sábado, 18 de março de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (IV)

16. Como se deu a segunda aparição do Anjo da Paz?

A segunda aparição do Anjo ocorreu poucas semanas depois da primeira, num dia muito quente do verão de 1916. Nestes dias de muito calor, as crianças deixavam o rebanho pastar na Cova da Iria e retornavam às suas casas, para só buscá-lo de volta à tardinha. Neste dia em particular, sob o sol a pino, por volta do meio dia, as crianças foram brincar nos fundos da casa dos pais de Lúcia. Este local, cercado de árvores e com muita sombra e onde existia um poço raso que era utilizado para acumular as águas das chuvas (chamado Poço do Arneiro), era muito utilizado pelas crianças para brincar e descansar do calor.

De repente, o Anjo estava com eles e lhes disse:

'Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios'.

Tolhida pela aparição repentina, Lúcia respondeu ao Anjo: 'Como nos havemos de sacrificar?'

O Anjo lhe respondeu:

'De tudo o que puderdes, oferecei a Deus sacrifício, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar'.

E, dizendo isso, desapareceu.

(Poço do Arneiro)

(monumento local em memória da segunda Aparição do Anjo)

17. Quais foram as impressões das crianças diante esta segunda aparição do Anjo?

A mesma atmosfera sobrenatural envolveu os pastorzinhos depois da aparição e, como da primeira vez, Francisco, embora tenda visto perfeitamente o Anjo, nada ouvira do que ele havia dito, no seu diálogo com Lúcia. Questionando insistentemente sobre isso, o menino queria que Lúcia explicasse em detalhes o significado de palavras como 'Altíssimo', 'desígnios de misericórdia', 'súplica' e, muito particularmente, sobre 'fazer sacrifícios'. Uma vez adquirida a percepção dos ensinamentos do Anjo, ele, bem como as duas meninas, adotaram, a partir de então, uma contínua e perseverante prática de renúncia a pequenos prazeres e constantes atos de mortificação pela conversão dos pecadores. E, entre uns e outros, passaram a repetir exaustivamente a oração ensinada pelo Anjo em sua primeira aparição.

18. Qual é a natureza do Anjo de Portugal?

A autodenominação da aparição angélica como 'Anjo de Portugal' revela a natureza de um Anjo da Guarda associado a um país, sendo esta a única manifestação histórica de sua existência na história dos homens. E o Anjo de Portugal tem uma referência histórica bem conhecida e documentada. Com efeito, por um pedido especial do rei Dom Manuel e dos bispos portugueses, o Papa Leão X instituiu, em 1504, a festa do 'Anjo Custódio do Reino', cujo culto já era antigo pelos portucalenses, assumido como sendo o Arcanjo São Miguel. Desde então, a celebração tornou-se tradicional em Portugal, permeando os séculos XVI, XVII e XVIII e decaindo fortemente ao longo do século XIX. Existem inúmeras evidências que atestam esta generalizada devoção ao Anjo de Portugal ao longo de séculos, sendo especialmente notáveis as imagens existentes no mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, no convento de Cristo em Tomar, a pintura da Misericórdia em Évora e a iluminura do chamado 'Livro de Horas de Dom Manuel'. Na época do Papa Pio XII, a festa do Anjo de Portugal foi restaurada em todo o país, passando a ser comemorada conjuntamente com o Dia de Portugal, no dia 10 de junho. 

(imagens do Anjo de Portugal)

Nesta data, os portugueses pedem a intercessão do Anjo de Portugal sobre a sua pátria com invocações como estas:

Vinde, Anjo de Portugal, livrar a Pátria e os portugueses de todo o mal.

* * *
Vinde, Anjo de Portugal, afastar da Pátria a vós confiada os males espirituais assim como tudo o que puder perturbar a paz dos portugueses.

* * *
Deus eterno e onipotente, que destinaste a cada nação o seu Anjo da Guarda, concedei que, pela intercessão e patrocínio do Anjo de Portugal, sejamos livres de todos os adversários. Por nosso Senhor. 

19. Como se deu a terceira aparição do Anjo de Portugal?

No fim do verão ou princípio do outono (meados de setembro a início de outubro) de 1916, ocorreu a terceira aparição do Anjo às crianças, novamente no lugar chamado 'Loca do Cabeço'. As crianças tinham deixado o rebanho pastar (e já não retornavam à casa como na época do verão) e decidido irem até para rezar. Logo que chegaram, prostrados de joelhos e rostos em terra, começaram a rezar repetidas vezes a oração do Anjo: 'Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e Vos amo...' quando viram uma luz resplandecente e, em seguida, o Anjo suspenso no ar.

Desta vez, trazia na mão esquerda um cálice e, sobre ele, segurava com a mão direita uma hóstia, da qual caíam algumas gotas de sangue dentro do cálice. Deixando, então, o cálice e a hóstia suspensos no ar, o Anjo prostrou-se em terra e rezou:

'Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores'.


Repetiu três vezes esta oração com as crianças. Em seguida, levantou-se e tomando novamente o cálice e a hóstia nas mãos, lhes disse:

'Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus'.


O Anjo deu, então, a hóstia à Lúcia e ofereceu o cálice para Jacinta e Francisco beber. Prostrou-se em terra, mais uma vez, e rezou novamente, mais três vezes, a oração à Santíssima Trindade, no que foi acompanhado pelas crianças. Como Francisco não ouvia o que o Anjo dizia, acompanhava a oração após ouvir as repetições feitas por Lúcia e Jacinta. Ao final, o Anjo desapareceu em meio à mesma luz resplandecente da sua aparição.

20. Quais são as mensagens explícitas a todos os homens na terceira aparição do Anjo?

O Anjo oferece ao Pai o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presentes no Santíssimo Sacramento, em expiação e reparação dos pecados dos homens, uma vez isso só é possível e agradável a Deus por meio dos méritos infinitos de Nosso Senhor. E, depois, vai suplicar pela conversão dos pecadores invocando as graças dos Corações Imaculados de Jesus e de Maria.

E exorta às crianças e a todos nós, como Filhos de Deus, a praticar insistentemente orações de súplica, desagravo e reparação, por Cristo, com Cristo e em Cristo, aos pecados cometidos contra Nosso Senhor Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento. Estes pecados que demandam atos incessantes de reparação e desagravo pelas nossas orações podem ser de três naturezas:

- os ultrajes cometidos pelas nossa falta de zelo, desatenção e impiedade à sacrossanta dignidade de Nosso Senhor Eucarístico;

- os sacrilégios demandados pelas comunhões indignas, pela profanação das sagradas espécies, pelas aberrações do rito litúrgico, pela imodéstia dos trajes e do comportamento durante a procissão eucarística;

- os pecados da indiferença no recebimento do Senhor na Eucaristia com desmazelo, frieza e negligência, sem quaisquer anelos de contrição, penitência, agradecimento, louvor e adoração.

As mensagens do Anjo de Portugal são cristalinas e endereçadas, de forma explícita e contundente, aos homens de todos as ápocas mas, principalmente, aos homens perseverantes na fé destes tristes tempos em que vivemos!

sexta-feira, 17 de março de 2017

DO LIVRO DAS CINTILAÇÕES (VII)

Do Livro das Cintilações*- VII/Final

LXIV - A amizade e a inimizade

213. Disse Jesus, filho de Sirach: Volta-te para teus amigos e afasta-te de teus inimigos. Um amigo fiel é uma poderosa proteção; quem o encontra, encontra um tesouro. Nada se pode comparar a um amigo fiel (Eclo 6,13-15).

214. Disse Jesus, filho de Sirach: Quando tudo corre bem, não se conhece quem é amigo de verdade; em tempos de desgraça, manifesta-se quem é inimigo (Eclo 12,8).

215. Disse Jerônimo: Nos amigos não se buscam os bens, mas o querer (Ep. 68, 1; PL 22, 651).

216. Disse Jerônimo: Não há distância que separe aqueles que estão unidos pelo amor (Epist. 71, 7, 2; PL 22, 672).

217. Disse Isidoro: O amigo é verdadeiramente amado somente se é amado, não por ele mesmo, mas por Deus. Quem não sabe amar verdadeiramente ama para seu próprio proveito e não por Deus (Sent., III, 28, 53; PL 83, 702).

218. Disse Isidoro: Há alguns que quando atingem altas posições, desdenham ter por amigos aqueles que, antes, tinham por íntimos (Sent., III, 29, 6; PL 83, 703).

LXV - Os conselhos

219. Disse Jesus, filho de Sirach: Que sejam muitas as pessoas com quem tenhas boas relações; conselho, porém, toma de uma em mil (Eclo 6,6).

220. Disse Jesus, filho de Sirach: Não faças nada sem conselho e não te arrependerás (Eclo 32,24).

221. Disse Jesus, filho de Sirach: Não dês conselho aos que te invejam (Eclo 37,7).

222. Disse Basílio: Em toda ação que pretendes realizar, antes considera atentamente diante de Deus se ela está de acordo com Deus. Se estiver, realiza-a; se não, arranca-a do teu espírito (Adm. ad fil. 12; PL 103, 694)

LXVI - Os mortos

223. Disse João Apóstolo: Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor (Apoc 14,13).

224. Disse Isidoro: O amor leva-nos a chorar pelos fiéis defuntos; a fé, porém, leva a não nos afligirmos por eles (Sent., III, 62, 12; PL 83, 738)

LXVII - O auxílio de Deus

225. Disse Paulo Apóstolo: Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rom 8,31).

226. Disse Paulo Apóstolo: a escolha não depende do homem que quer ou do homem que corre, mas da misericórdia de Deus (Rom 9,16).

227. Disse Jerônimo: Feliz aquele para quem a esperança é Deus e toda ação, oração.

LXVIII - Os velhos e os jovens

228. Disse o Senhor no Evangelho: Deixai vir a mim os pequeninos, pois deles é o reino dos céus (Mt 19,14).

229. Disse Salomão: A alegria dos jovens, sua força; a dignidade dos velhos, suas cãs (Prov 16,31).

LXIX - As desavenças

230. Disse Gregório: Todos os hereges, querendo agradar a Deus, ofendem-nO (Moral., 11, 1, 1; PL 75, 953).

231. Disse Isidoro: Por nenhuma razão entres em discussão, pois as discussões conduzem ao litígio. As discussões geram as rixas. A discussão deflagra o ódio e dissolve a concórdia (Syn., II, 39; PL 83, 854).

LXX - A vida alheia

232. Disse Agostinho: Ah, quão irrepreensíveis seríamos se cuidássemos de evitar nossos próprios vícios com o mesmo empenho com que bisbilhotamos os dos outros! Mas porque esquecemos dos nossos é que nos ocupamos dos defeitos alheios.

233. Disse Jerônimo: Guarda-te de cometer o mesmo erro que te propões corrigir.

234. Disse Jerônimo: Ao investirem contra os erros alheios, manifestam os seus próprios.

235. Disse Gregório: Menos devemos nos atrever a censurar o que os outros têm no coração quanto mais conscientes estamos de que nosso olhar é incapaz de penetrar na intimidade dos pensamentos alheios (Moral. I, 9,; PL 75, 533).

LXXI - A mansidão e a temeridade

236. Disse o Senhor no Evangelho: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (Mt 11,29).

237. Disse Agostinho: Há alguns que, sendo inferiores por sua iniquidade, ainda se julgam superiores a todos os homens (En. in Ps. 124, 1; PL 37, 1648).

LXXII - Os juízes e os governantes

238. Disse o Senhor no Evangelho: Não julgueis e não sereis julgados. Pois, segundo o julgamento que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, sereis medidos (Mt 7,1-2).

239. Disse Jerônimo: Não nos alegremos com os elogios dos homens; não temamos as críticas dos homens.

240. Disse Jerônimo: Se queremos agradar a Deus, não temamos as ameaças dos homens.

LXXIII - A simplicidade

241. Disse o Senhor no Evangelho: Sede prudentes como serpentes e simples como pombas (Mt 10,16).93.

242. Disse Jerônimo: Que o homem rústico e simples não se julgue santo porque nada sabe; e que o homem culto e instruído não pense que a santidade consiste na erudição (Ep., 52, 9, 3; PL 22, 579).

243. Disse Jerônimo: A estrutura espiritual é a articulação de fé firme no coração, elmo da salvação na cabeça, sinal de Cristo na fronte, palavra de verdade na boca, vontade boa no espírito, amor de Deus no peito, vestimenta de pureza nas paixões, retidão no agir, sobriedade no convívio, constância na bondade, humildade no sucesso, paciência na tribulação, esperança na oração, amor à vida eterna, perseverança até o fim.

LXXIV - Os médicos

244. Disse o Senhor no Evangelho: Não os sãos, mas os doentes é que têm necessidade de médico (Lc 5,31).

245. Disse Jesus, filho de Sirach: Honra o médico, porque ele é necessário: o Altíssimo o criou. De Deus é que vem todo remédio (Eclo 38,1-2).

246. Disse Cipriano: É necessário abrir a ferida, cortá-la, expelir o pus e aplicar-lhe remédio forte. O doente, que mal suporta a dor, grita e vocifera; mas, depois, ao recobrar a saúde, agradecerá (De lapsis, 14; PL 4, 447-448).

LXXV - A ligação com Deus

247. Disse o Senhor no Evangelho: Tudo o que ligardes na terra será ligado nos céus (Mt 16,19).

248. Disse Gregório: Aqueles a quem Deus onipotente visita pela graça do arrependimento, Ele os absolve pela sentença do pastor (Hom. Ev., 26, 6; PL 76, 1200).

LXXVI - O exemplo

249. Disse Isidoro: Se temos disposição para imitar os iníquos no mal, por que a displicência para imitar os justos no bem? (Sent., II, 7; PL 83, 612).

LXXVII - Os discípulos

250. Disse Jerônimo: Guarda-te de ser mestre antes de ser discípulo; de ser soldado antes de ser recruta (Ep. 125, 8, 2; Hilberg III, 127, 10).

251. Disse Jerônimo: O homem de estudos e sábio, mesmo quando quer aprender algo, ensina pelo modo sábio com que interroga (Ep. 53, 3, 7; PL 22, 543).

252. Disse Jerônimo: Há alguns, com extrema propensão a falar, que têm o atrevimento de explicar o que eles mesmos não entenderam (Ep. 7, 1; Hilberg I, 453).

253. Disse Cipriano: Aprimora o seu ensino aquele que cada dia cresce e se aprofunda na arte de aprender o melhor (Ep. 74, 10; PL 3, 1135).

254. Disse Cipriano: O ensino é o guardião da esperança; reservatório da fé; traça o caminho da salvação; exprime e realiza uma personalidade sólida; é mestre de virtude; faz permanecer sempre em Cristo, viver para Deus e atingir as promessas celestes e as divinas recompensas (De hab. virg., I; PL 4, 440-441).

LXXVIII - A tentação e o martírio

255. Disse Jerônimo: Não é só o derramamento de sangue que tem o valor de testemunho de fé, mas a perfeição do servir com amor é também um cotidiano martírio (Ep. 108, 31, 1; PL 22, 905).

256. Disse Isidoro: O diabo é uma serpente escorregadia; se não se lhe ataca a cabeça (isto é, já à primeira insinuação), ele se infiltra inteiramente, sem que reparemos o mal no íntimo do coração (Sent., III, 5, 14; PL 83, 663).

LXXIX - As palavras ociosas

257. Disse o Senhor no Evangelho: Eu vos digo: por toda palavra ociosa proferida pelos homens dar-se-á conta no dia do juízo. Cada um será justificado ou condenado por suas palavras (Mt 12,36-37).

258. Disse Gregório: Palavra ociosa é aquela que carece da retidão que a tornaria útil ou de uma razão de justa necessidade (Hom. Ev., 6, 6; PL 76, 1098).

LXXX - A brevidade da vida presente

259. Disse Salomão: Há tempo para nascer e tempo para morrer (Ecl 3,2).

260. Disse Jerônimo: Breve é a felicidade desta vida; pobre, a glória deste mundo; caduco e frágil, o poder temporal. Diz-me: onde estão os reis; onde os príncipes, os imperadores, os ricos, os poderosos deste mundo? Sim, como uma sombra, passaram; como um sonho, desvaneceram-se; pode-se procurá-los, mas já não existem. As riquezas conduzem ao perigo, muitos ruíram por sua opulência; para muitos, as riquezas causaram a morte.

261. Disse Isidoro: O tecido desfaz-se fio a fio; a vida do homem consome-se dia a dia (Sent., III, 61, 3; PL 83, 736).

LXXXI - As leituras

262. Disse o Senhor no Evangelho: Quem lê, entenda (Mt 24,25).

263. Disse o Senhor no Evangelho: A quem muito foi dado, muito ser-lhe-á pedido (Lc 12,48).

264. Disse Isidoro: Quem quer sempre estar com Deus deve frequentemente orar e frequentemente ler. Pois, quando oramos, somos nós que falamos com Deus; quando lemos é Deus quem nos fala. Todo progresso espiritual procede da leitura e da meditação. O que ignoramos, aprendemos na leitura; o que aprendemos, conservamo-lo pela meditação (Sent., III, 8, 2; PL 83, 679)

265. Disse Isidoro: Ninguém pode conhecer o sentido das Sagradas Escrituras senão pela sua leitura frequente (Sent., III, 9, 1; PL 83, 680).

* (Liber Scintillarum, escrito por volta do ano 700, constitui uma coletânea de máximas e sentenças compiladas das Sagradas Escrituras ou proclamadas pelos Pais da Igreja, organizadas por um monge - que se autodenomina 'Defensor' - do Mosteiro de São Martinho de Ligugé; tradução de Jean Lauand)

quinta-feira, 16 de março de 2017

DESCRIÇÃO DE UM ÊXTASE DE SANTA GEMMA GALGANI


Era uma quinta-feira. No meio do jantar, Gemma, pressentindo o êxtase, levantou-se da mesa, e retirou-se tranquilamente para o quarto. Pouco depois, Dona Cecília, sua mãe adotiva, chamou-me; segui-a e encontrei a donzela em pleno êxtase, na ocasião em que travava com a Justiça Divina uma viva luta, cujo fim era a conversão de um pecador. Confesso que em minha vida nunca assisti a um espetáculo tão comovedor.

A extática, sentada sobre o seu pobre leito, voltava os olhos, o rosto, toda a sua pessoa para o ponto do quarto em que o Senhor se encontrava. Comovida, mas sem agitação, mostrava-se resoluta, na atitude de uma pessoa que discute e que quer vencer a todo custo. Começou assim:

'Já que viestes, Jesus, pedir-Vos-ei de novo pelo meu pecador. É vosso filho e meu irmão, salvai-o, ó Jesus'. Em seguida nomeou-o. Era um estrangeiro que ela tinha conhecido em Lucca e a quem muitas vezes já, levada por uma inspiração interior, tinha advertido de viva voz e por escrito, que pusesse em ordem a sua consciência e não se contentasse com a fama de bom cristão, de que gozava entre o povo. Jesus, surdo às recomendações da sua serva, parecia decidido a tratá-lo como justo juiz. Gemma continuou sem desanimar:

'Por que é que hoje não me ouvis, ó Jesus, tanto fizestes por uma só alma e a esta recusais salvá-la? Salvai-a, Jesus, salvai-a!' 

[Nesta altura do êxtase, Jesus deve ter-lhe dito que abandonava de uma vez esse pecador pois somente assim se explica o que se segue].

'Sede bom, Jesus, não me faleis assim. Na boca de Quem é a Misericórdia, esta palavra 'Eu o abandono' não soa bem; não deveis pronunciá-la. Vós derramastes, sem medida, o Vosso sangue pelos pecadores. E agora quereis medir a quantidade dos nossos pecados? Não me ouvis? A quem hei de eu recorrer então? Derramastes o vosso sangue por ele, assim como por mim.

'Salvais-me a mim, e a ele não? Não me levantarei daqui; Salvai-o. Dizei-me que o salvais. Ofereço-me como vítima por todos, mas particularmente por ele. Prometo-Vos que nada vos hei de recusar. Dais-me? É uma alma. Pensai nisso. Jesus, é uma alma que vos custou muito. Virá a ser boa e há de corrigir-se'.

Como única resposta, o Senhor continuou a opor-se em nome da Justiça Divina. E Gemma continuou também, animando-se cada vez mais:

'Eu não procuro a vossa justiça, mas a vossa misericórdia. Por quem sois Jesus, ide ter com esse pobre pecador, e dai um terno abraço ao seu coração. Vereis que ele se converte. Experimentai ao menos… Ouvi, Jesus, Vós, como dizeis, tendes multiplicado os assaltos para o ganhar, mas nunca lhe chamaste vosso filho; experimentai. Dizei-lhe que sois seu pai e que ele é vosso filho. Vereis, vereis que, a este doce nome de pai, o seu coração endurecido se há de abrandar'. 

Nesta altura, o Senhor, para mostrar à sua serva os motivos da sua severidade, descortinou a ela, uma por uma, com as mais pequenas circunstâncias de tempo e de lugar, as faltas deste pecador, concluindo por dizer que a medida estava cheia. A pobre menina, que repetiu em alta voz toda esta confissão, ficou espantada: os braços caíram-lhe; soltou um profundo suspiro, pareceu ter-lhe fugido toda a esperança de vencer. De repente, dissipa-se o seu abatimento e volta à carga:

'Eu sei, eu sei, que ele Vos ofendeu muito, mas não vos tenho eu ofendido mais? E não obstante, tendes usado de misericórdia para comigo. Eu sei, eu sei, Jesus, que ele Vos fez chorar mas, neste momento, não deveis pensar nos seus pecados; deveis sim, pensar no Vosso sangue derramado. Que bondade tendes tido para comigo! Usai para com o meu pecador, eu Vo-lo peço pela Vossa caridade'. 

Entretanto, o Senhor permanecia sempre inflexível e Gemma voltou a cair no mesmo desalento. Está em silêncio, parecendo abandonar a luta, quando de súbito brilha no seu espírito um outro motivo que lhe parece invencível. Retoma a coragem e exclama:

'Bem, eu sou uma pecadora, não podereis encontrar ninguém pior do que eu, Vós mesmo que me dissestes. Não, não mereço, confesso-o, não mereço que me atendais. Apresento-Vos, porém, outra intercessora: é a vossa própria Mãe, que vos pede em seu favor. Ides dizer não a Vossa Mãe? Certamente a ela não o podereis fazer. E agora dizei-me, Jesus, que o meu pecador está salvo'. 

Desta vez logrou alcançar sucesso. O misericordioso Senhor concedeu a graça e a cena mudou-se de aspecto. Com um ar de alegria indescritível, Gemma exclamou: 'Está salvo, está salvo! Vencestes Jesus, triunfai sempre assim'. E saiu do êxtase.

Este espetáculo, verdadeiramente admirável, tinha durado boa meia hora. Para o descrever, utilizei as próprias palavras de Gemma, recolhidas à pena na ocasião ou cuidadosamente confiadas à minha memória.Tinha-me retirado para o meu quarto, entregue a mil pensamentos, quando ouvi bater à porta. Anunciaram-me que era um indivíduo estranho. Mandei-o entrar. Lançou-se a meus pés, chorando, e pediu-me que o confessasse. Meu Deus, qual não foi a minha surpresa! Era o pecador de Gemma, convertido poucos momentos antes. Acusou-se de todas as faltas reveladas no êxtase pela serva de Deus, esquecendo somente uma, que lhe pude recordar. Consolei-o, contei-lhe a cena que acabava de se dar e obtive dele autorização de publicar estas maravilhas do Senhor. Depois de termos nos abraçado, nos despedimos.

(Descrição de um êxtase de Santa Gemma Galgani, feita pelo Padre Germano de Santo Estanislau, seu diretor espiritual e autor da sua biografia)

quarta-feira, 15 de março de 2017

terça-feira, 14 de março de 2017

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (II)

MEDITAÇÃO PARA A SEGUNDA SEMANA DA QUARESMA

DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


PRIMEIRO PONTO - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM LUGAR AFASTADO DO MUNDO?

Nessa escolha, Nosso Senhor quer nos ensinar que não é no meio do mundo e das obrigações mundanas que Deus se manifesta à alma e a faz passar das misérias do homem velho ao esplendor e às virtudes do homem novo. Para se ver a Deus, para ouvi-lO, e ser transformado pela Sua Graça, a primeira condição que se exige é o recolhimento interior, ou seja, a serenidade da alma protegida do tumulto das criaturas e aberta somente à Deus e às Suas divinas inspirações, a paz do despojamento sob o olhar de Deus.

À medida que nos deixamos levar pela dissipação do espírito, das divagações da imaginação, das preocupações mundanas, dos apegos do coração, do tumulto dos pensamentos inúteis; quando, enfim, não vivemos retirados somente no recolhimento do nosso coração, Deus não Se mostrará a nós e nos será tão somente o 'deus desconhecido' de Atenas. 

Sua bondade e perfeições infinitas não nos enternecerão; não vamos amá-lO e nem teremos desejo algum de amá-lO. Estranhos para Deus, não seremos menos estranhos para nós mesmos; não nos conhecemos e não encontraremos nada para sermos corrigidos, nada para se alterar, nenhuma razão para humilharmos, mortificarmos ou renunciarmos; e toda a nossa vida se passará no esquecimento de Deus e na ignorância sobre nós mesmos. Ó dissipação, quanto mal fazes à alma! Ó santo recolhimento, quão necessário és! Conduzi-me , Senhor, ao recolhimento, tal como a vossos apóstolos, e tende ali sempre encerrados o meu espírito e o meu coração.

SEGUNDO PONTO - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM ALTO MONTE?
     
Este lugar elevado, de onde os apóstolos podiam dominar os lugares nos quais viviam, significa que, para desfrutar de Deus, para merecer a graça e santificar-se, é necessário ter um coração elevado acima de todas as coisas sensíveis, um coração maior e mais elevado que o mundo; é preciso recalcar tudo o que antes nos atraía. Enquanto possamos ter aqui algum apego, enquanto houver na terra um objeto de nossa predileção, vamos apenas nos arrastar miseravelmente pelos mesmos caminhos e vagar no labirinto de nossas misérias, em vez de avançar nos caminhos da virtude; definhando em vez de viver e nos fortificar.

Mesmo que a nossa alma tivesse as asas de uma pomba que anseia voar ao encontro de Deus, enquanto se mantiver apegada ao mundo, ainda que seja por um fio, não vai fazer mais do que lutar e se revolver penosamente em torno do que a detém, sem nunca alçar voo. Por outro lado, se esta alma conseguir, enfim, se libertar de suas amarras e se deixar conduzir por Nosso Senhor até o cume da montanha e, ali, recalcar sob os pés todos os apegos vãos que amava, de pronto ela há de progredir na perfeição. Em um único dia e, com menos trabalho, há de avançar nessa caminhada mais do que teria feito durante todo o tempo que arrastava consigo os pesos que a sujeitavam.

Nisso, nada há que possa retardar a sua caminhada, nada há que possa turbar ou distrair a sua marcha; mas ela há de avançar livremente, como diz a Imitação de Cristo: 'Quem é mais livre do que aquele que nada deseja sobre a terra?' Se não quisermos buscar tudo o que lisonjeia a vaidade, tudo que mantém a debilidade, tudo que incita a curiosidade, as inutilidades que divertem e os modismos que distraem os homens tíbios, é preciso renunciar à paixão do prazer e do gozo e não se apegar demasiado às comodidades da vida; é preciso satisfazer as necessidades mundanas com discernimento, não dar valor às coisas mais do que o necessário e não usá-las, por assim dizer, mais que ligeiramente e de pronto, tal como o fazia os soldados de Gideão ou como Jônatas, que tomou o mel por meio da ponta de sua lança, sem se submeter.

Acima de tudo, é preciso nos desprendermos de nós mesmos, de nossos gostos, de nossa honra, de nossa própria vontade e de suas fantasias, de nosso amor próprio e de sua ambição, que busca participar de tudo o que se diz e encontrar tudo o que se faz: é preciso romper com os cuidados excessivos com a saúde, que nos torna sensíveis e difíceis de agradar, sobretudo no que contraria e mortifica os sentidos; enfim, impõe-se elevar-se acima de nós mesmos e, sob pena de nos perdermos, esvaziar o coração de tudo o que não é de Deus. Como nos encontramos neste desprendimento universal? Isto é muito mais grave do que se pensa. Pensemos nisso seriamente e trabalhemos a cada dia para torná-lo cada vez mais realidade.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

segunda-feira, 13 de março de 2017

LADAINHA DA QUARESMA

Oração devocional, de uso restrito para meditação particular, para ser rezada durante a Quaresma, contendo uma série de invocações relacionadas a passagens bíblicas penitenciais do Antigo e do Novo Testamento, particularmente aquelas que fazem referência a súplicas, a obras de mortificação e ao jejum. A postagem inclui a oração em latim e a sua tradução para o português.


Ladainha da Quaresma

Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Pai Santo, ouvi-nos.
Pai de Justiça, atendei-nos.
Deus Pai do céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.

Deus (antes de cada invocação):
que não quereis a morte do pecador, mas que se converta e viva, tende piedade de nós.
Que destes a Moisés, depois dele ter jejuado por quarenta dias, as tábuas da Lei no Monte Sinai, tende piedade de nós.
Que, pelo jejum e orações de Moisés, perdoastes os pecados do seu povo, tende piedade de nós.
Que, pelo jejum de Daniel, o preservastes incólume na cova dos leões, tende piedade de nós.
Que poupastes os ninivitas quando jejuaram e clamaram por Vós, tende piedade de nós.
Que livrastes os ninivitas da destruição da sua cidade, quando se arrependeram e fizeram penitência vestidos de saco, cilício e cinza, tende piedade de nós.
Que perdoastes o pecado do rei Davi, quando este confessou o seu pecado e se cingiu com o cilício e se arrependeu, tende piedade de nós.
Que ouvistes e consolastes Judite, quando ela se prostrou diante de Vós, vestindo o cilício e cobrindo a cabeça com cinzas, tende piedade de nós.
Que salvastes a Jonas quando clamou por Vós no ventre da baleia, tende piedade de nós.
Que libertastes Ezequiel do exército dos assírios, quando ele e seu povo jejuaram e se vestiram de sacos e cinzas, tende piedade de nós.
Que concedestes a Ester, enquanto jejuava, que achasse graça aos olhos do rei, tende piedade de nós.
Que libertastes Mardoqueu da forca, quando este clamou pelo Vosso auxílio, vestido de saco e cinza, tende piedade de nós. 
Que intercedestes pelos macabeus enquanto jejuavam, vestidos de saco e cinza, e clamaram por Vós, tende piedade de nós.
Que manifestastes a Ana no templo enquanto jejuava e orava constantemente a Vós, tende piedade de nós. 
Que revelastes muitos mistérios aos Profetas enquanto jejuavam e se afligiam com muitas penitências, tende piedade de nós.
Que ouvistes as preces dos sacerdotes de Israel enquanto se penitenciavam com cilício e oravam e ofereciam sacrifícios pelo seu povo, tende piedade de nós.
Que jejuastes durante quarenta dias e quarenta noites no deserto, tende piedade de nós.
Que instituístes o tempo quaresmal por meio dos Vossos apóstolos, tende piedade de nós.
Que iluminastes Paulo enquanto orava e jejuava por três dias, tende piedade de nós.
Que perdoais os pecados dos homens por causa do seu arrependimento, tende piedade de nós.
Que nos escolhestes e nos temperastes na fornalha da humildade, tende piedade de nós.
Que julgais os Vossos escolhidos como ouro no cadinho, tende piedade de nós.
Que concedeis um tempo e um lugar para o arrependimento dos pecadores, tende piedade de nós.
Que castigais a todo filho de Vossa predileção, tende piedade de nós.
Que desejais que ninguém se perca, mas que volvam a Vós arrependidos, tende piedade de nós.
Que por Vossa graça chamastes Mateus, sentado no posto de coleta de impostos, tende piedade de nós.
Que justificastes o publicano que golpeava o peito em arrependimento, tende piedade de nós.
Que recebestes de forma paternal o filho pródigo que voltou a Vós, tende piedade de nós.
Que fizestes brotar a fonte da água viva para a mulher samaritana, tende piedade de nós.
Que recebia coletores de impostos e pecadores e comia com eles, tende piedade de nós.
Que amastes muito Maria Madalena e a perdoastes de muitos pecados, tende piedade de nós.
Que olhastes com ternura para Pedro, que três vezes Vos negastes, tende piedade de nós.
Que prometestes o Paraíso ao ladrão penitente, tende piedade de nós.
Que nos livrais de nossas iniquidades e pecados, tende piedade de nós.
Que nos clamais por penitência, pela imposição do cilício e pela cabeça coberta com cinzas, para não nos alcançar a Vossa ira santa, tende piedade de nós.
Que tendes misericórdia de todos os que se voltam para Vós em jejum, dor e arrependimento, tende piedade de nós.
Que esqueceis por completo todos os nossos pecados depois que nos arrependemos, tende piedade de nós.

Deus misericordioso e pronto a nos perdoar, tende piedade de nós.
Sede propício, perdoai-nos Senhor.
Sede propício, atendei-nos Senhor.

De todo mal, livrai-nos, Senhor.
De todo pecado, livrai-nos, Senhor.
De todo perigo do corpo e da mente, livrai-nos, Senhor.
De toda malícia e ira, livrai-nos, Senhor.
Dos pecados da carne e dos vícios, livrai-nos, Senhor.
De toda impureza e luxúria, livrai-nos, Senhor.
De todas as disputas e contendas, livrai-nos, Senhor.
De toda negligência e preguiça, livrai-nos, Senhor.
Da impenitência e dureza de coração, livrai-nos, Senhor.
De uma morte súbita e inesperada, livrai-nos, Senhor.
Da condenação eterna, livrai-nos, Senhor.

Pelo Vosso batismo e jejum, livrai-nos, Senhor.
Pelas Vossas três tentações no deserto, livrai-nos, Senhor.
Pela Vossa sede e fome, livrai-nos, Senhor.
Pelos Vossos trabalhos e Vossas dores, livrai-nos, Senhor.
Pela Vossa sentença de morte, livrai-nos, Senhor.
Pelo Vosso sacrifício cruento na Cruz, livrai-nos, Senhor.
No dia do Juízo, livrai-nos, Senhor.

Pecadores que somos, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que sejais misericordioso conosco, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que nos digneis a buscar o verdadeiro arrependimento, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que possamos obter frutos dignos de arrependimento, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que nos digneis lamentar os nossos pecados e buscar a Vossa graça, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que nos digneis pelo jejum purificar a Vossa Igreja e libertá-la de toda iniquidade, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que possamos nos apresentar sempre como um sacrifício vivo, santo e agradável a Vós, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que possamos obter o perdão e a remissão de todos os nossos pecados, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que, por meio das tribulações desta vida, sejamos dignos de alcançar a glória futura, Vos rogamos, ouvi-nos.
Para que Vos digneis acolher as nossas súplicas, Vos rogamos, ouvi-nos.
Filho de Deus, Vos rogamos, ouvi-nos.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, atendei-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.


Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Pai Nosso...
e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.


V. Entre o pórtico e o altar, os sacerdotes, os servos do Senhor, hão de lamentar:
R. Tende piedade de vosso povo, Senhor.
V. Não nos trateis segundo os nossos pecados, 
R. Nem nos castigueis em proporção às nossas faltas.
V. Não leveis em consideração as nossas iniquidades passadas,
R. Nem tomeis tento de nossos pecados.
V. Ajudai-nos, ó Deus nosso Salvador,
R. E livrai-nos em nome da glória do Vosso nome, Senhor.
V. Sede misericordioso diante os nossos pecados, ó Senhor,
R. Em favor do vosso Santo Nome.
V. Ó Senhor, ouvi a minha oração,
R. E chegue a Vós o meu clamor.

Oremos

Ó Deus onipotente e eterno, tende piedade dos que se arrependem sinceramente e Vos imploram o perdão dos seus pecados e que, invocando humildemente o Vosso Santo Nome, prestam penitência das suas faltas; concedei-lhes, nesta Quaresma, as graças necessárias para o perdão dos pecados e a saúde do corpo e da alma e, assim, em nome da recompensa que prometestes, possam ser contados entre Vossos Filhos e alcançarem um dia as eternas bem aventuranças.

Ó Deus, que por Graça suprema criastes o homem e por Graça ainda maior o redimistes, concedei-nos, nós Vos suplicamos, novas graças de mente e coração para resistir às tentações do pecado e Vos servir fielmente. Ouvi com clemência as nossas orações, nós Vos suplicamos, para que sejamos libertados dos pecados que nos afligem, pela glória e misericórdia do Vosso Santo Nome. Como Vossos filhos, nós Vos suplicamos, guardai-nos de todo mal e protegei-nos nas adversidades e dai-nos a graça de Vos servir sempre com zelo e devoção.


Ó Deus, que não desejais a morte, mas o arrependimento dos pecadores, olhai com clemência para a fragilidade da nossa natureza humana e auxiliai, com a Vossa benevolência, os nossos esforços de arrependimento e penitência para alcançarmos, pela Vossa misericórdia, o perdão dos nossos pecados, a perseverança nas nossas ações e o prêmio da felicidade eterna. Amém.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que vive e reina Convosco na unidade do Espírito Santo, como um só Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.

V. Ó Senhor, ouvi a minha oração,
R. E chegue a Vós o meu clamor.
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. Que as almas dos fiéis defuntos, por meio da misericórdia de Deus, descansem em paz.
R. Amém.

(tradução do autor do blog)

Litaniae in Quadragesima

Kyrie eleison.
Christe eleison.
Kyrie eleison.
Pater sancte, audi nos.
Pater iuste, exaudi nos.
Pater de caelis Deus, miserere nobis.
Fili, Redemptor mundi Deus, miserere nobis.
Spiritus Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas, unus Deus, miserere nobis.

Deus, qui non vis mortem peccatoris, sed ut magis convertatur et vivat, miserere nobis.
Qui Moysi quadraginta diebus ieiunanti, legem in monte dedisti, miserere nobis.
Qui precibus Moysis ieiunantis, populi peccata dimisisti, miserere nobis.
Qui Danielem ieiunantem in lacu leonum custodisti, miserere nobis.
Qui Ninivitis ieiunantibus et ad te clamantibus pepercisti, miserere nobis.
Qui Ninivitas in sacco, cinere, et cilicio paenitentes, a subversione urbis liberasti, miserere nobis.
Qui Davidis confitentis, et in cilicio paenitentis peccatum transtulisti, miserere nobis.
Qui Iudith in cilicio, et cinere coram te prostratam exaudisti et confortasti, miserere nobis.
Qui Ionam ex ventre cetis ad te clamantem salvasti, miserere nobis.
Qui Ezechiam cum populo in sacci, cinere, et ieiunio invocantem, ab exercitu Assyriorum liberasti, miserere nobis.
Qui Esther ieiunantem in oculis Regis gratiam invenire fecisti, miserere nobis.
Qui Mardochaeum, in sacco et cinere, te invocantem, a patibulo liberasti, miserere nobis.
Qui Machabaeis ieiunantibus in sacco et cinere ad te clamantibus auxilio fuisti, miserere nobis.
Qui Annae in ieiuniis et obsecrationibus perseveranti, teipsum in templo manifestasti, miserere nobis.
Qui Prophetis ieiunantibus et se affligentibus mysteria multa patefecisti, miserere nobis.
Qui Sacerdotes in ciliciis pro populo deprecantes et sacrificia offerentes exaudisti, miserere nobis.
Qui quadraginta diebus et quadraginta noctibus in deserto ieiunasti, miserere nobis.
Qui per Apostolos tuos quadragesimale ieiunium instituisti, miserere nobis.
Qui Paulum triduo ieiunantem et orantem illuminasti, miserere nobis.
Qui dissimulas peccata hominum propter paenitentiam, miserere nobis.
Qui elegisti nos et excoxisti in camino humiliationis, miserere nobis.
Qui quasi aurum in fornace probas electos tuos, miserere nobis.
Qui das locum et tempus paenitentiae in peccatis, miserere nobis.
Qui flagellas omnem filium, quem recipis et diligis, miserere nobis.
Qui non vis aliquos perire, sed omnes ad paenitentiam reverti, miserere nobis.
Qui Matthaeum in telonio sedentem, tua gratia praevenisti, miserere nobis.
Qui publicanum pectus percutientem, iustificatum abire fecisti, miserere nobis.
Qui filium prodigum ad te revertentem paterne suscepisti, miserere nobis.
Qui mulieri Samaritanae fontem aquae vivae manare fecisti, miserere nobis.
Qui publicanos et peccatores recepisti et cum eis manducasti, miserere nobis.
Qui Mariae Magdalenae multum diligenti, peccata multa dimisisti, miserere nobis.
Qui Petrum ter te negantem, benigne respexisti, miserere nobis.
Qui latronem paenitentem in paradisum suscepisti, miserere nobis.
Qui aufers iniquitatem et scelera atque peccata nostra, miserere nobis.
Qui pro aversione furoris tui nos plangere, ciliciis accingere et cinere conspergere iussisti, miserere nobis.
Qui omnium in ieiunio, fletu, et planctu se ad te convertentium misereris, miserere nobis.
Qui post paenitentiam omnium peccatorum nostrorum non recordaris amplius, miserere nobis.

Deus misericors et praestabilis super malitia, miserere nobis.
Propitius esto, parce nobis, Domine.
Propitius esto, exaudi nos, Domine.

Ab omni malo, libera nos, Domine.
Ab omni peccato, libera nos, Domine.
Ab omni periculo mentis et corporis, libera nos, Domine.
Ab omni malitia et indignatione, libera nos, Domine.
Ab omni crapula et comissatione, libera nos, Domine.
Ab omni impudicitia et turpitudine, libera nos, Domine.
Ab ira, rixa, et omni contentione, libera nos, Domine.
Ab omni negligentia et socordia, libera nos, Domine.
Ab omni impaenitentia et duritia cordis, libera nos, Domine.
A subitanea et improvisa mala morte, libera nos, Domine.
A damnatione perpetua, libera nos, Domine.

Per baptismum et sanctum ieiunium tuum, libera nos, Domine.
Per trinam tentationem tuam, libera nos, Domine.
Per sitim et esuriem tuam, libera nos, Domine.
Per labores et dolores tuos, libera nos, Domine.
Per trinam contra te prolatam mortis sententiam, libera nos, Domine.
Per tremendum et cruentum in cruce sacrificium tuum, libera nos, Domine.
In die irae calamitatis, libera nos, Domine.

Peccatores, te rogamus audi nos.
Ut nobis indulgeas, te rogamus audi nos.
Ut ad veram paenitentiam nos perducere digneris, te rogamus audi nos.
Ut dignos paenitentiae fructus facere possimus, te rogamus audi nos.
Ut peccata nostra digne flere et gratiam tuam consequi mereamur, te rogamus audi nos.
Ut Ecclesiam tuam hoc sacro ieiunio purificare et ab omni nequitia liberare digneris, te rogamus audi nos.
Ut corpora nostra hostiam viventem sanctam tibique placentem semper exhibeamus, te rogamus audi nos.
Ut indulgentiam et remissionem omnium peccatorum nostrorum nobis tribuere digneris, te rogamus audi nos.
Ut per tribulationes huius temporis ad futuram gloriam nos introire concedas, te rogamus audi nos.
Ut nos exaudire digneris, te rogamus audi nos.
Fili Dei, te rogamus audi nos.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis, Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, exaudi nos, Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis.

Christe, audi nos.
Christe, exaudi nos.
Kyrie eleison.
Christe eleison.
Kyrie eleison.
Pater noster ...
Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a malo.

V. Inter vestibulum et altare plorabunt Sacerdotes ministri Domini.
R. Parce Domine, parce populo tuo.
V. Domine non secundum peccata nostra facias nobis,
R. Neque secundum iniquitates nostras retribuas nobis.
V. Domine, ne memineris iniquitatum nostrarum antiquarum,
R. Neque vindictam sumas de peccatis nostris.
V. Adiuva nos, Deus salutaris noster,
R. Et propter gloriam nominis tui, Domine, libera nos.
V. Propitius esto Domine peccatis nostris,
R. Propter nomen sanctum tuum.
V. Domine, exaudi orationem meam,
R. Et clamor meus ad te veniat.

Oremus

Omnipotens sempiterne Deus, parce paenitentibus, propitiare supplicantibus, et largire nobis beneficia misericordiae tuae, ut haec ieiunia sint omnibus nomen tuum invocantibus, et ante conspectum clementiae tuae facinora sua deplorantibus, remedium mentis et corporis, ut quicumque te pro remissione peccatorum suorum invocaverint, corporis et animae sanitatem percipiant, et praemia tibi fideliter servientibus promissa, in aeterna beatitudine consequantur.

Deus, qui hominem mirabiliter creasti, et mirabilius redemisti, da nobis contra oblectamenta peccati, mentis ratione persistere, et maiestati tuae sincero corde servire. Preces populi tui, quaesumus Domine, clementer exaudi, ut qui iuste pro peccatis nostris affligimur, pro tui nominis gloria misericorditer liberemur. Familiam tuam quaesumus, Domine, continua pietate custodi, ut a cunctis adversitatibus te protegente sit libera et in bonis actibus tuo nomini sit devota.

Deus qui non mortem, sed paenitentiam desideras peccatorum, fragilitatem conditionis humanae benignissime respice et conatus nostros benigna pietate prosequere, ut per magnam misericordiam tuam peccatorum nostrorum veniam; in tuo servitio constantiam; et tandem praemia perseverantibus promissa, feliciter consequamur. 

Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum, qui tecum vivit et regnat, in unitate Spiritus Sancti, Deus, per omnia saecula saeculorum. R. Amen.

V. Domine, exaudi orationem meam,
R. Et clamor meus ad te veniat.
V. Benedicamus Domino.
R. Deo gratias.
V. Et fidelium animae per misericordiam Dei requiescant in pace.
R. Amen.

domingo, 12 de março de 2017

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo da Quaresma


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mt 17,1). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio da profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz' (Mt 17,2). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam' (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus' (Mt 17, 3). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!' (Mt 17, 5).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai-o!' Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob a divina consolação: 'Levantai-vos e não tenhais medo' (Mt 17, 7).