quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (188/191)

 

188. PROPÓSITO INQUEBRANTÁVEL

Cambronne pertencia ao regimento de Nantes. Bebia com frequência. Um dia, em estado de enrbriaguês, bateu em seu chefe. Seu coronel, depois de conseguir que se revogasse a sentença, chamou-o e disse-lhe:
➖ De ti depende a tua honra e a tua liberdade!
➖ Meu coronel, a sentença é muito justa.
➖Não importa - respondeu o chefe - não morrerás; deves, porém, prometer que não mais te embriagarás.
➖ Meu coronel, prefiro nunca mais beber em toda a minha vida.
➖ Serias capaz de tal promessa?
➖ Sim; já que meu coronel foi capaz de tanta generosidade.

Passaram-se anos. Cambronne subiu a general e estava em Paris, acompanhando Napoleão. Hospedou-se na casa de seu antigo coronel. À hora do brinde foi oferecido a Cambronne o melhor vinho. Ele, porém, recusou, lembrando ao seu antigo chefe a promessa à qual devia a vida.

189. OS PAIS DESEDUCAM

Aquele colégio figurava entre os mais afamados. Dirigiam-no religiosos eminentes por sua ciência e virtude. Desfilaram diante de nós primeiramente os estudantes. Eram uns 130 internos. Havia entre eles jovenzinhos de poucos anos; e havia outros já crescidos, belos rapazes. Todos traziam no rosto a alegria e a esperança.
➖Padre - dizia-me o Diretor - aí vê o senhor cento e trinta rapazes. Destes, uns cento e vinte comungam todos os dias; os outros, ao menos uma vez por semana.

Atrás vinham os Padres Professores. Seriam uns trinta aproximadamente. Uns começavam a carreira do magistério, outros haviam encanecido no ensino. Depois que passaram, disse-me o Reitor:
➖ Todos eles, às vezes, têm tentações de desânimo... quase de desespero.
➖ Por quê? - interroguei.
➖ Porque trabalham nove meses no ano. Com grandes sacrifícios conseguem implantar nos corações desses meninos o amor da virtude e o respeito às leis divinas. Fazê-los serem bons e honestos. Mas saem daqui e em quinze dias os pais, meio descrentes, indiferentes e relaxados no cumprimento dos deveres cristãos, destroem o labor de um ano inteiro. Nas férias, a exemplo dos pais, faltam à missa, aos sacramentos. Terminado o curso, tornam-se ímpios, libertinos... Lançam muitos a culpa nos religiosos, esquecendo-se de que são os pais que deseducam os filhos.

190. VINHAM NADANDO

Conta um missionário que, quando chegava a alguma ilha da Oceania, para anunciar a sua presença levantava um mastro bem grande. Os negros acudiam de toda a parte e vinham até de muito longe. Um domingo, pela manhã, viu chegar uma turma de negros que vinham nadando de outra ilha, para terem o consolo de ouvir a santa Missa.

191. DOMINGOS SÁVIO AJUDA À MISSA

Este angélico jovem, aos cinco anos de idade, já sabia ajudar à missa e fazia-o com grandes demonstrações de amor a Jesus. Como era muito pequeno, o padre mesmo tinha de mudar o missal. Mas era tão grande o seu desejo de servir ao altar, que muitas vezes chegava à igreja quando esta ainda estava fechada, e ali permanecia esperando e rezando. Numa fria manhã de janeiro de 1847 ali o encontraram tiritando de frio e coberto de neve que caía copiosamente. Pode servir de modelo aos coroinhas.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O QUE É SER SANTO?

Ser santo não é fazer milagres. E' somente amar a Jesus de todo o coração, é entregar-se a Ele sem reservas, é crer firmemente em seu amor. Ser santo não é ser isento de faltas. E' tão somente não pecar por malícia, não amar os seus defeitos. E' refugiar-se nos braços de Jesus depois de cada fraqueza e pedir-lhe a cura. Ser santo não é extenuar-se em macerações, fugir aos olhares do mundo, ocultar-se no fundo de um deserto; nem mesmo assombrar o mundo com o esplendor das obras ou subjugá-lo com o poder da palavra. 

Longe disso, ser santo é aplicar-se tranquilamente a cumprir os deveres de seu estado para agradar a Jesus; suportar, para lhe ser agradável, os pesares da vida e deixar-lhe plena liberdade em dispor a seu bel prazer da alma e do corpo, da saúde e de todos os seus bens. Jesus não pede senão o coração. Quando o amam, tudo vai bem. Genoveva e Pascoal Bailão eram pastores, mas amavam a Jesus e foram santos. Isidoro era lavrador; Zita, uma criada; Crispim, sapateiro; Benedito Labre, mendigo. Que importa! Todos eles não tinham senão um ideal: amavam a Jesus apaixonadamente e esqueciam-se de si mesmos. 

Não queres fazer o mesmo? Não queres unir-te a essa legião de almas generosas de todas as condições, de todas as idades e de todos os países que formam a corte de honra do rei Jesus? Eu digo que elas são uma legião. O divino Mestre suscita-as todos os dias nas grandes Sodomas modernas e nas mais humildes aldeias cristãs, nos palácios dos grandes e nas choupanas dos pobres. Ele parece temer que lhe falte o tempo de concluir a sua obra de amor aqui na terra e prodigaliza então os seus favores às almas humildes e confiantes. De ti também Ele quer fazer um santo. Ele te chama; convida-te para fazer um retiro de amor. Não te assustes da tua fraqueza nem da tua inconstância. Jesus é bom e poderoso. Ele pode reparar num momento o teu passado. Deixa-te cativar pela graça. Ele fará de ti a conquista do seu amor. O segredo de encantar o coração de Jesus, de tudo obter dele, é jamais duvidar de sua bondade. 

Considera, em seguida, que a santidade à qual podes elevar-te, se quiseres, é uma coisa sublime, um ideal encantador. Tua perfeição é o encontro de dois corações: do coração de Jesus e do teu, num ato de amor que dura toda a vida; é uma comunhão inefável de Deus com a alma, e da alma com Deus; é um amplexo indizível de dois espíritos, Deus e a alma. Ser perfeito é amar a Jesus e, amando-o, deixar-se transformar nele e por ele; é viver no mundo do mesmo amor que Deus vive no céu; é reproduzir, numa alma unida a um corpo de carne, a vida que levam as três Pessoas divinas no seio da adorável Trindade. Essa vida divina, tu a produzes todas as vezes que fazes uma aspiração de amor, que cumpres um dever para agradar a Deus. Quanto mais vivo, profundo e puro é o teu amor, tanto mais penetras na Santíssima Trindade; e mais também a vida de Jesus se imprime em ti. Que sonho poderes exercitar-te aqui na terra para essa vida que levarás nos séculos dos séculos! 

(Excertos da obra 'O Divino Amigo', do Pe. Schrijvers)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

PALAVRAS ETERNAS (XIV)

'trabalhai na vossa salvação com temor e tremor' (Fl 2,12)


'de que adianta um homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? (Lc 9,25)

Só uma coisa interessa no homem que morre: se está ou se não está na graça de Deus. A morte é o abismo infinito entre DEUS e o NADA

A ciência mais acabada
é a que o homem em graça se acabe,
porque no fim da jornada,
aquele que se salva, tudo sabe;
e o que não se salva, nada sabe.

Nesta vida emprestada,
fazer o bem é o que nos cabe:
aquele que se salva tudo sabe;
e o que não, não sabe nada.

(poemeto atribuído ao autor espanhol Ramón de Campoamor, tradução do autor do blog)

domingo, 4 de dezembro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Nos seus dias a justiça florirá(Sl 71)

Primeira Leitura (Is 11,1-10) - Segunda Leitura (Rm 15,4-9)  -  Evangelho (Mt 3, 1-12)

 04/12/2022 - Segundo Domingo do Advento

2. TEMPO DE CONVERSÃO


Neste segundo domingo do Advento, a Igreja, à espera do Senhor Que Vem, celebra, após um primeiro tempo de vigilância, o tempo de conversão, mediante a proclamação na história dos tempos de dois grandes profetas das revelações messiânicas: Isaías e João Batista.

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi: 'nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus' (Is 11, 1-2). É Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus: 'Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada' (Is 11,10).

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João é aquele que foi proclamado por Isaías como sendo 'a voz que grita no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo.

E o deserto de hoje não é ainda mais árido, muitíssimo mais árido, do que nos tempos do Profeta João Batista? O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. A Igreja de Cristo não se pode sustentar sobre as areias frouxas do deserto das almas tíbias, do ateísmo e da indiferença religiosa. Eis, portanto, a imperiosa necessidade de tempos de conversão. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Mt 3,11).

sábado, 3 de dezembro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLV)

 

Capítulo IV

Consolação das Almas - Santa Catarina de Ricci e as Consolações pela Alma de um Príncipe

Relatemos um outro exemplo das consolações interiores e do misterioso contentamento que as almas experimentam em meio aos sofrimentos mais excruciantes: encontramo-lo na Vida de Santa Catarina de Ricci, religiosa da Ordem de São Domingos, falecida no Convento de Prato, em 2 de fevereiro de 1590. Esta serva de Deus tinha tão grande devoção pelas almas do Purgatório que sofreu no lugar delas nesta terra o que elas teriam de suportar no outro mundo. Entre outras coisas, ela libertou das chamas expiatórias a alma de um príncipe e sofreu por ele os mais terríveis tormentos por quarenta dias.

Este príncipe, cujo nome não é mencionado na história, em consideração sem dúvida a sua família, havia levado uma vida mundana, e a santa ofereceu muitas orações, jejuns e penitências para que Deus a iluminasse sobre a condição de sua alma e para que não fosse condenado. Deus se dignou ouvi-la e o infeliz príncipe, antes de sua morte, deu provas evidentes de uma conversão sincera. Morreu com bons sentimentos e assim alcançou o Purgatório. Catarina apreendeu isso por revelação divina em oração e se ofereceu para satisfazer a Justiça Divina por aquela alma. 

Nosso Senhor atendeu a sua oferta de caridade e, assim, recebeu a alma do príncipe na glória, submetendo Catarina então a sofrimentos totalmente incomuns pelo período de quarenta dias. Ela foi afetada por uma doença que, de acordo com o julgamento dos médicos, não era natural e que não tinha possibilidade de cura e nem de alívio. De acordo com o depoimento de testemunhas oculares, o corpo da santa ficou coberto de bolhas cheias de um fluido aquecido e inflamado, como água fervente. Isso causou tanto calor que a sua cela parecia um forno e exposta ao fogo, de tal maneira que era impossível permanecer ali por alguns instantes sem sair para respirar. A carne da paciente estava fervendo e sua língua parecia um pedaço de metal em brasa. A intervalos, a inflamação cessava e então a carne parecia assada, para logo em seguida reaparecerem as bolhas e o mesmo calor excruciante.

No entanto, em meio a essa tortura, a santa não perdeu a serenidade de seu semblante e nem a paz de sua alma, mas, ao contrário, parecia se alegrar com os seus tormentos. Às vezes, os sofrimentos aumentavam a tal ponto que ela perdia a fala por dez ou mais minutos. Quando uma irmã religiosa lhe disse que ela parecia estar em chamas, ela respondeu simplesmente: 'Sim', sem acrescentar mais nada. Quando, em outra ocasião, manifestaram a ela que tal zelo havia ido longe demais e que não deveria pedir a Deus um sofrimento tão excessivo, ela respondeu: 'Perdoem-me, minhas queridas irmãs se eu não lhes atendo, mas é que Jesus tem tanto amor pelas almas, que tudo o que fazemos pela salvação delas lhe é infinitamente agradável; por isso suporto de bom grado qualquer dor, seja ela qual for, tanto pela conversão dos pecadores como pela libertação das almas detidas no Purgatório'. Ao final dos quarenta dias, Catarina voltou ao seu estado normal. Os parentes do príncipe perguntaram a ela onde estava a sua alma. 'Não tenham medo' - respondeu ela - a alma dele já está no gozo da glória eterna'. Assim se soube finalmente que era pela alma dele que ela tanto sofrera.

Este exemplo nos ensina muitas coisas, mas o citamos para mostrar que os maiores sofrimentos não são incompatíveis com a paz interior. Nossa santa, enquanto suportou visivelmente as penas do Purgatório, experimentou nisso uma paz admirável e um contentamento sobre-humano.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)



PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS