segunda-feira, 3 de abril de 2023

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA XXXVIII

  

Trigésimo Oitavo Dia

Na paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males em que incorremos por causa dos nossos pecados. A paixão de Cristo é o fundamento que deve orientar toda a nossa doutrina de vida.

Propósito do Dia: Meditar sobre os mistérios da Paixão de Cristo e sua Morte de Cruz (ver esta Leitura Espiritual) e escolher uma destas práticas (ou qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de amanhã.

'FELIZES OS POBRES EM ESPÍRITO'

'Felizes os pobres de espírito porque é deles o reino dos céus' (Mt 5,3). Poderíamos perguntar-nos a que pobres quereria a Verdade referir-se se, ao dizer 'Felizes os pobres', não tivesse acrescentado nada sobre o tipo de pobres de que falava. Pensar-se-ia então que, para merecer o Reino dos Céus, bastaria a indigência de que muitos sofrem devido a uma necessidade penosa e dura. Mas ao dizer: 'Felizes os pobres de espírito', o Senhor mostra que o Reino dos Céus deve ser dado aos que são recomendados mais pela humildade da alma, do que pela penúria dos recursos.

No entanto, não podemos duvidar de que os pobres adquirem mais facilmente do que os ricos o bem que é esta humildade, pois a doçura é uma amiga da sua indigência, ao passo que o orgulho é o companheiro da opulência dos ricos. Porém, também se encontra entre muitos ricos esta disposição de alma que os leva a servirem-se da sua abundância, não para se encherem de orgulho, mas para praticarem a bondade, e que encaram como grande lucro o que gastaram para aliviar a miséria e a infelicidade dos outros.

A todos os tipos e classes de homens é dada a oportunidade de participarem nesta virtude, porque podem ser simultaneamente iguais em intenção e desiguais em fortuna; e pouco importam as diferenças entre os recursos terrenos que encontramos entre os homens que são iguais em bens espirituais. Feliz esta pobreza que não está agrilhoada pelo amor das riquezas materiais; ela não deseja aumentar a sua fortuna neste mundo, antes aspira a tornar-se rica dos bens dos céus.

(São Leão Magno)

domingo, 2 de abril de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?(Sl 21)

Primeira Leitura (Is 50, 4-7) - Segunda Leitura (Fl 2,6-11)  -  Evangelho (Mt 27,11-54)

 02/04/2023 - Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor 

19. 'HOSANA AO FILHO DE DAVI'


No Domingo de Ramos, tem início a Semana Santa da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus entra na cidade de Jerusalém para celebrar a Páscoa judaica com os seus discípulos e é recebido como um rei, como o libertador do povo judeu da escravidão e da opressão do império romano. Mantos e ramos de oliveira dispostos no chão conformavam o tapete de honra por meio do qual o povo aclamava o Messias Prometido: 'Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!' (Mt 21, 9).

Jesus, montado em um jumento, passa e abençoa a multidão em polvorosa excitação. Ele conhece o coração humano e pode captar o frenesi e a euforia fácil destas pessoas como assomos de uma mobilização emotiva e superficial; por mais sinceras que sejam as manifestações espontâneas e favoráveis, falta-lhes a densidade dos propósitos e a plena compreensão do ministério salvífico de Cristo. Sim, eles querem e preconizam nEle o rei, o Ungido de Deus, movidos pelas fáceis tentações humanas de revanche, libertação, glória e poder. Mas Jesus, rei dos reis, veio para servir e não para reinar sobre impérios forjados pelos homens. '... meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Jesus vai passar no meio da multidão sob ovações e hosanas de aclamação festiva; Jesus vai ser levado sob o silêncio e o desprezo de tantos deles, uns poucos dias depois, para o cimo de uma cruz no Gólgota.

Neste Domingo de Ramos, o Evangelho evoca todas as cenas e acontecimentos que culminam no calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo: os julgamentos de Pilatos e Herodes, a condenação de Jesus, a subida do calvário, a crucificação entre dois ladrões e a morte na cruz...'Eli, Eli, lamá sabactâni?' (Mt 27, 46). Na paixão e morte de cruz, Jesus revela seu amor desmedido pela criação do Pai e desnuda a perfídia, a ingratidão, a falsidade e a traição dos que se propõem a amar com um amor eivado pelos privilégios e concessões aos seus próprios interesses e vantagens.

A fé é forjada no cadinho da perseverança e do despojamento; sem isso, toda crença é superficial e inócua e, ao sabor dos ventos, tende a se tornar em desvario. Dos hosanas de agora ao 'Seja crucificado!' (Mt 27, 22 - 23) de mais além, o desvario humano fez Deus morrer na cruz. O mesmo desvario, o mesmo ultraje, a mesma loucura que se repete à exaustão, agora e mais além no mundo de hoje, quando, em hosanas ao pecado, uma imensa multidão, em frenesi descontrolado, crucifica Jesus de novo em seus corações!

Obs.: Dia não incluído no Diário da Quaresma 2023, ver postagem aqui.

sábado, 1 de abril de 2023

NOSSO SENHOR DOS PASSOS

Nosso Senhor dos Passos é a devoção celebrada pela Santa Igreja, desde a Idade Média, em memória à Via Crucis percorrida por Jesus na sua Paixão e Morte no Calvário. Jesus é representado com a cruz às costas, símbolo maior da fé cristã: pela cruz, fomos resgatados do pecado; pela cruz, nos foi legada a salvação da humanidade. A devoção teve início com a visita dos cruzados aos lugares santos do caminho para o Calvário percorrido por Jesus, fixados nas 14 estações da Via sacra, no século XVI:

I. Jesus é condenado à morte
II. Jesus carrega a Cruz às costas
III. Jesus cai pela primeira vez
IV. Jesus encontra a sua Mãe
V. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a Cruz
VI. Verônica limpa o rosto de Jesus
VII. Jesus cai pela segunda vez
VIII. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
IX. Terceira queda de Jesus
X. Jesus é despojado de suas vestes
XI Jesus é pregado na Cruz
XII. Morte de Jesus na Cruz
XIII. Descida do corpo de Jesus da Cruz
XIV. Sepultamento de Jesus

Neste tempo da Quaresma e às vésperas da Semana Santa, esta devoção é comumente celebrada sob a forma de duas procissões distintas:

(i) a primeira é a chamada 'Procissão do Depósito' (comumente realizada no 'Sábado dos Passos', que antecede o Domingo de Ramos), em que a imagem velada de Nosso Senhor dos Passos é conduzida até uma determinada igreja (procissão similar é comumente realizada no dia anterior, com a imagem de Nossa Senhora das Dores);

(ii) a segunda é a chamada 'Procissão do Encontro', na qual a imagem do Senhor dos Passos é levada ao encontro de sua Mãe Santíssima (representada em outra procissão, vinda de direção diferente, como Nossa Senhora das Dores), que haviam sido previamente encerradas em igrejas próximas, pelas respectivas procissões de depósito.

A procissão do encontro, em muitas regiões, acontece na Quarta-feira Santa à noite; em outras, é comumente realizada na tarde do Domingo de Ramos. De acordo com uma tradição muito antiga, são as mulheres que devem fazer a procissão que conduz a imagem de Nossa Senhora das Dores, com cantos penitenciais e com figuras bíblicas representando Maria Madalena, Verônica e outras mulheres que acompanharam a caminhada de Jesus para o Calvário. A outra procissão fica ao encargo dos homens, que carregam a imagem do Senhor dos Passos, figura de Jesus Cristo coroado de espinhos e carregando uma cruz. 

As duas procissões, convergem, então, para o local do encontro, onde é proferido o chamado 'Sermão do Encontro', no qual são relembrados os fatos ocorridos na Sexta-feira Santa e se recorda as dores de Nossa Senhora e o sofrimento de Jesus, conclamando o povo à penitência e à conversão. Nesta exortação, o pregador proclama o chamado 'Sermão das Sete Palavras', alusão direta às sete breves frases pronunciadas por Jesus durante a sua crucificação: 

1. 'Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem' (Lc 23,34 a);
2. 'Hoje estarás comigo no paraíso' (Lc 23,43);
3. 'Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe' (Jo 19,26-27);
4. 'Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!' (Mc 15,34);
5. 'Tenho sede' (Jo 19,28 b);
6. 'Tudo está consumado' (Jo 19,30 a);
7. 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito' (Lc 23,46 b).

Após o sermão, Verônica entoa um hino e mostra a toalha ensanguentada com a face de Cristo. A parte final da procissão consiste na condução conjunta de ambas as imagens até um destino final, representando os Passos da Paixão no caminho do Calvário. O evento é, então, finalizado, com o chamado 'Sermão do Calvário', que proclama as dores e sofrimentos de Jesus ao longo de sua condenação, paixão, crucificação e morte na cruz.

ORAÇÕES A NOSSO SENHOR DOS PASSOS

'Ó Jesus, relembro tua Paixão, teu Calvário e tuas dores. Olhando as imagens do Senhor carregando a Cruz, imagens com as quais te invocamos sob o título de Nosso Senhor dos Passos e veneramos como símbolos de teu sacrifício e representação de teu ato de amor salvífico, que foi teu sacrifício na cruz, te pedimos como teu discípulo Pedro: Senhor, salva-nos! Salva-nos por tua Cruz, salva-nos por teu sangue; salva-nos por tua misericórdia; salva-nos por teu amor e cura-nos de nossas feridas tanto físicas quanto espirituais, emocionais e psíquicas. Amém'.

'Meu Jesus, Senhor dos Passos, açoitado, coroado de espinhos, escarnecido e cuspido, condenado à morte, carregado com a cruz, caído por terra, pregado no madeiro! Vós sois a Vítima das nossa iniquidades. Eu quero acompanhar os vossos dolorosos passos rumo ao Calvário, em cujo cimo consumiu-se a vossa vida. Mas, do vosso sacrifício, brotou a nossa salvação. Senhor dos Passos, perdoai as minhas maldades e apagai os pecados de todo o mundo. Meu Jesus, Senhor dos Passos, tende piedade de nós. Amém'.

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA XXXVII

    

Trigésimo Sétimo Dia

A penitência ou contrição pode ser considerada como um sacramento ou como virtude ou ato de virtude e consiste em sentir sincera dor pelos pecados cometidos, manifestando-se adotar então uma firme determinação de não cometê-los mais. Eis o fundamento da penitência: dor do pecado e o propósito de não mais pecar.

Propósito do Dia: Rezar o Salmo Penitencial CXLII dado abaixo e escolher uma destas práticas (que pode ser nova ou repetida de dia anterior ou adotando-se qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de  amanhã.

Salmo CXLII

Senhor, ouvi a minha oração; pela vossa fidelidade, escutai a minha súplica, atendei-me em nome de vossa justiça.
Não entreis em juízo com o vosso servo, porque ninguém que viva é justo diante de vós.
O inimigo trama contra a minha vida, ele me prostrou por terra; relegou-me para as trevas com os mortos.
Desfalece-me o espírito dentro de mim, gela-me no peito o coração.
Lembro-me dos dias de outrora, penso em tudo aquilo que fizestes, reflito nas obras de vossas mãos.
Estendo para vós os braços; minha alma, como terra árida, tem sede de vós.
Apressai-vos em me atender, Senhor, pois estou a ponto de desfalecer. Não me oculteis a vossa face, para que não me torne como os que descem à sepultura.
Fazei-me sentir, logo, vossa bondade, porque ponho em vós a minha confiança. Mostrai-me o caminho que devo seguir, porque é para vós que se eleva a minha alma.
Livrai-me, Senhor, de meus inimigos, porque é em vós que ponho a minha esperança.
Ensinai-me a fazer vossa vontade, pois sois o meu Deus. Que vosso Espírito de bondade me conduza pelo caminho reto.
Por amor de vosso nome, Senhor, conservai-me a vida; em nome de vossa clemência, livrai minha alma de suas angústias.
Pela vossa bondade, destruí meus inimigos e exterminai todos os que me oprimem, pois sou vosso servo.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém. 

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LIII)

Capítulo LIII

Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - A Libertação do Monge de Clairvaux - Beato Henrique Suso e o Purgatório 

Nada, de tudo o que podemos fazer em favor das almas do Purgatório, nada há de mais precioso do que a imolação do nosso Divino Salvador sobre o altar. Além de ser a doutrina expressa da Igreja, manifestada em seus Concílios, muitos fatos milagrosos, devidamente autenticados, não deixam margem para dúvidas quanto a este ponto.

Já falamos do monge de Clairvaux que foi libertado do purgatório pelas orações de São Bernardo e sua comunidade. Este monge, cuja vida religiosa não tinha sido tão meritória, apareceu depois da sua morte para pedir a ajuda de São Bernardo. O santo abade, com todos os seus fervorosos discípulos, apressou-se em oferecer orações, jejuns e missas pelo pobre irmão falecido. Este, tendo alcançado a libertação, mostrou-se, cheio de gratidão, a um religioso mais idoso da comunidade, que rezara com especial devoção em sua intenção. Questionado sobre o sufrágio que mais lhe tinha sido proveitoso, em vez de responder diretamente, tomou o ancião pela mão e, conduzindo-o à igreja onde se celebrava a missa, disse, apontando para o altar: 'Eis o grande poder redentor que quebrou minhas correntes; eis o preço do meu resgate: é a hóstia salvadora, que tira os pecados do mundo' (L'Abbe Postel, Le Purgatoire, cap. 5; cf. Rossign., Merv., 47).

Eis aqui outro fato, relatado pelo historiador Fernando de Castela, e citado pelo padre Rossignoli. Havia em Colônia, entre os alunos das classes superiores da universidade, dois religiosos dominicanos de grande talento, um dos quais era o beato Henrique Suso. Os mesmos estudos, o mesmo tipo de vida e, sobretudo, o mesmo gosto pela santidade, fizeram-nos contrair uma íntima amizade e a repartirem mutuamente as mercês que recebiam do Céu.

Terminados os estudos, vendo que iam separar-se, para regressarem cada um ao seu convento, concordaram e prometeram-se mutuamente que o primeiro dos dois que morresse seria assistido pelo outro, durante um ano inteiro, pela celebração de duas missas por semana – uma na segunda-feira como missa de Requiem como era de costume e outra, na sexta-feira (dia da Paixão do Senhor), na medida em que as liturgias permitissem. Assim comprometidos, despediram-se com um beijo da paz e deixaram Colônia. Por vários anos, ambos continuaram a servir a Deus com fervor muito edificante. O irmão, cujo nome não é mencionado, foi o primeiro a falecer e, então, Suso recebeu a notícia com os mais perfeitos sentimentos de resignação à vontade divina. Quanto ao compromisso feito entre ambos, o tempo o fez esquecer. Rezava muito em intenção do amigo, impondo-se contínuas penitências e muitas outras boas obras, mas não pensava em oferecer as missas que havia prometido.

Certa manhã, enquanto meditava em recolhimento na capela, de repente viu aparecer diante dele a alma do amigo defunto, que, olhando para ele com ternura, o repreendeu por ter sido infiel à sua palavra, dada e aceita, à qual tinha direito legítimo de ter recebido dele com toda confiança. O bem aventurado Suso, envergonhado, desculpou-se por seu esquecimento, enumerando as orações e mortificações que havia oferecido e que ainda continuava a oferecer pelo amigo, cuja salvação lhe era tão cara quanto a sua. 'É possível, meu querido irmão' - acrescentou - 'que tantas orações e boas obras que ofereci a Deus não foram suficientes para você?' 'Ó não, querido irmão' - respondeu a alma sofredora - 'isso não é suficiente. É preciso o sangue de Jesus Cristo para extinguir as chamas que me consomem; somente o augusto Sacrifício pode me redimir destes terríveis tormentos. Rogo-te, pois, que cumpras a tua palavra, e não me recuses o que me deves por justiça'.

O Beato Suso apressou-se em responder ao apelo da alma sofredora e, para reparar a sua falta, celebrou e fez celebrar mais missas do que havia prometido. No dia seguinte, vários sacerdotes, a pedido de Suso, uniram-se a ele para oferecer o Santo Sacrifício pelo falecido e repetiram estes atos de caridade por vários dias. Depois de certo tempo, o amigo de Suso apareceu novamente para ele, mas agora em uma condição muito diferente; seu semblante estava radiante e envolvido por uma luz brilhante: 'Obrigado, meu fiel amigo' - disse ele - 'eis que pelo Sangue do meu Salvador fui liberto dos meus sofrimentos. Agora vou para o Céu contemplar Aquele que tantas vezes adoramos juntos sob o véu eucarístico'. Suso prostrou-se para agradecer ao Deus de toda misericórdia e compreendeu, mais do que nunca, o valor imponderável do Santíssimo Sacrifício do Altar (Rossignoli, Merv., 34; Fernando de Castela).

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

   

DEVOÇÃO DOS CINCO PRIMEIROS SÁBADOS