segunda-feira, 15 de outubro de 2018

15 DE OUTUBRO - SANTA TERESA DE ÁVILA


Terceira dos nove filhos do segundo casamento de Alonso Sanchez Cepeda e Beatriz D'Ávila y Ahumada, Teresa nasceu em 28 de março de 1515 na cidade medieval de Ávila, na região de Castela (Espanha). Inteligente e extremamente afável, desenvolveu desde muito cedo um espírito de intensa oração e vida interior que a levaria, antes dos 20 anos, a ingressar no Convento da Encarnação das Carmelitas onde vivenciou fenômenos místicos extraordinários, como a transverberação de seu coração por um Serafim e o 'desposório místico' com Cristo.

Superando doenças e provações diversas, transformou-se, então, na grande reformadora da Ordem dos Carmelitas, a partir de 1562, quando passou a aplicar à mesma as regras formais dos antigos conventos, impondo o rigor das orações, do silêncio completo e de meditações contínuas. Neste modelo, fundou vários outros conventos e, junto com São João da Cruz, o ramo masculino dos Descalços. Seus escritos e obras expressam a singular inspiração mística de sua vida interior e a poesia de sua intimidade espiritual com Cristo.  

Em 1582, durante uma viagem a Alba de Tormes, seu estado de saúde piorou rapidamente e a santa teve a certeza que era chegada a hora de sua morte. Ao receber os últimos sacramentos do Pe. Antônio de Heredia, ergueu-se de repente do leito exclamando: 'Oh, Senhor, por fim chegou a hora de nos vermos face a face!' e, em seguida, pronunciou sua última frase: 'Morro como filha da Igreja'. Eram 9 horas da noite do dia 4 de outubro de 1582. Uma vez que, exatamente no dia seguinte efetuou-se a mudança para o calendário gregoriano com a supressão de dez dias do mesmo, a data de sua celebração é comemorada no dia 15 de outubro.

Suas relíquias repousam ainda em Alba de Tormes. Teresa foi beatificada pelo Papa Paulo V em 1614 e canonizada por Gregório XV em 1622. O Papa Paulo VI, em 27 de setembro de 1970, proclamou Santa Teresa de Ávila como Doutora da Igreja.

domingo, 14 de outubro de 2018

O JOVEM RICO E AS CONTINGÊNCIAS DA GRAÇA

Páginas do Evangelho - Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum


'Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?' (Mc 10, 17). Eis a pergunta do jovem rico, ao correr ao encontro de Jesus e lhe atirar aos pés, cheio da iniciativa da graça. Eivado das riquezas do mundo, encontrara tempo e discernimento para buscar valores mais altos e definitivos, que pavimentam caminhos de heranças eternas. Tal santa predisposição, ainda que bela, entretanto, é movida apenas pela natureza humana. 

O jovem rico vê em Jesus um santo, um sábio, um mestre, mas não como Deus. Ciente dessa visão, ao vislumbrar o coração do moço cheio de bons propósitos, Jesus vai questioná-lo sobre ser chamado por ele de 'bom', sob uma mera conduta da concessão humana da admiração, quando Ele, por ser Deus, é a própria Bondade Infinita. Em seguida, Jesus o conclama a ir muito mais longe nos mistérios da graça, ciente de suas virtudes em praticar os mandamentos que acabara de enumerar. Consumado de amor, Jesus o invoca aos cumes da vida espiritual: 'Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!' Ao ouvir isso, porém, o jovem 'ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico' (Mc 10, 22).

'Vem e segue-me!' Jesus convidou aquele jovem rico para ser um outro Apóstolo, para herdar desde já a sua herança eterna nos caminhos poeirentos da terra, para tomar posse da verdadeira riqueza, aquela que se guarda no próprio Coração de Deus. E recebeu um não como resposta, cujo eco de insensatez e de vicissitude há de perpassar por todos os tempos e gerações. Um não nascido da tibieza e do orgulho, das mazelas de uma alma enriquecida apenas dos valores humanos na prática dos mandamentos, mas pobre na sabedoria da graça, daquela sabedoria em relação à qual 'todo o ouro do mundo é um punhado de areia e, diante dela, a prata será como a lama' (Sb 7, 9).

A verdadeira riqueza está em Deus. Os valores do mundo, todos os valores do mundo, incluindo a posse de mais ou de menos bens materiais, são efêmeros e incertos. O Reino de Deus é um tesouro impossível de ser encontrado por aqueles que, como o jovem rico, são apegados aos bens e dons desta vida e uma porta aberta, quando trilhado por aqueles que se fazem pobres de espírito para compartilharem as suas misérias com a infinita misericórdia de Deus. Dispor o que se recebe, repartir o que se tem, abandonar todos os apegos terrenos por causa do Evangelho: eis a regra de ouro para se almejar as heranças eternas e acumular tesouros sem limites nos Céus: 'Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna' (Mc 10, 29 - 30).

sábado, 13 de outubro de 2018

FOTO DA SEMANA

'Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus' (Is 40, 3) 

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA APARECIDA

A história é bem conhecida: em 1717, Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos (Conde de Assumar), efetivado como governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, viajou de navio de Portugal a Santos, com grande comitiva. Tomando posse do governo em São Paulo, seguiu rumo às minas de ouro em Minas Gerais, fazendo uma longa parada em Guaratinguetá, no período de 17 a 30 de outubro. Para a recepção do ilustre viajante, foram-lhe servidos os melhores pratos da culinária local, incluindo os saborosos pescados do Rio Paraíba do Sul.

Para a nobre tarefa de pescar uma grande quantidade de peixes, foram convocados os pescadores Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos, entre outros. Entretanto, mesmo com o conhecimento enorme que tinham dos melhores pontos de pesca, não conseguiam nada. Mas algo extraordinário estava para ocorrer. Na rede lançada, surgiu primeiro uma pequena imagem em terracota de Nossa Senhora da Conceição, sem a cabeça, que foi recolhida e guardada com zelo pelos pescadores no fundo do barco. E eis que, numa nova investida, mais abaixo no rio, sem nada de peixe, veio a cabeça da imagem. Um objeto de dimensões tão reduzidas coletado do leito largo e vigoroso do Paraíba do Sul! E, surpresa ainda maior, novas investidas da rede trouxeram agora cardumes de peixes, em tão grande quantidade, repetindo-se, no largo do Porto de Itaguaçu, o milagre de Cristo no Mar da Galileia.


Cientes dos fatos extraordinários ocorridos, os pescadores locais recuperaram a imagem e passaram a venerá-la em suas casas, como imagem peregrina, até que a mesma foi colocada em pequeno oratório na casa de Atanásio Pedroso, filho de Felipe, e depois, com o culto já generalizado na ‘Nossa Senhora Aparecida’, erigiu-se uma pequena capela de sua devoção em Itaguaçu, com o apoio do Padre José Alves Vilela, pároco da Igreja de Santo Antônio de Guaratinguetá. Sob a sua coordenação, a devoção recebeu a aprovação episcopal e foi construída, então, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no chamado Morro dos Coqueiros, inaugurada em 1745, apenas 28 anos após o achado da imagem. Em torno da igreja, implantou-se rapidamente uma comunidade que constitui hoje a cidade de Aparecida. A igreja tornou-se de imediato centro de romarias e de devoções marianas de toda a natureza.


Com a intensa participação popular e, pela ausência de sacerdotes no Brasil, optou-se pela solicitação de auxílio junto a comunidades religiosas europeias. Em 1894, com a chegada dos padres redendoristas alemães, as atividades religiosas, os cultos e as romarias tornaram-se muito mais organizados, favorecendo muito a rápida difusão da evangelização e a consolidação da igreja como santuário de frequente peregrinação. Tais eventos culminaram com a solene coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida em 8 de setembro de 1904 (com manto azul e coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, ofertados pela Princesa Isabel em visita ao santuário em 6 de novembro de 1888) e com a elevação do santuário à condição de Basílica Menor em 29 de abril de 1908. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI outorgou o título de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do BrasilEm 1967, ano da comemoração do jubileu dos 250 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o Papa Paulo VI ofertou ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil uma Rosa de Ouro, ato repetido pelo Papa Bento XVI em 2007. O dia da Padroeira do Brasil é celebrado em 12 de outubro, feriado nacional. 

As enormes e crescentes manifestações populares exigiram a construção de uma nova basílica, com dimensões e infraestrutura compatíveis com o maior centro de peregrinação espiritual do Brasil que se tornou Aparecida. Desta forma, entre 1955 e 1980, foi construída a atual Basílica, inaugurada a 04 de julho de 1980 pelo Papa João Paulo II e elevada a Santuário Nacional em 1984. Que continua a receber milhares de peregrinos, infindáveis romarias, em agradecimento, louvor e veneração à Virgem Padroeira do Brasil. Na Sala das Promessas, em meio a milhares de ex-votos, tem-se uma ideia da admirável senda de prodígios e milagres alcançados por tantos romeiros e fieis, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida.


Em Aparecida, ao contrário de tantos outros centros de peregrinação mariana, a Virgem fez-se aparecer apenas sob a forma de uma pobre e pequena imagem de terracota de 38cm de altura, sem quaisquer visões, mensagens ou prodígios sobrenaturais, para falar aos simples, aos humildes, aos fracos, aos desvalidos, que as almas simples, despojadas de valores intrinsecamente humanos e entregues somente à confiança e à misericórdia de Deus por Maria, são as glórias dos Céus.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA APARECIDA

Ó Senhora da Conceição Aparecida, que fizestes tantos milagres que comprovam vossa poderosa intercessão junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, obtende para nossas famílias as graças de que tanto necessitam. Defendei-nos da violência, das doenças, do desemprego e, sobretudo, do pecado, que nos afasta de Vós. Protegei nossos filhos de tantos fatores de deformação da juventude. E concedei a todos os membros de nossas famílias a graça de poderem trilhar o caminho de perfeição e de paz ensinado por Vosso Divino Filho, que afirmou: "Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo!" Amém.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XVIII)

III 

DOS DONS DO ESPÍRITO SANTO CORRESPONDENTES À FÉ: DOM DE ENTENDIMENTO E DOM DE CIÊNCIA - VÍCIOS OPOSTOS: CEGUEIRA DO ESPÍRITO E INSENSIBILIDAD

É suficiente a virtude da fé para conhecer as verdades sobrenaturais na medida com que podemos conhecê-las neste mundo? 
Com a cooperação de alguns dons do Espírito Santo, sim, Senhor (VIII, 2)*. 

Quais são os dons do Espírito Santo destinados a cooperar com a fé? 
Os de entendimento e ciência (VIII, IX). 

De que maneira auxilia o dom do entendimento a virtude da fé, para conhecer as verdades reveladas?
Se se trata de verdades que não excedem a capacidade de nosso entendimento, fazendo que este, debaixo do influxo direto do Espírito Santo, penetre no sentido íntimo e mais recôndito dos enunciados divinos e das proposições que com eles guardam relação; e quando se trate de mistérios, fazendo-lhe ver que não se lhes opõe nenhuma outra verdade conhecida, apesar dos problemas e dificuldades que os mistérios apresentam (Ibid). 

Logo, o dom do entendimento é o dom de iluminação por excelência? 
Sim, Senhor, e quanto de claridade e puros gozos intelectuais da ordem sobrenatural há em nós, o devemos ao dom de entendimento, o qual faz frutificar na alma os germes da verdade infinita, objeto próprio e direto da virtude da fé. 

Influi também o dom do entendimento na prática das virtudes? 
Sim, Senhor; visto como tem por objeto por em relevo os bens sobrenaturais anunciados e prometidos na Revelação, com o intuito de que a vontade, divinizada pelo amor de caridade, as busque como meio de alcançar a eterna bem-aventurança (VIII, 3, 4, 5). 

Podereis dizer-me em que se distinguem a fé e outros dons do Espírito Santo, tais como os de sabedoria, ciência e conselho, do dom do entendimento, suposto que a fé e os outros dons aperfeiçoam a mesma inteligência? 
Sim, Senhor; a fé tem por objeto propor-nos três classes de verdades reveladas: umas referentes a Deus na ordem sobrenatural, outras às criaturas, e outras à direção e governo dos atos humanos. Pode o homem prestar-lhes assentimento, mediante a fé; porém, não pode compreendê-las, nem penetrar o seu sentido íntimo, de modo que lhe sirvam de base para formular juízo fundado e seguro. Manifestar o sentido íntimo, próprio e exclusivo das verdades reveladas é objeto do dom do entendimento; formar juízo reto e seguro, nas referentes a Deus, é o objeto próprio do dom da sabedoria; nas concernentes às criaturas é objeto do dom de ciência e no que diz respeito aos atos humanos é objeto do dom de conselho (VIII, 6). 

Tomando em conta estas doutrinas, podeis explicar-me o objeto e alcance do dom de ciência? 
É o dom da ciência uma virtude por mercê da qual, o cristão, no estado de graça e diretamente movido pelo Espírito Santo, conhece e distingue imediatamente, sem discurso, nem raciocínio, de modo direto, poderemos dizer, intuitivo, o que é objeto da fé, regra de bem proceder e ato virtuoso, daquilo que não é objeto de fé, e a maneira como havemos de servir-nos das criaturas para nos acercarmos da Verdade Suprema, objeto da fé e último fim de nossas ações (IX, 1, 3). 

Tem este dom importância especial em nossos dias? 
Sim, Senhor; porque é o remédio por excelência para uma das maiores pragas que afligem o gênero humano desde a época da Renascença. 

A que praga vos referis? 
A uma que prevaleceu até nos povos, em outro tempo, profundamente cristãos, o reinado da falsa ciência que, esquecida de como as criaturas devem servir de meios para nos acercarmos do Criador, na ordem especulativa converteu o estudo em arma para combater a fé e, na prática, renovou os costumes corrompidos dos antigos pagãos, tanto mais perniciosos, quanto sucediam a uma esplêndida floração das virtudes sobrenaturais praticadas pelos Santos. 

É esta uma das principais causas dos males que afligem a sociedade moderna? 
Sim, Senhor. 

Onde, pois, acharemos um poderoso remédio contra os males desta sociedade ímpia e afastada de Deus? 
Na virtude da fé, e em seus inseparáveis aliados, quando o homem está em graça, os dons de entendimento e ciência. 

Quais são os vícios opostos a estes dons? 
Ao dom da ciência, se opõe a ignorância; ao do entendimento, a cegueira do espírito e a insensibilidade ou embrutecimento dos sentidos. 

Donde provêm estes vícios, especialmente estes dois últimos? 
Particularmente dos pecados carnais que asfixiam a alma (XV, 3) 

IV 

PRECEITOS CONCERNENTES À FÉ - O ENSINO CATEQUÉTICO E A SUMA DE SANTO TOMÁS DE AQUINO 

Existem na lei divina preceitos concernentes à fé? 
Sim, Senhor; e particularmente na lei nova.

Por que não se exigiu do povo Judeu conhecimento e fé explícita dos mistérios em concreto, ou pelo menos dos principais, o da Trindade e o da Encarnação, como se exige, hoje de todos os homens? Porque o mistério da Encarnação não existia no Antigo Testamento senão em sua figura e promessa, e estava reservada a Jesus Cristo a missão de revelá-lo conjuntamente com o da Santíssima Trindade.

Por conseguinte, que coisas estavam obrigados a crer os fiéis da antiga lei? 
Explicitamente, nada em particular, nem em concreto dos dois grandes mistérios; implicitamente, tudo, já que acreditavam na inefável grandeza de Deus e confiavam nas suas divinas promessas (XVI, 1). 

Era isto suficiente para que seus atos de fé fossem atos de virtude sobrenatural? 
Sim, Senhor. 

É nossa fé mais completa e perfeita que a dos Judeus?
Sim, Senhor. 

Em que consiste esta superioridade? 
Em que a eles apenas foi dado entrever de uma maneira vaga e simbólica os mistérios sobrenaturais da glória, que a nós, ainda que velados e entre sombras, expressamente se nos declaram. 

Estamos obrigados a meditar neles com frequência e a exercitar-nos em penetrar o mais recôndito do seu sentido, mediante os dons do Espírito Santo? 
Sim, Senhor; e com o fim de facilitar-nos o cumprimento desta obrigação, emprega a Igreja todo o zelo e diligência em ensinar aos fiéis as verdades da fé. 

Que método emprega ordinariamente a Igreja? 
O de ensinar o catecismo. 

Logo, têm obrigação todos os fiéis de aprender o catecismo na medida que lho permitam as suas faculdades? 
Sim, Senhor. 

Tem o Catecismo importância e autoridade especiais? 
Sim Senhor; porque é uma iniciação no estudo e conhecimento das mais sublimes e deslumbradoras verdades da ordem sobrenatural. 

Quem exerce o magistério catequético? 
A Igreja, por intermédio dos seus maiores gênios e doutores. 

Podemos dizer que o ensino do catecismo é fruto dos dons do Espírito Santo, na Igreja de Deus? 
Sim, Senhor; porque no fundo se reduz a propor aos fiéis, com maior ou menor extensão, o mais apreciado e maravilhoso fruto dos dons do Espírito Santo, a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino. 

Tem a Suma Teológica grande e especialíssima autoridade na Igreja de Cristo? 
Sim, Senhor; a Igreja impõe a todos os que ensinam em seu nome a obrigação de inspirar-se nela e ensinar as suas doutrinas (Código de Direito Canônico, 589, 1366). 

É, por conseguinte, digno do maior encômio, o labor dos que a este ensino se dedicam? 
Sim, Senhor; porque é o meio mais seguro para que ninguém se desvie do que ensina a fé e do que exige a razão.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A BELEZA MORAL

A fim de conservar seu equilíbrio mental e mesmo orgânico, cada indivíduo é obrigado a ter uma regra interior. O Estado pode impor pela força a legalidade, mas não as leis da moral. Cada um deve entender a necessidade de fazer o bem e de evitar o mal, e se submeter a esta necessidade por um esforço de sua própria vontade.

A Igreja Católica, em seu profundo conhecimento da psicologia humana, colocou as atividades morais bem acima das atividades intelectuais. Os indivíduos que ela honra acima de todos os demais não são nem os condutores dos povos, nem os sábios, nem os filósofos. São os santos, ou seja, aqueles que, de modo heroico, foram virtuosos.

Quando se estuda os habitantes da Cidade Nova, se percebe a necessidade do sentido moral. Inteligência, vontade e moralidade são funções muito próximas umas das outras. Porém o sentido moral é mais importante que a inteligência. Quando ele desaparece de uma nação, toda a estrutura social começa a estremecer. Nas pesquisas de biologia humana, não temos dado até o momento às atividades morais o lugar que elas merecem. O sentido moral é susceptível de um estudo tão positivo quanto o da inteligência.

Na verdade, este estudo é difícil. Porém os aspectos do sentido moral nos indivíduos e nos grupos de indivíduos são facilmente reconhecíveis. Quase nunca temos a ocasião de observar, na sociedade moderna, indivíduos cuja conduta seja inspirada por um ideal moral. Contudo, tais indivíduos ainda existem. É impossível não notá-los quando os encontramos. 

A beleza moral deixa uma lembrança inesquecível àquele que, mesmo uma única vez, a contemplou. Ela nos toca mais que a beleza da natureza, ou a da ciência. Ela dá àquele que a possui um poder estranho, inexplicável. Ela aumenta a força da inteligência; ela estabelece a paz entre os homens. Ela é - muito mais que a ciência, a arte e a religião - a base da civilização.

(Excertos da obra 'O Homem, Este Desconhecido', de Alex Carrel)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

A IGREJA DEVE SER CONTRA O MUNDO?

Há no catecismo do Concílio de Trento quatro linhas, que todos os catecismos clássicos, desde os níveis destinados à primeira formação das crianças até aqueles destinados à perseverança dos adultos, sempre mantiveram e repetiram, e que agora, a onda progressista, de autodestruição da Igreja, quer apagar, raspar, esquecer ou contestar.

São muito simples essas quatro linhas que dominam e norteiam toda a problemática da relação Igreja-Mundo. Ei-las: 'A Igreja Militante é a Sociedade de todos os fiéis que ainda vivem na terra. Chama-se militante porque está obrigada a manter uma guerra incessante contra os mais cruéis inimigos: o mundo, a carne e o Diabo'. Paralelamente a esse ensinamento, tornou-se clássica a transposição com a qual esses três inimigos da Igreja devem ser vistos também como inimigos de cada alma, que os deve combater, como toda a Igreja os combate.

Uma das maiores torpezas difundidas pela torrente revolucionária que se intitula de progressista foi o desfibramento, a emasculação pacifista que fez da capitulação Igreja Dialogante. Nós outros, desde o primeiro sinal de iniciação, aprendemos a pedir a Deus que, pelo Sinal da Santa Cruz, nos livre de nossos inimigos, e consequentemente aprendemos que, com o Sinal da Cruz, nós nos armamos para o bom combate.

Agora ensina-se que não há mais inimigos, que não há mais lobos, e que a Igreja praticará o mandamento de amor se deixar seus filhos serem progressivamente devorados pelo mundo, pela carne e pelo Diabo que deixou de ser o inimigo do gênero humano. O termo 'pastoral' tornou-se sinônimo de molezas e tolerâncias que roçam pelo obsceno. O 'progressista' é antes de tudo um 'entreguista'. E em cada passo de nova capitulação, de novo 'diálogo', ele se desmancha numa glossolalia destinada aos anais da ONU ou encaminhada ao Prêmio Nobel da Paz.

Qualquer pessoa de sadio bom senso, ainda que despreparada para discussões teológicas e metafísicas, sabe que um homem de bem deve lutar por sua honra, deve defender seus filhos com o sangue, deve lutar por seu Credo, deve combater e querer morrer por sua Fé. E para bem combater o bom combate é preciso conhecer seus inimigos. A Igreja ensinou-nos durante séculos a combater, mas agora, em dez anos, uma torrente revolucionária passou a ensinar que a virtude máxima consiste na entrega, na fuga, na covardia. Qualquer progressista, escolhido ao acaso, na legião, é mais bondoso do que Nosso Senhor Jesus Cristo, que com toda a simplicidade falava em guerra, e que oportunamente usou o chicote.

Vale a pena desenvolver um pouco as quatro linhas do tridentino, para melhor conceituarmos as três entidades apontadas como inimigas da Igreja e da alma. Comecemos pelo fim. O que é o Diabo?

Nós sabemos que entre os vários níveis de ser que compõem a Criação, existem os seres espirituais desligados de qualquer matéria e subsistentes como substâncias espirituais dotadas de inteligência e vontade. E sabemos também que na origem trágica e explosiva desta 'primeira criação', houve uma Revolução nascida do orgulho das criaturas angélicas tiradas do nada e capitaneada por Lúcifer, que, precipitado nas trevas tornou-se o principal inimigo da 'segunda criação', isto é, da restauração de tudo na suprema e eterna novidade que é o Verbo Incarnado. É esse inimigo que, sob a forma da serpente, 'dialoga' com Eva que se torna intercessora do pecado de Adão. E é esse mesmo inimigo que tentou seduzir Jesus, nos quarenta dias do deserto.

Quando na Missa recitamos o Credo, e dizemos: 'Creio em um só Deus, Pai Onipotente, Criador do Céu e da Terra, de todos os seres visíveis e invisíveis', é nos anjos bons e maus que pensamos e cremos. E é também nesses portentosos seres invisíveis que pensa São Paulo quando diz aos Efésios: 'E sobretudo fortificai-vos no Senhor, por seu poder soberano…'. E daqui em diante o apóstolo cativo tira suas imagens da figura do soldado romano a que está preso por uma cadeia: '… Revesti-vos da armadura de Deus para que possais afrontar as ciladas diabólicas: porque não é contra os homens de carne e sangue que devemos lutar, mas contra os principados e potestades do mundo das trevas, contra as forças do mal espalhadas nos ares. Tomai pois a armadura de Deus para que possais resistir nos dias maus e ficar firmes no cumprimento de vosso dever. Sim. Firmai-vos, com os rins cingidos pela verdade, o peito couraçado pela justiça e os pés calçados do zelo de anunciar o Evangelho da paz. E sobretudo agarrai-vos ao escudo da Fé, no qual morrerão e se embotarão todas as flechas inflamadas do Maligno. Tomai enfim o capacete da salvação e o gládio do Espírito que é a Palavra de Deus' (Ef 6, 12).

E agora, o que é o Mundo no sentido em que é apontado como inimigo da Igreja e da alma. Mais de um teólogo tem apontado os vários sentidos que tem a palavra 'mundo'. Em primeiro lugar, assinalamos o sentido genesíaco, metafísico, que designa a variedade de seres criados por Deus. Nesse sentido, 'mundo' é, no seu ser, intrinsecamente bom, absolutamente positivo, e não pode ser visto como contrário ou como inimigo da Igreja. Mas essa intrínseca bondade do mundo, como ser ou multidão de seres, não quer dizer que ele tenha a plenitude da bondade (que só Deus possui) e esteja isento das possibilidades do mal que veem, não da malignidade das coisas criadas, mas da fragilidade dos seres que não têm a aseidade, ou plenitude do ser.

Tomemos agora o mundo, e principalmente o mundo dos homens no estado em que se encontra, depois do pecado de Adão e depois da Incarnação. Este mundo ferido pelo pecado não se propõe aos cristãos como objeto de inimizade porque é a ele, assim mesmo ferido e manchado, que se aplica a palavra da Misericórdia de Deus: 'Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho único' (Jo 3, 16). E também: 'Eu não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo' (Jo 12, 47). Há entretanto já aqui, uma atitude tensa e nova que caracteriza a fundamental atitude da alma cristã. Em relação a esse mundo, em si mesmo bom, mas marcado pelo pecado das criaturas, é que Jesus nos diz que nós estamos no mundo, onde Ele nos escolheu, mas não somos do mundo.

E então, se não somos deste mundo nele estamos como peregrinos, ou como exilados. E este caráter peregrinal da vida cristã se estende a toda a Igreja da terra: ela está no mundo, mas não é do mundo. Ou melhor, não é deste mundo. E aqui chegamos ao dualismo mais contrastante e mais importante da relação Igreja-mundo, e da significação do termo 'mundo'. Mas se a Igreja não é deste mundo, tem de ter sua existência e sua razão de ser com base em outro mundo. E é curioso notar que esta revelação, a mais caracterizadora da transcendência de sua obra, é feita por Nosso Senhor a Pilatos: 'Meu Reino não é deste mundo, se meu Reino fosse deste mundo meus servidores teriam combatido para impedir que eu fosse entregue aos judeus: mas o meu Reino não é deste mundo' (Jo 18, 36). Há então na obra de Deus uma criação de todas as coisas, e uma outra criação, ou uma nova criação na ordem da Salvação. Desde o Antigo Testamento encontramos o anúncio do outro mundo. Em Isaías temos: 'Não cuideis mais das coisas antigas, eis que vou realizar algo de novo' (Is 40, 15-17). Mas é no Novo Testamento que temos a chave do mistério anunciado pelos profetas: 'Quando alguém está em Cristo é uma nova criatura, e então pode-se dizer: o antigo desapareceu, vede: tudo é novo!' (II Cor 5, 17).

Não se diga, porém, que o 'outro mundo' é apenas a Igreja do Céu. Não. Já na terra a Igreja é o Reino de Deus começado, é portanto o 'outro mundo' que está neste mundo de modo incoativo e peregrinal, mas não é deste mundo. Mas não é ainda nesse sentido de 'velho mundo' que o mundo é inimigo da Igreja. Ao contrário, esse velho mundo ainda é para o cristão o lugar e a ocasião que se oferece para completar, em sua peregrinação, e no Corpo Místico de Cristo, o que faltou em sua paixão (Col 1, 24). Nesse sentido, amamos o mundo, obra de Deus, e amamos reduplicadamente o mundo em que Jesus caminhou e caminha ao nosso lado até o fim do mundo.

Pode acontecer que, por desfalecimento de fé e de esperança, nos apeguemos demais a este mundo e nos esqueçamos da Pátria verdadeira, mas nesse tropeço não é o mundo o agente agressivo principal, o inimigo que nos desvia de Deus: é antes a carne ou vontade própria que nesse ato de ingratidão e soberba segue a própria inspiração ou a inspiração de Satã. Quando é então que o mundo é inimigo da alma e da Igreja. É o próprio Senhor Jesus quem nos responderá: 'O mundo me odeia porque Eu testemunho contra ele e suas obras más' (Jo 7, 7). E logo: 'Sereis odiados por causa de meu nome' (Mt 10, 22). E ainda: 'O mundo vos odeia porque não sois do mundo, como Eu não sou do mundo' (Jo 17, 14-16).

E agora se vê que o 'mundo', inimigo da Igreja, é aquela parte do mundo dos homens que se polariza, que se organiza como anti-Igreja, e que odeia os cristãos por causa do nome de Cristo, tentando agressivamente prendê-los, naturalizá-los neste mundo, para que reneguem Cristo Jesus e voltem as costas a Deus. E que organizações são estas que o mundo ousa fazer como uma anti-Igreja, ou como uma Igreja do Demônio? A história nos proporciona vários exemplos de movimentos, de 'correntes históricas' que tiveram como característica essa agressiva e maléfica intenção organizada de arrancar as almas do jugo de Deus. Nos últimos séculos temos a Civilização Liberal e, dentro dela, as correntes mais concentradas: o revolucionarismo, a maçonaria, o socialismo e o comunismo. São essas coisas que tentam a suprema estultice de eclesializar o mundo e de secularizar a Igreja como desejam os progressistas, que são hoje o mais virulento 'mundo' inimigo da Igreja.

E a carne? No tríptico apontado pelo Catecismo de Trento, 'carne' não tem o sentido de 'corpo' ou 'natureza animal' do homem, e muito menos o sentido de sexo. O tridentino inspirou-se na famosa dialética paulina. Como ensinam Santo Tomás (ST, Ia IIae q. 72, a. 2. ad primum) e Santo Agostinho (Cidade de Deus, XIV, II e III), o termo carne que São Paulo contrapõe a espírito, não designa a substância corpórea, mas o homem todo, ou melhor, a atitude espiritual do homem todo 'que pretende viver segundo seu próprio alvitre' ou que 'pretende ser a sua própria lei!' Esta soberba pretensão de vivere secundum seipsum vem do amor próprio, ferida do pecado original.

E é nessa ferida do eu que o homem recebe as seduções do mundo belo e agradável, ou as seduções mais agressivas e venenosas das anti-Igrejas, ou do mundo inimigo; e é também essa ferida do amor próprio que acolhe as seduções do Demônio. Precisamos mobilizar todos os dons de Deus para combater os inimigos de Deus, mas podemos dizer que a cada um dos três corresponde, de modo especial, uma das virtudes teologais. Assim diremos: do Demônio nos defenderemos como o escudo da Fé; das seduções ou agressões do mundo nos defendemos com a santa Esperança voltada para Deus e para o céu; e das fraquezas e malícias do amor-próprio, nos defenderemos com fortes atos de Caridade firmados em insistentes atos de humildade.

(Editorial da Revista Permanência, N° 30, março de 1971)