quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TIPOS DE CRUZES (IV)

46. CRUZ GREGA EM POMOS OU POMIFORME

Variante da cruz grega ou quadrada que apresenta braços com bordas pomiformes (em forma de pomos ou maçãs, símbolo da fé cristã); usadas em báculos como símbolos da autoridade dos bispos.


47. CRUZ TREVOLADA


Variante da cruz grega que apresenta braços com bordas em formas de trevos, símbolo cristão da eternidade e da Trindade Divina. 


48. CRUZ TREVOLADA (VARIANTE)


Variante da cruz anterior; os braços da cruz são representados como linhas e as bordas em forma de trevos preenchidos em preto. 

49. CRUZ COM LÍRIOS ESTILIZADOS

Variante da cruz grega que apresenta braços com bordas em flor-de-lis ou lírios estilizados, símbolo da trindade, da pureza, e da realeza e humanidade de Cristo.


50. CRUZ DE ALCÂNTARA

Variante da cruz em lírios estilizados, utilizada como insígnia da chamada Ordem Militar de Alcântara, fundada em 1156 em Salamanca e posteriormente transferida para a cidade de Alcântara, na região de Extremadura (Espanha).

51. CRUZ FILETADA


Variante da cruz grega cujas extremidades são filetadas por uma pequena incisão central, sendo as bordas das incisões curvadas em direções opostas.


52. CRUZ BIFURCADA


Variante da cruz filetada (com braços mais delgados), em que as bordas das incisões feitas nas extremidades dos braços são retas e orientadas em direções opostas.


 53. CRUZ ARPONADA


Variante da cruz grega que apresenta braços com bordas afiadas em forma de arpões.



 54. CRUZ 'ROSA DOS VENTOS'


Variante da cruz grega que apresenta braços ponteagudos, convencionalmente utilizada como símbolo de orientação geográfica (pontos cardeais), comumente com outros elementos secundários diagonais (pontos colaterais e sub-colaterais). O termo 'rosa dos ventos' refere-se à similaridade da orientação dos pontos cardeais com as pétalas de uma flor.

55. CRUZ TRANSVERSA

Variante da cruz grega que apresenta quatro remates transversais curtos e delgados, localizados próximos às extremidades dos braços.



56. CRUZ TRANSVERSA (VARIANTE)



Variante da cruz transversa, com remates transversais maiores e mais afastados das extremidades dos braços da cruz.



57. CRUZ QUADRICULADA



Cruz transversa incluindo outras quatros pequenas cruzes entre os braços principais, simbolizando a divulgação e a expansão dos quatro evangelhos por todo o mundo.



58. CRUZ DE BATALHA 

Variante da cruz anterior em que os remates transversais são duplicados ao longo de cada braço da cruz, simulando a muralha de um castelo, símbolo da Igreja Militante (em luta contínua contra os valores do mundo).

59. CRUZ ESMERILHADA


Variante da cruz grega que apresenta os braços seccionados por remates diagonais curtos e dispostos periodicamente em cada um dos lados dos braços, simulando a ação contínua e sempre vigilante da Igreja no mundo.

60. CRUZ DA CONQUISTA OU VITÓRIA

Variante da cruz grega com a inclusão das abreviações dos nomes de Jesus Cristo em grego nos espaços superiores (primeira e últimas letras de Iησοῦς e Χριστός; a barra horizontal superior indica tratar-se de abreviações) e da palavra grega para vitória (nika) nos espaços inferiores dos braços da cruz.

PALAVRAS DE SALVAÇÃO





'A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus' (I Cor 1, 18).

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

SANTOS E MÁRTIRES (V)


SANTO ESTÊVÃO

Estamos nos primórdios da Igreja de Cristo. A redenção da humanidade acabara de ser firmada há pouco no cimo do Calvário. A rigor, a Igreja não é ainda uma entidade independente e autônoma, com organização própria e separada do judaísmo. Era uma comunidade em formação incipiente, que se distinguia pela crença fervorosa nos ensinamentos de Jesus, pela caridade fraterna que unia os seus membros, pelas refeições em comum e pelo culto eucarístico. Os apóstolos pregavam a nova doutrina e convertiam muitos judeus, impondo-se, então, grandes e novos desafios em termos de assistência social e espiritual das comunidades recém-convertidas. Neste propósito, os apóstolos escolheram, dentre estas, sete homens notáveis pelo saber e pela caridade, que constituíram, então, o chamado 'Colégio dos Sete', entre os quais figurava Estêvão, um profundo conhecedor das revelações dos antigos profetas e da lei mosaica.

A Igreja nascente, entretanto, não estabelecera ainda uma separação categórica entre a fé cristã e a lei mosaica (judaísmo). Foi justamente Estêvão quem fez tal distinção pela primeira vez, e publicamente em uma sinagoga, demonstrando de forma clara e decisiva, com base nas citações e referências aos textos dos profetas, a concepção equivocada da lei hebraica e o caráter provisório do Templo diante a nova doutrina messiânica da Salvação firmada no Calvário. A sua pregação mobilizou protestos e a ira descontrolada dos judeus, que o condenaram por blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Mas, num discurso iluminado,  Estêvão provou não apenas não ter caído em blasfêmia como, longe de se intimidar, refutou as acusações e outorgou a eles a enorme pretensão de, como reféns da lei mosaica, atuarem de forma deliberada para deter a ação da graça divina entre os homens: 'Vós vos tornastes traidores e assassinastes o Justo' (At 7, 52 - 53). 

Entorpecidos pela fúria e pela revolta, os judeus passaram num relance a um ritual de justiça sumária e arrastaram Estêvão para fora da sinagoga e da cidade e lá o submeteram ao martírio por lapidação. Entre a turba enfurecida, estava Paulo, aquele que seria um dia o grande apóstolo dos gentios. Sob uma chuva de pedras, Estêvão ofereceu-se em holocausto, pedindo a Deus perdão pelos seus executores, tornando-se, assim, o primeiro mártir da Igreja. A morte de Estêvão foi o alto preço que a Igreja primitiva teve que pagar para sancionar o seu caráter universal e para conquistar o perseguidor de então que se tornaria, mais tarde, o grande arauto desta missão universal da Igreja. Como assinalado mais tarde por Santo Agostinho: Si martyr Stephanus non sit orasset, ecclesia Paulum non haberet - 'Se Estêvão não tivesse orado assim, a Igreja não teria tido Paulo' (Sermão 382). A festa do santo é celebrada em 26 de dezembro, logo em seguida ao Natal de Jesus, para se fazer sua memória como protomártir da Igreja.

('pregação de Santo Estêvão e discurso na sinagoga' de Fra Angélico, 1447 - 49, Capela Nicollina, Vaticano)

('Santo Estêvão arrastado e lapidado pelos judeus' de Fra Angélico,  1447 - 49, Capela Nicollina, Vaticano)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

ORAÇÕES DE SANTO AGOSTINHO (II)


Meu Dulcíssimo Jesus que, para redimir o mundo quisestes nascer, ser circuncidado, desprezado pelos judeus, entregado com o beijo de Judas, atado com cordas, levado ao suplício, como inocente cordeiro; apresentado diante Anás, Caifás, Pilatos e Herodes; cuspido e acusado com falsos testemunhos; esbofeteado, carregado de opróbrios, despedaçado com açoites, coroado de espinhos, golpeado com a cana, coberto o rosto com púrpura por zombaria; desnudado afrontosamente, cravado na cruz e levantado nela, interposto entre ladrões como um deles, dado-vos a beber fel e vinagre e ferido o Coração com a lança:

Livrai, Senhor, por tantas e tantas acerbadíssimas dores que haveis padecido por nós, as almas do purgatório das penas em que estão; levando-as a descansar na vossa Santíssima Glória, e salvai-nos, pelos méritos de vossa Sagrada Paixão e pela vossa morte de cruz, das penas do inferno, para que sejamos dignos de entrar na posse daquele Reino, onde levastes o bom ladrão que foi crucificado convosco. Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.

domingo, 4 de janeiro de 2015

EPIFANIA DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Festa da Epifania do Senhor

Reis Magos, Andrea Mantegna (1431-1506)

Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente. 

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus  é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt, 2, 11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra ' (Gn, 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria:   'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt, 2, 11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás 'seguindo outro caminho' (Mt, 2, 12). 

sábado, 3 de janeiro de 2015

ESTIGMAS


Os estigmas (do grego stigma: ferida na pele) representam os sinais ou a reprodução fiel no corpo de algumas pessoas (pés, mãos ou punhos, cabeça, ombros) das feridas sofridas por Jesus durante a crucificação. A Santa Igreja reconhece a autenticidade dos fenômenos como graça de Deus em alguns casos, mas não como dogma de fé e nem como garantia expressa de santidade, ou seja, a Igreja não canoniza ninguém apenas por ser estigmatizado, uma vez que a santidade não consiste num dom especial de Deus, mas um exercício de uma vida na prática constante e perseverante das virtudes em grau heroico. A santidade é fruto de uma vida inteira e não da posse de certos dons sobrenaturais, por mais extraordinários que estes possam ser.

Os estigmas constituem, portanto, um dom concedido por Deus e não fruto da petição mística de certas pessoas privilegiadas. Os estigmatizados tornam-se, assim, por especial desígnio da Providência, imagens vivas e profetas da graça que recordam, de tempos em tempos, à humanidade pecadora, o sacrifício de Jesus na Cruz, seus sofrimentos indizíveis para a expiação dos nossos pecados e redenção de todo o gênero humano. A nossa fé cristã somente subsiste aos pés da cruz, não apenas pela contemplação passiva da Paixão de Cristo, mas associando as nossas pequenas dores (e, nestes casos, os sofrimentos específicos dos estigmatizados) à dor excruciante do Crucificado, para a salvação das almas.

Entretanto, é possível a existência de estigmas que não possuem origem divina, mas natureza psíquica (por histeria ou por ação de neuroses complexas) e até mesmo diabólicas (não há nenhuma manifestação mística que não possa ser conspurcada pelo macaqueador de Deus). Como a Igreja, então, pode separar o joio do trigo, e estabelecer procedimentos para a caracterização de uma autêntica manifestação estigmática de natureza divina? A premissa básica é bastante simples: a observância estrita de uma vida de santidade, além dos próprios estigmas, livre de desvios ou perturbações de ordem psicológica. Ou seja: se os estigmas são uma prova de santidade, a Igreja busca na pessoa uma vida de santidade como prova da natureza divina dos estigmas.

Como elementos subsidiários (mas todos igualmente essenciais e relevantes), a Igreja utiliza os seguintes critérios para a aferição e comprovação da autenticidade dos estigmas de natureza divina:

1. os estigmas devem estar localizados nos locais exatos das cinco chagas de Cristo*; 
2. os estigmas devem aparecer todos ao mesmo tempo;
3. os estigmas devem aparecer espontaneamente no corpo da pessoa;
4. os estigmas não podem ser explicados por causas naturais;
5. os estigmas não evoluem para necroses;
6. os estigmas não exalam mal odor, mas o contrário;
7. os estigmas não apresentam estágios de supuração e/ou inflamação;
8. os estigmas sangram contínua e profusamente (hemorragias intensas);
9. os estigmas são imunes a quaisquer formas de tratamento médico;
10. os estigmas alteram substancialmente os tecidos da pele;
11. os estigmas não apresentam uma perfeita e instantânea cicatrização;
12. os estigmas produzem dores muito intensas, tanto físicas como morais, particularmente agudas em datas especiais do calendário litúrgico, como a Sexta-Feira Santa.

Neste escopo, não há como negar a origem sobrenatural destes fenômenos místicos em santos e santas da Igreja Católica, à luz de outros casos esporádicos e suspeitos de origens diversas. Neste contexto de absoluta vinculação da santidade à manifestação dos estigmas, eis aqui alguns exemplos de santos e santas estigmatizados (são cerca de 80 no total): Padre Pio de Pietrelcina (1887 - 1968), São Francisco de Assis (1181 - 1226); Santa Rita de Cássia (1381 - 1457), Santa Catarina de Sena (1347 - 1380); Santa Verônica Giuliana (1660 - 1727) e Santa Gemma Galgani (1878 - 1903).

* muitos santos estigmatizados apresentaram estigmas nas mãos e outros nos punhos (como seria razoável na morte por crucificação) mas, nestes casos, a Divina Providência manifestou a glória da Paixão de Cristo na pessoa, não de acordo com a aparente veracidade histórica dos fatos, mas em função da crença particular da própria pessoa em relação ao fato.