terça-feira, 14 de novembro de 2017
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XV)
71. Qual foi o fator primordial da santificação de Francisco Marto?
O ponto central da espiritualidade do Francisco Marto foi o sentido de reparação, a compreensão intuitiva de que a prática do bem pode consolar os pecados cometidos contra Deus. Os pastorinhos receberam de Deus uma luz extraordinária sobre o mistério do pecado e o castigo eterno do inferno; eles viram as almas que se condenam, e foram convidados a rezar e a fazer penitência reparadora. Esta visão marcou-os profundamente; daí por diante a sua grande preocupação era a visão do inferno, não por medo pessoal de lá caírem, mas por caridade para com os muitos incautos que ofendem a Deus e se condenam.
Francisco foi ainda mais longe: todo o seu empenho passou a ser primariamente destinado a consolar Nosso Senhor. Este carisma da graça o absorveu por completo no pouco tempo de vida que lhe restou após as aparições da Virgem. Francisco Marto tinha apenas 10 anos de idade quando se afastou da rotina do mundo e passou a viver fazendo oração e penitência pela salvação dos pecadores, por causa das almas que ofendem a Deus, sentindo-se especialmente atraído pelo amor divino e na entrega completa e definitiva à sua missão na terra: esta foi a missão de Francisco, o Consolador: consolar Nosso Senhor dos nossos pecados!
72. Como e quando ocorreu a morte de Francisco?
Nossa Senhora havia prometido que levaria Francisco e Jacinta 'em breve' para o Céu [Segunda Aparição]. Assim, quando Francisco ficou doente em outubro de 1918, vítima da epidemia da gripe pneumônica que assolava Portugal inteiro, teve certeza de que Nossa Senhora estava a cumprir fielmente a sua promessa e, longe de se penalizar, enfrentou com nobreza e mortificação completa a enfermidade que foi longa e penosa.
(quarto onde faleceu Francisco Marto)
O quadro clínico da doença avançou rapidamente para um estágio grave de broncopneumonia, que fez o pequeno jazer prostrado por longo tempo na cama. Pela época do Natal e da passagem do Ano Novo, apresentou uma sensível melhora apenas para, em seguida, cair novamente doente, condição esta que então se agravou continuamente até a sua morte, ocorrida no dia 04 de abril de 1919, por volta das dez horas da noite. No dia anterior, havia recebido a comunhão por deferimento especial do Padre Manuel Bento Moreira, pároco de Fátima, uma vez que ainda não tinha feito a Primeira Comunhão. E, nesta ocasião, vai revelar à Lúcia um testamento de graças: 'hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito Jesus escondido'.
Foi sepultado no cemitério de Fátima, em campa rasa e num funeral sem quaisquer pompas, com o seu terço entre as mãos. Em 17 de fevereiro de 1952, seus restos mortais foram exumados e reconhecidos pelo pai pelo terço que colocara em suas mãos e posteriormente transladados para a o transepto direito da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em 13 de março de 1952. A lápide contém a seguinte inscrição: 'Francisco Marto, a quem Nossa Senhora apareceu'.
(túmulo de Francisco Marto)
73. Quais foram os fatores primordiais da santificação de Jacinta Marto?
Os fatores essenciais da espiritualidade de Jacinta Marto eram a compaixão, especialmente pelos que sofriam e pelos que viviam afastados de Deus, e um amor extremado a Jesus e Maria, que a levou a se impor, mesmo criança, como uma cópia fiel das virtudes da Virgem Santíssima. Mais que os outros videntes, ela ficou profundamente impressionada pela visão do inferno e pelo mistério da eternidade e, desde então, estabeleceu uma senda de sacrifícios e mortificações pela conversão dos pecadores.
No enfrentamento de sua dolorosa doença, manteve inabalável estas crenças e esse propósito de santificação plena, numa atitude de fortaleza e perseverança extremas, marcadas pela paciência, aceitação compassiva de suas dores e pela alegria de servir-se delas para a conversão dos pecadores. Esse conhecimento íntimo da noção do pecado como ofensa ao Senhor e a necessidade imperiosa de salvação das almas são os postulados fundamentais da espiritualidade elevada de Jacinta, de quem a própria Lúcia escreveu: 'Jacinta era também aquela a quem, me parece, a Santíssima Virgem deu a maior plenitude de graças, conhecimento de Deus e da virtude. Ela parecia refletir em tudo a presença de Deus'.
74. Como e quando ocorreu a morte de Jacinta?
Jacinta adoeceu no mesmo período que Francisco, cerca de um ano depois das aparições da Cova da Iria. Depois de um longo tempo aparentemente estagnada, a doença evoluíra para uma pneumonia bronquial e depois para um abcesso nos pulmões, efeitos que lhe causaram muito sofrimento. Em julho de 1919, foi transferida para um hospital de Ourém, retornando a Aljustrel em agosto, bastante magra e debilitada. Novamente em Fátima, tal como Francisco, pareceu ter uma melhora súbita para, em seguida, recair na gravidade da doença. Teve visões particulares de Nossa Senhora nesta ápoca, a última delas em dezembro de 1919, que revelou a Lúcia as palavras ditas pela Virgem nos seguintes termos: 'Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital... que, depois de sofrer muito, morro sozinha, mas que não tenha medo que Ela vai lá me buscar para o Céu.' Isso era algo praticamente inimaginável pois os Marto de Aljustrel estavam longe de ter os recursos necessários para viabilizar o tratamento longo e demorado da filha em um hospital de Lisboa.
(quarto onde ficou doente Jacinta Marto)
Contudo, foi exatamente isso que ocorreu por iniciativa do Cônego Manuel Formigão, com o auxílio financeiro do Dr. Eurico Lisboa, do Barão de Alvaiázere e de outras pessoas abastadas da capital. A menina foi acolhida temporariamente no Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres (atual Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, junto ao Jardim da Estrela), o qual foi fundado e dirigido pela Madre Maria da Purificação Godinho. Constatada a gravidade do caso (Jacinta padecia de pleurisia, inflamação avançada das membranas pulmonares), foi transferida para o Hospital de Dona Estefânia em 2 de fevereiro de 1920, para se submeter à delicada cirurgia de drenagem do pus e das inflamações, apenas com anestesia local, sob coordenação do Dr. Castro Freire, sem sucesso. Padeceu dores violentas nos dias subsequentes e, sob uma nova visão da Virgem que lhe anunciou a morte iminente, pediu e recebeu os sacramentos da confissão do Padre Pereira dos Reis, da Igreja dos Anjos, que lhe prometeu trazer a comunhão na manhã seguinte. Mas não houve tempo pois naquela mesma noite, em torno das 10:30h, Jacinta faleceu.
(Dr. Eurico Lisboa e enfermeiras Leonor da Assunção e Aurora Gomes que cuidaram de Jacinta)
Coberta com um vestido branco e um manto azul, como as cores de Nossa Senhora, o sepultamento foi previsto inicialmente para Lisboa, ficando o corpo disponível para visitação pública para um enorme contingente de pessoas entre os dias 21 até a manhã de 24 de fevereiro, onde todos testemunharam o odor agradável exalado do corpo, mesmo após três dias de sua morte. Com a intervenção do Barão de Alvaiázere, que ofereceu um jazigo de sua propriedade em Vila Nova de Ourém, o local do sepultamento foi alterado para aquele local, sendo realizado em 24 de fevereiro de 1920. Em 12 de setembro de 1935, os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério de Fátima, data em que a urna foi aberta e revelado o seu rosto incorrupto. Em 01 de maio de 1951, os restos mortais de Jacinta foram depositados no transepto esquerdo da Basílica de Nossa Senhora do Rosário em Fátima.
(rosto incorrupto e túmulo de Jacinta, ao lado do túmulo de Lúcia)
75. Como e quando se deram os processos de canonização de Francisco e Jacinta Marto?
Embora a fama de santidade dos dois pastorinhos fosse reconhecida por muitos logo após as suas mortes, somente muitos anos depois, com a descoberta do corpo incorrupto de Jacinta em setembro de 1935 e a posterior publicação das chamadas 'Memórias de Lúcia', tornou-se possível estabelecer a dimensão da fé heroica dos videntes de Fátima e dar início aos pedidos para investigação da santidade das duas crianças.
Os processos de canonização de Francisco e Jacinta Marto foram introduzidos pelo Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, em 1952, sendo nomeado Postulador o Cônego João Pereira Venâncio em ambos os processos. Os processos foram concluídos em 2 de julho de 1979 e em 3 de agosto de 1979, para a Jacinta e Francisco respectivamente. Como o Cônego João Pereira Venâncio fora nomeado bispo em 1954 e assumira a Diocese de Leiria em 1958, ele nomeou para novo Postulador das Causas dos dois pastorinhos o sacerdote húngaro Luís Kondor, que ocupará esta função desde 1960 até 2009, ano do seu falecimento.
Em 1979, os processos foram encaminhados à Roma e, depois de um longo debate sobre a possibilidade da espiritualidade de uma criança alcançar maturidade de fé – já que, até então, apenas se canonizara crianças cristãs martirizadas – a Congregação para a Causa dos Santos emite um parecer sobre a 'idoneidade dos adolescentes para o exercício heroico das virtudes e do martírio', no qual se mostra favorável à possibilidade da canonização de crianças no uso da razão. Com esse parecer favorável, as Positio sobre as virtudes do Francisco e da Jacinta foram redigidas e apresentadas à Congregação para a Causa dos Santos em 1988. A 13 de Maio de 1989, o Santo Padre João Paulo II decretou solenemente a Heroicidade de Virtudes dos Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto, concedendo-lhes o título de Veneráveis.
A 22 de junho de 1999, foi aprovado um milagre de cura pela intercessão de Francisco e de Jacinta, abrindo-se, assim, o caminho da beatificação de ambos por meio de um único processo que culminou com a beatificação dos videntes em Fátima, em 13 de maio de 2000, ano jubilar, pelo Papa João Paulo II. Com a confirmação de um segundo milagre em março de 1917, considerado como resultado da intercessão direta dos videntes de Fátima e que envolveu a cura inexplicável de uma criança brasileira vítima de grave acidente com traumatismo crânio-encefálico (evento ocorrido em 2013), cumpriu-se a exigência complementar para a canonização das duas crianças, evento que ocorreu finalmente na data do centenário das aparições, em 13 de maio de 2017.
(missa da canonização dos videntes em 13/05/2017)
Francisco e Jacinta Marto foram canonizados numa missa presidida pelo Papa Francisco, em Fátima, com o recinto do santuário tomado por uma multidão de fiéis. A canonização teve lugar logo no início da missa. O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, começou por fazer ao papa a petição nos seguintes termos: 'inscreva os beatos Francisco Marto e Jacinta Marto no catálogo dos santos e, como tais, sejam invocados por todos os cristãos'. Em seguida, D. António Marto apresentou uma biografia sucinta de cada um dos novos santos.
Seguiu-se a litania dos santos, em que a Igreja pede a intercessão de uma longa lista de santos e santas e a leitura, pelo papa, da fórmula tradicional de canonização: 'Para honra da Santa e Indivisível Trindade, para exaltação da fé católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, depois de termos longamente refletido, implorado várias vezes o auxílio divino e ouvido o parecer de muitos irmãos nossos no Episcopado, declaramos e definimos como santos os beatos Francisco Marto e Jacinta Marto e inscrevemo-los no Catálogo dos Santos, estabelecendo que, em toda a Igreja, sejam devotamente honrados entre os santos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo'. Eram 10h26 do dia 13/05/2017 quando Francisco e Jacinta foram declarados os santos não-mártires mais jovens da Igreja Católica.
As imagens oficiais dos dois santos são da pintora Sílvia Patrício e são baseadas em fotografias das crianças feitas em 1917, incluindo-se cores às vestes da época e atributos adicionais como o terço nas mãos, a candeia e os detalhes nas auréolas em formato de peças de ourivesaria; na de Francisco, aparecem a silhueta do Anjo de Fátima e as espécies eucarísticas; na de Jacinta, as figuras do Papa e da Virgem Maria, representada pelo seu Imaculado Coração.
domingo, 12 de novembro de 2017
A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS
Páginas do Evangelho - Trigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum
No Evangelho deste domingo, Jesus nos exorta a praticar a vigilância constante em relação à hora da nossa morte pois ela há de vir na hora mais inesperada: 'ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia nem a hora' (Mt 25, 13). No fim da nossa vida, não haverá mais tempo para prover-nos tributos de salvação e então, no Juízo Particular, Deus vai nos pedir contas da nossa vigilância à Sua Santa Vontade, do cumprimento de nossas ações cristãs e do acervo das graças recebidas e dos talentos aproveitados ou não. Neste momento tremendo de nossa existência, seremos julgados previdentes ou imprevidentes pelo Pai e merecedores ou não do Reino dos Céus.
São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma, expressas sob a forma da parábola das dez virgens (Mt 25, 1 - 13) que esperam a chegada do noivo, que tarda a chegar. O ingresso no Reino de Deus se assemelha às núpcias das festas de casamento daquele tempo em que a entrada da esposa na casa do esposo era um evento singular, marcado pela condução ritual da noiva por um certo número de virgens auxiliares.
Na narração evangélica, estas virgens são dez ao todo, cinco delas previdentes e outras cinco imprevidentes. As primeiras, prevendo uma eventual demora do noivo (o Senhor), guardaram uma provisão de óleo para manterem acesas as suas lâmpadas qualquer que fosse a hora que o noivo chegasse; ao contrário, as virgens imprudentes, não tendo o mesmo cuidado, viam angustiadas o óleo ser consumido e as suas lâmpadas prestes a se apagarem. E então recorrem desesperadamente às primeiras para que estas lhes forneçam o óleo necessário, o que lhes é negado peremptoriamente. Na morte, na nossa morte, não teremos tempo nem acesso a 'óleos' alheios, a provisão dos nossos méritos será fruto tão somente daquilo que efetivamente levarmos desta vida.
Diante de Deus, cada um de nós deverá responder por si, como resultado de um julgamento pessoal e intransferível. Ou apresentamos as lâmpadas acesas da graça, providas pelo óleo abundante da fé, para merecermos entrar no Reino de Deus ou ficaremos às escuras diante da porta fechada e da terrível sentença do juiz eterno: 'Não vos conheço!' (Mt 25, 12): 'Não vos conheço, porque não seguistes os meus mandamentos, não vivestes segundo os meus princípios e leis, não vos tornastes na terra herdeiros dos Céus!'
sábado, 11 de novembro de 2017
AS 10 CLASSES DOS SANTOS DA IGREJA
I. Santos do Antigo Testamento: começando pelos primeiros Patriarcas, passando pelos profetas e terminando com o último santo deste período, que foi São João Batista, do qual o Senhor disse: 'entre os nascidos de mulher não há maior do que João. Entretanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele' (Lc 7, 28).
II. Santos mártires: o primeiro santo e mártir foi Santo Estêvão, o protomártir, que foi apedrejado até a morte na porta de Jerusalém que leva seu nome, embora os muçulmanos a denominem como Porta dos Leões, pois existem dois leões gravados nas paredes de pedra que flanqueiam essa porta. Desde os tempos mais primitivos do cristianismo, a palma do martírio era considerada referência clara de santidade, o que continua sendo verdade até os tempos de hoje. No século XX, temos o exemplo do martírio dos Cristeros no México e as muitas vítimas das perseguições nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e, ainda hoje, são muitos os mártires católicos pelas perseguições nos países comunistas e pelo fanatismo islâmico.
III. Santos confessores e ascetas: santos que não receberam a palma do martírio de modo cruento, mas a obtiveram de modo incruento, que existiram desde sempre e que existem ainda nos tempos atuais. Eles são os cristãos que vivem heroicamente a sua fé, seja através de uma vida de afastamento do mundo, como eremitas ou recolhidos em mosteiros, ou como simples cristãos leigos e anônimos, com os quais, muitas vezes, convivemos cotidianamente em nossas vidas.
IV. Santos fundadores de ordens ou movimentos religiosos: pessoas singulares que foram chamados pelo Senhor para criar verdadeiros impérios do cristianismo, a partir do nada, mas confiantes absolutos nos desígnios divinos e no cumprimento estrito da Vontade de Deus. São santos como São Francisco de Assis, São Domingos de Gusmão, Santa Teresa de Jesus ou Santo Inácio de Loyola ou, mais recentemente, São Josemaría Escrivá de Balaguer.
V. Santos místicos: são aqueles que receberam expressamente a ação direta e imediata de Deus na alma, juntamente com a consciência que a alma tem de tal feito e, por isso, o termo 'místico' designa os estados mais avançados do processo 'contemplativo'. O misticismo é a tomada de posse de nosso ser por Deus, o que traz consigo uma modificação de nossa psicologia, nossa consciência e nosso comportamento, de maneira sensível, embora não possamos conhecê-la ou expressá-la. Para Royo Marín, o misticismo não é um estado extraordinário e anormal reservado para alguns aristocratas do espírito, mas o caminho natural que todas as almas devem percorrer para alcançar a completa expansão e desenvolvimento da graça santificante, recebida na forma de uma semente ou germe no sacramento do batismo. Muitos outros tipos de santos podem ser incluídos também nesta classe, por exemplo, Santa Teresa de Jesus.
VI. Santos doutores da Igreja: são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo seu eminente saber teológico, atestado por diferentes obras e escritos, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja (num total de 36 santos até hoje). Entre eles, se incluem Santo Ambrósio (o primeiro santo doutor da Igreja), São Tomás de Aquino, São João da Cruz e Santo Afonso Maria de Ligório. Quatro foram as mulheres declaradas doutoras da Igreja: Santa Catarina de Siena, Santa Teresa de Ávila, Santa Teresa de Lisieux e Santa Hildergada de Bingen.
VII. Santos missionários: são aqueles que, impulsionados por um extremado zelo apostólico, buscaram, em vez do isolamento e reclusão, uma vida de intensa e contínua atividade apostólica e missionária no mundo. exemplos destes santos são os irmãos Cirilo e Metódio que evangelizaram a Europa Oriental, São Bonifácio que deixou a Inglaterra para evangelizar a Alemanha e São Francisco Xavier que converteu milhares de pessoas ao cristianismo na Índia e no Extremo Oriente.
VIII. Santos humanistas: são homens que levaram a estrita observância aos preceitos da fé cristã em todas as suas variadas e múltiplas atividades humanas. Exemplo típico desta classe de santos foi São Tomas More, que foi advogado, político, homem de negócios, chanceler da Inglaterra, escritor, filósofo e mártir da Igreja.
IX. Santos excêntricos: são aqueles que totalmente imersos na vida em Deus, despojam-se de todo respeito humano e concessões às normas regulares da conduta humana convencional. João Batista morava no deserto e se alimentava de gafanhotos. Outros viveram isolados como nômades em cavernas ou em outros ambientes igualmente ermos e rústicos. Outro exemplo típico desta classe é São Simeão Estilita, um asceta cristão sírio, que viveu no cimo de uma coluna de pedra, amarrado por correntes, durante 37 anos de sua vida.
X. Santos anônimos: são aqueles que alcançaram a santidade no completo anonimato no mundo, vivendo e convivendo com os homens, entre nós. Têm como característica singular, com raras exceções, o convívio formal e o desconhecimento dos próximos. São santos de todos os tempos. Buscam cotidianamente cumprir em suas vidas a Santa Vontade de Deus, em meio às suas atividades humanas específicas e são vistos, portanto, como fulano ou beltrano, e referidos pela sua profissão ou atuação, mas que são santos porque, em sua vida terrestre, já se postulam como cidadãos do Céu.
(Texto do autor deste blog, com base em texto publicado originalmente em espanhol no blog de Juan del Carmelo)
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
10 DE NOVEMBRO - SÃO LEÃO MAGNO
Com o falecimento do Papa São Sixto III em 440, assumiu o pontificado Leão I, arquidiácono da Igreja romana, conselheiro pontifício e homem de doutrina e palavra eloquente que, ao longo de 21 anos, defendeu a fé cristã e enfrentou heresias e a fúria das hordas invasoras que se lançavam à conquista da Europa e de Roma, mantendo, do Ocidente até o Oriente, a primazia da Sé de Roma.
No campo dogmático, Leão I enunciou, de forma clara e contundente, a doutrina cristológica das duas naturezas - humana e divina - na pessoa única do Verbo, dogma da Igreja ratificado pelo Concílio de Calcedônia em 451, condenando de forma definitiva os desvios doutrinários de Nestório ('duas pessoas em Cristo') e dos monofisitas de Eutiques ('uma única natureza em Cristo').
A maior vitória de Leão I, entretanto, foi a defesa de Roma contra a barbárie pagã que invadira a Europa. Átila, o terrível chefe dos hunos, autoproclamado 'flagelo de Deus', havia cruzado os Alpes, tomado Milão e Pavia e chegado à Mântua, às portas de Roma, agora abandonada à própria sorte pelos governantes em fuga. Com muitos cardeais e membros do clero romano, e revestido das insígnias pontifícias, Leão I foi até Mântua para intimar o invasor a não empreender o ataque à Roma, a deixar a Itália e voltar às suas terras de origem.
Contra todas as expectativas possíveis, foi exatamente isso que aconteceu. Aceitando a proposta do pontífice mediante um tributo anual por não saquear a cidade romana, Átila volveu seu exército em retirada. O que aconteceu naquele dia em Mântua? O que terá dito Leão I ao bárbaro invasor, reconhecido e aclamado por sua brutal impiedade, para tal reconsideração espantosa? Os registros históricos revelam uma singular visão do invasor: 'Enquanto ele me falava, eu via, de pé a seu lado, um Pontífice de majestade sobre-humana (São Pedro). De seus olhos jorravam raios, e tinha na mão uma espada desembainhada; seu olhar terrível e seu gesto ameaçador me ordenavam conceder tudo quanto solicitava o enviado dos romanos'. Desta extraordinária intervenção divina, Leão I, para louvor e ação de graças, mandou fundir a estátua de bronze de Júpiter Capitolino e fazer com esse metal uma grande imagem do Apóstolo Pedro, que até hoje se venera na Basílica Vaticana.
Contra todas as expectativas possíveis, foi exatamente isso que aconteceu. Aceitando a proposta do pontífice mediante um tributo anual por não saquear a cidade romana, Átila volveu seu exército em retirada. O que aconteceu naquele dia em Mântua? O que terá dito Leão I ao bárbaro invasor, reconhecido e aclamado por sua brutal impiedade, para tal reconsideração espantosa? Os registros históricos revelam uma singular visão do invasor: 'Enquanto ele me falava, eu via, de pé a seu lado, um Pontífice de majestade sobre-humana (São Pedro). De seus olhos jorravam raios, e tinha na mão uma espada desembainhada; seu olhar terrível e seu gesto ameaçador me ordenavam conceder tudo quanto solicitava o enviado dos romanos'. Desta extraordinária intervenção divina, Leão I, para louvor e ação de graças, mandou fundir a estátua de bronze de Júpiter Capitolino e fazer com esse metal uma grande imagem do Apóstolo Pedro, que até hoje se venera na Basílica Vaticana.
O grande papa e santo faleceu em Roma no dia 10 de novembro de 461. Pelo enorme acervo de documentos teológicos, sermões admiráveis e devotada defesa dos dogmas, São Leão foi chamado Magno e declarado Doutor da Igreja em 1754.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XIV)
66. Qual era a realidade das mensagens de Fátima ao final do ano de 1917?
Após a última aparição ocorrida em 13 de outubro de 1917 e o chamado 'milagre do sol', a Cova da Iria nunca
mais foi a mesma; a toda hora
chegavam peregrinos e Fátima não tinha uma infraestrutura adequada para acessos, nem para alimentação e nem para hospedagem de tanta gente, problemas que iriam perdurar por vários anos após as aparições. Para os três pastorinhos, a vida da rotina anterior passara a ser impossível, tantas e tantas eram as manifestações para vê-los e para interrogá-los. Francisco e Jacinta, entretanto, já se preparavam para o sacrifício iminente, ao passo que Lúcia estava sendo moldada para ser a testemunha final dos grandes eventos de Fátima.
Em termos gerais, a opinião pública portuguesa estava profundamente mobilizada em relação aos eventos ocorridos em Fátima que eram, então, praticamente desconhecidos fora de Portugal. No entanto, essa mobilização era fruto direto do testemunho público e da ampla divulgação pela imprensa do chamado 'milagre do sol' porque as mensagens de Nossa Senhora, tão difundidas e repetidas atualmente em todo o mundo, eram totalmente desconhecidas à época, protegidas sob o selo do que ficou conhecido mundialmente depois como 'Segredo de Fátima'.
(peregrinação a Fátima, em 13 de outubro de 1926)
Com efeito, depois da primeira Aparição de Nossa Senhora, as três crianças prometeram entre si guardarem, sob escondimento completo, o teor das revelações marianas; a princípio provavelmente por receio humano e, mais tarde, movidos por um sentimento de obediência a um desígnio de natureza divina [Irmã Lúcia, Primeira Memória]. Esta intuição das crianças de guardarem segredo sobre as revelações de Nossa Senhora foi confirmada posteriormente pela própria Virgem, na aparição de 13 de julho, quando, após lhes ter revelado a primeira e a segunda parte do Segredo, lhes exortou enfaticamente: 'Isto não o digais a ninguém'. Assim, ao final de 1917 e nas décadas seguintes [as duas primeiras partes do Segredo somente foram formalmente reveladas publicamente por Lúcia em 1941, quando da publicação de sua Terceira e Quarta Memórias], a 'mensagem de Fátima' estava essencialmente restrita a um apelo urgente de Nossa senhora à humanidade por oração e penitência.
67. Qual foi a posição da Igreja após as aparições de Fátima?
De uma maneira geral, a posição da Igreja Católica em Portugal foi de silêncio, respeito e prudência. De um lado, os fatos extraordinários da aparição de 13 de outubro foram notórios e registrados por testemunhas bastante idôneas, inclusive muitos sacerdotes; por outro lado, o clero português estava bastante ciente dos riscos e perigos de novas sanções e perseguições por parte de um governo francamente hostil, maçônico e anti-católico. Certamente a segunda condição impôs uma norma de controle mais efetiva e praticamente geral (muitos sacerdotes desaconselhavam explicitamente as manifestações então favoráveis às mensagens de Fátima) que pouco foi alterada mesmo quando, em fevereiro de 1918, o presidente Sidónio Pais suspendeu muitas das leis anti-católicas estabelecidas pela chamada Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado, o que suscitou reações diversas por parte da maçonaria e de grupos republicanos históricos (o presidente foi assassinado pouco depois, em dezembro de 1918).
Em termos locais, em janeiro de 1918, apenas três meses depois da última aparição, a Santa Sé restabeleceu, após 60 anos, a Diocese de Leiria, à qual pertencia a aldeia de Fátima. O Reverendo José Alves Correia da Silva (1872 - 1957) foi nomeado bispo e tomou posse da sua Sé Episcopal em 5 de agosto de 1920. Apesar desse posicionamento inicial da Igreja de Portugal, contido e distante, e mesmo sem uma aprovação eclesiástica oficial, as peregrinações e romarias a Fátima começaram a se impor naturalmente pelo povo católico português, e em magnitude crescente nos anos seguintes.
Em 3 de maio de 1922, um novo e importante marco se estabelece na história das aparições de
Fátima D. José Alves Correia da Silva, bispo de Leiria, publica a 'Provisão sobre os
acontecimentos da Fátima', em que faz uma reflexão sobre os milagres de Cristo, resume os acontecimentos ocorridos em Fátima nos últimos anos, salientando a
enorme adesão popular apesar das perseguições das autoridades civis e do alheamento das
autoridades religiosas e nomeia uma Comissão Especial, designando os seus vários membros*,
com a missão de 'estudar este caso, e organizar o processo segundo as leis canônicas'.
* Rev. João Quaresma, Vigário Geral da Diocese; Rev. Faustino José Jacinto Ferreira, Prior do Olival e Vigário da Vara de Ourém; Rev. Dr. Manuel Marques dos Santos, Professor do Seminário; Rev. Dr. Joaquim Coelho Pereira, Prior da Batalha; Rev. Dr. Manuel Nunes Formigão Júnior, Professor do Seminário Patriarcal com autorização de S. Em.cia.; Rev. Joaquim Ferreira Gonçalves das Neves, Prior de Santa Catarina da Serra; Rev. Agostinho Marques Ferreira, Pároco da Fátima.
D. José Alves Correia da Silva (bispo de Leiria entre 1920 e 1957)
68. Qual foi a posição do governo português logo após as aparições de Fátima?
A posição de antagonismo e franca hostilidade do governo português às aparições de Fátima foi claramente expressa desde a época das próprias aparições, com o lamentável episódio de sequestro dos três videntes durante a aparição prevista para o dia 13 de agosto de 1917, perpetrada pelo então administrador do Concelho de Ourém (ao qual Fátima era integrante), Artur de Oliveira Santos, inimigo ferrenho da Igreja Católica e presidente da Loja Maçônica de Ourém. As manifestações contrárias recrudesceram violentamente após o 'milagre do sol', inicialmente com séries de matérias tendenciosas e escarnecedoras sobre os eventos de Fátima pela mídia maçônica, depois com inúmeras tentativas de inibir e esvaziar as peregrinações à Cova da Iria, sem muitos resultados concretos. Estas atitudes de hostilidade declarada culminaram com o atentado à capelinha originalmente construída no local das aparições, em 1922.
69. Como foi construída a capelinha original das aparições?
Particularmente a partir da antevéspera da quarta aparição, uma camponesa chamada Maria dos Santos ou 'Maria da Capelinha', natural da aldeia de Moita Redonda e peregrina assídua à Cova da Iria, tinha recolhido os valores doados por inúmeros peregrinos quando de suas idas à Cova da Iria [ver Fato 50]. Além da preservação do sítio da pequena azinheira, cuidou zelosamente pela construção da primeira capelinha no local das aparições, tal como pedido por Nossa Senhora [ver Fato 52]:
– Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria?
– Façam dois andores: um leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas, vestidas de branco; o outro que o leve o Francisco, com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário, e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que hão de mandar fazer.
Com efeito, pela intervenção assídua e perseverante da Maria da Capelinha e após muitos percalços e dificuldades, o pai de Lúcia doou o terreno da Cova da Iria e uma capelinha foi construída no local das aparições, em pouco mais de um mês. A igrejinha modesta ficou concluída em 15 de junho de 1919 e foi executada pelo pedreiro Joaquim Barbeiro de Santa Catarina da Serra, e ficou conhecida por Capelinha das Aparições.
A imagem de Nossa Senhora de Fátima (foto abaixo), feita segundo as orientações da irmã Lúcia, foi oferecida por Gilberto Fernandes dos Santos, feita em madeira de cedro do Brasil, medindo 1,10 m de altura, tendo sido benzida no dia 13 de maio de 1920 na Igreja Paroquial de Fátima, e passando a ocupar o lugar na Capelinha das Aparições a 13 de junho do mesmo ano.
70. Em que consistiu o atentado à capelinha original das aparições?
Em função dos boatos frequentes de atentados e tentativas de roubo, a imagem de Nossa Senhora era retirada toda noite do nicho da capela e guardada na casa de Maria da Capelinha. Esses cuidados mostraram-se bastante razoáveis pois, em 6 de março de 1922, a capelinha foi destruída por explosivos, o que resultou num grande buraco do telhado, embora nem todos os artefatos colocados tenham sido detonados. De maneira similar, uma outra bomba que havia sido colocada junto à azinheira das aparições não chegou a explodir.
Estes eventos contribuíram apenas para aumentar ainda mais o fervor dos peregrinos e a magnitude das romarias à Cova da Iria, bem como crescentes protestos contra o governo. Por motivos de precaução, o Bispo de Leiria proibiu a reconstrução da capela. Neste contexto, a capelinha foi simplesmente recoberta por um telheiro improvisado, tornando-se então o centro do culto às aparições e mensagens de Fátima. Somente em 13 de maio de 1928, seria feito o lançamento e a bênção da pedra fundamental que daria origem ao Santuário de Fátima.
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