segunda-feira, 22 de outubro de 2018

SOBRE OS JUÍZOS EXTREMADOS DE DEUS

É no Sacramento do Seu Amor que o Senhor revela a severidade dos Seus juízos e o rigor da Sua Justiça, para com aqueles que o profanam. Estes juízos cairão sobre duas espécies de pessoas: sobre aqueles que não Me recebem e sobre os que Me recebem indignamente.

Os primeiros vivem num estado de morte. Parecem-se com uma árvore que já não tem seiva, que seca e morre; parecem-se com um peixe lançado fora da água, que não está já no seu elemento indispensável e morre; são como um homem que desejaria não somente manter a sua força e vigor, mas ainda mesmo viver sem beber nem comer.

Eu sou a seiva da alma; Eu sou o alimento em que ela sabe e pode mover-se e agitar-se; Eu sou o seu Alimento, a sua bebida, e todo aquele que não come nunca a Minha Carne Eucarística e não bebe nunca o Meu Sangue, de modo algum terá a vida. Morre, dia-a-dia, cada vez mais; e o dia da sua morte será aquele em que Eu Mesmo lhe mostrarei, tanto o Meu rigor como a Minha justiça, no fundo dos abismos.

E vós, sacrílegos, que ingratidão a vossa! Não há termos que possam exprimir a perfídia do vosso crime. De que castigos vos tornais dignos, quer sejais instruídos, quer ignorantes! Vós, que sois instruídos e conheceis melhor a grandeza deste Sacramento, sois mais culpados, ministros de Satanás, do que os doutores e príncipes dos sacerdotes, na medida em que devíeis conhecer, melhor do que eles, a Minha Divindade. Eles entregaram-Me às mãos dos Meus maiores inimigos: os demônios. E vós, que sois ignorantes, procurai instruir-vos. Acaso sereis ignorantes ao ponto de não saber que receber este Sacramento em pecado mortal é cometer um sacrilégio? 

Aquele que comunga indignamente torna-se culpado do Sangue de um Deus, torna-se semelhante aos Judeus, que com ele se comprometeram; e, com eles, carregam ainda hoje a maldição que sobre si mesmos lançaram. Eles são, e serão sempre, os túmulos e os alvos dos castigos de Deus, e sobre a sua cabeça pesará sempre a justiça. Dispersos por aqui e por além, cumprem a palavra que Eu Próprio lhes havia dito: 'Serão dispersos e a sua cidade será destruída de uma ponta à outra, de modo que não ficará nela pedra sobre pedra' (Mc 13,2; Lc 21,6; Mt 24,2; Lc 19,44).

A comunhão indigna é um pecado tão grande, que toda a gente lhe tem horror; e entretanto, é o que há de mais frequente. Aquele que dela se torna culpado sente-lhe a confusão e torna-se como os Judeus, porque toda a gente tem pelos Judeus um secreto desprezo, um certo terror. Os filhos suportam a pena do crime de seus pais; este povo vive numa insensibilidade que faz pena. Também o que comunga indignamente cai numa indiferença, que o torna insensível a tudo; ou então é devorado pelos remorsos de consciência e, assim, este Sacramento traz com ele mesmo o castigo.

Uma primeira comunhão indigna perturba suficientemente uma alma; uma segunda endurece-a já um pouco; uma terceira e seguintes fazem-na cair na insensibilidade, e mesmo no desprezo pelas coisas santas, com uma segurança e letargia verdadeiramente mortais. Ó como é raro que aquele que profanou os sacramentos durante a vida, os receba com boas disposições na hora da morte! E quantos morrem no desespero ou nessa tal indiferença, que os torna insensíveis a tudo! 

Aquele que faz uma comunhão indigna sente no fundo do seu coração um medo, um desespero, um ódio a Deus que é o princípio daquilo que o devorará na eternidade. Tudo o leva ao desespero, em vez de o levar à confiança. Fala-se-lhe nos últimos sacramentos? Mas a recordação daqueles que ele mesmo profanou durante a sua vida perturba-o. Apresenta-se-lhe uma Cruz? Mas este gesto, em vez de consolá-lo, reprova-lhe o seu crime. E a maior parte morre nesta insensibilidade. Morrem! E, tantas vezes, pensando em tudo menos em Mim, sendo esses Sacramentos como que a confirmação da sua recusa ou reprovação.

Deste modo, é bem verdade dizer que o Senhor manifesta, neste Sacramento, a severidade dos Seus juízos e o rigor da Sua Justiça. Nenhum outro pecado o Senhor castiga tão severamente como uma comunhão sacrílega. Enfim, tudo está resumido nestas palavras, que Eu Mesmo disse: 'Aquele que Me recebe indignamente, come e bebe a sua própria condenação' (1Cor 11,29).

(Escritos Espirituais da Serva de Deus Maria Lataste)

domingo, 21 de outubro de 2018

QUEM ESTARÁ À DIREITA OU À ESQUERDA DO SENHOR?

Páginas do Evangelho - Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum


A glória humana alimentava o pedido despropositado de Tiago e João, filhos de Zebedeu, feito a Jesus quando da sua derradeira subida a Jerusalém: 'Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!' (Mc 10, 37). Aqueles dois homens (que representam o conjunto de todos os demais apóstolos, que se 'indignaram' depois pela audácia deles), mais do que moldados pela graça, ainda estavam envoltos pela penumbra das glórias terrenas e, na dimensão dos poderes de um reino fictício no mundo dos homens, pleiteavam os postos mais elevados 'à direita e à esquerda' do Senhor.

Jesus vai prometer a ambos uma glória muito maior que qualquer poder concedido na escala dos homens. Os poderes e as glórias do mundo, por maiores que sejam, são instáveis e passageiros; Jesus tem a oferecer a eles heranças eternas. Na busca dos valores humanos, imperam a cobiça, a ambição, a disputa desenfreada por aplausos e pompas; a eternidade é moldada pelo recolhimento interior, pela oração e despojamento do ser, pela via do sofrimento e da dor: 'Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?' (Mc 10, 38).

Quando ambos afirmam que 'sim', estão sendo apenas suscetíveis à crença de superação de dificuldades passageiras. Não conseguem vislumbrar os eventos tão próximos da Paixão e Morte do Senhor, o drama do Calvário, tantas vezes mencionado e reafirmado por Jesus em outras ocasiões. Jesus vai, num primeiro momento, confirmar este 'sim': 'Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado' (Mc 10, 39). Com efeito, São João, o discípulo amado, acompanhou Jesus até o instante derradeiro da Paixão e Morte na Cruz; São Tiago foi o primeiro apóstolo a colher as palmas do martírio.

Mas, em seguida, Jesus os alerta que as moradas eternas estão destinadas àqueles forjados pela Santa Vontade do Pai: 'não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado' (Mc 10, 40). Na escala dos valores eternos, o maior é o que serve a todos, o posto mais alto será destinado ao que, por amor a Deus, tornar-se o menor entre os seus irmãos. A verdadeira glória passa pelo Calvário, por uma senda de dor e de sofrimento, e quem estará 'à direita ou à esquerda' de Jesus será aquele que viver e morrer, com maior semelhança, a própria vida e morte do Senhor: 'Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos' (Mc 10, 45). 

sábado, 20 de outubro de 2018

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Se um povo fica gradualmente depravado, se vende os seus votos, se entrega o governo a homens maus e criminosos, então esse poder de conceder honras é corretamente removido de tais pessoas e dado àqueles que são bons'. 
(Santo Agostinho)

'Não existe verdadeira fraternidade fora da caridade cristã. Através de Deus e de seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador, a caridade cristã abrange todos os homens, para consolar todos, e para os conduzir todos à mesma fé e à mesma felicidade celestial. Separando a fraternidade da caridade cristã assim entendida, a democracia, longe de ser um progresso, constituiria um desastroso recuo para a civilização'.
(São Pio X)

VIDA DO PADRE PIO EM FATOS E FOTOS (IX)

PADRE PIO E A IMAGEM PEREGRINA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Em 6 de agosto de 1959, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em visita a várias cidades italianas, foi levada até San Giovanni Rotondo, onde o Padre Pio encontrava-se, então, gravemente enfermo. 

Fazendo um grande esforço físico, Padre Pio dirigiu-se de sua cela até à igreja para beijar e venerar a imagem da Virgem, em cujas mãos colocou um terço de ouro. A foto acima ilustra este momento, com a mão do santo coberta pela luva que usava para esconder os estigmas e com o braço sendo sustentado por alguém, dada a condição de sua debilidade física.

O fato concreto é que, logo após a vista da imagem peregrina de Nossa Senhora, Padre Pio ficou completamente restabelecido, a ponto de dizer que nunca tinha estado tão bem de saúde.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A ESCADA PARA O CÉU

Um dia, ocupado no trabalho manual, comecei a pensar no exercício espiritual do homem. E eis que, de repente, enquanto refletia, se apresentaram a meu espírito quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação.

Esta é a escada dos monges, que os eleva da terra ao céu. Embora dividida em poucos degraus, ela é de imenso e incrível comprimento, com a ponta inferior apoiada na terra, enquanto a superior penetra as nuvens e perscruta os segredos do Céu (Gn 28,12).

Estes degraus, assim como são diversos em nome e em número, também se distinguem pela ordem e o valor. Se alguém examina diligentemente suas propriedades e funções, o que produz cada um deles para nós, e como diferem e se hierarquizam entre si, achará pequeno e fácil por sua utilidade e doçura todo o trabalho e esforço que lhes dedicar.

A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação do espírito. A meditação é uma ação deliberada da mente, a investigar com a ajuda da própria razão o conhecimento duma verdade oculta. A oração é uma religiosa aplicação do coração a Deus, para afastar os males ou obter o bem. A contemplação é uma certa elevação da alma em Deus, suspensa acima dela mesma, e degustando as alegrias da eterna doçura.

A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada, a meditação a encontra, a oração a pede, a contemplação a experimenta. Por isso, o Senhor mesmo diz: 'Buscai e encontrareis, chamai e se vos abrirá'. Buscai lendo e encontrareis meditando, chamai orando e abrisse-vos contemplando. 

A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida. Para que se possa ver isto de modo mais expressivo, suponhamos um exemplo entre muitos.

(Excertos de carta de um irmão cartuxo)

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

BREVIÁRIO DA CONFIANÇA (IV)


17 DE OUTUBRO

GOLPES DE MISERICÓRDIA 

Os golpes que sofremos na vida vêm do Alto. São golpes de misericórdia, golpes de cirurgião, para curar. Ferem, causam dor, provocam gemidos? Não importa. Deixemos que o Médico Divino faça a operação necessária. Sem ela nos perderemos. Abençoemos a Mão Divina, que nos fere por misericórdia. É mão de pai, de amigo, que nos quer salvar. Não há outro remédio para nossa salvação. 

O Senhor, na Sua Providência Amorosa, decretou bater-nos, ferir-nos. Faça-se a vontade Divina, toda santa, toda amável! Um dia, no Céu, compreenderemos tudo. E' por castigo que Deus, muitas vezes, nos deixa na prosperidade. Felizes os que são batidos pela Mão Divina! E' o sinal mais certo de que caminham para a salvação. Sofremos, choramos, aflige-nos a dor? Vamos! Coragem! Deixemos que os golpes nos firam, que nos abram feridas, que as façam sangrar! Tudo será bom para o Céu. 

E' com sangue e com lágrimas que se argamassa aqui o edifício do Amor. São golpes de misericórdia ou, melhor, do Amor Misericordioso. Nas nossas aflições, é assim que devemos rezar: 'Batei, cortai, feri, meu Deus, contanto que me salve. Faça-se a Vossa Santíssima e Adorável Vontade!' Nos golpes que nos vêm do Alto, há justiça e misericórdia. A Justiça pune e expia o pecado. A misericórdia salva, purifica e nos leva ao Amor.


18 DE OUTUBRO

A MELHOR DAS ORAÇÕES 

A melhor das orações é o 'Pai Nosso' e, no 'Pai Nosso', o melhor é aquele 'Seja feita a Vossa Vontade assim na terra como no Céu'. Nesse conceito está todo o segredo da santidade. Não basta dizer: 'Senhor/ Senhor!' É mister acrescentar: 'Seja feita a Vossa Vontade'. 'Não são os que dizem: "Senhor! Senhor!" ­- diz o Evangelho - que hão de entrar no Reino dos Céus, mas som os que fazem a Vontade do Pai Eterno'. 

Pouco importam mil coroas e devoçõezinhas originais, se não sabemos conformar a nossa vontade com a Vontade de Deus.  Já  disse e repito: 'Fazer o que Deus quer e querer a que Deus faz, é  a melhor das orações'. E nisto se resume toda a vida cristã. A oração de conformidade é a mais perfeita e agradável a Nosso Senhor. Porque nos sobrecarregarmos frequentemente com tantas devoções, até com prejuízo dos deveres mais graves de estado, e observarmos todas tão escrupulosamente, se o essencial, que é o dever, talvez monótono, fica esquecido e desprezado, e não aceitamos sem revolta o que Deus Nosso Senhor nos envia de sofrimentos e cruzes? 

Digamos, sim, o 'Pai Nosso' todo dia, e com fervor. Não nos esqueçamos, porém, de que, se a prece dominical é a melhor das orações, é justamente porque naquele 'Seja feita a Vossa Vontade assim na terra como no Céu' se resume toda a nossa vida cristã.

(Excertos da obra 'Breviário da Confiança', do Mons. Ascânio Brandão, 1936)

terça-feira, 16 de outubro de 2018

POEMAS PARA REZAR (XXVII)



OS ANOS SÃO DEGRAUS

Os anos são degraus; a vida, a escada. 
Longa ou curta, só Deus pode medi-la. 
E a Porta, a grande Porta desejada, 
só Deus pode fechá-la, 
e pode abri-la. 

São vários os degraus: alguns sombrios, 
outros ao sol, na plena luz dos astros, 
com asas de anjos, harpas celestiais; 
alguns, quilhas e mastros 
nas mãos dos vendavais. 

Mas tudo são degraus; tudo é fugir 
à humana condição. 
Degrau após degrau, 
tudo é lenta
 ascensão. 

Senhor, como é possível a descrença, 
imaginar, sequer, que ao fim da estrada 
se encontre após esta ansiedade imensa 
uma porta fechada 
e nada mais?

(Fernanda de Castro, escritora e poetisa portuguesa, 1900 - 1944)