quinta-feira, 30 de novembro de 2017

GALERIA DE ARTE SACRA (XXV)

'Na sala do Vaticano onde os papas assinavam os atos de importância capital para a sorte da humanidade – stanza delle segnature – o papa Júlio II mandou pintar, por Rafael, quatro quadros famosos. Representam eles a teologia, a filosofia, a poesia e o direito, isto é, a verdade enquanto revelação, enquanto trabalho da razão, enquanto beleza e enquanto ordem cristã. Essas quatro pinturas são um magnifico símbolo; exprimem que a humanidade só achará a felicidade, a satisfação, a ordem e a civilização, se as diversas formas da única Verdade trabalharem em harmonia, auxiliando-se mutuamente. É assim que age e trabalha a Igreja de Cristo já há dezenove séculos. E eis aí porque me ufano dessa Igreja'.
(Mons. Tihamer Toth - A Igreja Católica)

(Stanza della Segnatura)
Parede I - Teologia: 'A Disputa do Sacramento' (Rafael Sanzio, 1509)


Na primeira parede, a tela 'A Disputa do Sacramento' representa a Teologia em termos da relação entre a Igreja Triunfante no Céu e a Igreja Militante na terra. No plano superior, a Igreja Triunfante é representada por Deus acima de todos e Jesus Cristo entre a Virgem e São José rodeados de anjos, santos, profetas e apóstolos. No plano inferior, a Igreja Militante é representada por teólogos, médicos, papas e estudiosos (entre eles o Papa Júlio II, seu tio Papa Sisto VI, Dante e Bramante, entre outros). No centro do plano inferior há uma hóstia logo abaixo do Espírito Santo, indicando a real presença do Corpo de Cristo.

Parede II - Filosofia: 'A Escola de Atenas' (Rafael Sanzio, 1509/1510)


'A Escola de Atenas' exalta o culto da razão. No afresco estão representados os mais célebres filósofos e matemáticos da antiguidade, conformando um mesmo conjunto de sábios discutindo as grandes questões da filosofia. No centro da imagem, estão Platão (1) e Aristóteles (2) (imagem de detalhe à direita), os dois principais filósofos da antiguidade. Platão, o filósofo do idealismo, aponta o dedo pra cima para para indicar a natureza transcendental da sua filosofia, ao passo que Aristóteles, como filósofo do realismo, tem o braço esquerdo esticado com a palma da mão virada para o chão. 

Outros filósofos identificáveis são: Pitágoras (segurando um livro, canto esquerdo), Heráclito (escrevendo numa folha, centro inferior); Diógenes (deitado nas escadas); Euclides (inclinado até o chão, canto direito), Zoroastro (de frente) e Ptolomeu (de costas), segurando esferas celestes (canto direito); ao lado de ambos e atrás do homem de branco (área do círculo vermelho), está um personagem que representa o autorretrato do pintor (imagem em detalhe inferior). Nos nichos laterais, encontram-se as estátuas de Apolo (deus das ciências e da música na mitologia grega) e de Minerva (deusa das ciências e das artes na mitologia romana). 

Parede III - Poesia: 'O Parnaso' (Rafael Sanzio, 1510/1511)


A cena representa o Monte Parnaso, o monte sagrado situado no centro da Grécia e que, segundo a mitologia grega, era o local onde viviam o Deus Apolo (visto no plano central do arranjo, tocando um instrumento) e suas nove musas. À esquerda de Apolo (possivelmente representado com o rosto do Papa Júlio II), estão quatro musas: Melpomene, Terpsícore, Polimnia e Calíope enquanto, à sua direita, encontram-se outras cinco musas: Euterpe, Clio, Talia, Urania e Erato. Um conjunto de nove poetas contemporâneos e outros nove poetas da antiguidade estão figurados na cena, no entorno de Apolo. Embora muitos sejam de caracterização duvidosa, alguns deles são passíveis de serem identificados como Petrarca, Ovídio, Homero, Dante, Ariosto e Bocaccio, por exemplo.

Parede IV - Direito: 'A Virtude e a Lei' (Rafael Sanzio, 1511)


O afresco representa as quatro virtudes cardinais: Força, Prudência, Temperança e Justiça. Na parte superior, acima da janela, estão representadas (da esquerda para a direita) a Força, a Prudência e a Temperança como figuras femininas, rodeadas de pequenos anjos, que representam as virtudes teologais (da esquerda para a direita): caridade, fé e esperança. Ao longo das laterais do afresco, a Justiça é representada duas vezes: na lateral esquerda, pelas imagens do jurista bizantino Triboniano entregando o Pandectae (um conjunto de livros contendo normas e leis romanas) ao imperador bizantino Justiniano e, na lateral direita do afresco, pelo Papa Gregório IX (representado com o rosto de Júlio II) aprovando as Decretais que contêm disposições jurídicas de natureza geral.

Há ainda o afresco do teto que, na verdade, foi o primeiro a ser realizado, apresentando no centro o brasão da família Della Rovere (família do Papa Júlio II) e as imagens com a personificação da Teologia, Justiça, Filosofia e Poesia.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

OS MAIS BELOS LIVROS CATÓLICOS DE TODOS OS TEMPOS (6)

11. SANTA CATARINA DE SENA O DIÁLOGO

A curta vida de Catarina Benincasa (1347 - 1380) foi um portento de graças e experiências extraordinárias, que incluíram êxtases diversos, visões sobrenaturais, estigmas no corpo e um matrimônio místico com Cristo. Neste domínio do sobrenatural, a grande mística dominicana estabeleceu uma cruzada singular de atuação social e religiosa no seu tempo, traduzida em escritos marcados pela defesa intransigente da fé cristã e por uma sólida fundamentação teológica, que a tornaram santa Catarina de Sena (em 1461) e Doutora da Igreja (em 1970).  

Estes ensinamentos e esta ação social, estreitamente vinculados aos êxtases de sua vida espiritual, estão sobejamente presentes em suas obras, particularmente sob a forma de Cartas, endereçadas a todo tipo de pessoa, desde familiares até reis e papas (381 delas são conhecidas atualmente). O 'Diálogo sobre a Divina Providência' ou, mais simplesmente, 'O Diálogo', provavelmente escrito entre 1377 e 1378 constitui, entretanto, a sua obra prima, por compor uma singular e extraordinária síntese teológica do amor de Deus para com a humanidade. Os escritos eram gerados após êxtases da santa que, sendo analfabeta, ditava então os textos para 'secretários' que os transcreviam o mais fidedignamente possível. A preservação de uma clara e sistemática unidade de estilo destes textos comprovam que realmente conseguiram isso.

O 'Diálogo' é um clássico da espiritualidade cristã, constituindo um longo e apaixonado diálogo entre Santa Catarina e o próprio Deus, em que se traduz e se revela por inteiro uma vida de tão extremada espiritualidade que foi capaz de viver e conviver cotidianamente na intimidade com Deus. O livro relata o diálogo contínuo entre a pequena serva e Deus Pai, abrangendo temas diversos como a natureza do pecado, a missão redentora de Cristo, a criação do universo, a atuação do clero e a conversão da humanidade. 

No 'Diálogo', Jesus Cristo é descrito por Deus Pai como uma imagem absolutamente singular: Ele é a ponte de pedra que liga o Céu e a terra. Esta ponte possui três degraus, conformados pelos pés, pelo flanco e pela boca de Jesus. Elevando-se sobre estes degraus, a alma percorre o caminho da verdadeira santificação, pelo desapego aos pecados, pela prática das virtudes e do amor e pela doce e filial união com Deus. Quem não quiser passar pela ponte escolhe como caminho o rio dos pecados. A reflexão sobre estes extraordinários ensinamentos nos levam a compreender a razão e a natureza da nossa peregrinação terrena como processo contínuo de fidelidade e compromisso de mudança interior na direção de Deus, o qual chamamos de conversão.

12. SÃO JOÃO DA CRUZ A NOITE ESCURA DA ALMA

Em 'A Noite Escura da Alma', São João da Cruz (1542 - 1591) mostra  porque é um dos maiores expoentes da literatura católica mística de todos os tempos. A força e o legado da mística que pulsava no seu mundo interior são revelados particularmente pelo lirismo e complexidade da sua poesia, deixando latente ou subjacente o rigor teológico das suas reflexões. Embora tenha deixado também vários escritos em prosa, estes se resumem essencialmente a comentários ou explicações de sua poesia. 

'A Noite Escura da Alma' não é propriamente um livro, mas um poema que tem por título a expressão que aparece logo no primeiro verso: 'Em uma noite escura...', sendo composta por apenas oito estrofes e alguns comentários em prosa. Somente as duas primeiras estrofes do poema são comentadas detalhadamente pelo santo, enquanto a terceira estrofe recebe apenas uma apresentação sumária; os demais textos ficaram inconclusos e as razões desta interrupção da obra continuam  ainda desconhecidas. O poema propriamente dito pode ser dividido em três partes. Nas quatro primeiras estrofes (I-IV), aborda-se a peregrinação da amada na noite escura e ditosa, que parte para o Amado guiada pela luz que em seu coração ardia. Na quinta estrofe (V), celebra-se a chegada da amada ao 'sítio onde ninguém aparecia' e o festejado anúncio da união mística, que é descrita, então, nas três últimas e mais belas estrofes do poema. É o momento de maior densidade lírica, onde se revela por inteiro o pensamento místico do santo e a verve esplêndida do poeta, com a presença de imagens e alegorias de uma intensidade inusitada.

No poema, a Cruz é substituída pela expressão 'noite escura', que expressa numa linguagem sublime as noites, os dias, os momentos de dor, sofrimento, agonia e angústia das nossas vidas, quanto tudo que temos é nada, quando tudo em que nos sustentamos nos falta, quando tudo que tem significado e consistência de repente se transforma em névoas e fumaça. Noites escuras da alma, dons extremados de Deus para a nossa santificação pessoal, em que clamamos o Senhor, tão olvidado nos momentos de prazer e de alegria, e só encontramos o silêncio e a incrédula certeza da nossa imensa pequenez.

E, dessa miséria, o cristão é exortado a subir o Calvário, a ir de encontro à Cruz de Cristo pois, somente se entregando ao sofrimento da Cruz, é capaz de ser fonte de luz, mais brilhante que o sol do meio dia, em meio às tormentas tenebrosas deste mundo. Na Cruz, Jesus nos espera. Com a Cruz das noites escuras, nos libertamos do homem velho e do pecado e nos elevamos da terra ao encontro do Senhor, o Amado, para a posse definitiva da graça de Filhos de Deus neste mundo e herdeiros das moradas eternas.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (II)

V

DA CRIAÇÃO

Que se entende por Deus Criador de todas as coisas?
Que todas foram tiradas do nada por virtude de sua onipotência (XLIV, XLV*).

Antes de Deus ter criado o mundo, existia alguma coisa, exceto Ele mesmo?
Não, Senhor; porque só Ele existe necessariamente, e tudo o mais, em virtude do seu poder (XLIV, 1).

Quando criou Deus o mundo?
Quando aprouve ao seu divino querer (XLIV).

Podia, por consequência, deixar de criá-lo?
Sim, Senhor.

Por que o criou?
Para manifestar a sua glória (XLIV, 4).

Que devemos entender, quando dizeis que Deus criou o mundo para manifestar a sua glória?
Que se propôs dar-nos a conhecer a sua bondade, comunicando aos seres parte do bem infinito que possui.

Logo, Deus não criou o mundo por necessidade nem por ambição?
Muito ao contrário; criou-o por pura benevolência, para comunicar às criaturas parte da sua bondade infinita (XLIV, 4 a 1).


VI

DO MUNDO

Que nome tem o conjunto de todos os seres criados?
Universo ou mundo (XLVII, 4).

Logo o mundo é obra de Deus?
Sim, Senhor (XLVII, 1, 2, 3,).

Que seres completam o Universo?
Três categorias de seres distintos: os espíritos puros, os corpos e os compostos de matéria e espírito.

Deus os criou a todos?
Sim, Senhor.

Criou-os imediatamente, sem auxílio e intervenção de pessoa alguma?
Sim, Senhor; porque só Ele pode criar (XLV, 5).

Como criou Deus o Universo?
Pelo império da sua palavra e influxo do seu amor (XL, 6).
VII

DOS ANJOS: SUA NATUREZA

Por que quis Deus que no mundo houvesse espíritos puros?
Para que fossem digno remate e coroa da obra de suas mãos (L).

E que quer isso dizer?
Que eles são a porção mais formosa, nobre e perfeita do Universo.

Que coisa é um espírito?

É uma substância completa, que não está unida à matéria, nem tem relação com ela (L, 3).

São muito numerosos os espíritos?
Sim Senhor; numerosíssimos (L, 3).

Excede o seu número ao de todas as demais naturezas criadas?
Sim, Senhor (Ibid.).

Para que tantos?
Porque era conveniente que, na obra de Deus, o perfeito sobrepujasse ao imperfeito (Ibid.).

Qual é o nome comum a todos os espíritos puros?
É o de Anjos.

Por que?
Porque são os enviados de que o Senhor se serve para o governo das demais criaturas.

Podem os anjos unir-se substancialmente a um corpo, assim como as almas humanas?
Não, Senhor; e se bem que em algumas ocasiões tenham aparecido em forma humana, não tinham de homens, mais que a aparência exterior (LI, 1, 2, 3).

Estão os Anjos em algum lugar?
Sim, Senhor (LII, 4).

Onde moram habitualmente?
No céu (LXI).

Podem trasladar-se de um lugar para outro?
Sim, Senhor (LIII, 1).

Necessitam de tempo para trasladar-se?

Não, Senhor; podem fazê-lo instantaneamente quaisquer que sejam as distâncias (LIII, 2).

Podem, se assim o desejam, abandonar lentamente um lugar e ocupar outro da mesma forma?
Sim, Senhor; porque o movimento angélico consiste na atuação sucessiva em lugares distintos ou em diversas partes do mesmo lugar (LIII, 3).
VIII

VIDA ÍNTIMA DOS ANJOS

Em que consiste a vida íntima dos anjos?
Suposto que são espíritos puros, consiste em conhecer e amar.

Que espécie de conhecimento possuem?
Conhecimento intelectual (LIV).

Não possuem também conhecimento sensitivo como os homens?

Carecem absolutamente dele (LIV, 5).

Por que?
Porque não se dá conhecimento sensitivo sem corpo orgânico e os anjos são incorpóreos (Ibid.).

O conhecimento intelectual dos anjos é mais perfeito do que o nosso?
Sim, Senhor.

Por que?
Porque nem o seu conhecimento tem origem nas espécies tomadas do mundo exterior, nem a sua ciência progride mediante o raciocínio, pois que abrange de uma só visão os princípios e as consequências (LV, 2 LVIII, 3, 4).

A ciência dos anjos é infinita?
Não, Senhor; porque é finita a sua natureza; unicamente Deus, Ser infinito, possui ciência infinita.

Conhecem o conjunto das criaturas?
Sim, Senhor; porque o exige a sua qualidade de espíritos puros (LV, 2).

Sabem o que acontece no mundo?
Sim, Senhor; porque o vêem nas suas espécies naturais, à medida que vai sucedendo (Ibid.).

Conhecem os pensamentos e os segredos dos corações?
Não, Senhor; porque, sendo pensamentos e afetos livres, não concorrem necessariamente com a mudança e sucessão das coisas (LVII, 4).

Como podem chegar a conhecê-los?
Pela revelação divina ou pela manifestação do agente (Ibid.).

Sabem o futuro?
Sem revelação especial, não Senhor.

Que coisas amam os anjos necessariamente?
A Deus sobre todas as coisas, a si mesmos e às criaturas, exceto quando o pecado contraria ou destrói na ordem sobrenatural a livre propensão do amor natural (LX).

IX

DA CRIAÇÃO DOS ANJOS

Criou Deus imediatamente a todos os anjos?
Sim, Senhor; porque todos são espíritos puros e não podiam de outro modo vir à existência (LXI, 1).

Quando foram criados?
No princípio dos tempos e no mesmo instante que os elementos do mundo material (LXI, 3).

Foram criados os anjos nalgum lugar corpóreo?
Sim, Senhor; porque assim convinha aos desígnios da divina Providência.

Como chamamos o lugar em que foram criados?
Chamamo-lo ordinariamente céu e também céu empíreo (LXI, 4).

Que coisa é o céu empíreo?
Um lugar ameníssimo, pleno de luz e resplendor, resumo e compêndio das maiores delícias do mundo corporal (Ibid.).

O céu empíreo é o mesmo que o céu dos bem-aventurados ou simplesmente céu?
Sim, Senhor (Ibid.).

X

DA TENTAÇÃO DOS ANJOS

Em que estado foram criados os anjos?
No estado de graça (LXII, 3).

Que entendeis quando afirmais que foram criados em estado de graça?
Que no primeiro instante da sua criação, receberam, conjuntamente com a natureza, a graça santificante que os fazia filhos adotivos de Deus e, por seu mérito, podiam alcançar a glória eterna (LXII, 1, 2, 3).

Foi necessário que os anjos merecessem a glória por virtude de algum ato livre?
Sim, Senhor (LXII, 4).

Em que consistiu aquele ato de seu livre alvedrio?
Em seguir o movimento da graça que os inclinava a submeter-se a Deus por inteiro, para receberem dEle com acatamento e ação de graças, o dom da glória que lhes havia prometido (Ibid.).

Necessitaram muito tempo para escolher, debaixo do influxo da graça, a submissão ou a rebeldia?
Um só instante.

Feita a devida escolha, foram imediatamente admitidos ao gozo da bem-aventurança?
Sim, Senhor (LXII, 5).

XI

DA QUEDA DOS ANJOS

Permaneceram fiéis todos os anjos na prova meritória, a que Deus os submeteu?
Não, Senhor (LXIII, 2, 3).

Por que recusaram alguns submeter-se a Deus?
Por sentimento de orgulho, por quererem ser como Deus e gozar a felicidade, independentemente das divinas disposições (LXIII, 2, 3).

Este ato de soberba foi pecado grave?
Foi tão grande que provocou imediatamente a ira divina.

E Deus, justamente indignado, que fez para castigá-los?
Precipitou-os no inferno para que ali padeçam tormentos eternos (LXIV, 4).

Que nome têm os anjos rebeldes e condenados ao inferno?
Chamam-se demônios (LXIII, 4).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).

domingo, 26 de novembro de 2017

JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Páginas do Evangelho - Solenidade de Cristo Rei


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprem e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura acima referidas, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que O cerca O quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em consequência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual? (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela Sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para Si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. E quando voltar, há de separar o joio do trigo, as ovelhas e o cabritos, uns para a glória eterna, outros para a danação eterna: 'Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda... estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna' (Mt 25, 31 - 33.46).

sábado, 25 de novembro de 2017

VERSUS: TODO SANTO É HOMEM ANTES DE SER SANTO

'Todo santo é homem antes de ser santo e um santo pode ser feito a partir de todo tipo de homem'

São Francisco de Assis x São Tomás de Aquino

Eles viam um mesmo problema a partir de ângulos diferentes, um sob a ótica da simplicidade; o outro, da sutileza. São Francisco julgava que era suficiente dizer o que sentia aos maometanos para convencê-los a não adorar Maomé. São Tomás ficava examinando todo tipo de distinção e de dedução, por menor que fosse, sobre o absoluto ou o acidente, só para evitar que os maometanos entendessem Aristóteles de maneira errada.

(as duas imagens mais antigas de São Francisco de Assis)

São Francisco era um homenzinho fisicamente frágil e ativo, magro como um barbante e vibrante como a corda de um arco, e, em seus movimentos, parecia uma flecha saindo do arco. Toda sua vida foi uma série de saltos e carreiras: disparar atrás de um mendigo; ir depressa, despido, para a floresta; entrar escondido no navio desconhecido; aparecer de repente na tenda do sultão e oferecer-se para se jogar no fogo. Em termos de aparência, ele deve ter sido como uma folha outonal esquelética e fina, amarronzada, dançando eternamente no vento, mas a verdade é que ele era o próprio vento.

São Francisco era tão agitado e até irrequieto que os eclesiásticos diante dos quais ele de repente aparecia julgavam-no louco. 

O paradoxal em São Francisco era que, não obstante sua paixão por poemas, desconfiava bastante dos livros.

São Francisco era bem vívido em seus poemas e bem descuidado em seus documentos.

São Francisco era o filho de um comerciante, ou mercador de classe média, e embora toda sua vida fosse uma revolta contra a atividade mercantil do pai, mesmo assim conservou algo da agilidade e da adaptabilidade social que faz o mercador zumbir como uma colmeia ... O maior de todos os inimigos do ideal do ‘ir-conseguir’ (do empreendedor aquisitivo), São Francisco por certo deixou de lado o ‘conseguir’, mas nunca parou de ‘ir’.


São Tomás era um homem imenso e bem sólido, gordo, lento e de gestos controlados; muito amável e magnânimo, mas não muito sociável; tímido, mesmo se ignorarmos a humildade do santo; e distraído, mesmo sem levar em conta suas casuais e cuidadosamente escondidas experiências de êxtase ou de transe.


São Tomás controlava tanto suas emoções que os professores das escolas que ele frequentou regularmente o julgaram tolo. Na verdade, ele era o tipo de aluno, não incomum, que preferia ser um tolo a ter seus sonhos pessoais invadidos por tolos mais ativos ou animados.

O que havia de notável a respeito de São Tomás era sua adoração pelos livros, sua vida dedicada aos livros. Ele levou exatamente a vida do estudioso de Os Contos da Cantuária, de Geoffrey Chaucer, que preferia ter mil livros de Aristóteles, e sua filosofia, do que qualquer riqueza que o mundo pudesse lhe dar. Quando lhe perguntaram o que mais tinha a agradecer a Deus, ele respondeu simplesmente: ‘Entendi todas as páginas que li’.

São Tomás dedicou toda a vida a documentar sistemas completos de literaturas, pagã e cristã, e de vez em quando, nas horas vagas, escrevia um hino.

São Tomás, por outro lado, veio de um mundo em que poderia ter se dedicado ao lazer, e continuou a ser um desses homens para os quais o trabalho tem algo da placidez do lazer. Trabalhava com muita dedicação, mas provavelmente ninguém diria que era uma pessoa apressada. Trazia em si algo indefinível que distingue as pessoas que trabalham sem precisar trabalhar... por exemplo, era possível que houvesse algo disso em sua cortesia e paciência.

(Excertos da obra 'São Tomás de Aquino - O Boi Mudo', de G.K. Chesterton)

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE NADAL (IX)

De singulari inhumanitate serui regii & ingratitudine
71. Evangelho (Mt 18): O servo ingrato

De conuentione ex denario diurno
72. Evangelho (Mt 20): O salário justo

De Diuite Epulone
73. Evangelho (Lc 16): O rico epulão

De morte Epulonis & Lazari
74. Evangelho (Lc 16): A morte de Lázaro e do rico epulão

Ex inferno interpellat Abrahamum Epulo frustra
75. Evangelho (Lc 16): O apelo inútil do rico epulão condenado ao inferno


Mittuntur nuncii a sororibus de graui morbo Lazari
76. Evangelho (Jo 11): As irmãs enviam mensageiros a Jesus sobre a doença grave de Lázaro

Venit IESVS Bethaniam
77. Evangelho (Jo 11): Jesus chega à Betânia

Suscitat Lazarum IESVS
78. Evangelho (Jo 11): A ressurreição de Lázaro

Concilium de nece IESV
79. Evangelho (Jo 11): O conselho de fariseus trama contra Jesus

Praenunciat IESVS suam crucem Apostolis
80. Evangelho (Mt 20, Mc 10, Lc 18): Jesus preanuncia aos apóstolos sua morte na Cruz