'Cavalheiro, esse passarinho está como o senhor quiser: se o quiser vivo, está vivo; se morto, morto'. Todos os espectadores aplaudiram o adivinho.

Amigos, aquela sagaz resposta nós a podemos dirigir também a vós. Vossa alma será qual a quiserdes: se salva, salva; se condenada, condenada.
Anima vestra... in manibus vestris (a sua alma está em suas mãos).

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


domingo, 21 de maio de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta(Sl 46)

Primeira Leitura (At 1,1-11) - Segunda Leitura (Ef 1,17-23)  -  Evangelho (Mt 28,16-20)

 21/05/2023 - Ascensão do Senhor

26. 'IDE E FAZEI DISCÍPULOS MEUS TODOS OS POVOS'


Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta a seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!' (Mt 28, 18 - 20). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança: 'Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 48). Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações. Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória. Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos' (Ef 1, 18).

E a sua derradeira proclamação aos discípulos é a sua promessa de estar sempre junto aos homens de todos os tempos, até a consumação dos séculos: 'Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo' (Mt 28, 20). Promessa que tem, para nós, membros do seu Corpo Vivo, que é a Santa Igreja, a dimensão de uma vitória antecipada, na feliz esperança de sermos partícipes de sua glória.

E Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho e para preparar para cada um de nós 'as muitas moradas da casa do Pai'. Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança eterna em Cristo e herdeiros dos Céus.

sábado, 20 de maio de 2023

OS GRANDES SINAIS PRECURSORES DO JUÍZO FINAL (III)

 

Erunt sigma in sole et luna et stellis 

'Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas' (Lc 21, 25)

Introdução

Esses sinais serão para os iníquos uma fonte de medo, angústia e pavor; mas, para os bons, uma fonte de alegria e exultação. Todos os cristãos católicos acreditam que, em seu segundo advento, Jesus Cristo virá como o Juiz dos vivos e dos mortos a este mundo; mas ninguém sabe o dia de sua vinda. No entanto, o mundo poderá aprender que o dia do julgamento está próximo pelos sinais que o próprio Cristo anunciou como precursores do último dia. O primeiro sinal, ou seja, o reinado do Anticristo, e o que temos a aprender com isso, já foi explanado. Passo agora a falar dos outros sinais.

Plano de Discurso

Haverá sinais terríveis nos céus e em todos os elementos. Estas e suas causas explicarei na primeira parte. Esses sinais serão para os iníquos uma fonte de medo, angústia e pavor; mas para os bons, uma fonte de alegria e exultação. Isso eu mostrarei na segunda parte. Pecadores, se desejais que o último dia não seja motivo de pavor para vós, convertei-vos! Cristãos fieis! Regozijai-vos se agora tiverdes que passar pelos tempos de tribulação! Esta deverá ser a conclusão. Ajudai-nos, ó justo Juiz, a cumpri-la pela vossa graça, que Vos pedimos pela intercessão de Maria e dos nossos santos anjos da guarda.

Primeira Parte

Quando aqueles três anos e meio do reinado do terrível perseguidor Anticristo tiverem expirado, então, diz Nosso Senhor no Evangelho de São Mateus - 'Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e os poderes do céu serão abalados'¹. Assinale a palavra 'imediatamente'. Não devemos entender por isso que, no momento em que o Anticristo for precipitado no abismo, esses sinais serão visíveis. Não; pois, de acordo com os exegetas, a misericórdia de Deus concederá uma pausa de alguns meses, ou, como dizem alguns, de alguns anos, para que aqueles que foram pervertidos pelo Anticristo tenham tempo de se arrepender, pois será um tempo em que quase o mundo inteiro retornará a Cristo após a terrível apostasia. 

Mas, quando finalmente chegar a hora do julgamento geral, 'Haverá sinais no sol, e na lua e nas estrelas e, sobre a terra, angústia das nações, por causa da confusão do bramido do mar e das ondas'². O sol será privado do seu brilho e o dia tornar-se-á noite, tal como a escuridão se apossou do Egito: 'Houve uma escuridão terrível em toda a terra do Egito por três dias. Ninguém via um ao outro; e ninguém se levantou do lugar onde estava'³. A lua, de cor vermelho-sangue, aparecerá como um fantasma pavoroso à noite e as estrelas cairão do céu; não, rigorosamente falando, em termos das estrelas que Deus colocou no firmamento, pois onde poderiam cair? Não na Terra, porque, segundo os astrônomos, a menor estrela é muito maior que a Terra. Mas as estrelas esconder-se-ão como se tivessem realmente caído do firmamento e, ao mesmo tempo, um vapor incandescente de estrelas precipitar-se-á sobre o globo terrestre, como se o quisesse incendiar totalmente.

Todos os elementos serão perturbados; o ar ressoará com terríveis tempestades e trovões; o mar e todas as águas serão movimentadas por ondas poderosas subindo e descendo; a terra será abalada e quase dilacerada por terremotos que engolirão cidades inteiras, enquanto o fogo explodirá com grande estrondo nas montanhas e cavernas. Em uma palavra, as engrenagens do grande relógio do mundo estarão todas quebradas e desconjuntadas, como nos fala Luis de la Puente [teólogo espanhol - 1554/1624], como sinal de que a última hora do julgamento está próxima, e tal será o medo, a angústia, a aflição e o pavor dos homens, e o rugido e estertor das feras, que ninguém saberá para onde se virar ou o que fazer. Daí aquela velha expressão para distinguir o mau tempo: 'é como se fosse o último dia'.

E qual é o significado de tudo isso, meus queridos irmãos? Para 'que fim essa grande perturbação e consternação de todas as criaturas?' Primeiro, diz Abulensis [Alonso Tostado, bispo de Ávila, 1410/1455], é um sinal de compaixão, como se fosse um desmaio e agonia de toda a natureza às vésperas da destruição do mundo. Quando o chefe de família está à beira da morte, toda a família fica perturbada e confusa; a esposa chora e arranca os cabelos em agonia de dor; as crianças dão vazão à sua tristeza em gritos ruidosos; os parentes choram; os servos correm de um lado para o outro suspirando e gemendo; o dobre de finados toca as suas tristes notas na torre da igreja; amigos e vizinhos vestidos de luto chegam para o funeral. Tudo se consome em dor e lamentação. Assim será quando o fim do mundo se aproximar e a raça humana - o chefe desta família deste mundo - estiver dando os seus últimos suspiros; toda a natureza será tomada de medo e consternação; o céu perderá seus luminares e se revestirá com o traje negro da noite; os elementos devem, por assim dizer, chorar e ficar desorientados enquanto a atmosfera ressoando com trovões e furacões violentos será analogamente como o dobre de finados pelo mundo moribundo.

Além disso, esses sinais mostrarão a grande ira e o desagrado de Deus Todo Poderoso em relação aos homens pecadores. Os céus agora anunciam a glória de Deus, como diz o Profeta Davi: 'Os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento declara a obra de suas mãos'⁴. 'E então' - diz Barradius [Sebastião Barradas, teólogo português, 1543/1615] - 'eles declaram a ira de Deus contra os ímpios'⁵. Pois Deus fará com que todas as criaturas se levantem contra os pecadores; fazendo com que as estrelas percam a sua luz, Ele irá, por assim dizer, fechar as janelas pelas quais qualquer luz poderia penetrar na terra, para que Ele possa ferir o homem no escuro e sem misericórdia, como Isaías profetiza: 'Eis que virá o dia do Senhor, dia implacável, de furor e de cólera ardente, para reduzir a terra a um deserto, e dela exterminar os pecadores. Nem as estrelas do céu, nem suas constelações brilhantes, farão resplandecer sua luz; o sol se obscurecerá desde o nascer, e a lua já não enviará sua luz'. Punirei o mundo por seus crimes, e os pecadores por suas maldades. Abaterei o orgulho dos arrogantes e humilharei a arrogância dos poderosos'⁶.  'A lua vai corar de vergonha e o sol vai se empalidecer'⁷ 'porque' - acrescenta o Cardeal Hugo [cardeal dominicano francês, Hugo de Saint-Cher, 1200/1263]- 'eles serviram a tais mestres'⁸, mestres que foram tão ingratos ao seu Criador. Ora, segundo São Paulo, as criaturas servem aos pecadores contra a sua vontade e como que por força e necessidade: 'Porque a criatura foi sujeita à vaidade, não voluntariamente'; portanto, gemem sob o jugo de sua escravidão e suspiram pelo dia em que serão libertados dela, 'pois sabemos que toda criatura não para de gemer e dar à luz até hoje'⁹. O sol, a lua e as estrelas gemem e lastimam por ter que dar a sua luz aos homens para ser utilizada indevidamente por eles para ofender e insultar a Deus; a terra, o fogo, a água e o ar imploram, por assim dizer, ao Deus Todo Poderoso que os libertem da servidão aos homens pecadores. 

Isso acontecerá no fim do mundo, quando todas as criaturas serão elevadas e libertadas da escravidão, e então, como um único e poderoso exército, avançarão em bloco contra os ímpios para envergonhá-los, como lemos no Livro da Sabedoria: 'E seu zelo vai armá-los, cada criatura empunhará uma armadura para enfrentar os seus inimigos ... e o mundo inteiro lutará com Ele contra os insensatos'¹⁰. O sol declarará guerra, como Tamerlão [conquistador mongol do século XIV, 1336 /1405] fazia antigamente, com uma bandeira negra estendida; a lua tingida de sangue e as estrelas desordenadas e fora do seu curso começarão a batalha. Elas dirão que deram a sua bela luz gratuitamente e por tanto tempo aos pecadores que não eram dignos dela; que marcaram para eles as horas, dias, semanas, meses e anos; pela regularidade dos seus movimentos, foram exemplos da constância e obediência que deviam a Deus, mas que os homens pecadores preferiram seguir as sugestões do demônio, os prazeres da carne, os costumes e as regras de um mundo pervertido, em vez de obedecer à lei do seu Criador e também porque amaram mais as trevas do que a luz; e que, portanto, eis chegado o tempo do fim do servilismo em que, de agora em diante, serão para as infelizes criaturas apenas uma fonte de medo e de terror.

Da mesma forma, os quatro elementos reunidos entrarão em batalha contra os pecadores. O ar - que lhes deu fôlego e voz, para que pudessem respirar e falar; que permitiram as chuvas benéficas; no qual as aves cruzavam para seu deleite e nutrição - vai se projetar sobre eles por todos os lados, destruindo as construções pela violência de ventos contrários, arrancando as árvores pela raiz, explodindo em tempestades de granizo para matar os animais do campo, infestadas de trovões e relâmpagos e cenário de terríveis aparições, como nunca foram vistas nem mesmo no Egito no tempo do faraó perseguidor e nem em Jerusalém quando foi destruída, que encherão de pavor e consternação aos pecadores, com uma palavra de condenação: 'pois estenderam a mão contra Deus e desafiaram o Todo Poderoso'¹¹. 

A água que fornecia aos pecadores bebida, sal e peixes para a sua alimentação e que os servia como via de transporte de um país para outro na exploração dos seus negócios, ultrapassaria então os seus limites e inundaria a terra adjacente por toda parte; cheia de furor e em vergalhões contra os ímpios, pronto para engoli-los como fez com Jonas: 'Tenha vergonha, ó Sidon, pois o mar fala'¹². Os mares e as águas, vergados por ondas impetuosas, então dirão: 'Tenha vergonha, ó cristão, envergonhe-se de que nós, que não temos o entendimento de você, por quem Deus não morreu como morreu por você; que não temos castigo eterno a temer nem recompensas eternas a esperar como você - envergonhe-se de que ficamos por seis mil anos obedientes ao Criador e não nos movemos nem por um grão de areia além dos limites que Ele traçou para nós, mas sempre permanecemos nos domínios dos seus desígnios; enquanto você, ao contrário, dotado de razão e benefícios incontáveis, seduzido pela esperança do céu e pleno do temor de se perder no inferno, muitas vezes e deliberadamente transgrediu os mandamentos de Deus e chafurdou em um mar de vícios! Tenha vergonha de ser superado por uma coisa tão menor quanto nós, na obediência a Deus!'. Ó Deus Todo-Poderoso, as ondas clamarão ao subirem em direção ao céu, para mostrar a vossa justiça contra os pecadores e, como eles desprezaram viver no oceano da vossa misericórdia e buscar a vossa salvação! Deixai-os agora afundar no profundo abismo da vossa justiça e sentir o peso do vosso braço vingador! 

A terra que por tanto tempo serviu aos homens perversos para sua nutrição, roupas, moradia, remédios e prazer, suprindo-os com frutas, árvores, ervas e flores que produziu em abundância - a terra então se abrirá em mil estertores, clamando por vingança contra os pecadores por terem abusado de seus dons de maneira tão ingrata e indiferente. As feras sairão de suas cavernas e de suas tocas com uivos horríveis para perseguir estes infelizes por toda parte, enchendo-os de terror. O mundo inteiro lutará com Ele contra os insensatos; o universo pegará em armas movido pela ira de Deus contra os ímpios e os pecadores e, por meio de sua fúria, anunciará a todos o quão próximos está o dia terrível no qual o Juiz se vingará de todos os seus inimigos; aquele dia que o profeta Sofonias chama de 'o grande dia do Senhor': 'Terrível é o ruído que faz o dia do Senhor; o mais forte soltará gritos de amargura nesse dia; um dia de ira, dia de angústia e de aflição, dia de ruína e de devastação; dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e de névoas espessas'¹³. Onde se esconderão, para encontrar conforto e consolação, quando o céu e a terra estiverem em tal desordem e unirem todas as suas forças para os atacar? Nosso Senhor já nos disse como os homens se sentirão nesse dia: 'Os homens definha­rão de medo, na expectativa dos males que devem sobrevir a toda a terra. As próprias forças dos céus serão abaladas'¹⁴. Mas isso só acontecerá com os pecadores pois, por mais terríveis que sejam os sinais que precederão o último dia, os servos de Deus encontrarão neles uma ocasião de júbilo e exultação, como veremos na Segunda Parte deste discurso.

1. Statim autem post tribulationem dierum illorum sol obscurabitur, et luna non dabit lumen suum, et stellae cadent de caelo, et virtutes caelorum commovebuntur (Mt 24,29).
2. Erunt signa in sole, et luna, et stellis, et in terris pressura gentium prae confusoe sonitus maris et fluctuum (Lc 21,25).
3. Factae sunt tenebrae horribiles in universa terra Egypti tribus diebus. Nemo vidit fratrem suum, nec movit se de loco in quo erat (Ex 10, 22-23).
4. Caeli enarrant gloriam Dei, et opera manuum ejus annuntiat firmamentum (Sl 17,2).
5. Tunc vero iram Dei, impiis annuntiabunt.
6. Ecce dies Domini veniet, crudelis, et indignationis plenus, et irae, furorisque, ad ponendam terram in solitudinem, et peccatores ejus contendondos de ea. Quoniam stellae caeli, et splendor earum, lumen suum não expansivo; obtenebratus est sol in ortu suo, et luna non splendebit in lumine suo. Et visitabo super orbis mala, et contra impios iniquitatem eorum; et quescere faciam superbian infidelium, et arrogantian fortium humiliabo (Is 8, 9-11).
7. Erubescet luna, et confundetur sol (Is 24, 23).
8. Quod talibus dominis servierunt.
9. Vanitati enim creatura subjecta est non volens. Scimus enim quod omnis creatura ingemiscit, et parturit usque adhuc (Rm 7, 20.22).
10. Accipiet armaturam zelus illius, et armabit creaturam ad ultionem inimicorum,….et pugnabit cum illo orbis terrarum contra insensatos (Sb 5, 18.21).
11. Tetendit adversus Deum manum suam, et contra Omnipotentem roboratus est (Jó 15, 25).
12. Erubesce Sidon; ait enim mare (Is 23,4).
13. Dies irae dies illa, dies tribulationis et angustiae, dies calamitatis et miseriae, dies tenebrarum et caliginis, dies nebulae et turbinis; vox diei Domini amara, tribulabitur ibi fortis (Sf  1, 14-15).
14. Arescentibus hominibus prae timore, et exspectatione, quae supervenient universo orbi (Lc 21,26).

(Excertos da obra 'Sermons on the Four Last Things' - Sermon 27, do Rev. Francis Hunolt /1694 -1746/, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 19 de maio de 2023

PALAVRAS DA SALVAÇÃO


A Deus pertenceis vós nesta vida mortal, servindo-o fielmente no meio dos trabalhos que tiverdes, levando a cruz, acompanhando-o na vida imortal, bendizendo-o eternamente com toda a corte celeste. O grande bem das nossas almas é o estar com Deus; nosso maior bem é pertencer só a Deus. Quem só pertence a Deus apenas se entristece por ter ofendido a Deus e a sua tristeza neste ponto consiste num profundo ato de humildade e submissão, sereno e pacífico, que então se eleva e é oferecido à bondade divina, com uma confiança doce e perfeita e sem qualquer temor ou despeito.

(São Francisco de Sales)

quinta-feira, 18 de maio de 2023

SOBRE COMO LEVAR AS NOSSAS CRUZES

Alegro-me do que padeço por vós, diz São Paulo, e estou cumprindo em minha carne o que resta de padecimentos a Cristo em seus membros, sofrendo trabalhos em prol de seu Corpo Místico, que é a Igreja: Gaudeo in passionibus, et adimpleo e aquae desunt passionum Christi, in carne mea, pro corpore ejus, quod est Ecclesia (Col 1, 24). A paixão de Jesus Cristo é completa e perfeita em si mesma. Sendo de um mérito infinito, ela é mais que suficiente para resgatar-nos. Contudo, falta-lhe algo que deve proceder de vós; falamos da parte que devemos tomar nos sofrimentos e méritos de Jesus Cristo, em uma palavra, de nossa cooperação. Não somente Jesus Cristo devia sofrer em si mesmo; deve também sofrer em seus membros; e, por esta comunidade de sofrimentos, seu Corpo, que é a Igreja, engrandece-se e aperfeiçoa- se.

Aceitando as penas e as dores da vida, os fieis participam dos méritos da Paixão, tornam-se semelhantes a Jesus Cristo Crucificado. Isto é o que quer dizer São Paulo com aquelas palavras: 'Estou cumprindo em minha carne o que resta de padecimentos a Cristo em seus membros, sofrendo trabalhos em prol de seu Corpo Místico, que é a Igreja'. Com a aceitação das cruzes, os fieis fazem-se participantes da natureza divina, como disse o Apóstolo São Pedro: Divinae consortes naturae (2 Pd 1, 4). Fazem-se também partícipes da glória de Jesus Cristo pela eternidade, diz São Paulo: Si tamen compatimur, ut et conglorificemur (Rm 8, 17). Aqui devemos observar com Santo Ambrósio, São João Crisóstomo e outros Doutores:

I – Que, como a Igreja é um corpo místico, animado de uma só e mesma alma, tendo uma mesma vida com Jesus Cristo, deve sofrer uma só e mesma paixão com Ele; da mesma maneira que, no corpo do homem, o sofrimento é comum à cabeça e aos membros. São Paulo é quem faz esta admirável comparação: Se um membro padece, todos os demais se compadecem; e, se um membro é honrado, todo os membros alegram-se com ele. Vós, pois, sois o Corpo Místico de Cristo e membros unidos a outros membros: Se quid patitur unum membrum, compatiuntur omnia membra; sive gloriatur unum membrum, congaudent omnia membra. Vos estis corpus Christi, em membra de membro (1 Cor 12, 26-27). Isso explica por que que Jesus Cristo não dizia a Saulo que perseguia a sua Igreja: 'Por que persegues a minha Igreja?', senão: 'Por que me persegues?' Quid me persequeris? (At 26, 14). Assim, como Jesus Cristo comunica sua graça e sua paciência, comunica também seus sofrimentos, e compadece-se dos que sofrem.

II – Cumpro em minha carne o que resta de padecimentos a Jesus Cristo, isto é, convém que anuncie o Evangelho e dê a conhecer Jesus Cristo às nações, a fim de que a Igreja cresça, aperfeiçoe-se e participe plenamente da paixão e redenção do Salvador.

III – Cumpro em minha carne o que resta de padecimentos a Jesus Cristo. Isto significa também que o fiel, com suas boas obras, aplica-se a participar da expiação operada por Jesus Cristo, e satisfaz, sofrendo a pena temporal devida ao pecado.

O fiel deve saber que toda a vida do cristão é de sofrimento interior ou exterior, enviado ou buscado voluntariamente. Deve aguardá-lo todos os dias e até desejá-lo. Porque, todos os dias, lançam-lhe flechas ou Deus, ou o demônio, o mundo, a carne, os amigos, os inimigos, ou as más línguas. 'Retesou seu arco, e fez de mim alvo de suas flechas' - Tetendit arcum suum, et possuir me quasi signum (soopum) as sagittam (Lm 3, 12). As enfermidades, os contratempos e as provações são flechas enviadas por Deus. O cristão também deve saber que estas flechas, de qualquer parte donde venham, são flechas de amor, e nunca de ódio.

Deus nos fere com flechas para abater a nossa desobediência e o nosso orgulho; para castigar nossos pecados e fazer-nos expiar como castigou os judeus; para destruir e, sobretudo, debilitar em nós a concupiscência da carne. Ele lança contra nós flechas como enfermidades, contradições, decepções e remorsos, obrigando-nos deste modo a combater e vencer estas inclinações; para guiar o homem pelo caminho da paciência, da santidade e da perfeição; assim feriu Deus a Jó e a Tobias; para aproximar o homem a Jesus Cristo, e fazer-lhe semelhante a Ele.

Deus resolveu manifestar, com a admirável paciência dos santos, a virtude de sua Cruz. Ele mesmo, ao vir ao mundo, não escolheu outros bens senão os sofrimentos e o Calvário. Quereis encontrar a Deus? Buscai a Cruz, pois nela Ele está pregado; ali, tão somente ali, achá-lo-eis. Se vos encontrais sobrecarregado de pesares, alegrai-vos; encontrastes a Jesus Cristo, e agora estais com Ele. 'Bem aventurados aqueles que padecem perseguições por causa da justiça, pois deles é o Reino dos Céus' - Beati qui persecutionem patiuntur propter justitiam, quoniam ipsorum est regnum coelorum (Mt 5, 10). 'Ditosos sereis quando os homens, por minha causa, vos amaldiçoarem, e vos perseguirem, e disserem com mentira toda sorte de males contra vós. Alegrai-vos, então, e regozijai-vos, porque é muito grande a recompensa que vos aguarda nos Céus' (Mt 5, 11-12).

Quando sofreis, Deus está convosco. O próprio Deus o diz pela boca do Profeta: 'Estarei com ele em suas tribulações, salvar-lhe-ei e o cumularei de glória. Eu o saciarei com uma vida muito longa, e lhe farei ver o Salvador que enviarei' - Cum ipso sum in tribulatione, eripiam eum et glorificabo eum. Longitudine dierum replebo eum, et ostendam illi salutare meum (Sl 90, 15-16). Quando Santo Antônio, depois dos terríveis combates que tinha de sustentar contra os demônios, dizia a Jesus Cristo: 'Onde estavas, ó bom Jesus? - Ubi eras, bone Jesu?. 'Antônio, eu estava contigo' - respondia-lhe Jesus - 'pois queria te ver combater' (Vit. Patr.).

Deus fere ao homem a flechadas para matar nele os desejos e os pensamentos mundanos, e fazer entrar em sua alma os pensamentos e desejos do Céu. Assim é como o Senhor prepara o homem para entrar na cidade dos eleitos, segundo aquelas palavras da Escritura: 'É preciso passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus' - Peer multas tribulationes oportet nos intrate in regnum Dei (At 14, 12); e aquelas outras palavras de Jesus Cristo: 'o Reino dos Céus alcança-se à viva força, e somente aqueles que fazem violência a si mesmos são os que se apoderam dele' - Regnum coelorum vim patibur, et violenti rapiunt illud (Mt 11, 12).

Saiba bem o cristão que deve sofrer todos os dias de sua vida, e estar constantemente estendido sobre a Cruz, para ser alvo das flechas de Deus. Ainda mais: não deve cessar de pedir a Deus alguma aflição, como fazia São Francisco Xavier que, em seus contínuos e penosos trabalhos, em suas provações e perseguições sem número, rogava a Deus que não lhe privasse das cruzes que detinha; e que estas fossem sempre em maior número (In ejus vita).

Para levar com resignação as cruzes e triunfar das provações, pensemos que nós nos encontramos colocados na terra como um alvo para as flechas de Deus, e achemo-nos dispostos a receber com paciência e valor todas as tribulações que, vindas do Céu, tendem à glória de Deus e à nossa salvação. Tenhamos nossa alma unida a Deus pela fé, a esperança e o amor. Aquele que vive com o pensamento e, sobretudo, com os desejos dos bem aventurados, olha os bens e os males deste mundo como pouca coisa. Elevemos, pois, nossa alma sobre as coisas da terra, façamo-la sair, de certo modo, de nosso corpo para colocá-la entre os anjos: Nostra conversatio in coelis est (Fl 3, 20).

Quando assim acontecer, a nossa alma tornar-se-á mais forte que as cruzes, com resignação e paciência, e já não as sentirá e nem as consentirá. Então, exclamava São Paulo: 'Estou inundado de consolo; transbordo de gozo em meio de todas as minhas tribulações' - repletus sum consolatione; superabundo gaudio in omni tribulatione nostra (2 Cor 8, 4). Sigamos Jesus Cristo ao Calvário. Verifiquemos quantos milhares de cristãos, crianças, mulheres, anciãos e de todas as condições, de geração em geração, desde tantos séculos, dirigem-se até aquela montanha de salvação eterna e sobem até o seu cume, levando a Cruz sobre os ombros. Sigamos todos eles no caminho do Céu.

(Dos Tesouros de Cornélio à Lápide)