terça-feira, 30 de agosto de 2022

VERSUS: OS SETE GRAUS DA HUMILDADE (III)

  III. O exercício corporal, como Paulo (São Bernardo*)

* (Obras Completas de San Bernardo, BAC Editorial, 1993)


'Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! ... Se for preciso que a gente se glorie, eu me gloriarei na minha fraqueza' (II Cor 11, 27.30)


Esta pessoa doente é uma imagem viva da minha alma, ó meu Jesus. Quer recuperar a saúde, mas sem trabalho, sem sofrimento e sem remédios desagradáveis. Tal é a disposição precisa da minha alma: quer humildade, mas sem desprezo; uma obediência perfeita, mas sem ordenamentos impostos; caridade e mansidão perfeitas, mas sem padecer castigos; enfim, gostaria de buscar a santidade, mas sem sofrimento... E não é isso opor-se diretamente à vontade do Pai celestial, à doutrina e exemplo de Jesus Cristo, às disposições e inspirações interiores do Espírito Santo? Ó quão tolo sou! Antes de mim não houve, nem haverá depois, quem tornou-se santo sem sofrimento e sem refazer o caminho de Nosso Senhor Jesus Cristo'.

(Santo Antônio Maria Claret)

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (167/169)

  

167. BEIJOU A MÃO DE SÃO DOMINGOS

Um homem entregue a todos os vícios e atormentado pelo demônio, ouvindo dizer que São Domingos estava em Bolonha, foi vê-lo, assistiu à missa que o santo celebrou e depois correu a beijar-lhe a mão. Apenas deu o respeitoso ósculo, experimentou um tal perfume, que lhe pareceu ter vindo do Céu e como jamais experimentara em toda a sua vida.

O mais maravilhoso é que, imediatamente, se lhe apagou o fogo da luxúria e ele se converteu a uma vida sinceramente cristã. Era o efeito da palavra de Cristo: 'lde e mostrai-vos aos sacerdotes!' (Lc 17, 11). Cristãos! quando as tentações vos assaltarem; quando o demônio conseguir escravizar a vossa alma, apresentai-vos ao sacerdote para ouvir a santa missa ou, melhor, para vos confessardes. Também vós, como o pecador de Bolonha, experimentareis um perfume celestial, que é o odor da graça divina.

168. AQUELE FUSO FLORESCEU

Conta-se que uma santa, a virgem Libéria, fiava todos os dias por amor de Deus e dos pobres, e eis que, de repente, em seu fuso floresceram perfumadas flores como nunca se viram em parte alguma do mundo.

Ó se, como nos aconselha São Paulo, fizéssemos tudo por amor de Deus; os anjos veriam florescer os instrumentos de nosso trabalho: a enxada do lavrador, o malho do ferreiro, a tesoura da costureira, a vassoura da criada, a panela da cozinheira, a pena do escritor!

169. SÓFOCLES E OS SEUS FILHOS

Um dos grandes poetas da Grécia e do mundo, Sófocles, foi denunciado como louco por seus próprios filhos que, antes do tempo devido, pretendiam a herança paterna. O processo foi interessantíssimo e muita gente acudiu ao tribunal. Por um lado o velho poeta estava tranquilo e, por outro, os seus desnaturados e rebeldes filhos se esforçavam por demonstrar a demência do pai.

Quando se calaram, reinou um profundo silêncio e todos ficaram em expectativa. Então Sófocles puxou, por sob a toga, a sua última peça de tragédia e declamou-a diante dos acusadores, juízes e povo. Quando terminou, todos o aplaudiram freneticamente e pediram que o glorioso ancião fosse coroado com coroa de louro, enquanto seus indignos filhos, humilhados, correram a esconder-se.

Para defender-se das acusações e calúnias dos seus filhos rebeldes, não tem a Igreja necessidade senão de apresentar o seu Evangelho e as suas obras.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLII)

SAÚDE DOS ENFERMOS, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

domingo, 28 de agosto de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Com carinho preparastes uma mesa para o pobre' (Sl 67)
 
 28/08/2022 - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum 

40. 'QUEM SE HUMILHA SERÁ ELEVADO'


Humildade e mansidão são os frutos da fé para deleite de abundantes graças de Deus para aquele que vive a generosidade despojada dos que seguem a Jesus: 'Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29). Na parábola do Evangelho deste domingo, estas virtudes essenciais da graça são manifestas na transposição dos primeiros e dos últimos lugares de um grande banquete.

Diante do Filho de Deus vivo, os escribas e fariseus se preocuparam primeiro em ocupar lugares de honra à mesa. Eles observavam Jesus, eles tinham curiosidade, interesse e empenho em questionar Jesus por qualquer uma de suas palavras ou ações, mas não percebiam a própria insensatez e vaidade de suas ações primeiras: a busca desenfreada por ocupar os primeiros lugares, a vanglória de usufruir com pompas uma posição destacada na mesa de jantar, a jactância de se apropriar sem rodeios das melhores posições para exercerem, com maior júbilo e sem reservas, o desmedido orgulho de suas escolhas humanas.

Eis que Jesus os conclama a viver a humildade da vida em Deus, sem buscar os privilégios e os prestígios efêmeros do mundo: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar' (Lc 14, 8, 10). Como convivas do banquete, seremos provedores de honra ou da vergonha, dependendo da medida de nossa humildade ou da desdita de nosso orgulho: 'Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado' (Lc 14, 11).

E a humildade não pode prescindir do despojamento, da generosidade desinteressada, da mansidão. A mão que estende a dádiva não se curva à retribuição; a ação de oferta não se compraz da gratidão; a semente que gerou fruto não impõe recompensa alguma. Oferece o 'banquete' de seus dons e talentos aos pobres, e aleijados, e coxos, e cegos...'porque eles não te podem retribuir' (Lc 14, 14). Assim, sem a gratidão e os louvores humanos, o homem sábio ajunta tesouros e a recompensa eterna na ressurreição dos justos.

sábado, 27 de agosto de 2022

ÁGUAS DE DOWN

Quando um pequeno riacho nasce no alto da montanha, as suas águas são tranquilas e cristalinas e, ao longo dos declives e das  depressões dos terrenos a jusante, tomam vulto, assumem a dimensão dos redemoinhos, acolhem águas já não muito tranquilas e se arrebentam contra outras nem de longe cristalinas. E vira um rio. Um rio de muitas águas, um rio de incertas e tormentosas correntezas e quedas memoráveis.

A vida humana comumente é assim. Somos rios, ou melhor, ficamos rios, de tormentosas e desvairadas correntezas e abismos. Somos águas barrentas e tumultuadas, os vórtices e redemoinhos nos cumulam de realidades cotidianas, nos precipitamos em corredeiras ou cascatas com o subterfúgio ou a salvaguarda de fazer, por nós mesmos, o trajeto, o ritmo e a rebentação do rio que somos. Chamamos isso de vida e vivemos assim.

Mas nem todos somos rios, nem todos ficamos rios de correntezas descuidosas. Porque nem todos os pequenos riachos acumulam vertigens terreno abaixo; porque nem todos os riachos meandram para acolher além as suas águas mais remotas. Há riachos que permanecem riachos no alto da montanha. São e serão os riachos das grandes alturas, as surgências que se moldam pela pequenez, pela simplicidade, pela serenidade do curso, pelas águas cristalinas.

Estes pequenos riachos são as portentosas obras de Deus na vida dos homens comuns, que vivem os rios da incerteza. São aquelas crianças nascidas como especiais, são as crianças autistas, com problemas neurológicos, com síndrome de Down. Que, à nossa volta, encontram-se tão distantes de nós porque vivem no cimo das nascentes, nas fontes das águas puras das grandes montanhas. Que não falam a nossa linguagem pois se camuflaram contra os tormentos e os abismos da alma humana; que não compartilham nossas ideias e nossas crenças porque não se alimentam do desvario dos vórtices e dos redemoinhos das águas em desatino; que não vivem a nossa vida costumeira porque não são feitos de barro, cascalho e detritos.

São crianças especiais, porque são criaturas especiais de Deus, são os dons especiais de Deus. O amor humano manifestado a cada uma delas - desmedido, completo e absolutamente sem amarras ou inquietudes humanas - é um amor tão particularmente humano, que tem o sopro divino. Um amor que faz retornar rios tempestuosos à origem, que transporta mentes em redemoinho à calmaria das montanhas mais elevadas da alma. Para mergulhar as mãos em águas serenas, para beber de águas cristalinas, para ver e estar com Deus pairando sobre as águas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

'EU SOU O SENHOR TEU DEUS'


'Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, 

a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; 

formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas. 

que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso

ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: 'Que fazes?'. Acaso diz a obra ao operário: 'És incompetente?'

ai daquele que ousa dizer a seu pai: 'Por que me geraste?' E à sua mãe: 'Por que me concebeste?'

eis o que diz o Senhor, o Santo de Israel e seu criador: 'Pretendeis pedir-me conta do futuro, ditar-me um modo de agir?'

fui eu quem fez a terra, e a povoou de homens; foram minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército'.

(Isaías 45, 5 - 12)

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

AS FLORES E O GATO GIGANTE

'Sonhei que estava no pátio cercado por meus alunos e que cada um deles tinha uma flor na mão. Alguns tinham uma rosa, outros um lírio; alguns tinham uma violeta e muitos, uma rosa e um lírio juntos. De repente, apareceu um enorme gato com chifres, do tamanho de um cachorro, com os olhos acesos como uma chama, com unhas grandes e grossas, e sua barriga era anormalmente deformada.

O gato gigante aproximou-se traiçoeiramente dos jovens e, circulando em volta deles, foi um a um, agarrando a flor que cada um segurava e as jogava ao chão. Diante de tal aberração, senti um grande medo e me chamou muito a atenção de que os jovens, cujas flores eram roubadas, permaneciam indiferentes e sem reação.

Quando percebi que o grande felino estava vindo em minha direção, para também roubar as minhas flores, quis fugir, mas uma voz me disse: 'Não fuja. Diga aos meninos para levantarem as mãos e os braços para que o gato gigante não possa pegar as suas flores'. Parei e levantei o braço. O grande felino fez um esforço imenso para pegar as flores que eu tinha na mão, mas, como era demasiado pesado e empanturrado, caiu desajeitadamente no chão.

E me foi dito que o lírio ou a flor que carregamos nas mãos é a santa virtude da pureza ou castidade, contra a qual o diabo continuamente faz guerra. Quem levanta a mão e se defende é quem reza, confessa, assiste à missa e comunga. E quem não levanta a mão e deixa roubar as suas flores são os que comem e bebem com avidez e passam o tempo sem fazer nada, sem se dedicar seriamente ao estudo e ao trabalho que têm a fazer. São aqueles que se envolvem em conversas ruins ou leem maus livros ou revistas impuras; aqueles que não fazem mortificações ou sacrifícios, e não evitam ocasiões de pecado; estes ficam sem levantar a mão e são roubados pelo diabo.

Jesus disse: 'Certos espíritos malignos não vão embora a não ser com oração e sacrifício'. Recomendo a todos que levantem o braço em oração devotamente todas as manhãs e todas as noites; confessando-se com frequência e comungando com fervor, fazendo uma visita diária a Nosso Senhor Sacramentado no Templo, rezando o Santo Rosário e dedicando-se cuidadosamente ao estudo e a fazer o que cada um deve fazer. Isso fará com que a santa virtude da castidade e pureza seja preservada, não importa quantos ataques o diabo possa empreender contra ela.

(Dos Sonhos de Dom Bosco)