quinta-feira, 26 de agosto de 2021

SOBRE AMAR OS INIMIGOS...


Ao amares o teu inimigo, desejas que ele seja para ti um irmão. Não queiras amar o que ele é, mas aquilo em que queres que ele se torne. Imaginemos um pedaço de madeira de carvalho em bruto. Um artesão hábil vê essa madeira, cortada na floresta; a madeira agrada-lhe; não sei o que quer fazer dela, mas não é para a deixar como está que o artista gosta dela. A sua arte faz com que pense em que é que se pode transformar essa madeira; o seu amor não é dirigido à madeira em bruto: ele ama o que fará com ela e não a madeira em bruto.

Foi assim que Deus nos amou quando éramos pecadores. Na verdade, Ele disse: 'Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes'. Ter-nos-á Ele amado pecadores para que permaneçamos pecadores? O Artesão viu-nos como um pedaço de madeira em bruto, vindo da floresta; porém, o que Ele tinha em vista era a obra que nela faria e não a madeira em si, nem a floresta.

Contigo passa-se a mesma coisa: vês o teu inimigo opor-se a ti, encher-te de palavras mordazes, tornar-se rude nas afrontas que te faz, perseguir-te com o seu ódio. Mas tu sabes que ele é um homem. Vês tudo o que esse homem fez contra ti, mas também vês nele aquilo que foi feito por Deus. Aquilo que ele é, enquanto homem, é obra de Deus; o ódio que te tem é obra dele.

E que dizes tu para contigo? 'Senhor sê benevolente para com ele, perdoa-lhe os pecados, inspira-lhe o teu temor, converte-o'. Não queiras amar nesse homem aquilo que ele é, mas aquilo que queres que ele venha a ser. Assim, quando amas um inimigo, amas nele um irmão.

(Santo Agostinho)

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XIV)

 

Capítulo XIV

Dores do Purgatório - Aparição de Foligno 
Os Religiosos Dominicanos de Zamora

O mesmo rigor é revelado em uma aparição mais recente, envolvendo uma religiosa falecida de vida exemplar, que deu a conhecer os seus sofrimentos de uma forma calculada para inspirar terror a todas as almas. O evento aconteceu em 16 de novembro de 1859 em Foligno, próximo a Assis, na Itália. Fez muito alarde na Itália e, além da marca visível que se viu, um inquérito feito de maneira adequada e pela autoridade competente o caracterizou como fato incontestável.

No convento dos Terciários Franciscanos de Foligno constava uma irmã chamada Teresa Gesta que, durante muitos anos, foi a encarregada das noviças e, ao mesmo tempo, responsável pela sacristia da comunidade. Ela nasceu em Bastia, na Córsega, em 1797 e entrou para o mosteiro no ano de 1826. Irmã Teresa foi um modelo de fervor e caridade. 'Não precisamos ficar surpresos', disse seu diretor, 'se Deus a glorificar por algum prodígio após sua morte'. Ela morreu repentinamente, em 4 de novembro de 1859, de um ataque de apoplexia.

Doze dias depois, no dia 16 de novembro, uma irmã chamada Anna Felicia, que a sucedeu no cargo, dirigiu-se à sacristia e nela já ia entrar, quando ouviu gemidos que pareciam vir do interior da sala. Com certo receio, apressou-se em abrir a porta, mas não havia ninguém. Mas novamente ela ouviu gemidos, e tão distintamente que, apesar de sua coragem habitual, sentiu-se dominada pelo medo. 'Jesus! Maria!" ela gritou, 'o que pode ser isso?' Ela não havia acabado de falar quando ouviu uma voz queixosa, acompanhada de um suspiro doloroso: 'Ó meu Deus, como eu sofro! Oh! Dio, che peno tanto!'

A irmã, estupefata, reconheceu imediatamente a voz da pobre Irmã Teresa. Em seguida, a sala se encheu de uma fumaça espessa e o espírito da Irmã Teresa apareceu, movendo-se em direção à porta e deslizando junto à parede. Tendo alcançado a porta, ela clamou em voz alta: 'Eis aqui uma prova da misericórdia de Deus'. Dizendo essas palavras, ela bateu no painel superior da porta e deixou ali a marca de sua mão direita, queimada na madeira como se fosse um ferro em brasa. E então desapareceu.

Irmã Anna Felicia ficou como que meio morta de susto. Ela explodiu em gritos de socorro. Uma de suas companheiras acorreu de imediato e, em seguida, toda a comunidade. Elas se comprimiam ao redor dela, surpresas pela presença de um forte odor de madeira queimada. Irmã Anna Felicia contou o que havia acontecido e mostrou-lhes a terrível impressão fixada à porta. Elas imediatamente reconheceram a mão da irmã Teresa, que era notavelmente pequena. Tomadas de pavor, rumaram em direção ao coro, onde passaram a noite em oração e penitência pelos falecidos e, na manhã seguinte, todas receberam a Sagrada Comunhão para o repouso da alma da irmã falecida. 

A notícia se espalhou fora dos muros do convento e muitas comunidades da cidade uniram as suas orações às dos franciscanos. Dois dias depois, em 18 de novembro, Irmã Anna Felicia, indo à noite para sua cela, ouviu ser chamada pelo nome outra vez e reconheceu imediatamente a voz da Irmã Teresa. No mesmo instante, um globo ou luz brilhante apareceu diante dela, iluminando sua cela com o brilho da luz do dia. Em seguida, ouviu Irmã Teresa pronunciar estas palavras com voz alegre e triunfante: 'Morri numa sexta-feira, dia da Paixão, e eis que, na sexta-feira, entro na glória eterna! Seja forte para carregar a sua cruz, seja corajosa para sofrer, ame a pobreza'. Em seguida, acrescentando afetuosamente 'Adieu, adieu, adieu!', ela se transfigurou e, como uma nuvem clara, branca e deslumbrante, elevou-se em direção ao Céu e desapareceu. 

Durante a investigação realizada imediatamente a seguir, em 23 de novembro, na presença de um grande número de testemunhas, foi aberto o túmulo da Irmã Teresa e constatou-se que a impressão na porta correspondia exatamente à mão da falecida. 'A porta, com a marca da mão queimada' - acrescenta monsenhor Segur - 'está preservada com grande veneração no convento. A madre abadessa, testemunha do fato, teve o prazer de me mostrar ela mesma'.

Desejando assegurar-me da perfeita exatidão desses detalhes relatados por monsenhor Segur, escrevi ao bispo de Foligno. Ele respondeu dando-me um relato circunstancial, perfeitamente de acordo com o exposto acima, e acompanhado por um fac-símile da marca milagrosa. Esta narrativa explica ainda a causa da terrível expiação a que foi submetida Irmã Teresa. Depois de dizer: '“Ah! quanto eu sofro! Oh! Dio, che peno tanto!' acrescentou que foi penalizada por ter, no exercício da função na sacristia, transgredido em alguns pontos a extrema pobreza prescrita pela Regra [justificativa, entretanto, de difícil entendimento no contexto dos fatos]. 

De qualquer forma, vemos que a Justiça Divina pune mais severamente as menores faltas. Pode-se perguntar aqui por que a aparição, ao fazer a marca misteriosa na porta, a chamou de 'prova da misericórdia de Deus'. É porque, ao nos dar um aviso desse tipo, Deus demonstra por nós uma grande misericórdia. Ele nos exorta, da maneira muito eficaz, a ajudar as pobres almas padecentes e a estar vigilantes em relação a nós mesmos.

Neste mesmo contexto, podemos relatar um caso semelhante ocorrido na Espanha, e que causou também grandes repercussões naquele país. Fernando de Castela assim o relata em sua História de São Domingos (Malvenda, Annal. Ord. Praedic.). Um religioso dominicano levou uma vida santa em seu convento em Zamora, cidade do reino de Leão. Ele estava unido pelos laços de uma piedosa amizade com um irmão franciscano como ele, homem de grande virtude. Um dia, conversando sobre o assunto da eternidade, prometeram mutuamente que, se fosse do agrado de Deus, o primeiro que morresse deveria aparecer ao outro para lhe dar conselhos salutares. 

O frade menor morreu primeiro; e um dia, enquanto seu amigo, o filho de São Domingos, preparava o refeitório, apareceu a ele. Depois de saudá-lo com respeito e carinho, disse-lhe que estava entre os eleitos mas que, antes de ser admitido no gozo da felicidade eterna, havia sofrido muito por uma infinidade de pequenas faltas das quais não havia se arrependido suficientemente durante a sua vida. 'Nada na terra', acrescentou ele, 'pode lhe ​​dar uma ideia dos tormentos que sofri, e dos quais Deus me permite lhe dar uma prova visível'. Dizendo essas palavras, ele colocou a mão direita sobre a mesa do refeitório, e a marca da sua mão ficou gravada na madeira carbonizada como se tivesse sido aplicada por um ferro em brasa.

Essa foi a lição que o fervoroso franciscano falecido deu ao seu amigo vivo. Foi de grande proveito não só para ele, mas para todos aqueles que viram a marca impressa na madeira queimada; tão profundamente significativa porque tornou-se um objeto de piedade que as pessoas vinham de todas as partes para contemplar. 'Ainda pode ser vista em Zamora', disse o padre Rossignoli (Mervelles, 28), 'na época em que escrevo [em meados do século XVIII]; para protegê-la, a marca foi coberta por uma folha de cobre. A mesa marcada foi preservada até o final do século XVIII, sendo então destruída, durante a época das revoluções, como tantos outros memoriais religiosos.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (91/93)

 

91. SÃO PEDRO, APÓSTOLO

Nasceu em Betsaida, cidade da Galileia. Seu pai chamava-se Jonas, nome que por singular coincidência significa 'pomba'. Em certo sentido, todos os papas são filhos da 'pomba', porque na eleição dos mesmos influi o Espírito Santo. E São Pedro haveria de ser o primeiro papa. Tinha um irmão chamado André, e dois primos, Tiago e João, filhos de Zebedeu e pescadores, como ele no lago de Tiberíades.

Casara-se Pedro em Cafarnaum, porto famoso daquele lago, e vivia muito bem com os seus. Prova disso é que Jesus, sem dúvida a pedido de Pedro, curou-lhe a sogra. Não só era bom esposo, mas - coisa menos frequente - era também bom genro. Um dia entrou Jesus na barca de Pedro e seus companheiros e mandou que remassem para o alto mar e lançassem as redes.

➖ Mestre - disse Pedro - trabalhamos a noite inteira e não pegamos nenhum peixinho; mas, já que assim o queres, em teu nome lançarei as redes.
A pesca foi tão abundante que Pedro se lançou aos pés de Jesus, suplicando:
➖ Afasta-te de mim, Senhor; eu não sou mais que um miserável pescador.
➖ Tem confiança e segue-me. De hoje em diante serás pescador de homens.
E Pedro, abandonando tudo, seguiu prontamente a Jesus. Cristo distinguiu-o muito e prometeu-lhe que o faria seu Vigário e Chefe supremo da Igreja. Pedro, por sua vez, foi o primeiro a afirmar categoricamente que Jesus era o Filho de Deus.

Durante a última Ceia, Pedro mostrou-se excessivamente confiado nas próprias forças. Jesus, porém, disse a ele e aos outros que, quando o vissem preso e maltratado, todos o abandonariam. Pedro replicou impetuosamente:
➖ Ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei.
Nosso Senhor repreendeu-o suavemente, porque sabia que o ardoroso Apóstolo o havia de negar três vezes. E assim foi. Mas Pedro, segundo contam os antigos, chorou tanto esse pecado, que as lágrimas abriram dois sulcos em suas faces.

Depois da Ressurreição, foi nomeado solenemente por Jesus Cristo como Chefe supremo da Igreja , que governou até à morte. Em Jerusalém, o rei mandou prendê-lo para, depois da Páscoa, dar-lhe a morte. Mas, ouvindo as preces dos fiéis pelo primeiro Pontífice, enviou Deus um anjo à prisão e o Apóstolo foi libertado.

Depois de ter estado em Antioquia, fixou Pedro a sua sede em Roma, de onde governou toda a Igreja. Quando Nero decretou a primeira perseguição contra os cristãos, São Pedro foi encerrado na prisão Mamertina, onde permaneceu vários meses em companhia de São Paulo. A 29 de junho do ano 67, o príncipe dos apóstolos foi crucificado sobre uma colina às margens do rio Tibre. Pediu e obteve que o pregassem na cruz de cabeça para baixo, por se julgar indigno de morrer da mesma forma que seu divino Mestre. No lugar do glorioso martírio de São Pedro, levanta-se hoje o Vaticano, onde reside o seu sucessor, o Papa. Festa litúrgica: 29 de junho.

92. SANTA MARIA MADALENA

Nasceu provavelmente em Betânia. Foi filha, segundo Santo Antonino, de Siro e de Êucaris, ambos muito considerados por sua nobreza e fortuna. Eram seus irmãos Marta e Lázaro, a quem Jesus ressuscitou.

Maria Madalena, pela morte de seus pais, herdou o castelo da Magdala e converteu-o em palácio de prazeres mundanos. Suas paixões e as carícias, de que era alvo por causa de sua formosura, levaram-na a cometer graves pecados. Talvez por conselho de seus irmãos foi um dia ouvir a pregação de Jesus. Foi para ela a hora da graça. A grande pecadora - escreve São Gregório - começou a amar a Verdade e resolveu mudar de vida; antes, porém, quis obter o perdão de seu Mestre.

Estava Jesus à mesa em casa de um fariseu, chamado Simão. Maria de Magdala ajoelhou-se a seus pés, regou-os com suas lágrimas de arrependimento, perfumou-os com riquíssimo aroma e enxugou-os com seus próprios cabelos. O fariseu dizia consigo: 'Se este homem fosse profeta, bem saberia que é essa mulher e não consentiria que ela lhe beijasse os pés'. Mas Jesus, penetrando-lhe os pensamentos, disse:

➖ Simão, vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com suas lágrimas e enxugou-os com seus cabelos. Não me deste o beijo da paz; ela, porém, não cessou de beijar-me os pés, desde que entrou. Não me ungiste a cabeça com perfume; ela, porém, ungiu-me os pés com bálsamo precioso... Pelo que te digo que lhe são perdoados os seus pecados, porque amou muito
Depois disse à pobre Madalena: 
➖ Os teus pecados te são perdoados - e acrescentou - A tua fé te salvou; vai-te em paz.

Os Evangelhos contam vários outros episódios em que intervém Maria Madalena. Com São João e as santas mulheres, acompanhou Jesus durante a paixão, esteve aos pés da cruz e ajudou a amortalhar o corpo do Senhor. No domingo, foi a primeira a chegar ao sepulcro e, achando-o vazio, correu a avisar a São Pedro e a São João. Verificando o fato, voltaram para casa; Maria, entretanto, continuou a chorar junto ao sepulcro. 

Olhando para o interior do mesmo, viu dois anjos vestidos de branco, sentados um à cabeceira e o outro aos pés, que lhe perguntaram: 
➖ Mulher, por que choras?
➖ Choro - respondeu - porque levaram daqui o meu Senhor e não sei onde o puseram. 
De repente ouve passos. Volvendo o olhar, vê Jesus a quem toma pelo coveiro e lhe diz: 
➖ Se tu o tiraste daqui, dize-me onde o puseste e eu o levarei. 
Então o suposto coveiro pronunciou o seu nome: 'Maria!' Ela, reconhecendo a voz de Jesus, diz: 'Mestre!' e quis beijar-lhe os pés. Mas Jesus se opôs, dizendo: 
➖'Não me toques, porque ainda não subi ao Pai' - e a encarregou de anunciar aos discípulos a ressurreição.

Segundo antiga lenda, Santa Madalena teve de fugir da Palestina, em companhia de seus irmãos Lázaro e Marta, indo estabelecer-se em Marselha e dizem que Lázaro foi o primeiro bispo dessa cidade. A nossa santa, porém, retirada a uma gruta, passou seus últimos trinta anos de vida fazendo rigorosíssimas penitências. A Igreja celebra a festa desta santa em 22 de julho.

93. SÃO JOÃO MARIA VIANNEY

Nasceu de família humilde numa pequena aldeia da França em 1785. Aos oito anos guardava um pequeno rebanho e, levando consigo uma pequena imagem de Nossa Senhora, reunia os companheiros da sua idade e diante da imagem rezavam o rosário. Outras vezes, confiava à sua irmãzinha a guarda das ovelhas e procurava um lugar solitário para rezar.

Aos treze anos deixou o rebanho e começou a trabalhar na roça. 'Quando estava na roça' - conta ele mesmo - 'rezava em voz alta, se não havia ninguém perto; em voz baixa, quando havia ali algum companheiro'. Ao manejar a enxada, costumava dizer: 'É preciso arrancar a alma das más ervas'. Quando, depois de comer, os outros dormiam a sesta, eu aparentava dormir, mas continuava conversando com Deus em meu coração. Quando ouvia o relógio, dizia: 'Coragem, minha alma; o tempo passa; a eternidade chega; vivamos como condenados a morrer. E rezava uma Ave-Maria'.

Estudou para padre. Muito lhe custou passar nos exames; mas, à força de trabalho, penitência e oração, conseguiu chegar ao bom termo. Seus superiores mostraram-se benévolos com ele, porque reconheciam sua virtude e seu zelo. Foi destinado a reger a pequenina paróquia de Ars. Os moradores de Ars eram indiferentes; não iam à igreja. João Maria recorreu às suas armas favoritas: passava horas inteiras, em oração, diante do sacrário; mortificava-se, disciplinava-se e tudo oferecia a Deus para que tocasse os corações de seus paroquianos. Ao mesmo tempo, esmerava-se em tratá-los com amor e prodigalizar-se conselhos e esmolas.

Pouco a pouco fez-se o milagre, e Ars começou a ser uma paróquia exemplar. A fama da santidade do cura de Ars transpôs fronteiras não só daquela aldeia, mas até da França. Milhares e milhares de pessoas chegavam de toda a parte para confessar-se com o santo, ouvir os seus sermões, solicitar seus milagres. Em 1840, contaram-se mais de 20.000 peregrinos, e esse número continuou aumentando.

Levantava-se, invariavelmente, à meia-noite para dirigir-se à igreja e sentar-se no confessionário. Os penitentes sucediam-se sem interrupção até às sete da manhã, hora em que o vigário celebrava. Terminada a missa, outra vez confissão até às onze. Subia, então, ao púlpito e fazia a sua instrução catequética. Saia da igreja ao meio-dia. Dois guardas precisavam defendê-lo dos empurrões do povo, pois todos queriam vê-lo, falar-lhe, tocá-lo, receber a sua bênção ou guardar alguma palavra sua. Às 13 horas, novamente confissões até à reza da noite.

Perguntaram-lhe uma vez:
➖ Se Deus vos permitisse escolher entre estas duas coisas: ir para o céu, agora mesmo, ou ficar na terra, até o fim do mundo, trabalhando na conversão dos pecadores, que faríeis?
➖ Ficaria na terra.
➖ Até o fim do mundo?
➖ Sim, até o fim do mundo.
➖ Mas, com tanto tempo ainda, não vos levantaríeis tão de madrugada, não é?
➖ Ah! meu amigo; levantar-me-ia como agora, à meia-noite, e seria o mais feliz dos servidores de Deus.

Gozava do dom da profecia e penetrava no mais secreto das vidas e das consciências. Gente não disposta a confessar-se, ou resolvida a fazê-lo mal, ficava surpreendida quando o santo lhe recordava os pecados ocultos, e saía chorando do confessionário. Dissipava as dúvidas com muita facilidade. Fez grandes e inúmeros milagres tanto em vida como depois da morte, cuja data ele mesmo anunciou com exatidão. A 4 de agosto [no original, data indicada como 09 de agosto], aos setenta e três anos de idade, sua alma voou para o céu, onde goza e gozará do prêmio eterno de seus trabalhos e penitências. Festa litúrgica: 4 de agosto.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

domingo, 22 de agosto de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Provai e vede quão suave é o Senhor! (Sl 33)

 22/08/2021 - Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum

39. 'TU ÉS O SANTO DE DEUS!'


Jesus acabara de dizer aos seus discípulos: 'Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós' (Jo 6, 53). Na incompreensão dos mistérios da Eucaristia, muitos já haviam se perguntado: 'Como poderá este dar-nos a sua carne para comermos?' (Jo 6, 52) e agora ainda murmuravam: 'Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?' (Jo 6, 60). Sob a luz irradiante de revelações tão profundas, como poderiam homens de fé tão dúbia entender os divinos mistérios?

E o passo seguinte e natural daqueles homens foi a rejeição. Diante de 'palavras tão duras', onde o pensamento racional não conseguia sustento e amparo, os homens de pouca fé se dispersaram, voltaram atrás e não andavam mais com Jesus. Para eles, era inconcebível Jesus se revelar como 'pão', como 'carne' a ser comida, como 'sangue' a ser bebido, como primícias de vida eterna. O milagre da transubstanciação implica não o aceno morno dos sentidos, mas a experiência definitiva da fé em plenitude.

Jesus vai indagar, então, aos que o cercam: 'Isto vos escandaliza?' (Jo 6, 61) e também aos doze apóstolos em particular: 'Vós também quereis ir embora?' (Jo 6, 67). O caminho do livre arbítrio deve mover o coração humano à acolhida da graça e, por isso, já os alertara previamente: 'É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai' (Jo 6, 65). Ninguém pode ir a Jesus pela metade, aprisionado às mazelas do mundo, subjugado pelos ditames dos sentidos; a vida em Deus exige a entrega total, conformada pela crença definitiva de que Jesus de Nazaré é realmente a Verdade, o Caminho e a Vida: 'As palavras que vos falei são espírito e vida' (Jo 6, 63).

E a plenitude da Verdade é conclamada por todos os seus verdadeiros discípulos pela voz de Pedro: 'A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus' (Jo 6, 68 - 69). Eis aí a profissão da autêntica fé cristã que todos nós, apóstolos e discípulos de Jesus, continuamos a entoar através dos tempos: nós cremos, Senhor, que Vós sois verdadeiramente o Santo de Deus, o Filho de Deus Vivo, a Hóstia da Eterna Salvação, o Corpo, Sangue, Alma e Divindade presentes na Santa Eucaristia, que nos é dada, à luz da fé, para que possamos ser e viver, a cada dia na terra, como novos Cristos a caminho dos Céus.

sábado, 21 de agosto de 2021

ORAÇÃO: ATO DE ACEITAÇÃO DA MORTE (PIO X)


Indulgência Plenária na hora da morte, após a confissão (Papa São Pio X)

Indulgência Parcial de 07 anos e 07 quarentenas ao rezar este ato após a comunhão (Papa Bento XV)

21 DE AGOSTO - SÃO PIO X

São Pio X, rogai por nós!

(acessar links dos santos do mês, já abordados em postagens específicas em SENDARIUM, na aba Calendário dos Santos
situada na barra lateral direita do blog)

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

O EVANGELHO DA ALEGRIA

No Evangelho de São Lucas, a doutrina da revelação de Cristo é sempre recebida e manifestada com santa alegria - a autêntica e verdadeira alegria cristã dos Filhos de Deus.


1. 'Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento (Lc 1, 14)

2.  'Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio' (Lc 1, 44) 

3. 'Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador' (Lc 1, 47) 

4. 'O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma Boa-Nova que será alegria para todo o povo' (Lc 2, 10) 

5. 'Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas' (Lc 6, 23)

6. 'Voltaram alegres os setenta e dois, dizendo: Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!' (Lc 10, 17)

7. 'Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos porque os vossos nomes estejam escritos nos céus' (Lc 10, 20)

8. 'Naquela mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: Pai, Senhor do céu e da terra, eu te dou graças porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos (Lc 10, 21) 

9. 'E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo' (Lc 15, 5) 

10. 'Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende' (Lc 15,10)

11. 'Digo-vos que assim have­rá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento' (Lc 15, 7)

12. 'Ele [Zaqueu] desceu [do sicômoro] a toda a pressa e recebeu-o alegremente (Lc 19,6)

13. 'Quando já se ia aproximando da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, tomada de alegria, começou a louvar a Deus em altas vozes, por todas as maravilhas que tinha visto' (Lc 19, 37) 

14. 'Mas, vacilando eles ainda e estando transportados de alegria, perguntou: Tendes aqui alguma coisa para comer?' (Lc 24, 41)

15. 'Depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo' (Lc 24, 52)