terça-feira, 16 de janeiro de 2018

DA VIRTUDE DA SIMPLICIDADE

Sede, portanto, simples para fazer de Deus vosso objetivo, para O procurardes como último fim, para considerá-lo como termo de vossas ações. Sede simples para vos apoiardes em Deus como meio. Simples para serdes humildes, para reconhecerdes que nada podeis fazer por vós mesmas, e que, abandonadas às próprias forças, vos será impossível realizar qualquer bem, como vos declara Nosso Senhor: 'Sem mim, nada podeis fazer' (Jo 15, 5).

Sede simples também para serdes confiantes, para vos persuadirdes de que, apoiando-vos em Deus e contando com a sua graça, não sereis enganadas, e que 'tudo podereis naquele que vos fortifica' (Fp 4,3). Simples, para verificar vosso nada, vossa miséria, vossos pecados, para vos desprezardes profundamente. Simples, para considerar o coração e o amor de Deus, sua infinita bondade, e para repousar na sua graça com a mais inabalável segurança.

Sede simples nas menores como nas maiores coisas, principalmente nas menores, porque as ocasiões de praticá-las se sucedem com freqüência e porque são muito agradáveis a Deus. 'Feriste o meu coração, exclama o esposo no Cântico dos Cânticos, arrebataste o meu coração com um dos teus olhos e com um dos teus cabelos' (Ct 4, 9).

Que haverá de mais admirável, essencial e importante do que um olho? Que haverá de mais vil que um fio de cabelo? Preparai-vos para sofrer, para carregar pesadas cruzes, levando o vosso amor até o martírio, oferecendo a Nosso Senhor o que tiverdes de mais caro, até vossos olhos e, se necessário, vossa vida, e assim comovereis o seu coração por essas grandes coisas. Não negligencieis, porém, as menores, e, de acordo com o conselho expresso do Apóstolo, oferecei a Deus o que há de mais corriqueiro em vossa vida, até o alimento e o sono, e assim comovereis o seu coração também pelas pequeninas coisas.

Quando Santa Catarina de Sena se entregava às mais sublimes meditações e caía em êxtase, quando ensinava aos grandes da terra, arrebatava o coração do celeste esposo pelo olho da sabedoria e da contemplação. Mas O agrava menos do que quando, por obediência ao pai, aplicava-se aos mais humildes serviços caseiros e tranquilamente continuava suas meditações no meio desses mesquinhos trabalhos. Considerando o pai como Nosso Senhor, a mãe como a Santíssima Virgem e os irmãos como os apóstolos, dedicava-se com alegria a tudo que lhe mandavam fazer.

E vós, embora vos devoteis às grandes coisas, às mais importantes e às mais excelentes obras, praticai também por Deus as pequenas e humildes virtudes que nascem como flores aos pés da cruz: suportar um pequeno sofrimento, uma enfermidade passageira, uma contrariedade, decepções, mágoas, humilhações e todas as insignificantes ocupações que existem no lar ou fora dele. Como tais ocasiões se repetem a cada instante, que fonte de riquezas espirituais poderíeis acumular, se as soubésseis aproveitar!

Não compreendeis, então, que o que mais vos falta é a simplicidade? Oh! que vos faltaria se fosseis verdadeiramente simples, simples em tudo, e qualquer encontro com Deus, com os outros e até convosco? Tendes bom coração e o sabeis, disso dais prova e com isso concordais. Às vezes, chegais a dizer que o sentis demasiado, tanto ele vos faz sofrer!  Tendes energia e força de vontade, e cada dia as desenvolveis e as despendeis sem conta. E, às vezes, é incalculável o quanto as utilizais em proveito de vossas paixões. Tendes delicadeza, tato, sutileza, que causam vossos mais belos triunfos! Tendes nobres e generosas aspirações e impulsos admiráveis! Sois formadas na abnegação e no devotamento!  

De posse de tão admiráveis qualidades e tão poderosas virtudes, como podeis levar tantas vezes uma vida frívola, nula e inútil, e até detestável, culpada e escandalosa? Que vos falta? Repito-o, falta-vos a simplicidade. Não sabeis orientar vossas qualidades, vossas forças não as sabeis utilizar; deixais que se percam e esqueçam, porque não sois simples. A simplicidade tudo exalta, tudo dirige, e faz com que tudo concorra para a glória de Deus.

Olhai a pomba! É maravilhosamente constituída para elevar-se nos ares, pairar e atingir em tempo as mais altas e longínquas regiões. De quê necessita para isso? De uma única coisa: abrir as asas e servir-se delas. Digo-vos ainda: a pomba sois vós! A asa toda poderosa é a simplicidade. Que esperais, então, para utilizá-la? Abri, abri as asas! E, em pouco tempo, com voo poderoso e rápido, transporeis incomensuráveis distâncias e chegareis a Deus!

(Excertos da obra 'A Simplicidade Segundo o Evangelho', de Monsenhor de Gilbergues, 1945)

domingo, 14 de janeiro de 2018

APÓSTOLOS SOB A CÁTEDRA DE PEDRO

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo do Tempo Comum


Estando naquele dia em presença de dois dos seus discípulos mais amados, João Batista vai manifestar, uma vez mais, o testemunho do Messias, aquele de quem dissera pouco antes: 'Eu não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias' (Jo 1, 27). A grandeza do Precursor é enfatizada por Jesus naquele que recebeu privilégios tão extraordinários para ser o profeta da revelação de tão grandes mistérios de Deus à toda a humanidade: Jesus Cristo é o Unigênito do Pai, o Filho de Deus Vivo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. E, desta vez, dá testemunho direto dEle, 'vendo Jesus passar' (Jo 1, 35): 'Eis o Cordeiro de Deus!' (Jo 1, 36).

Ao ouvir estas palavras, André e João, não vacilam um único instante e tomam a firme disposição de seguir Jesus. Seguir Jesus! Eis aí o amoroso convite de Jesus a todos os homens: assumir o jugo suave do Senhor em todos os nossos caminhos, ao longo de toda a nossa vida! Para seguir Jesus, temos que responder a pergunta dos dois discípulos que ecoa pelos tempos: 'Onde moras?' (Jo 1, 38). Onde moras, Jesus? Seguir Jesus é ir onde Jesus está, para que Jesus possa morar em nós. Eis o mistério da graça que cada um deve percorrer nesta vida para a plena busca da Verdade e a contemplação definitiva do Reino de Deus.

Mas os dois discípulos fizeram ainda mais do que isso; o zelo e o fervor pelos novos ensinamentos do Messias fizeram deles os primeiros apóstolos. E a Verdade exaltada, vivida e compartilhada pela pregação humana das primícias do apostolado cristão vai chegar a ninguém menos que Simão Pedro, irmão de André, e que viria a ser a pedra angular da futura Igreja de Cristo. Pedro não vacilou também, não fez concessões e nem imposições, mas acreditou! E imediatamente foi ter com Jesus.

Jesus, que conhecia Pedro desde a eternidade e Pedro, que nascia para a eternidade, estavam juntos pela primeira vez: 'Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas' (Jo 1, 42). Jesus estabelece neste primeiro momento, a vinculação direta entre a ação do apostolado e a pedra (Cefas) fundamental sobre a qual haveria de edificar a sua Igreja, mistério da graça muito além da possível percepção histórica daqueles homens. O apostolado é, pois, missão inerente a toda a cristandade e deve estar indissoluvelmente ligada à pedra fundamental da Igreja, como dizia Santo Ambrósio de Milão: 'Não podem ter a herança de Pedro os que não vivem sob a cátedra de Pedro'. 

sábado, 13 de janeiro de 2018

VIDA DESONESTA, MORTE IMPENITENTE!

Uma certa noite estava Martinho Lutero no terraço de um hotel ao lado de Catarina Bora, sua companheira de pecado. A temperatura era suave, o céu estava lindo e milhares de estrelas brilhavam no firmamento. Catarina, cansada talvez daquela vida de remorso, voltou-se de repente para Lutero e lhe disse:

— 'Olha Martinho, como é lindo o céu!'

Àquelas palavras, Martinho exclamou com um suspiro profundo:

— 'Sim, Catarina, o céu é lindo, mas não é mais para nós!'

O infeliz sentia que ia perder o Paraíso, mas se confessava incapaz de ressurgir e morria pouco depois naquele mesmo hotel, dando mostras do mais terrível desespero. 

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Teodoro Beza, sucessor de Calvino e chefe da reforma protestante, atingido por uma enfermidade mortal, foi visitado por São Francisco de Sales. Este com o seu zelo ardente tentou todos os meios possíveis para induzi-lo a abjurar o erro, voltar para o seio da Igreja Católica, e preparar-se para uma morte cristã. 

'Impossível' repetia, suspirando, o doente de quando em quando 'impossível'. Por fim, como o Santo insistia para saber o porquê daquela palavra 'impossível', Teodoro com esforço, apoiou-se num cotovelo, puxou uma cortina que fechava uma alcova, e, mostrando uma mulher ali escondida: 'Eis aí', exclamou, 'a razão da impossibilidade de me converter e de me salvar'! Preferiu a morte e o inferno, mas não deixou o pecado. 

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Na cidade de Spoleto, vivia uma jovem dissoluta, cuja existência era unicamente dedicada à vaidade e aos bailes. Aconselhada mais de uma vez a corrigir-se desprezava com soberba os avisos e fazia pouco caso deles. Sua própria mãe, orgulhosa da beleza e do brio da filha, sentia imenso prazer em vê-la cortejada por um bom número de amantes, e deixava as coisas correrem na esperança de encontrar um bom partido; de mais a mais acreditava que, passado o ardor da mocidade, ela acabaria sossegando.

Oh, mães cegas e imprudentes, que não só não se preocupam, mas ainda traem suas filhas, quando não são elas próprias que as arrastam à desonra e à ruína! E o que aconteceu? A infeliz moça caiu gravemente enferma. Pessoas sérias e respeitáveis da vizinhança aconselharam-na a chamar o sacerdote, a receber os sacramentos, preparar-se para a morte, enfim. Mas a pobre teimava:

— 'Qual, repetia, é impossível, que eu tão moça e bela, morra; eu não devo, não devo morrer!'

Por fim, veio o sacerdote; este por sua vez suplicava-lhe que tivesse juízo, que rezasse a Maria Santíssima porque a morte poderia surpreendê-la.

— 'Qual morte, qual nada! Eu devo é viver! Eu não posso, não quero morrer!'

Como a insistência aumentasse, por fim, percebendo que as forças começavam a faltar-lhe, com um esforço supremo, exclamou com ira:

— 'Pois bem, se é assim, se é que eu vou mesmo morrer, vem tu, satanás, e toma a minha alma para ti!' E, cobrindo o rosto com o lençol, entregou ao demônio a alma desesperada. 

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Um cavalheiro vivia com uma moça de maus costumes. Aos que o aconselhavam abandoná-la, ele respondia sempre com um desdenhoso 'não posso'. Mas a morte chegou para desuni-los. O infeliz cavalheiro adoeceu gravemente, e, como estava nas últimas, chamaram um sacerdote para prepará-lo para dar o passo terrível. Tão caridoso e paciente foi o padre que o enfermo, humildemente, respondeu:

— 'Com prazer! Apesar de ter levado uma vida má, desejo ter uma boa morte com uma santa confissão'.
— 'O senhor quererá receber também os Sacramentos como um bom cristão?'
— 'É com prazer que os receberei, se vos dignardes de o administrar'.
— 'Mas isto não será possível se o senhor não despedir primeiro aquela moça'.
— 'Ah, isso, padre, eu não posso fazer'.
— 'E por que não pode? Pode e deve fazê-lo, meu caro senhor, se quiser salvar-se'.
— 'Mas eu repito não posso!'
— 'Mas o senhor não vê que, com a morte, tão próxima, será obrigado a deixá-la por força?'
— 'Não posso, padre, não posso!'
— 'Mas assim, eu não o absolvo, não lhe administro os sacramentos e o senhor perderá o paraíso, será precipitado no inferno!'
— 'Não posso!'
— 'Será possível que eu não posso obter do senhor outra palavra? Pense na sua honra, na sua estima se morrer excomungado'.
— 'Não posso', repetiu o infeliz pela última vez. E, agarrando a moça por um braço, puxou-a para si apertando-a com força ao peito, e assim, nos braços daquela mulher indigna, expirou.

(Excertos da obra 'Confessai-vos bem!' do Pe. Luiz Chiavarino)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Por três razões não se deve manter relações com os hereges. Primeiramente, por causa da excomunhão, pois, sendo excomungados, não se deve ter relações com eles, da mesma maneira que com os outros excomungados. A segunda razão é a heresia: em primeiro lugar, por causa do perigo, e para que as relações com eles não venham a corromper os outros, segundo aquilo da primeira epístola aos Coríntios (15, 33): 'As más conversações corrompem os costumes'. E em segundo lugar para que não pareça se prestar algum assentimento às suas doutrinas perversas. Daí dizer-se na segunda epístola canônica de São João (v. 10): 'Se alguém vier a vós e não trouxer esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis, pois o que o saúda, toma parte em suas más obras'. Em terceiro e último lugar, para que nossa familiaridade com eles, não dê aos outros, ocasião de errar'.

 (São Tomás de Aquino, Suma Teológica) 

(Santo Inácio pisando Lutero, Igreja de São Nicolau, República Tcheca)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

OS TRÊS TIPOS DE CRIATURAS QUE SERVEM A DEUS

Sou teu Deus, o que foi pregado na cruz, verdadeiro Deus e homem em uma pessoa, e que está presente todos os dias nas mãos do sacerdote. Quando me ofereces uma oração, termine-a sempre com o desejo de que se faça minha vontade e não a tua. Quando rezas por alguém que já está condenado não te escuto. 

Algumas vezes não te ouço se desejas algo que possa ir contra tua salvação. É por isso, necessário que submetas tua vontade à minha, porque como Eu sei todas as coisas, não te permito nada mais do que te seja benéfico. Há muitos que não rezam com a intenção correta e é por isso que não merecem ser atendidos. 

Há três tipos de pessoas que me servem neste mundo. Os primeiros são os que creem que sou Deus e o provedor de todas as coisas, que tem poder sobre tudo. Estes me servem com a intenção de conseguir bens e honras temporais, mas as coisas do Céu não lhes importam e estão até dispostos a perdê-las para obter bens presentes. O êxito mundano se ajusta completamente à sua medida, segundo seus desejos. Já que perderam os bens eternos, Eu lhes compenso com consolos temporais por qualquer bom serviço que me façam, pagando-lhes até o último centavo e até o último ponto. 

Os segundos são os que creem que sou Deus onipotente e Juiz severo, mas que me servem por medo do castigo e não por amor à glória celestial. Se não me temessem não me serviriam. Os terceiros são os que creem que sou o Criador de todas as coisas e Deus verdadeiro e que creem que sou justo e misericordioso. Estes não me servem por medo do castigo, mas por amor divino e caridade. Prefeririam suportar qualquer castigo, por duro que fosse, a não me ofender. Estes merecem verdadeiramente ser escutados quando rezam, pois sua vontade coincide com minha vontade. 

O primeiro tipo de servos nunca sairá do castigo nem chegará a ver meu rosto*. O segundo não será tão castigado, mas também não chegará a ver meu rosto*, a não ser que corrija seu temor mediante a penitência.

(Das Revelações de Santa Brígida)

* Ò cristão, tens ainda alguma dúvida de que como é severa a justiça divina, sem a misericórdia? Se mesmo aqueles que servem a Deus de forma indigna não serão salvos, imagine-se o destino daqueles que O negam ou O renegam?

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE NADAL (X)

Curat IESVS decem leprosos

81. Evangelho (Lc 17): A cura dos dez leprosos

Petitio matris filiorum Zebedaei

82. Evangelho (Mt 20, Mc 10): A súplica da mãe dos filhos de Zebedeu

Sanatur unus caecus ante Iericho, & duo post Iericho

83. Evangelho (Lc 18): A cura de alguns cegos em Jericó

Coena apud Simonem Leprosum

84. Evangelho (Mt 26, Mc 14, Jo 12): A ceia na casa de Simão, o leproso

Ducitur asina & pullus ad IESVM

85. Evangelho (Mt 21, Mc 11, Lc 19, Jo 12): Um burro e um jumentinho são levados a Jesus

In conspectum Hierusalem venit IESVS

86. Evangelho (Mt 21, Mc 11, Lc 19, Jo 12): Jesus encontra-se diante de Jerusalém

Ingressus solennis in ciuitatem

87. Evangelho (Mt 21, Mc 11, Lc 19, Jo 12): Jesus entra em Jerusalém

Eijcit iterum IESVS vendentes de templo

88. Evangelho (Mt 21, Mc 11, Lc 19, Jo 12): Jesus expulsa novamente os vendilhões do Templo

Veniunt Gentiles ad IESVM

89. Evangelho (Jo 18): Jesus ensina aos gentios

De Pharisaeo & Publicano

90. Evangelho (Lc 18): A parábola do fariseu e do publicano