quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

FOTO DA SEMANA

Foto tirada em 13 de outubro de 1917; ao centro, sob o arco, estão os três videntes de Fátima: Francisco, Lúcia e Jacinta.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (VI)

Anexo à Segunda Objeção* do crente: Os supostos irmãos de Jesus (não constante das objeções diretas apresentadas pelo crente)

Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:

Uma objeção que os amigos protestantes fazem contra a virgindade da Mãe de Jesus é afirmar que ela teve outros filhos, além de Jesus. Estando este assunto intimamente ligado à imaculada conceição, quero tratá-lo aqui separadamente, embora não figure nos números do desafio. Maria Santíssima teve ela outros filhos, depois do nascimento de Jesus? Resolvamos a questão de um modo irrefutável. Para dar a esta objeção uma aparência de verdade, escolhem no Evangelho umas passagens que falam de tais irmãos, sem compreenderem a significação das palavras, e sem conhecerem os costumes dos judeus destes tempos remotos.

Em diversos lugares o Evangelho fala desses irmãos. Assim São Mateus, São Marcos e São Lucas referem que estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: 'eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem ver-te' (Mt 12,46-47; Mc 3,31-32; Lc 8, 19-20). São João, por sua vez, fala de tais irmãos (Jo 7, 1-10). Ao ler estes passos, os amigos biblistas, que só enxergam palavras, e não sentidos, concluem imediatamente: A Bíblia fala de irmãos de Jesus, então Maria teve outros filhos e não é pura, nem Virgem, como dizem os católicos. Bela objeção, que mostra a supina ignorância dos biblistas. A invenção não é nova. Foi o herege Elpídio que, no século IV, moveu tal objeção, e foi São Jerônimo que a refutou pela primeira vez.

I. Exemplos da Bíblia

Se os protestantes compreendessem um pouco a linguagem bíblica, ou soubessem, pelo menos, confrontar certas expressões, veriam logo que entre os judeus - como ainda hoje em certos países e línguas - se chamam com o nome de irmãos não só os nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, mas também os parentes próximos. As línguas hebraica e aramaica não possuem palavra que traduza o nosso 'primo' ou 'prima', e servem-se da palavra 'irmão' ou 'irmã'. A palavra hebraica ha e a aramaica aha são empregadas para designar irmãos e irmãs do mesmo pai, não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23, 21), primos segundos (Lv 10, 4) e até parentes em geral (Jó 19, 13-14; 42, 11).

Os passos acima provam que a palavra irmão era uma expressão genérica, em geral. Jesus, tendo pois primos, não havia outra palavra em aramaico senão 'irmão' para exprimir o parentesco. Há muitos exemplos na bíblia. Lê-se no Gênesis que Taré era pai de Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27), que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot irmão de Abraão (Gn 13, 3). Disse a Lot: 'nós somos irmãos' (Gn 14, 14); ouvindo pois Abraão que seu irmão (Lot) estava preso, armou os criados, etc.

Da mesma forma Jacó era sobrinho de Labão como se deduz também no Gênesis, que afirma ser Jacó filho da irmã de Labão: Ouvindo Labão as novas de sua irmã, correu-lhe ao encontro, etc. (Gn 24, 13). Pois bem, ainda uma vez o Gênesis, dois versículos mais adiante, põe na boca de Labão estas palavras dirigidas ao sobrinho Jacó: 'Então porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça?' (Gn 29, 15). Tobias, o moço, era primo de Sara; pois Tobias, o velho, pai do moço, e Raquel, pai de Sara, eram irmãos: 'Disse Raquel: conheceis Tobias, meu irmão?', etc. (Tob 7, 4-5). Ora, o jovem Tobias dirigindo-se a Deus: 'Senhor, sabes que não é por motivo de luxúria que recebo por mulher esta minha irmã' (Tob 7, 4-6). O protestantes rasgaram este livro de Tobias. Eis diversos passos que provam que a palavra irmão, na linguagem da Bíblia, significa, não somente irmãos, no sentido da nossa palavra, mas sim primos e sobrinhos, até ao terceiro grau.

II. Evangelho na mão

Vamos examinar a questão de perto e ver, pelas próprias palavras do Evangelho, que tais irmãos de Jesus são simplesmente seus primos. Estes supostos irmãos são indicados por São Marcos: Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas irmãs? Jesus tem pois irmãos e irmãs. Não são irmãos consanguíneos, mas sim irmãos primos de segundos, como o explica o próprio Evangelho.

Vejamos: O tal Tiago e Judas em vez de serem filhos de Maria Santíssima são filhos de Alfeu ou Cléofas. É São Lucas que no-lo afirma: 'Chamou Tiago, filho de Alfeu... E Judas. Irmão de Tiago' (Lc 6, 15-16). E ainda: 'Chamou Judas, irmão de Tiago' (Lc 6, 16). Quanto a José, São Mateus diz que é irmão de Tiago: 'Entre os quais estava... Maria, mãe de Tiago e de José' (Mt 27,56). Eis agora Simão chamado irmão a três outros: Tiago, José, Judas e Simão (Mc 6, 3). Estes quatro supostos irmãos de Jesus são, pois, verdadeiramente irmãos entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe.

Falta agora só descobrir o nome dos seus pais. O Evangelho os indica: 'Chamou...Tiago, filho de Alfeu' (Lc 6, 15). Alfeu ou Cléofas é, pois, o pai de Tiago e, em consequência, dos irmãos de Tiago, que são os três outros citados. Conhecemos o pai. Procuremos agora a mãe deles. Conhecendo a mãe de um, é conhecida a mãe de todos, visto serem irmãos. Ora, o Evangelho é explícito: 'Entre as quais estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago' (Mt 27,56). Eis o mistério esclarecido: Tiago, José, Judas e Simão, tais pretensos irmãos de Jesus, são simplesmente filhos de Alfeu (Cleofas) e Maria (Cleofas), primos de Jesus, como indica o quadro que segue. Os pobres protestantes confundem tudo; e não enxergam que tal Maria Cléofas é completamente distinta de Maria Santíssima, como faz notar o evangelista: Junto à cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima) de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas (Jo 17,25).

III. Um dilema sem saída

Eis os pobres protestantes num dilema sem saída, e em flagrante contradição com o evangelho. Se tais irmãos são verdadeiramente irmãos consanguíneos de Jesus, é preciso concluir que Jesus não é filho de Maria Santíssima, mas, sim, de Maria de Cleófas e Alfeu. Então Maria Santíssima não é mais Mãe de Deus, mãe de Jesus. Ora, o evangelho diz: 'Jacó gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo' (Mt 1,16). Jesus é filho de Maria Santíssima. É claro e formal. Maria Santíssima era esposa de São José: de novo é claro e positivo.

Mas, então, ó protestantes, como combinar estes passos do Evangelho? Um filho pode ter dois pais e duas mães? Jesus é filho de Maria Santíssima, que era esposa de São José. Tiago, José, Judas e Simão são filhos de Maria de Cleófas e de Alfeu. E tendes a coragem de dizer que estes últimos são irmãos de Jesus e filhos de Maria Santíssima!!! É ignorância, ou então muita perfídia... Procurai sair deste dilema! Ou o Evangelho mente ou vós caluniais descaradamente. E como o Evangelho é a palavra de Deus, infalível e certa, devemos concluir necessariamente que vós mentis e caluniais. Ou que sois ignorantes obcecados, desconhecendo o que atacais e ignorando o que pretendeis ensinar aos outros. O dilema é humilhante, irrefutável.

IV. Genealogia de Jesus

Para poupar-vos, no futuro, erros tão grosseiros e ajudar-vos a compreender um pouco a Bíblia, cuja letra estudais sem penetrar até ao espírito que a anima, traço aqui a árvore genealógica de Jesus, baseada sobre a Sagrada Escritura, que vos mostrará clara e insofismavelmente toda a família de Jesus Cristo. Por esta árvore vereis que os tais irmãos de Jesus, por serem filhos de Cleófas, que é irmão de São José, e por consequência seus sobrinhos legítimos, são simplesmente primos segundos de Jesus, no mesmo grau que São Tiago Maior, São João Evangelista e São João Batista.

Falando destes assuntos, o Evangelho não os chama pessoalmente irmãos de Jesus. A razão é que os filhos de Cleófas, como sobrinhos de São José, esposo de Maria Santíssima e, ao mesmo tempo primos de Jesus pela descendência do pai, têm para com Jesus um duplo parentesco: Pelo pai e pelo tio, São José. Os quatro primeiros são irmãos de Jesus; os quatro são seus irmãos parentes. Eis o que claramente resulta dos textos do Evangelho. A seguinte árvore genealógica elucidará perfeitamente a questão e dissipará qualquer dúvida.


V. Jesus, Filho unigênito

É pois claro e bem provado pelo próprio evangelho, que Maria Santíssima nunca teve outros filhos além de Jesus. Pura e imaculada, a mãe de Jesus nunca conheceu varão (Lc 1,34) e o filho de Deus que nasceu dela por obra do Espírito Santo (Lc 1,45) é o seu filho unigênito, com diz o evangelho, em alusão à lei judaica. Uma outra coisa e decisiva prova encontra-se nas últimas palavras de Jesus na cruz, remetendo a sua mãe ao desvelo de São João. Se Maria Santíssima tivesse tido outros filhos, Jesus a teria recomendado a um destes filhos, em vez de remetê-la nas mãos de um primo segundo. 

Jesus não teve irmãos, nem mais velhos, nem mais novos. Toda a sua infância, a ida a Jerusalém, na idade de 12 anos, a vida em Nazaré, mostram claramente que a sagrada família, nunca ultrapassou os três membros: Jesus, Maria e José. O evangelista São Marcos chama Jesus 'o filho de Maria' (Mc 6,3) e não 'filho de Maria', o que supõe que Jesus fosse o filho único da viúva. Tais apelações de fato, diz o próprio Renan (Evang., Paris, p.542, não se empregam senão quando o pai é falecido e que a viúva não tenha outros filhos.

Em parte nenhuma os tais supostos irmãos de Jesus partilham com ele este apelido de 'filhos de Maria'. Maria Santíssima não teve, pois, nem mesmo podia ter, nenhum outro filho, além de Jesus. Ela amava extremamente as virtudes, mas dum modo particular a rainha das virtudes, que é a virgindade. Quando todas as donzelas de Israel ardentemente desejavam casar-se, na esperança de terem parte do nascimento do Messias, ela prometeu a Deus guardar perpetuamente a sua virgindade. Ela só aceitou a maternidade divina depois de ter-se certificado de que tal privilégio não contrariava a sua virgindade.

Ela casou-se com São José porque sabia que ele era um homem justo, que tinha feito a Deus solene promessa de perpetuamente guardar a virgindade. O evangelista nos assevera que São José não conheceu Maria, durante todo tempo que ele ignorou o mistério da Encarnação. Como poderia ele desrespeitá-la, depois que o Verbo divino se encarnou e se fez homem em seu puríssimo seio? É, pois, bem claro que Maria Santíssima não teve filhos com São José.

VI. Uma conclusão horrível

Mas então quem é o pai desses outros filhos além de Jesus? Ainda ninguém o disse, nem nunca será capaz de dizê-lo. Mistério incompreensível! Jesus espantou o mundo inteiro por seu saber, por seu poder, por suas virtudes; e tem irmãos e ninguém sabe quem é o pai de seus irmãos! Maria Santíssima é notoriamente reconhecida como verdadeira mãe deste homem extraordinário, portentoso e santo; e ela comete um revoltante escândalo, e ninguém sabe quem é o cúmplice deste horroroso crime.

Pobres e infelizes protestantes, não compreendem que dizer que se Maria Santíssima teve outros filhos além de Jesus é qualificá-la de impura, desonesta, de corrupta, adúltera! Ó quanto esta injúria, este insulto, esta calúnia deve magoar e ofender a Virgem Santa, tão extremosa amante da pobreza! Como deve ofender a Jesus, tão sensível à honra de sua progenitora! Pobres protestantes, refleti um instante e compreendei enfim o que vos dita a consciência, o bom senso e a própria Bíblia, que dizeis ser a regra de vossa crença, e deixai de fechar os olhos à luz refulgente da doutrina católica.

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - AS VISÕES DE TONDAL (I)

A experiência além da morte de uma alma medieval percorrendo o Céu, o Inferno e o Purgatório, guiada pelo seu Anjo da Guarda.


VISÕES DE TONDAL - PARTE I

'Visions du Chevalier Tondal' ou simplesmente 'Visions de Tondal' relata uma experiência pós-morte de um nobre irlandês medieval que, em companhia do seu anjo da guarda, visita o Céu, o Inferno e o Purgatório. A obra original, escrita em latim, data do século XII, sendo de autoria de um monge irlandês chamado Marcus, que se encontrava então em Regensburg, na Alemanha. A obra alcançou grande popularidade ao longo do período medieval tendo sido traduzida para diversos idiomas.

A versão mais famosa da obra, entretanto, é um manuscrito em francês de 1475 de autoria de David Aubert (1453 - 1479) e com iluminuras de Simon Marmion (1450 - 1489), elaborado a pedido da duquesa Margaret de York, e atualmente em domínio do Museu Paul Getty, em Los Angeles. Destinada à devoção privada da duquesa, a obra é caracterizada por uma caligrafia esmerada, sendo ricamente ilustrada por imagens e iluminuras, que tornavam menos abstratas ao leitor as referências e as vinculações com o sobrenatural. 


A história se passa na Irlanda no ano de 1149. O nobre Tondal (Tundale na tradução inglesa) era um homem muito rico e desprovido de quaisquer preocupações espirituais, que vivia pura e simplesmente para ficar cada vez mais rico e para experimentar sem restrições todos os prazeres do mundo. Com uma alma tão atormentada pelo pecado, sua condenação eterna parecia irreversível pelo que Deus permitiu a ele viver a experiência da quase morte, como tentativa extrema de sua conversão e salvação.

Numa certa ocasião, dirigindo-se, mais uma vez, para cobrar pagamentos extorsivos a um de seus muitos devedores, Tondal foi recebido com tanta cortesia e amabilidade pelo seu anfitrião que resolveu aceitar até mesmo o convite para almoçar com a sua família, convite este que foi externado também a muitos amigos que o acompanhavam naquela jornada.



Eis que, de repente, Tondal começa a passar mal, o ar lhe falta, uma dor no peito o paralisa, o coração acelera: 'Jesus Cristo, tem piedade de mim' grita, num último esforço de vida, antes de desabar no chão. Enquanto os presentes acorrem em socorrê-lo e depositar o seu corpo sobre um estrado, o espírito de Tondal abandonou o seu corpo inanimado e começou a adentrar num mundo de completa escuridão. 



Ele estava nas portas do inferno, literalmente voando dentro de um túnel escuro enquanto uma legião de demônios, das formas mais asquerosas e espantosas possíveis, corria em sua direção. Ele compreendeu que estava sozinho e perdido e que o prêmio de seus pecados era a condenação eterna. Quando os demônios já estavam quase o alcançando, um anjo o puxou dali e o arrastou para longe de todos eles. E, identificando-se como o anjo da guarda de Tondal, começou a fazer com a alma dele uma longa viagem pelas diferentes moradas do inferno (Parte II). Em contraste com as belas vestimentas do anjo, em traje azul com tons dourados, Tondal é mostrado nu nas iluminuras, como referência à nudez da alma que ainda não alcançou o paraíso.

domingo, 8 de janeiro de 2017

EPIFANIA DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Solenidade da Epifania do Senhor


Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente. 

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus  é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt, 2, 11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra' (Gn, 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria: 'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt, 2, 11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás 'seguindo outro caminho' (Mt, 2, 12). 

sábado, 7 de janeiro de 2017

AS SETE ORAÇÕES E DEVOÇÕES DE FÁTIMA

1. Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e Vos amo. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

(Oração ensinada pelo Anjo em sua Primeira Aparição)

2. Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e Vos ofereço o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

(Oração ensinada pelo Anjo em sua Terceira Aparição)

3. Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento. 

(Oração pronunciada por revelação íntima aos videntes quando imersos na Luz de Deus, na Primeira Aparição de Nossa Senhora)

4. Quero que rezeis o Terço todos os dias. 

(Mensagem de Nossa Senhora aos videntes de Fátima em diferentes Aparições)

5. Ó Jesus! É por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.

(Oração ensinada por Nossa Senhora, durante a Terceira Aparição, para ser sempre rezada, mas especialmente após a prática de algum tipo de sacrifício)

6. Ó meu Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.

(Oração ensinada por Nossa Senhora, durante a Terceira Aparição, para ser rezada após cada mistério do Terço)

7. Devoção dos Cinco Primeiros Sábados

(Revelação de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, em Pontevedra /Espanha, em 10 de dezembro de 1925)

PRIMEIRO SÁBADO DE JANEIRO (E DO ANO)


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’

DEVOÇÃO PARA O PRIMEIRO SÁBADO


ATO DE DESAGRAVO
AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

em reparação contra as blasfêmias cometidas contra a imaculada conceição da Virgem Maria

Ó Coração Doloroso e Imaculado de Maria, transpassado de dor pelas injúrias com que os pecadores ultrajam vosso santo nome e vossas excelsas prerrogativas; eis prostrado aos vossos pés vosso indigno filho, que, oprimido pelo peso das próprias culpas, vem arrependido vos oferecer este ato de reparação contra as injúrias, blasfêmias, indiferenças e injustiças cometidas contra vós pela impiedade dos homens que não vos conhecem.

Neste Primeiro Sábado, ó Coração Doloroso e Imaculado de Maria, desejo reparar particularmente as blasfêmias contra a vossa Imaculada Conceição. Virgem Imaculada, modelo incomparável de pureza e de formosura, por um privilégio especial, Vós fostes preservada do pecado original. Esta pureza sem mancha fez do vosso Coração o santuário do Espírito Santo. E contra este tesouro de graças, homens ímpios ousam vos blasfemar... Feliz, porém, aquele que Vos ama, ó Maria, Mãe dulcíssima, e possa proclamar as bem-aventuranças do vosso Santo Nome nos confins de toda a terra. Que este meu pequeno ato de puro amor e devoção seja depositado no repositório de graças da Santa Igreja em desagravo e reparação às blasfêmias e ofensas cometidas contra a Vossa Imaculada Conceição. 

E que meu ato de amor seja também um ato de esperança e de súplica à vossa misericordiosa mediação:
 concedei-me, ó Imaculado e Doloroso Coração de Maria, o firme propósito de vos ser fiel todos os dias de minha vida, de defender a vossa honra de todos os ultrajes, de propagar com entusiasmo vosso culto e vossas glórias a todos os homens, de amar Vosso Filho de todo o meu coração  e a graça suprema de estar convosco e com Jesus no Céu por toda a eternidade. Amém. 

(rezar 3 Ave Marias em desagravo ao Imaculado Coração de Maria pelas blasfêmias cometidas contra a Imaculada Conceição da Virgem Maria)

Orações e Práticas da Devoção neste Primeiro Primeiro Sábado de 2017:

Confissão*
Sagrada Comunhão
Rezar o Terço
Meditação dos Mistérios do Rosário (15 minutos)

* A confissão pode não ser realizada neste sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte. Caso não tenha sido realizada, fazê-la com esta intenção explícita numa próxima confissão.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

DA ALMA ANIQUILADA

‘É mais fácil renunciar ao que se tem do que renunciar ao que se é’ 
(São Gregório)

Quando nos falam de renunciarmos a nós mesmos, de aniquilar-nos; quando nos dizem ser esse o fundo da moral cristã, que consiste isso a adoração em espírito e verdade, tal palavra nos parece dura e até injusta: não queremos ouvi-la e repelimos quem no-lo prega da parte de Deus. Convençamo-nos, uma vez por todas, de que esse preceito nada de injusto encerra e na prática é mais suave do que pensamos. Em seguida, humilhemo-nos se nos faltar coragem para pô-lo em prática e, ao invés de condená-lo condenemos a nós mesmos.

Que nos pede o Senhor, ordenando que nos aniquilemos? Pede fazermos justiça a nós mesmos, colocarmo-nos em nosso lugar e reconhecermo-nos tais quais somos. Quando mesmo tivéssemos nascido e vivido sempre na inocência, quando jamais houvéssemos perdido a graça original, outra coisa não seríamos, por nós mesmos, senão nada; não poderíamos considerar-nos de outro modo sem nos desconhecermos e injustos seríamos pretendendo que diversamente Deus ou os homens nos tratassem. Que se pode dever ao que nada é? Que pode exigir o que nada é? Se a sua própria existência é uma graça, também e com razão maior é tudo quanto tem. Há, portanto, injustiça formal da nossa parte em nos recusarmos ser tratados e tratar-nos a nós mesmos como verdadeiros nadas.

...

Isto como já se disse, seria justo, quando mesmo tivéssemos conservado a nossa primeira inocência. Mas, se nascemos culpados, se estamos inteiramente cobertos de pecados pessoais, se contraímos infinitas dívidas para com a justiça divina, se merecemos não sei quantas vezes a condenação eterna, não é para nós castigo demasiado brando só sermos tratados como nadas? E não deve o pecador colocar-se infinitamente abaixo do que nada é? Se qual for a provação imposta a ele por Deus, sejam quais forem os maus tratos suportados do próximo, terá direito de se queixar? Poderá acusar de rigor excessivo a Deus ou de injustiça os homens? Não deve, antes, considerar-se muito feliz em resgatar, com alguma pena temporal, tormentos eternos? 

Se a religião não é uma ilusão, se é verdade o que a fé nos ensina acerca do pecado e dos suplícios que lhe estão reservados, como pode entrar no espírito de um pecador - a quem Deus se dispõe a perdoar - que não merece tudo quanto se possa suportar de males neste mundo, embora dure sua vida milhões de séculos? Sim, é injustiça soberana, é monstruosa ingratidão de quem ofendeu a Deus (e quem de nós não O ofendeu?) não aceitar de boa fé em reconhecimento, por amor, por dedicação aos interesses de Deus, tudo quanto de sofrimentos, se essas humilhações aprouver à divina bondade enviar-lhe. 

E que será se tais sofrimentos, se essas humilhações passageiras são, não só a compensação do inferno, mas o preço de uma felicidade eterna, o preço da posse eterna de Deus; se no céu seremos glorificados na proporção do nosso aniquilamento aqui na terra? Teremos ainda horror a nos aniquilarmos? Pensaremos que é nos fazer mal, quando, por sermos pecadores e para emergirmos do nada, exige-se a renúncia completa do nosso eu, com a promessa de uma recompensa que sempre durará?

Acrescento que semelhante forma de aniquilamento, contra a qual a natureza tanto se insurge e clama, ao invés de tão penosa como imaginamos, é até suave, porque antes de tudo Jesus Cristo a declarou tal: Tomai sobre vós o meu jugo, disse Ele; é doce e leve. Por mais pesado que seja esse jugo, Deus o suaviza para os que o tomam de boa vontade e consentem em carregá-lo por seu amor. O amor não nos impede de sofrer, mas faz como que amemos o sofrimento e torna-o preferível e a todos os prazeres.

A recompensa presente do aniquilamento é a paz do coração, a calma das paixões, a cessação de todas as agitações do espírito, das murmurações, das revoltas interiores. Vejamos, em pormenores, a prova disto. Qual é o maior mal do sofrimento? Não é a própria dor, é a revolta, a sublevação interior que a acompanha. A alma aniquilada sofreria todos os males imagináveis sem perder o repouso conexo ao seu estado: é fato de experiência. Custa-nos conseguir o nosso aniquilamento, temos que fazer grandes esforços sobre nós mesmos: mas também gozamos da paz na proporção das vitórias alcançadas.

O hábito de renunciarmos a nós mesmos, de não atendermos ao nosso eu, torna-se cada dia mais fácil; admiramo-nos de que não nos faça mais sofrer, no fim de certo tempo, aquilo que nos parecia intolerável, assustava a imaginação, sublevava as paixões e punha a natureza em estado violento. Nos desprezos, nas calúnias, humilhações, o que no-las torna tão duras de suportar é o nosso orgulho; é o nosso desejo de ser estimados, considerados, tratados com certas atenções; é o pavor que temos das zombarias e do desprezo do próximo. Eis o que nos agita e enche de indignação, o que nos torna a vida amarga e insuportável. Trabalhemos com afinco para aniquilar-nos; não demos alimento nenhum ao orgulho, deixemos caírem todos os artifícios de estima e amor próprio, aceitemos interiormente as pequenas mortificações que se apresentarem.

Pouco a pouco chegaremos a não mais nos inquietarmos com o que se pensa e diz de nós, nem com o modo pelo qual nos tratam. Um morto nada sente; para ele não há honra nem reputação; os louvores e as injúrias lhe são indiferentes. A maior parte dos sofrimentos e desgostos por que passamos no serviço de Deus provém de não estarmos bastante aniquilados em Sua presença, de conservarmos certa vida própria no meio dos nossos exercícios, de imiscuir-se um secreto orgulho em nossa devoção. 

E por isso não somos indiferentes às consolações e à sua falta; sofremos quanto Deus parece afastar-se de nós; esgotamo-nos em desejos e esforços tendentes a fazê-lO voltar; ficamos abatidos e desolados, se o afastamento perdura muito. Por isso também temos falsos alarmes a respeito do nosso estado. Afigura-se-nos estarmos mal com Deus, porque Ele nos priva de algumas doçuras sensíveis. Julgamos más as nossas comunhões, porque as fazemos sem gosto, a mesma coisa acontecendo quanto às nossas leituras, orações e outras práticas. 

Sirvamos a Deus com espírito de aniquilamento; sirvamo-Lo por Ele e não em atenção a nós; sacrifiquemos os nossos interesses à sua glória e ao seu bel-prazer; então, estaremos sempre contentes com o seu modo de tratar-nos, persuadidos de que nada merecemos e de ser imensa a bondade de sua parte, não digo aceitando, porém suportando os nossos serviços. Nas grandes tentações contra a pureza, a fé, a esperança,o que há de mais penoso para nós não é precisamente o temor de ofender a Deus, senão o medo de perder-nos, ofendendo-O. É o nosso interesse que nos ocupa muito mais do que a sua glória.

Eis a razão de ter um confessor tanta dificuldade em tranquilizar-nos e reduzir-nos à obediência. Cremos que ele nos engana, transvia e perde, porque nos obriga a deixar de lado as nossas vãs apreensões. Aniquilemos o nosso conceito; não julguemos por nós mesmos. Encontraremos a paz e paz perfeita, no esquecimento total de nós mesmos. Nada há no céu, na terra, nem do inferno, capaz de perturbar a alma verdadeiramente aniquilada.

(Excertos da obra 'Manual das Almas Interiores', do Pe. Juan Nicolás Grou)