sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

02 DE FEVEREIRO - APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO

Ao tomar a criança nos seus velhos e cansados braços, Simeão é a Igreja que acolhe Jesus. Ao ser recebido nos braços do velho sacerdote, Jesus acolhe para si o resgate e a redenção da humanidade pecadora. Neste encontro no Templo, é forjada a missão da Igreja: permanecer, ainda que envelhecida e cansada, nos braços de Cristo, até o último dia da humanidade.


Salve, ó Virgem, Mãe de Deus, cheia de graça,
pois de ti nasceu o sol de justiça, o Cristo, nosso Deus, 
iluminando os que estão nas trevas.


Alegra-te, ó justo ancião, 
ao receber em teus braços o libertador das nossas almas, 
que nos dá a ressurreição.


Simeão abençoando a Virgem Maria, Mãe de Deus,
viu profeticamente nela os sinais da paixão.


O coro celeste dos Anjos, inclinado para a terra,
vê o primogênito de toda a criação, como pequeno menino,
ser levado ao Templo pela Virgem Mãe.


Cristo Deus, que santificaste um seio virginal
e abençoaste, como convinha, as mãos de Simeão,
vieste e nos salvaste.


Nas guerras, concede a paz ao teu povo
e fortalece os governantes que tu amas,
ó único Amigo dos homens.


Abre-se hoje a porta do céu!


O Verbo eterno do Pai, de fato,
tendo iniciado a sua existência temporal,
sem separar-se da sua divindade,
conforme a lei, 
deixa-se levar ao templo por sua Mãe,
como menino de quarenta dias.


O velho Simeão recebe-o em seus braços dizendo:
'Deixa ir-me em paz - exclama o servo ao Senhor -,
pois meus olhos viram tua salvação'.


Ó tu que vieste ao mundo para salvar o gênero humano:
Glória a ti, Senhor!


Ó Sião, acolhe Maria, a porta do céu:
ela é semelhante ao trono dos Querubins
e sustenta o Rei da glória.


A Virgem é uma nuvem de luz que traz o Filho feito carne,
nascido antes da estrela da manhã.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DO LIVRO DAS CINTILAÇÕES (V)

Do Livro das Cintilações*- V

XXXI - A correção

142. Disse Isidoro: Os justos aceitam de modo salutar a repreensão pelos seus desvios (Sent., III, 32; PL 83, 704).

143. Disse Isidoro: Aquele que não se emenda com palavras brandas deve ser repreendido com severidade. Deve-se amputar com dor os membros que não se curam com tratamento suave (Sent., III, 46, 11; PL 83, 716).

XXXII - Os que governam e ensinam

144. Disse Agostinho: Quem manda não se julgue investido do poder para dominar, mas, do amor, para servir (Regula ad servos Dei 7; PL 32, 1381).

145. Disse Jerônimo: Ao falar de Deus, deves adequar o discurso de modo a nutrir ouvintes diversos: que cada um receba o alimento de modo proporcionado ao seu estômago (In Mt. 13,31).

146. Disse Jerônimo: O dever dos doutores é estender a mão a quem caiu e mostrar o caminho a quem se desviou (In Io. 4, 10; PL 25, 1151).

147. Disse Jerônimo: O orador sábio procura, em seus discursos, atingir a muitos com poucas palavras (Cod. Paris, B. N., Nouv. acq. lat. 446, f. 16).

148. Disse Jerônimo: O discurso do sacerdote deve estar temperado com o sal das Sagradas Escrituras (Ep. 52, 8, 1; PL 22, 534).

149. Disse Jerônimo: Quando se prega na igreja, deve-se despertar não o clamor, mas a contrição: que as lágrimas dos ouvintes sejam seu louvor (Hilberg I, 428, 16).

150. Disse Jerônimo: A alma da arte de ensinar é o exemplo (Ep. 69, 8, 7; PL 22, 662).

151. Disse Gregório: Quem não tem amor pelos outros não deve, de modo algum, dedicar-se ao ensino (Hom. Ev., 17, 1; PL 76, 1139).

152. Disse Gregório: Maior o cargo, maior o perigo.

153. Disse Isidoro: Não deve ser promovido a cargos de governo na Igreja quem ainda está sujeito aos vícios (Sent., III, 34; PL 83, 706).

XXXIII - A fé

154. Disse Agostinho: Para aqueles que creem, a noite torna-se dia; para os que não têm fé, a própria luz torna-se treva. A fé tem tal poder que faz os homens andarem a pé sobre as águas.

155. Disse Agostinho: Grande é a fé, mas de nada serve se não tiver amor (In Ioh. Ev. Vi, 21).

156. Disse Gregório: De que vale estarmos unidos a nosso Redentor pela fé, se nossa conduta nos afasta dele? (Hom. Ev. 26, 9; PL 76, 1202)

XXXIV - A esperança

157. Disse Tiago Apóstolo: Aquele que duvida é semelhante à onda do mar que o vento agita e leva para lá e para cá (Tg 1,6).

XXXV - Os dons

158. Disse Gregório: O bem que recebemos na tranquilidade manifesta-se na tribulação (Moral. Praefatio; PL 75, 519).

159. Disse Gregório: Há alguns que receberam o dom da inteligência, mas têm sensibilidade somente para as coisas da carne (Hom. Ev., 9, 1; PL 76, 1107).

160. Disse Isidoro: Embora pequemos, Deus não nos retira seus dons, a fim de que o espírito humano se alce à esperança do perdão divino (Sent., II, 5, 1; PL 83, 604).

161. Disse Isidoro: DEle procedem, junto com a graça, todos os bens (Sent., II, 5, 2).

XXXVI - A discórdia

162. Disse Gregório: Deus é a unidade e merecem a sua graça os que não se separam uns dos outros por seitas escandalosas (Hom. Ev., 22, 4; PL 76, 1176).

163. Disse Gregório: Que sacrifício de misericórdia pode oferecer quem está em discórdia com seu próximo?

XXXVII - O juramento

164. Disse o Senhor no Evangelho: Ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor'; eu, porém, vos digo: 'Não jureis em absoluto, nem pelo céu, nem pela terra' (Mt 5,33-34).

165. Disse Isidoro: Jurar não é contrário à ordem de Deus, mas, jurando, corremos o risco do perjúrio. E assim, não jure nunca aquele que teme o perjúrio (Sent., II, 31, 2; PL 83, 633).

166. Disse Isidoro: Na maior parte das vezes, dispomo-nos a falar sem recorrer a juramento, mas a incredulidade dos que não creem no que dizemos leva-nos a jurar (Sent., II, 31, 6).

XXXVIII - O pensamento

167. Disse Gregório: A vontade não disciplinada nos pensamentos passa a imperar, também, na ação.

168. Disse Gregório: Tudo o que um tanto inadvertidamente cogitamos está, por assim dizer, sendo cozinhado no espírito (Hom. Ev., 22, 8; PL 76, 1179).

169. Disse Isidoro: Dupla é a causa do pecado: de ação e de pensamento; a que se chama iniquidade realiza-se pela ação; a outra, a injustiça, pelo pensamento (Sent., II, 25, 1).

XXXIX - A mentira

170. Disse Isidoro: O mentiroso começa sempre por dizer a verdade para, uma vez adquirida a confiança, tornar seus ouvintes propensos a acreditar em suas mentiras (Sent., II, 30, 2).

171. Disse Isidoro: Para muitos, o que é falso parece verdade porque falam, não a partir de Deus, mas de seu falso ponto de vista (Sent., II, 30, 3; PL 83, 632).

XL - Os monges

172. Disse Paulo Apóstolo: Todos aqueles que se dedicam à luta, de tudo se abstém: eles, para alcançar uma coroa perecível; nós, imperecível (I Cor 9,25).

173. Disse Jerônimo: O monge deve desejar especialmente a solidão e fugir das cidades (Ep. 46, 12, 2).

174. Disse Gregório: Monge que busca haveres não é monge (Dialog., 3, 14).

* (Liber Scintillarum, escrito por volta do ano 700, constitui uma coletânea de máximas e sentenças compiladas das Sagradas Escrituras ou proclamadas pelos Pais da Igreja, organizadas por um monge - que se autodenomina 'Defensor' - do Mosteiro de São Martinho de Ligugé; tradução de Jean Lauand)

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

31 DE JANEIRO - SÃO JOÃO BOSCO

 

Filho de uma humilde família de camponeses, São João (Melchior) Bosco nasceu em Colle dos Becchi, localidade próxima a Castelnuovo de Asti em 16 de agosto de 1815. Órfão de pai aos dois anos, viveu de ofícios diversos na pobreza da infância e da juventude, até ser ordenado sacerdote em 5 de junho de 1841, com a missão apostólica de servir, educar e catequizar os jovens, o que fez com extremado zelo e santificação durante toda a sua vida.

Em 1846, fundou o Oratório de São Francisco de Sales em Turim, dando início à sua obra prodigiosa, arregimentando colaboradores e filhos, aos quais chamava de salesianos, em meio a um intenso e profícuo apostolado. Em 1859, fundou  a Congregação Salesiana e, em 1872, com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875, enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul. No Brasil, as primeiras casas salesianas foram o Colégio Santa Rosa em Niterói e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. 

Faleceu a 31 de janeiro de 1888 em Turim, aos 72 anos, deixando como herança cristã a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e das Américas. O Papa Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Popularizado como 'Dom Bosco', foi aclamado pelo Papa João Paulo II como 'pai e mestre da juventude' e se tornaram lendários os seus sonhos proféticos (exemplo abaixo), que ele narrava em suas pregações aos jovens salesianos.

A BIGORNA E O MARTELO

Em 20 de agosto de 1862, depois de rezadas as orações da noite e de dar alguns avisos relacionados com a ordem da casa, Dom Bosco disse: 'Quero contar-lhes um sonho que tive faz algumas noites'.

Sonhei que estava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo do Asti, na casa de meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, dirigiu-se a mim um desconhecido e convidou-me a acompanhá-lo. Segui-o e ele me conduziu a um prado próximo ao pátio e ali indicou-me, entre a erva, uma enorme serpente de sete ou oito metros de comprimento e grossura extraordinária. Horrorizado ao contemplá-la, quis fugir.

— 'Não, não' — disse-me meu acompanhante — 'não fujas; vem comigo'.
 'Ah!' — exclamei — 'não sou tão néscio para me expor a um tal perigo'.
— 'Então' — continuou meu acompanhante —'aguarda aqui'.
E, em seguida, foi em busca de uma corda e com ela na mão voltou novamente junto a mim e disse-me:
— 'Tome esta corda por uma ponta e agarre-a bem; eu agarrarei o outro extremo e por-me-ei na parte oposta e, assim, a manteremos suspensa sobre a serpente'.
— 'E depois?'
— 'Depois a deixaremos cair sobre a espinha dorsal'.
— 'Ah! não; por caridade. Pois ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos despedaçará'.
— 'Não, não; confie em mim' — acrescentou o desconhecido —'eu sei o que faço'.
— 'De maneira nenhuma; não quero fazer uma experiência que pode-me custar a vida'.

E já me dispunha a fugir, quando o homem insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada que temer; e tanto me disse que fiquei onde estava, disposto a fazer o que me dizia. Ele, entretanto, passou do outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto voltando a cabeça para trás para morder ao objeto que a tinha ferido, mas em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela mediante um nó corrediço. Então o desconhecido gritou-me:

— 'Agarre bem a corda, agarre-a bem, que não se lhe escape'.

E correu a uma pereira que havia ali perto e atou a seu tronco o extremo que tinha na mão; correu depois para mim, agarrou a outra ponta e foi amarrá-la à grade de uma janela. Enquanto isso, a serpente agitava-se, movia-se em espirais e dava tais golpes com a cabeça e com sua calda no chão, que suas carnes rompiam-se saltando em pedaços a grande distancia. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez morta, só ficou dela o esqueleto descascado e sem carne. Então, aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, recolheu-a, formou com ela um novelo e disse-me:

— 'Presta atenção!'

Colocou a corda em uma caixa, fechou-a e depois de uns momentos a abriu. Os jovens tinham-se ajuntado ao ao meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava disposta de tal maneira, que formava as palavras: Ave Maria!

— 'Mas como é possível?' — disse — 'Você colocou a corda na caixa e agora ela aparece dessa maneira!'.

— 'Olhe' — disse ele — 'a serpente representa o demônio e a corda é a Ave Maria, ou melhor, o Santo Rosário, que é uma série de Ave Marias com a qual e com as quais se pode derrubar, vencer e destruir todos os demônios do inferno.

Enquanto falávamos sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que, agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:

— 'Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?'

'Não, não' — respondiam-me os jovens — 'a carne está muito boa'.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra. Eu não podia ficar em paz porque, apesar daquele espetáculo, cada vez era maior o número de jovens que comiam aquelas carnes. Eu gritava a um e a outro; dava bofetadas a este, um murro naquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que ninguém comesse aquela carne. Minha ordem não teve o efeito desejado, pois alguns dos clérigos começaram também a comer as carnes da serpente, caindo ao chão como os outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor um grande número de moços estendidos pelo chão no mais miserável dos estados. Voltei-me, então, para desconhecido e disse-lhe:

— 'Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte e, contudo, a comem. Qual é a causa?'

Ele respondeu-me: ' Já sabes que animalis homo non percipit ea quae Dei sunt: Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus'.

— 'Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?'

— 'Sim, há'.

— 'E qual seria?'

— 'Não há outro que não seja pela bigorna e pelo martelo'.

— 'Bigorna? Martelo? E como terei que empregá-los?'

— 'Terás que submeter os jovens à ação de ambos estes instrumentos'.

— 'Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e golpeá-los com o martelo?'

Então meu companheiro me esclareceu, dizendo:

— 'O martelo significa a Confissão e a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois meios'.

domingo, 29 de janeiro de 2017

AS BEM AVENTURANÇAS

Páginas do Evangelho - Solenidade de Todos os Santos


Neste Quarto Domingo do Tempo Comum, a Igreja celebra no Evangelho a síntese de toda a doutrina cristã e dos ensinamentos de Jesus - o Sermão da Montanha. Sobre um monte, Jesus vai proclamar as glórias excelsas do seu Reino e, diante a imensidão do Mar da Galileia prostrado à frente dos seus olhos, uma mensagem de amor e de justiça que há de ressoar pela humanidade de todos os tempos.

Bem-aventurados os pobres de espírito, os simples de coração, aqueles que anseiam as heranças eternas, desapegados dos bens e dos valores do mundo, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos que padecem suas dores e seus sofrimentos no recolhimento da graça, para que se cumpra neles, sem regras ou limitações, a Santa Vontade de Deus, porque serão abundantemente consolados. 

Bem-aventurados os mansos que se espelham no Coração de Jesus porque possuirão em plenitude a terra celeste. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, aqueles que buscam a santidade em meio às tantas dificuldades e provações desta vida passageira, sempre em direção à Terra Prometida, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, filhos prediletos da caridade, porque serão medidos pela Misericórdia Infinita do Senhor.

Bem-aventurados os puros de coração, aqueles que, desprezando o pecado e os vícios humanos, se fazem novas manjedouras onde possa recolher sem máculas o Sagrado Coração de Jesus. Bem-aventurados os que promovem a paz e os que são perseguidos por causa da justiça porque deles será o Reino dos Céus. E bem-aventurados os que foram injuriados e perseguidos em nome da Cruz, do Calvário, dos Evangelhos e de Jesus Cristo porque serão os santos dos santos de Deus!

sábado, 28 de janeiro de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (II)

6. Quem foram os videntes das aparições?

Nossa Senhora se manifestou em Fátima, em seis aparições consecutivas e sempre no dia 13 de cada mês, no período entre maio e outubro de 1917, a três crianças - Lúcia, Francisco e Jacinta - que tinham idades de 10, 9 e 7 anos, respectivamente, nas datas das aparições. Lúcia dos Santos nasceu em 28 de março de 1907 (o registro foi feito equivocadamente com a data de 22 de março). Francisco Marto nasceu no dia 11 de junho de 1908, tendo sido batizado no dia 20 de junho, enquanto Jacinta Marto nasceu em 11 de março de 1910 e foi batizada em 19 de março de 1910. A foto clássica dos três videntes juntos (mostrada abaixo) foi tirada com eles dispostos na frente de um muro de pedras, situado a pequena distância da casa da Família Marto, na aldeia de Aljustrel.


7. Qual era a relação familiar e social existente entre os videntes de Fátima?

Francisco e Jacinta eram irmãos entre si e primos de Lúcia. As duas famílias moravam muito próximas e, assim, desde muito cedo,  as crianças passavam muito tempo juntas. Aos sete anos, Lúcia começou a pastorear o rebanho da sua família, o que levou os primos a acompanhá-la nesta função, guardando também o rebanho da família deles. Desta forma, os três passavam boa parte do seu tempo conduzindo as ovelhas pela Serra do Aire e, particularmente no lugar conhecido como Cova da Iria, propriedade rural dos pais de Lúcia.

8. Quem eram as famílias dos videntes?
Lúcia era filha de Antônio dos Santos (falecido em 1919) e de Maria Rosa (falecida em 1942), pequenos agricultores e criadores de ovelhas que possuíam algumas terras na região da Serra do Aire, em Aljustrel. O casal teve 7 filhos, sendo Lúcia a filha mais nova.

 

Casa e família de Lúcia. Em primeiro plano: Maria Rosa (1869-1942); Lúcia (1907-2005); em segundo plano: Manuel dos Santos (1895-1977); Maria dos Anjos (1891-1986); Glória, filha de Maria dos Anjos (1917-1934); Carolina de Jesus (1902-1992) e Glória de Jesus (1898-1971)

Francisco e Jacinta eram os dois filhos mais novos de Manuel Pedro Marto (falecido em 1957) e Olímpia de Jesus (falecida em 1956), que tiveram também 7 filhos. Ao casar com Marto, Olímpia era viúva e tivera dois outros filhos de um primeiro casamento, com José Fernandes Rosa.



Casa, pais e família de Francisco e Jacinta Marto. Em primeiro plano: Manuel Pedro Marto (1879-1957) e Olímpia de Jesus (1869-1956); em segundo plano: Antônio dos Santos Rosa (1889-1971); Manuel dos Santos Rosa (1895-1976); José dos Santos Marto (1899-1990); João dos Santos Marto (1906-2000) e Florinda de Jesus (1901-1920); os dois primeiros são filhos do primeiro casamento de Olímpia de Jesus. 

9. Como se deu a iniciação cristã dos videntes de Fátima? 

Nascidos na aldeia de Aljustrel, os irmãos Francisco e Jacinta e a sua prima Lúcia cresceram num ambiente familiar bastante modesto, numa terra agreste, pacata e isolada do mundo. Não sabiam ler nem escrever e desconheciam o ambiente social, histórico e político que se desdobrava em Portugal à época, pelo isolamento e repercussão praticamente nula dos eventos da revolução portuguesa naquela região (enquanto vários prelados da alta hierarquia católica portuguesa foram destituídos e expulsos do país, por exemplo, o pároco de Fátima continuava normalmente as suas atividades pastorais na comunidade). Assim, receberam uma educação católica muito simples e foi a própria mãe da Lúcia que introduziu a filha e os sobrinhos na catequese, e foi a própria Lúcia quem, sendo um pouco mais velha que os primos, que se incumbiu de lhes contar os ensinamentos e as orações que aprendera da mãe. Contudo, apesar da simplicidade da sua iniciação cristã, os pais não deixaram de lhes oferecer um exemplo de vida de fé comprometida: a participação dominical na eucaristia, a oração em família, a verdade e o respeito por todos e a caridade para com os pobres e os mais necessitados.

10. Como ocorreu a primeira manifestação sobrenatural em Fátima?

Lúcia dos Santos fez a sua primeira comunhão excepcionalmente com a idade de apenas 6 anos, por intervenção direta do Padre Cruz (padre Francisco Rodrigues da Cruz, falecido em 1948), visitante na paróquia e oriundo de Lisboa, uma vez que o senhor prior (Pe. Pena) considerava a menina ainda muito nova para receber a eucaristia. Foi o Padre Cruz que ouviu a primeira confissão de Lúcia. Ao receber a hóstia consagrada das mãos do senhor prior, Lúcia fez a seguinte súplica: 'Senhor, fazei de mim uma santa, guardai o meu coração sempre puro, só para Vós'. E pareceu ouvir internamente, no fundo do coração: 'A graça que hoje te é concedida permanecerá viva em tua alma, produzindo frutos de vida eterna'.* O Céu começava a preparar ali o maior evento do século XX.

*Irmã Lúcia, Segunda Memória.