quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O EDIFÍCIO ESPIRITUAL

O edifício espiritual da alma é a prática das virtudes levada à perfeição. Uma casa grande e formosa não pode ser edificada senão pouco a pouco e à força de muitos trabalhos; é necessário que haja ordem e variedade; é necessário empregar nela diversos instrumentos e materiais diversos; assim também constrói-se, por meio de diversas virtudes, exigindo-se trabalhos largos e gloriosos, uma constância invencível e outras virtudes.

A longanimidade pode representar a longitude do edifício; a caridade, a sua largura; a esperança, a sua altura. Os quatro muros são as quatro virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza, a temperança. A humildade e a fé são seu fundamento e base; a paciência seu teto; os bons desejos as suas vantagens; a observação dos mandamentos é a sua porta e o temor de Deus, o porteiro; os anjos são seus guardiões; a contemplação é a sua sacada; a oração forma suas muralhas e o cão que está de vigia noite e dia é a vigilância; a alma é a sua dona e todas as virtudes são os seus quartos e salas. O esposo é a vontade, a esposa é a modéstia; a família compõe-se das boas obras; os serventes são os sentidos que obedecem à alma; a mesa é a Sagrada Escritura; o pão, a Eucaristia; o fogo, o Espírito Santo; o ar, o bom exemplo; o óleo, a misericórdia e a mansidão; o leito, a tranquilidade da consciência; os remédios, os sacramentos; os médicos, os sacerdotes; os hóspedes, o Pai, o Filho, o Espírito Santo, a Virgem Santíssima e os Anjos da Guarda.

O sábio edifica sobre um terreno sólido. Jesus Cristo é a pedra angular, o cimento do edifico espiritual; é sua base inquebrantável. O homem prudente, disse Jesus Cristo, fundou a sua casa sobre a pedra, e caíram as chuvas, e transbordaram os rios, e sopraram os ventos, e deram com ímpeto contra aquela casa; mas ela não foi destruída, porque estava cimentada sobre a rocha: Et descendit pluvial, et venerunt flumina, et flaverunt venti, et irruerunt in domun illam; et non cecedit, fundata enim erat superpetram (Mt 7, 25).

Sobre a pedra construiu-se também a Igreja de Jesus Cristo; e, por isso, as portas do Inferno não prevalecerão jamais contra ela: Super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam; et portae inferi non prevalebunt adversus eam (Mt 16, 18). É inquebrantável como o seu divino alicerce. O insensato, diz Jesus Cristo, fabricou a sua casa sobre a areia; caíram chuvas, e os rios saíram do leito, e sopraram os ventos, e deram com ímpeto sobre aquela casa, que veio a colapsar-se, e sua ruína foi grande: Et descendit pluvial, et venerunt flumina, et flaverunt venti, et irruerunt in domum illam, et cecidit, et fuit ruina illius magna (Mt 7, 27). Tal é o terreno que elegem para edificar os hereges, os cismáticos e todos os pecadores cegos e endurecidos.

O homem fiel, unido por amor a Jesus Cristo e às suas Leis, é inquebrantável. Os golpes das perseguições, as ondas das paixões, o vento das lisonjas, das promessas e ameaças, as nuvens de calúnias, o trovão e os raios dos demônios ou dos malvados, as provas que chegam como tempestades, não o podem derrubar. É como um rochedo no meio dos mares, tal como os Apóstolos e os Mártires.

O bom cristão é a árvore de que nos fala a parábola que refloresce na medida em que é cortada e podada, e resiste às feridas do ferro, e desenvolve-se com mais vigor quando é ferida mais profundamente, e nunca é tão formosa quanto no dia em que a arrancam por completo. 

(Cornélio à Lápide)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: A SERENIDADE DA ALMA


As sucessivas purificações estabeleceram na alma interior um estado de faculdades puras no sentido de conhecer, amar, querer e imaginar. Nada se mantém das formas naturais, pois tudo se desvaneceu. O fogo do amor a tudo consumiu. Mesmo os hábitos de pensar ou querer foram abortados, ainda que com grande sofrimento. Mas as faculdades não foram sufocadas por este arrebatamento íntimo da alma; pelo contrário, tornaram-se mais intensas, mais fortes, mais aptas para o bem do que nunca. Assemelham-se às faculdades dotadas pelo primeiro homem que saiu das mãos do Criador. Quer se trate do mundo natural ou do mundo sobrenatural, da ação ou da contemplação, as faculdades, perfeitamente livres, perfeitamente dóceis nas mãos de Deus, operam com igual desenvoltura. Estão absolutamente à vontade entre estes dois mundos.

Elas se transmutam entre ambos com perfeita segurança e tranquilidade, graças ao conhecimento que a alma dispõe das relações que os associam. Não é Deus o supremo autor dessas duas dimensões? E, como consequência de sua íntima união com Deus, a alma não vê as coisas de um certo modo como Deus as vê, e não as quer tal como Deus as escolheu? Quanto mais puras são as faculdades da alma, tanto mais divinas também são, e tanto mais e melhor se harmonizam com as obras de Deus. Daí aquela serenidade perfeita com que a alma interior passa da contemplação à ação e da ação à contemplação.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

'EU MORREREI!'


Eu morrerei!

Deixarei tudo, sem exceção; deixarei meus pais, meus amigos, minha família; e eu lhes direi um adeus eterno. Deixarei minha casa, meus móveis, minha terra, tudo o que me pertence. Deixarei absolutamente tudo. E essas coisas das quais eu gosto mais? Eu as deixarei como todo o resto. Que abandono universal isso será enfim.

Ai de mim! Que loucura se apegar àquilo que se deve em breve deixar! Eu tive muito trabalho para adquirir ou conservar o que possuo; e tudo isso irá acabar! Por que não me separar de antemão para um completo despojamento?

Minha alma deixará meu corpo; e, portanto, o corpo será um objeto inoportuno, do qual meus próprios pais e meus amigos não procurarão senão de livrar, um cadáver infecto, capaz de tudo envenenar se não for enterrado no solo; e o enterrarão, então, e o que será desse corpo de que me ocupei tanto? O que será destes pés, destas mãos, desta cabeça? Que insensato sou, portanto, de embelezar e adornar aquilo que em breve não será mais do que podridão e cinzas! Que insensato eu sou de por em risco, por causa deste corpo e seus prazeres, a minha alma, a minha eternidade!

Então, pensarão muito em mim, entre os homens? Ai de mim! Nós pensamos tão pouco nos mortos! Quem se lembra agora de tal e tal pessoa que eu conhecia, que eu vi morrer! Oh! A estima dos homens é pouca coisa!

Eu morrerei!

Minha alma irá comparecer diante do tribunal de Deus! Ó momento temível! Encontrar-me sozinho na presença de Deus e responder por toda a minha vida diante de um Deus soberanamente justo, soberanamente iluminado, soberanamente inimigo do pecado!

Para escapar desse julgamento, eu não tenho senão um único caminho: julgar a mim mesmo severamente aqui nesta terra, e então eu não serei julgado [severamente].

(Pe. André-Jean-Marie Hamon  - 1795 / 1874)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

ONTEM, HOJE E AMANHÃ


Há dois dias em cada semana com os quais nunca deveríamos nos preocupar: dois dias nos quais deveríamos ficar livres de quaisquer ansiedades ou medos.

O primeiro é o dia de ontem com os seus erros e acertos; seus pecados e tropeços, suas feridas e todas as suas dores. Ontem passou e não está mais sob nosso controle. 

Nem todo o dinheiro do mundo pode trazer o ontem de volta. Não podemos desfazer um único gesto que fizemos; nem apagar qualquer palavra que dissemos. Ontem apenas já era.

O outro dia da semana com o qual não devemos nos preocupar é o amanhã: com as suas adversidades, seus fardos, suas grandes aspirações ou os seus grandes fiascos. O amanhã está além do nosso controle.

Amanhã o sol nascerá como sempre, seja com todo o seu esplendor ou então escondido atrás de um firmamento de nuvens. E até que o sol nasça - amanhã - não devemos ter isso em conta, simplesmente porque o amanhã ainda não existe.

Resta-nos, então, somente um dia. Hoje. Podemos, homens e mulheres, somente lutar as batalhas diárias - do dia de hoje. O que significa no dia de hoje ou libertar ou sobrecarregar a nossa vida com o lastro de ontem ou de amanhã.

Não é a experiência de hoje que nos prostra e nos faz sucumbir, mas os remorsos e as amarguras de ontem ou os temores e angústias que podem nos aguardar o amanhã.

Ontem nunca conheceu o Hoje; Hoje nunca conhecerá o Amanhã. Basta-nos, portanto, viver um dia de cada vez. Viver o Hoje, sempre.

(autor desconhecido; tradução do autor do blog)

domingo, 30 de janeiro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Minha boca anunciará todos os dias vossas graças incontáveis, ó Senhor!' (Sl 70)

 30/01/2022 - Quarto Domingo do Tempo Comum

10. O GRANDE MILAGRE DE JESUS EM NAZARÉ 


A dimensão messiânica de Jesus tinha acabado de ser revelada aos moradores da aldeia de Nazaré, onde Jesus vivera até a juventude, como o filho do carpinteiro (evangelho do domingo anterior). Quase ao término do segundo ano de sua pregação pública e após o batismo por João, Jesus retorna às suas origens para proclamar aos seus conterrâneos que Ele é o Messias prometido das Escrituras. E aí vai experimentar, se não pela primeira vez, talvez a rejeição mais dolorosa, pois oriunda daqueles que lhe eram mais próximos, mais conhecidos, que com Ele conviveram cotidianamente por quase trinta anos.

Jesus havia aberto o livro profético de Isaías nas passagens relativas às previsões messiânicas (Is 61, 1ss). Na sua oratória, embora não se tenha transcrição alguma do conteúdo de sua fala, Jesus certamente teria explicado, com suma riqueza de doutrina e de detalhes, o texto do profeta, como se pode depreender do testemunho do evangelista: 'Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca' (Lc 4,22). À margem o tesouro da doutrina exposta, aquele evento proclamara a chegada do Ungido, do Messias revelado pelos tempos nas Sagradas Escrituras. E a portentosa revelação fôra proclamada pelas palavras finais do Mestre: 'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabaste de ouvir' (Lc 4, 21).

Mas os seus, ainda que admirados de sua pregação e oratória, não vão entendê-Lo. Eles O têm apenas no espectro da perplexidade e de certa admiração e querem ser testemunhas de desmedidos milagres, de feitos muito mais extraordinários daqueles ocorridos em Cafarnaum e por toda a Galileia. Para os homens de Nazaré daquele tempo, faltou a caridade e sem a caridade (conforme 1 Cor 13, 1-13), tudo se torna incomensuravelmente vão. Jesus foi para eles apenas uma sombra de admiração, tolhida pela incredulidade e covardia de tantos que preferiram, por puro preconceito, perder o convite à plena conversão. Da certeza de que um profeta não é bem recebido em sua terra (Lc 4, 24), Jesus vai revelar publicamente na sinagoga a dureza daqueles corações.

Movidos pelo ódio, e por ódio diabólico, agarraram Jesus não apenas com o intuito de expulsar o filho do carpinteiro da pequena aldeia, mas de matar o Salvador, atirando-o do alto de um precipício às portas da cidade. Dominado pela turba enfurecida e em frenesi para cometer um crime dantesco, Jesus manifestou-lhes certamente o extraordinário milagre que queriam ver. Mais tarde, Jesus iria aceitar com submissão o ódio dos homens na sua Paixão e Morte de cruz. Mas ali, ainda não chegara a sua hora. Sob o influxo de sua divindade, Jesus fez calar naqueles homens todos os espíritos ensandecidos e reduziu à impotência os seus frêmitos de ira e 'passando pelo meio deles, continuou o seu caminho' (Lc 4, 30).

sábado, 29 de janeiro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXIV)

 

Capítulo XXIV

Duração do Purgatório - O Duelista - Padre Schoofs e a Aparição em Antuérpia

O exemplo a seguir mostra não só a longa duração da punição infligida por certas faltas, mas também a dificuldade em declinar a Justiça Divina em favor daqueles que cometeram faltas dessa natureza. A história da Ordem da Visitação menciona, entre as primeiras religiosas daquele Instituto, Irmã Marie Denise, chamada no mundo Maria Marignat. Ela era muito caridosa e devotada às almas do Purgatório, e sentia-se particularmente atraída a recomendar a Deus, de maneira especial aqueles que haviam ocupado altas posições no mundo, pois sabia por experiência os perigos a que as suas posições os expunham. Um certo príncipe, cujo nome não é revelado, mas que se acredita pertencer à Casa da França, foi morto em um duelo, e Deus permitiu que ele aparecesse à irmã Denise para pedir-lhe a ajuda da qual tanto necessitava. Ele revelou então que não havia sido condenado, embora o seu crime merecesse condenação. Graças a um ato de contrição perfeita que fez no momento da morte, foi salvo; mas, como punição por sua vida e morte temerosas, havia sido condenado ao mais rigoroso castigo do Purgatório até o Dia do Juízo Final.

A irmã, tomada pela caridade e profundamente tocada pelo estado daquela alma, ofereceu-se generosamente como vítima de expiação em sua intenção. Mas é impossível dizer o que ela teve que sofrer por muitos anos em consequência desse ato heroico. O pobre príncipe não a deixou descansar e a fez participar de todos os seus tormentos. Ela completou o seu sacrifício pela morte; mas, antes de morrer, confidenciou à sua superiora que, em troca de tanta expiação, conseguira para o seu protegido a remissão de apenas algumas horas de sofrimento. 

Quando a superiora expressou o seu espanto com esse resultado, que lhe pareceu totalmente desproporcional a tudo que a irmã havia padecido, a irmã Denise respondeu: 'Ah! minha querida mãe, as horas do Purgatório não são computadas como as da Terra; anos de dor, cansaço, pobreza ou doença neste mundo não são nada comparados a uma hora de sofrimento do Purgatório. Já é muito que a Divina Misericórdia nos permita exercer qualquer influência sobre a sua justiça. Eu estou menos comovida pelo estado lamentável em que vi esta alma definhar do que pelo extraordinário retorno da graça que consumou a obra de sua salvação. O ato pelo qual o príncipe morreu merecia o inferno; um milhão de outros poderiam ter encontrado a sua perdição eterna no mesmo ato em que ele encontrou a sua salvação. Ele recobrou a consciência apenas por um instante, tempo suficiente para cooperar com aquele precioso movimento de graça que o dispôs a fazer um ato de contrição perfeita. Aquele momento abençoado me parece um excesso da bondade, clemência e amor infinito de Deus'. Assim falou a Irmã Denise; ela admirou ao mesmo tempo a severidade da Justiça de Deus e a sua Infinita Misericórdia. Tanto uma quanto a outra brilharam neste exemplo da maneira mais impressionante.

Continuando o assunto da longa duração do Purgatório, relataremos aqui um caso de ocorrência mais recente. O padre Philip Schoofs, da Companhia de Jesus, falecido em Fouvain em 1878, relatou o seguinte fato, ocorrido em Antuérpia durante os primeiros anos de seu ministério naquela cidade. Ele acabara de pregar uma missão e retornara ao Colégio de Notre Dame, então situado na Rue L'Empereur, quando lhe disseram que alguém o esperava no salão. Descendo imediatamente ao salão, encontrou ali dois jovens irmãos, acompanhados por uma criança pálida e doentia de cerca de dez anos.

'Padre' - dizia um deles - 'aqui está uma pobre criança que adotamos e que merece nossa proteção porque é boa e piedosa. Nós o alimentamos e o educamos e há mais de um ano que ele faz parte da nossa família, onde é feliz e goza de boa saúde. Nestas últimas semanas, no entanto, ele começou a ficar mais magro e a definhar, ficando no estado em que se vê agora'. E qual é a causa dessa mudança?' - perguntou o padre. 'É medo' - responderam - 'a criança é despertada todas as noites por aparições. Um homem, ele nos garante, apresenta-se diante dele e ele o vê tão distintamente quanto nos vê em plena luz do dia. Esta é a causa de seu contínuo medo e inquietação. Viemos, padre, pedir-lhe alguma solução'.

'Meus caros' - respondeu o padre Schoofs - 'em Deus há solução para todas as coisas. Comecem, ambos, fazendo uma boa confissão e comunhão, e implorem a Deus que os livre de todo mal, e nada temam. Quanto a você, meu filho, faça bem as suas orações e depois durma tão profundamente que nenhum fantasma possa acordá-lo'. Ele então os dispensou, dizendo-lhes que voltassem caso algo mais acontecesse. Duas semanas se passaram e eles voltaram novamente. 'Padre' - disseram eles - 'seguimos as suas orientações e, ainda assim, as aparições continuam como antes: a criança sempre vê o mesmo homem aparecer'. 'A partir desta noite' - disse o padre Schoofs - 'vigiem na porta do quarto da criança, providos de papel e tinta para escrever as respostas. Quando a criança avisá-lo da presença daquele homem perguntem, em nome de Deus, quem ele é, a hora de sua morte, onde ele viveu e por que ele voltou'.

No dia seguinte eles voltaram, trazendo o papel onde estavam escritas as respostas que haviam recebido. 'Vimos' - disseram eles - 'o homem que aparece para a criança'. Descreveram-no como um velho, do qual só podiam ver o busto, e ele usava um traje dos velhos tempos. Ele lhes disse o seu nome e a casa em que morava em Antuérpia. Morreu em 1636, seguira a profissão de banqueiro nessa mesma casa que, no seu tempo, compreendia ainda as duas casas que hoje se podem ver situadas à direita e à esquerda. Observemos aqui que alguns documentos que comprovam a exatidão dessas indicações foram descobertos nos arquivos da cidade de Antuérpia. Acrescentou que estava no Purgatório e que poucas orações haviam sido feitas por ele. Ele então implorou às pessoas da casa que oferecessem a Sagrada Comunhão por ele e, finalmente, pediu que uma peregrinação fosse feita a Notre Dame des Fievres e outra a Notre Dame de la Chapelle, em Bruxelas. 'Você fará bem em atender a todos esses pedidos' - disse o padre Schoofs - 'e se o espírito retornar, antes de falar com ele, exija que ele diga o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo'.

Eles realizaram as boas obras indicadas com toda piedade possível, e muitas conversões ocorreram. Quando tudo terminou, os jovens retornaram. 'Padre, ele rezou' - disseram eles ao padre Schoofs - 'com um tom de fé e piedade indescritíveis. Nunca ouvimos ninguém orar assim. Que reverência no Pai Nosso! Que amor na Ave Maria! Que fervor no Credo! Agora sabemos o que é orar. Então ele nos agradeceu por nossas orações; ele ficou muito aliviado e disse que teria sido libertado inteiramente se uma assistente em nossa loja não tivesse feito uma comunhão sacrílega. Nós relatamos essas palavras para a pessoa. Ela ficou pálida, reconheceu a sua culpa então, e correndo ao seu confessor, apressou-se a reparar o seu crime'.

'Desde aquele dia' - acrescenta o padre Schoofs - 'aquela casa nunca teve problemas. A família que a habita prosperou rapidamente e hoje é rica. Os dois irmãos continuaram a se comportar de maneira exemplar e irmã deles tornou-se religiosa em um convento, do qual atualmente é superiora'. Tudo nos leva a crer que a prosperidade daquela família foi fruto do socorro prestado à alma que partiu. Após dois séculos de punição, restava a esta alma apenas uma pequena parte da expiação e a realização de algumas boas obras que ele pediu. Quando isso se realizou, ele foi libertado e desejou mostrar a sua gratidão obtendo as bênçãos de Deus sobre os seus benfeitores.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

VERSUS: OLHAR DA ALMA X OLHAR DE DOR

'que ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais a que esperança fostes chamados, e quão rica e gloriosa é a herança que Ele reserva aos santos' (Ef 1,18)





'Deus enxugará toda lágrima de seus olhos' (Ap 7,16)