sexta-feira, 19 de julho de 2013

SANTA IGREJA DE CRISTO

Santa Igreja de Cristo, Igreja Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação! Santa Igreja de Cristo, nascida da vontade de Deus, erigida... 

na unidade:

'Pai Santo, guarda em Teu Nome aqueles que me deste, para que sejam um, como nós somos um' (Jo 17,11).

na santidade:

'Por eles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade' (Jo 17,19).

na universalidade: 

'Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura' (Mc 16,15).

e na apostolicidade:

'Ide, pois ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo' (Mt 28, 18).

Santa Igreja de Cristo, Igreja Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação! Santa Igreja de Cristo, nascida da vontade de Deus, erigida na terra como Porta do Céu:

'Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem o retiverdes, ser-lhes-ão retidos' (Jo 20, 23).

'Tudo o que ligardes sobre a terra, será ligado no Céu; e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu' (Mt 18, 17-18)

'Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos despreza, a Mim despreza' (Lc 10, 16)

Santa Igreja de Cristo, Igreja Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação! Santa Igreja de Cristo, nascida da vontade de Deus, erigida na terra como Templo do Deus Vivo:

'Apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, que pousaram sobre cada um deles (os apóstolos), ficando todos repletos do Espírito Santo' (At 2, 3-4)

'É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós' (Jo 14,17).

'Deus da esperança vos encha de toda a alegria e de toda a paz na vossa fé, para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança!' (Rom 5,13).

'Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?' (1 Cor 6,19).

Santa Igreja de Cristo, Igreja Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação! Santa Igreja de Cristo, nascida da vontade de Deus, erigida na terra sobre a Pedra e sob as promessas de Cristo:

'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 18).

'Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo' (Mt 28, 20).

Santa Igreja de Cristo, Igreja Católica Apostólica Romana, fora da qual não há salvação! Teus inimigos são muitos, e a Cruz de Cristo é a tua glória! Passarás pela forja da provação e serás plasmada pelo fogo de purificação. Tal como o Calvário do Senhor, provarás o altar de todos os sacrifícios, as mazelas de todos os sofrimentos, a tortura de todas as dores, as prostrações de todas as misérias, a traição dos teus próprios filhos! 

'Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda a fé sobre a terra?' (Lc 18,8)

O ecumenismo vai estremecer tuas colunas, o indiferentismo vai salgar tuas feridas, o modernismo vai arrancar os teus membros, o cisma vai partir ao meio teu coração divino! Mas a Alma da Igreja será agora, e sempre, e pela eternidade inteira, a Alma de Cristo. E percorrerás, exausta, aniquilada, achincalhada, a dolorosa via! Mas, no Alto do Gólgota, depois da terrível tribulação, a Alma de Cristo vai soprar o Espírito de Deus sobre as mentes atormentadas e os corações vazios. E os Imaculados Corações de Jesus e de Maria haverão de descer do Céu a Jerusalém da Nova Terra e dos Santos de Deus!

'O meu reino não é deste mundo' (Jo 18, 36).

quinta-feira, 18 de julho de 2013

ORAÇÃO: FLOS CARMELI

O Carmelo é o símbolo da vida contemplativa, da busca incessante da graça de Deus. 'Carmelo' em hebreu significa 'jardim'. A alma do Carmelo é o jardim de todas as virtudes, o recanto de todas as insondáveis delícias de Deus, ideal consumado em plenitude por Nossa Senhora, Rainha e Formosura do Carmelo. O Hino 'Flos Carmeli', atribuído a São Simão Stock (1165-1265), foi entoado originalmente pelos carmelitas para a festa desse santo e, desde 1663, para a Festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo. 


Flos Carmeli,
vitis florigera,
splendor Coeli,
virgo puerpera
singularis. 

Flor do Carmelo
Vinha florida,
esplendor do Céu,
Virgem fecunda,
és singular.

Mater mitis
sed viri nescia
Carmelitis
esto propitia
Stella Maris. 

Doce e bendita,
ó Mãe puríssima,
aos carmelitas,
sê tu propícia,
Estrela do Mar.

Radix Iesse
germinans flosculum
nos ad esse
tecum in saeculum
patiaris. 

Raiz de Jessé,
de brotos floridos,
queiras, feliz,
ao céu pelos séculos
nos elevar.

Inter spinas
quae crescis lilium
serva puras
mentes fragilium
tutelaris. 

Entre os abrolhos,
viçoso lírio,
guarda de escolhos,
o frágil ânimo,
Mãe tutelar.

Armatura
fortis pugnantium
furunt bella
tende praesidium
scapularis.

Forte armadura
Frente o adversário,
Na guerra dura,
o escapulário
vem nos guardar.

Per incerta
prudens consilium
per adversa
iuge solatium
largiaris. 

Nas incertezas,
conselho sábio;
nas asperezas,
consolo sólido
queira nos dar.

Mater dulcis
Carmeli domina,
plebem tuam
reple laetitia
qua bearis. 

Mãe de doçura
do Carmo régio
sê a ventura
que o povo, em júbilo,
faz exultar.

Paradisi
clavis et ianua,
fac nos duci
quo, Mater, gloria
coronaris. Amen

Do paraíso,
és chave, és pórtico;
prudente guia,
a nós, de glória,
vem coroar. Amém.

TRATADO DA CASTIDADE (II)

§ III. DA MODÉSTIA DOS OLHOS

Quase todas as paixões que se revoltam contra nosso espírito têm sua origem na liberdade desenfreada dos olhos, pois os olhares livres são os que despertam em nós, de ordinário, as inclinações desregradas. 'Fiz um contrato com meus olhos de não cogitar sequer em uma virgem', diz Jó (Jo 31, 1). Mas, por que diz ele de não pensar sequer em uma virgem? Não parece que deveria dizer: Fiz um contrato com meus olhos de não olhar sequer? Não, ele tem toda a razão de falar assim, porque o pensamento está intimamente ligado ao olhar, não se podendo separar um do outro, e, para não ter maus pensamentos, propôs-se esse santo homem nunca olhar para uma virgem.

Santo Agostinho diz: 'Do olhar nasce o pensamento, e do pensamento a concupiscência'. Se Eva não tivesse olhado para o fruto proibido, não teria pecado; ela, porém, achou gosto em contemplá-lo, parecendo-lhe bom e belo; apanhou-o então, e fez-se culpada da desobediência. Aqui vemos como o demônio nos tenta primeiramente a olhar, depois a desejar e, finalmente, a consentir. Por isso nos assegura São Jerônimo que o demônio só necessita de nosso começo: dá-se por satisfeito se lhe abrimos a metade da porta, pois ele saberá conquistar a outra metade. Um olhar voluntário, lançado a uma pessoa do outro sexo, acende uma faísca infernal que precipita a alma na perdição. 'As primeiras setas que ferem as almas castas, diz São Bernardo (De mod. ben. viv., sermão 23), e não raro as matam, entram pelos olhos'. 

Por causa dos olhos caiu Davi, esse homem segundo o coração de Deus. Por causa dos olhos caiu Salomão, esse instrumento do Espírito Santo. Por causa dos olhos, quantas almas não se perderam eternamente? Vigie, pois, cada um sobre seus olhos, se não quiser chorar uma vez como Jeremias: 'Meus olhos me roubaram a vida' (Jer 3, 51); 'as afeições criminosas que penetraram em meu coração por causa dos meus olhares, me deram a morte'. São Gregório diz (Mor. 1, 21, c. 2): 'Se não reprimires os olhos, tornar-se-ão ganchos do inferno, que a força nos arrastarão e nos obrigarão, por assim dizer, a pecar contra a nossa vontade'. 'Quem contempla objeto perigoso, acrescenta o Santo, começa a querer o que antes não queria'. É também o que diz a Sagrada Escritura (Jdt 16, 11), quando diz que a bela Judite escravizou a alma de Holofernes, apenas este a contemplou.

Sêneca diz que a cegueira é muito útil para a conservação da inocência. Seguindo esta máxima, um filósofo pagão arrancou-se os olhos para guardar a castidade, como nos refere Tertuliano. Isso, porém, não é lícito a nós, cristãos; se queremos conservar a castidade, devemos, contudo, fazer-nos cegos por virtude, abstendo-nos de olhar o que possa despertar em nós os maus pensamentos. 'Não contemples a beleza alheia; disso origina-se a concupiscência, que queima como o fogo' (Ecli 9, 8). À vista seguem-se as imaginações pecaminosas, que acendem o fogo impuro.

São Francisco de Sales dizia: 'Quem não quiser que o inimigo penetre na fortaleza, deve conservar as portas fechadas'. Por essa razão foram os Santos tão cautelosos em seus olhares. Por temor de enxergarem inesperadamente qualquer objeto perigoso, conservavam os olhos quase sempre baixos, e se abstinham de olhar coisas inteiramente inocentes. São Bernardo, depois de um ano inteiro no noviciado, não sabia ainda se o teto de sua cela era plano ou abobadado. Na igreja do convento havia três janelas e ele não o sabia, porque conservara os olhos baixos. Evitavam os Santos, com cautela maior ainda, pôr os olhos em pessoa de outro sexo. São Hugo, bispo, nunca olhava para o rosto das mulheres com quem tinha de conversar. 

Santa Clara nunca olhava para a face de um homem. Aconteceu uma vez que, levantando os olhos para a Hóstia Sagrada, durante a Elevação, viu o rosto do sacerdote, com o que ficou profundamente aflita. Julgue-se agora quão grande é a imprudência e temeridade dos que, não possuindo a virtude dum desses Santos, ousam passear suas vistas em todas as pessoas, não exceptuando as de outro sexo, e querendo ainda ficar livre de tentações e do perigo de pecar. São Gregório diz (Dial. 1.2, c. 2) que as tentações que levaram São Bento a revolver-se sobre espinhos, provieram de um olhar imprudente sobre uma senhora. São Jerônimo, achando-se na gruta de Belém, onde continuamente orava e macerava seu corpo com as mais atrozes penitências, foi por longo tempo atormentado pela lembrança das damas que vira tempos antes em Roma. 

Como, pois, poderemos ficar preservados de tentações, quando nos expomos ao perigo, olhando e até fitando complacentemente pessoas de outro sexo? O que nos prejudica não é tanto o olhar casual como o premeditado, o mirar. Razão porque Santo Agostinho diz (Reg. ad Serv. Dei, n. 6): 'Se vossos olhos casualmente caírem sobre uma pessoa, cuja vista vos pode ser prejudicial, guardai-vos, ao menos, de fitá-la'. E São Gregório diz: 'Não é lícito contemplar ou extasiar-se com a vista daquilo que não é lícito desejar, pois, ainda que expulsemos os maus pensamentos que costumam seguir o olhar voluntário, deixam sempre uma mancha na alma'. 

Tendo-se perguntado ao irmão Rogério, franciscano, dotado de uma pureza angélica, por que se mostrava tão reservado em seus olhares, quando tratava com mulheres, respondeu: 'Se o homem foge à ocasião, Deus o protege; se se expõe a ela, Nosso Senhor o abandona e facilmente cairá no pecado'. Suposto mesmo que a liberdade que se concede aos olhos não produzisse outros males, impediria sempre o recolhimento da alma durante a oração; pois tudo o que vimos e nos impressionou, apresenta-se aos olhos de nossa alma e nos causa uma imensidade de distrações. Quem já tem recolhimento de espírito durante a oração, tome muito cuidado para não se ver privado dessa graça dando liberdade a seus olhos.

Está fora de dúvida que um cristão que vive sem recolhimento de espírito não pode praticar as virtudes cristãs da humildade, da paciência, da mortificação, como deveria. Guardemo-nos, por isso, de olhares curiosos, e só olhemos para objetos que elevam para Deus o nosso espírito. 'Olhos baixos elevam o coração para o Céu', dizia São Bernardo. São Gregório Nazianzeno (Ep. ad Diocl.) escreve: 'Onde habita Cristo com Seu amor, reina aí a modéstia'. Com isso não quero, porém, dizer que nunca se deva levantar os olhos ou considerar coisa alguma; pelo contrário, é até bom, às vezes, olhar coisas que elevam nosso coração para Deus, como santas imagens, prados floridos, etc, já que a beleza dessa criatura nos atrai à contemplação do Criador.

Deve-se notar também que a modéstia dos olhos é necessária não só para nosso próprio bem, como para a edificação do próximo. Só Deus vê o nosso coração; os homens vêem apenas nossas obras externas e, ou se edificam, ou se escandalizam com elas. 'Pelo rosto se conhece o homem', diz a Escritura (Ecli 19, 26), isto é, pelo exterior se depreende o que é o homem interiormente. Todo cristão, por isso, deve ser o que era São João Batista, conforme as palavras do Salvador (Jo 5, 35): 'Uma lâmpada que arde e ilumina'. 

Interiormente deve arder em amor divino; exteriormente, alumiar, pela modéstia, a todos os que o vêem. Também a nós se podem aplicar as palavras que São Paulo dirigiu a seus discípulos (I Cor 4, 9): 'Somos o espetáculo dos anjos e dos homens'. 'A vossa modéstia seja conhecida de todos os homens' (Filip 4, 5). Pessoas devotas são observadas pelos anjos e pelos homens, e, por isso, sua modéstia deve ser notória a todos, do contrário, deverão dar rigorosas contas a Deus no dia do Juízo. Observando a modéstia, edificamos sumamente os outros e os estimulamos à prática da virtude.

É celebre o que se conta de São Francisco de Assis: Uma vez deixou ele o convento junto a uma companheiro, dizendo que ia pregar; tendo dado uma volta pela cidade com os olhos baixos, entrou novamente no convento. 'Mas quando farás o sermão?', perguntou-lhe o companheiro. 'Já o fiz, respondeu-lhe o Santo, consistiu todo no resguardo dos olhos, do que demos exemplo ao povo'.Santo Ambrósio diz que a modéstia das pessoas virtuosas é uma exortação muito poderosa ao coração dos mundanos. 'Quão belo não seria se bastasse te apresentares em público para fazeres bem aos outros!' (In ps. 118, s. 10). De São Bernardino de Sena se conta que, mesmo antes de entrar para o convento, bastava só a sua presença para pôr fim às conversas livres de seus companheiros; mal o avistavam, diziam uns para os outros: Silêncio, Bernardino vem vindo; e então calavam-se ou começavam a falar de outras coisas. 

Santo Efrém, segundo o testemunho de São Gregório de Nissa, era tão modesto, que já a sua vista estimulava à devoção, e não se podia vê-lo sem se sentir levado a se tornar melhor. Mais admirável ainda é o que nos refere Suvio, do santo sacerdote e mártir Luciano: só por sua modéstia moveu muitos pagãos a abraçarem a Santa Fé. O imperador Mazimiano, que fôra disso informado, temendo sentir a sua influência e ser obrigado a converter-se, citou-o à sua presença, mas não quis vê-lo, e sujeitou-o ao interrogatório ocultando-o a suas vistas por uma cortina estendida entre os dois.

Nosso ideal mais perfeito de modéstia foi, porém, o nosso Divino Salvador mesmo, pois, como nota um célebre autor, os Evangelistas dizem, várias vezes, que o Redentor levantou os olhos em certas ocasiões, dando a entender, com isso, que tinha ordinariamente os olhos baixos. Por isso exalta o Apóstolo a modéstia de seu Divino Mestre, escrevendo a seus discípulos: 'Rogo-vos pela mansidão e modéstia de Cristo' (II Cor 10, 1). Concluo com as palavras de São Basílio a seus monges: 'Se quisermos que nossa alma tenha suas vistas sempre postas no Céu, filhos queridos, conservemos nossos olhos sempre voltados para a terra'. De manhã, ao despertar, devemos já pedir, com o Profeta: 'Afastai meus olhos, Senhor, para que não vejam a vaidade' (Sl 118, 37).

(Excertos da obra 'Escola da Perfeição Cristã', Santo Afonso Maria de Ligório; textos compilados pelo Pe. Saint-Omer, tradução do Pe. José Lopes, Editora Vozes, 1955)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

TRATADO DA CASTIDADE (I)

§ I. DA EXCELÊNCIA DA CASTIDADE

Bem-aventurados os puros!

Ninguém melhor que o Espírito Santo saberá apreciar o valor da castidade. Ora, Ele diz: 'Tudo o que se estima não pode ser comparado com uma alma continente' (Ecli 26, 20), isto é, todas as riquezas da terra, todas as honras, todas as dignidades, não lhe são comparáveis. Santo Efrém chama a castidade de 'a vida do espírito'; São Pedro Damião, 'a rainha das virtudes'; e São Cipriano diz que, por meio dela, se alcançam os triunfos mais esplêndidos. Quem supera o vício contrário à castidade, facilmente triunfará de todos os mais; quem, pelo contrário, se deixa dominar pela impureza, facilmente cairá em muitos outro vícios e far-se-á réu de ódio, injustiça, sacrilégio, etc. 

A castidade faz do homem um anjo. 'Ó castidade, exclama Santo Efrém (De cast.), tu fazes o homem semelhante aos anjos'. Essa comparação é muito acertada, pois os anjos vivem isentos de todos os deleites carnais; eles são puros por natureza; as almas castas, por virtude. 'Pelo mérito desta virtude, diz Cassiano (De Coen. Int., 1. 6, c. 6), assemelham-se os homens aos anjos'; e São Bernardo (De mor. et off., ep., c. 3): 'O homem casto difere do anjo não em razão da virtude, mas da bem-aventurança; se a castidade do anjo é mais ditosa, a do homem é mais intrépida'. 'A castidade torna o homem semelhante ao próprio Deus, que é um puro espírito', afirma São Basílio (De ver. virg.). 

O Verbo Eterno, vindo a este mundo, escolheu para Sua Mãe uma Virgem, para pai adotivo um virgem, para precursor um virgem, e a São João Evangelista amou com predileção porque era virgem, e, por isso, confiou-lhe Sua santa Mãe, da mesma forma como entrega ao sacerdote, por causa de sua castidade, a santa Igreja e Sua própria Pessoa. 

Com toda a razão, pois, exclama o grande doutor da Igreja, Santo Atanásio (De virg.): 'Ó santa pureza, és o templo do Espírito Santo, a vida dos Anjos e a coroa dos Santos!'. Grande, portanto, é a excelência da castidade; mas também terrível é a guerra que a carne nos declara para no-la roubar. Nossa carne é a arma mais poderosa que possui o demônio para nos escravizar; é, por isso, coisa muito rara sair-se ileso ou mesmo vencedor deste combate. Santo Agostinho diz (Serm. 293): 'O combate pela castidade é o mais renhido de todos: ele repete-se cotidianamente, e a vitória é rara'. 'Quantos infelizes que passaram anos na solidão, exclama São Lourenço Justiniano, em orações, jejuns e mortificações, não se deixaram levar, finalmente, pela concupiscência da carne, abandonaram a vida devota da solidão e perderam, com a castidade, o próprio Deus!' Por isso, todos os que desejam conservar a virtude da castidade devem ter suma cautela: 'É impossível que te conserves casto, diz São Carlos Borromeu, se não vigiares continuamente sobre ti mesmo, pois negligência traz consigo mui facilmente a perda da castidade'.

§ II. DA VIGILÂNCIA SOBRE OS PENSAMENTOS

1) A respeito dos maus pensamentos encontra-se, muitas vezes, um duplo engano: 

(i) almas que temem a Deus e não possuem o dom do discernimento e são inclinadas aos escrúpulos, pensam que todo mau pensamento que lhes sobrevêm é já um pecado. Elas estão enganadas, porque os maus pensamentos em si não são pecados, mas só e unicamente o consentimento neles. A malícia do pecado mortal consiste toda e só na má vontade, que se entrega ao pecado com claro conhecimento de sua maldade e plena deliberação de sua parte. E, por isto, Santo Agostinho ensina que não pode haver pecado onde falta o consentimento da vontade. 

Por mais que sejamos atormentados pelas tentações, pela rebelião de nossos sentidos, pelas comoções ou sensações desregradas de nossa natureza corpórea, não existe pecado algum enquanto faltar o consentimento, como ensina também São Bernardo, dizendo: 'O sentimento não causa dano algum, contanto que não sobrevenha o consentimento'. 

Para consolar tais almas timoratas e escrupulosas, quero oferecer-lhes aqui uma regra prática, aceita por quase todos os teólogos: Quando uma alma que teme a Deus e detesta o pecado, duvida se consentiu ou não em um mau pensamento, não está obrigada a confessar-se disso, porque, em tal caso, se tivesse realmente cometido um pecado mortal, não estaria em dúvida a esse respeito, porque o pecado mortal, para uma alma que teme a Deus, é um monstro tão horrendo, que não poderá ter entrada em seu coração sem o perceber. 

(ii) Outros, que possuem uma consciência mais relaxada e são mal instruídos, julgam, pelo contrário, que os maus pensamentos nunca são pecados, mesmo havendo consentimento neles, contanto que não se chegue a praticar. Este erro é muito mais pernicioso que o primeiro. O que se não pode fazer, não se pode também desejar; por isso, o mau pensamento em si contêm toda a malícia do ato. Assim como as más obras nos separam de Deus, também os maus pensamentos nos afastam d'Ele e nos privam de Sua graça. 'Pensamentos perversos nos separam de Deus' (Sab 1, 3). 

Como as más obras estão patentes aos olhos de Deus, também Sua vista alcança todos os nossos maus pensamentos para condená-los e puni-los, pois 'um Deus de ciência é o Senhor, e diante d'Ele estão patentes todos os pensamentos' (I Rs 2, 3)2) Logo, nem todos os maus pensamentos são pecados, e nem todos os que são pecados trazem em si o mesmo cunho de malícia. Devemos considerar três coisas quando se trata de um pecado de pensamento, a saber: a sugestão, a deliberação e o consentimento. Alguns esclarecimentos a esse respeito: 

a) Sob a palavra sugestão entende-se o primeiro pensamento que nos incita a praticar o mal que nos vem à mente. Esta instigação ou incitamento ainda não é pecado; se a vontade a repele imediatamente, é mesmo uma fonte de merecimentos. 'Para cada tentação a que opuseres resistência, se te deverá uma coroa', diz Santo Antão. Até os Santos foram perseguidos por tais pensamentos. São Bento revolveu-se sobre os espinhos para vencer uma tentação impura, e São Pedro de Alcântara lançou-se em poço de água gelada. São Paulo nos informa que também ele foi tentado contra a pureza: 'E para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi-me dado um espinho em minha carne, um anjo de satanás para me esbofetear' (2 Cor 12, 7). O Apóstolo suplicou várias vezes ao Senhor que o livrasse desse inimigo: 'Por essa causa roguei ao Senhor três vezes que o afastasse de mim'. O Senhor não quis, porém, dispensá-lo do combate, e respondeu-lhe: 'Basta-te a minha graça'. E por que não queria o Senhor livrá-lo? Para que adquirisse maiores méritos por sua resistência à tentação: 'Porque a virtude se aperfeiçoa na fraqueza'. 

São Francisco de Sales diz que quando um ladrão procura arrombar uma porta, é porque não está ainda dentro da casa; assim também, quando o demônio tenta uma alma, é porque se acha ela ainda na graça de Deus. Santa Catarina de Sena foi uma vez horrivelmente atormentada pelo demônio, durante três dias, com fortes tentações impuras. Apareceu-lhe então o Senhor para consolá-la, e ela perguntou-lhe: 'Mas onde estivestes, Senhor meu, durante estes três dias?' Jesus respondeu-lhe: 'Dentro do teu coração, dando-te força para resistires à tentação'. E o Senhor deu-lhe a conhecer que o seu coração estava, depois da tentação, mais puro que antes. 

b) À sugestão segue-se a deleitação. Quando nos damos ao trabalho de repelir imediatamente a tentação, sentimos nela uma certa complacência ou prazer, que nos vai arrastando ao consentimento. Mesmo então, se a vontade não dá seu assentimento, não há pecado mortal; quando muito, poderá haver pecado venial. Se, porém, não recorrermos então a Deus e não nos esforçarmos por resistir à tentação, facilmente nos sentiremos arrastados ao consentimento e perdidos, segundo as palavras de Santo Anselmo (De similit., c. 40): 'Se não procuramos impedir a deleitação, ela se transformará em consentimento e matará a alma'. 

Uma senhora, que tinha fama de santa, teve, um dia, um mau pensamento, que não repeliu imediatamente, e pecou por pensamento. Por vergonha deixou de confessar esse pensamento criminoso e morreu, pouco depois, em estado de pecado. Porque morreu com fama de santidade, mandou o bispo que fosse sepultada em sua própria capela. No dia seguinte, porém, apareceu-lhe ela, toda circundada de fogo, e confessou-lhe, infelizmente já tarde demais, que estava condenada por ter consentido num mau pensamento. 

c) Toda a malícia do mau pensamento está, porém, no consentimento. Havendo pleno consentimento, perde-se a graça de Deus e chama-se sobre si a condenação eterna, quer se tenha o desejo de cometer um pecado determinado, quer se pense ou reflita com prazer no pecado como se o estivesse cometendo. Esta última espécie de pecado chama-se uma deleitação deliberada ou morosa, e deve-se distinguir bem da primeira, isto é, do pecado de desejo. 

(iii) Se fores, pois, molestada por tais tentações, alma cristã, não deves perder a coragem, antes, animosamente combater, empregando os meios que te vou indicar, e não sucumbirás: 

a) O primeiro é humilhar-se continuamente diante de Deus. O Senhor castiga muitas vezes os espíritos soberbos, permitindo que caiam em qualquer pecado impuro. Sê, pois, humilde, e não confies em tuas próprias forças. Davi confessa que caiu no pecado por não ter se humilhado e ter confiado demais em si mesmo: 'Antes de me haver humilhado, eu pequei' (Sl 118, 67). Devemos temer sempre a nossa própria fraqueza e colocar em Deus toda a nossa confiança, esperando firmemente que nos preserve desse vício. 

b) O segundo meio é recorrer imediatamente a Deus, sem entrar em diálogo com a tentação. Logo que se apresentar ao nosso espírito um pensamento impuro, devemos elevar a Deus imediatamente o nosso pensamento ou dirigi-lo a qualquer objeto indiferente. A coisa melhor será invocar imediatamente os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria, e não cessar de repeti-los até desaparecer a tentação. Se ela for muito forte, será bom repetir muitas vezes o seguinte propósito: 'Ó meu Deus, prefiro morrer a Vos ofender'. Peça-se socorro, dizendo: 'Ó meu Jesus, socorrei-me'. 'Maria, assisti-me'. Os Nomes de Jesus, Maria e José possuem uma força especial para afugentar as tentações do demônio. 

c) O terceiro meio é a recepção assídua dos Santos Sacramentos da Confissão e da Comunhão. É de suma importância revelar quanto antes ao confessor as tentações impuras. 'Uma tentação revelada já está meio vencida', diz São Filipe Néri. E se alguém teve a infelicidade de consentir em uma tentação, não se demore nenhum instante em se confessar disso. São Filipe Néri livrou um rapaz desse vício, induzindo-o a confessar-se logo depois de cada queda. A Santa Comunhão, está fora de dúvida, confere uma grande força na resistência às tentações desonestas. O Sangue de Jesus Cristo, que recebemos na Sagrada Comunhão, é chamado pelos Santos de 'Vinho gerador de Virgens' (Zac 9, 17). O vinho natural é um perigo para a castidade; este Vinho Celestial é o seu conservador. 

d) O quarto meio é a devoção à Imaculada Mãe de Deus, que é chamada a Virgem das Virgens. Quantos jovens não se conservaram puros e castos como Anjos, devido à devoção à Santíssima Virgem! 

e) O quinto meio é a fuga da ociosidade. O Espírito Santo diz (Ecli 33, 21): 'A ociosidade ensina muita coisa má', isto é, ensina a cometer muitos pecados. E o profeta Ezequiel (Ez 16, 49), assevera que foi a ociosidade a causa das abominações e ruína final dos habitantes de Sodoma. Conforme São Bernardo, a ociosidade motivou a queda de Salomão. Por isso São Jerônimo exorta a Rústico (Ep. ad Rust., 2) que esteja sempre ocupado, para que o demônio não o preocupe com suas tentações. 'Quem trabalha é tentado por um demônio só; quem vive ocioso, é atacado por uma multidão deles', diz São Boaventura.

f) O sexto meio consiste no emprego de todas as precauções exigidas pela prudência, tais como a modéstia dos olhos, a vigilância sobre as inclinações do coração, a fuga das ocasiões perigosas, etc. 

(Excertos da obra 'Escola da Perfeição Cristã', Santo Afonso Maria de Ligório; textos compilados pelo Pe. Saint-Omer, tradução do Pe. José Lopes, Editora Vozes, 1955)

terça-feira, 16 de julho de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora  para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A MORTE DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

(São Tomás de Aquino: 1224 ou 1225 - 1274)

Depois de lhe terem apresentado o Santíssimo corpo do Senhor, perguntaram-lhe, como se faz a todo o Cristão para se assegurar da sua fé neste sacramento essencial, se ele acreditava que esta hóstia consagrada era o verdadeiro corpo do Filho de Deus, que nasceu das entranhas da Virgem Maria e foi suspenso do patíbulo da cruz, que morreu por nós e ressuscitou ao terceiro dia. Ele respondeu com uma voz clara, com vibrante devoção, e deitando lágrimas: 

'Se nesta vida pode haver sobre este sacramento uma ciência maior que aquela que nos é dada pela fé, nesta eu respondo que sei verdadeiramente, e com toda a certeza que este Deus é verdadeiramente homem, Filho de Deus Pai e da Virgem mãe. Creio de todo o meu coração e confesso pela minha boca o que o padre afirmou acerca deste Santíssimo Sacramento.' Pronunciou então as palavras cheias de piedade, que os presentes não puderam reter e que foram, segundo dizem, as seguintes: 

Adoro te devote 
Adoro te devote, latens 
Deitas, Quæ sub his figuris vere latitas: 
Tibi se cor meum totum subiicit, 
Quia te contemplans totum deficit. 
Visus, tatus, gustus in te fallitur, 
Sed auditu solo tuto creditur. 
Credo quidquid dixit Dei Filius: 
Nil hoc verbo Veritatis verius. 
In cruce latebat sola Deitas, 
At hic latet simul et humanitas; 
Ambo tamen credens atque confitens, 
Peto quod petivit latro pænitens. 
Plagas, sicut Thomas, non intueor; 
Deum tamen meum te confiteor. 
Fac me tibi semper magis credere, 
In te spem habere, te diligere. 
O memoriale mortis Domini! 
Panis vivus, vitam præstans homini! 
Præsta meæ menti de te vivere 
Et te illi semper dulce sapere. 
Pie pellicane, Iesu Domine, 
Me immundum munda tuo sanguine. 
Cuius una stilla salvum facere 
Totum mundum quit ab omni scelere. 
Iesu, quem velatum nunc aspicio, 
Oro fiat illud quod tam sitio; 
Ut te revelata cernens facie, 
Visu sim beatus tuæ gloriæ. 
Amen.

Adoro-te devotamente, divindade escondida, 
Que sob esta figura verdadeiramente Te escondes: 
A Ti o meu coração se submete, 
Porque te contemplando, tudo falta. 
Visão, tato e paladar em Ti falham, 
Só o ouvido tudo crê. 
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus: 
A verdade da Verdade é melhor recebida. 
Na cruz escondia-se só a divindade, 
Mas aqui esconde-se também a humanidade; 
No entanto ambos acredito e confesso, 
Peço o que pedia o ladrão penitente. 
Chagas, como Tomé viu, não vejo, 
Mas, meu Deus, em Ti confio. 
Faz-me sempre mais em Ti acreditar, 
Em Ti esperar, Te amar. 
Oh memorial da morte do Senhor! 
Pão vivo, vida dás ao homem! 
Concede à minha alma de Ti viver, 
Pelo Teu sabor sempre ser alimentado. 
Senhor Jesus, pio pelicano, 
A mim imundo lava o Teu sangue. 
Do qual uma só gota chega para salvar 
Todo o mundo de todos os pecados. 
Jesus, que velado agora contemplo, 
Rezo para que se faça o que tanto anseio; 
Que a Tua face revelada eu olhe. 
E bem-aventurado veja a Tua glória. 
Amém.

E recebendo o Santíssimo Sacramento, pronunciou a seguinte oração:

'Sumo te pretium redemptionis anime mee, sumo te viaticum peregrinationis mee, pro cuius amore studui, vigilavi et laboravi; te predicavi, te docui, nichil umquam contra te dixi, sed si quid dixi, ignorans dixi nec sum pertinax in sensu meo; sed si quid male dixi de hoc sacramento et aliis, totum relinquo correctioni sancte Romane Ecclesie, in cuius obedientia nunc transeo ex hac vita'. 

«Recebo-Te, preço da redenção da minha alma. Recebo-Te, viático da minha peregrinação, por cujo amor estudei, vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Nunca disse nada contra Ti. Se o fiz, foi por ignorância, e não sou persistente na minha opinião. Mas o que de mal eu disse deste sacramento ou de outras coisas, tudo entrego à correção da santa Igreja Romana, de cuja obediência eu nunca me desviei nesta vida'. 

Depois de ter recebido o sacramento, pediu, com uma devoção que só podia acrescentar ao seu mérito e dar aos outros exemplo, que lhe fosse trazido no dia seguinte o óleo da santa unção, o sacramento dos moribundos, afim que o Espírito desta unção, que o tinha enviado para guiar os seus companheiros, o conduzisse ao Céu a que aspirava. Pouco tempo depois de o ter recebido, entregou ao Senhor a sua alma, que ele tinha conservado tão santa quanto a tinha recebido. Ela deixou o corpo tão alegremente que parecia viver maravilhosamente fora deste. 

Feliz doutor que correu tão ligeiro no estádio, que travou corajosamente o combate e que obteve uma vitória triunfal! Ele merecia dizer como o Apóstolo: 'Combati até ao fim o bom combate, acabei a minha corrida, guardei fé. E agora eis que está preparada para mim a coroa de glória' (2Tm 4, 7-8), coroa que ele era verdadeiramente digno de receber pelo seu estudo da doutrina inspirada!

domingo, 14 de julho de 2013

O BOM SAMARITANO

Páginas do Evangelho - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum


'Quem é o meu próximo?' (Lc 10, 29). Diante da pergunta capciosa do mestre da lei, Jesus não responde diretamente. Era preciso um ensinamento maior: para quem pratica a caridade, o próximo são todas as outras pessoas; para quem se exalta na malícia do pecado, o próximo é algo tão intangível quanto a enorme soberba do douto perscrutador do evangelho deste domingo, tão cheio de artimanhas, tão  farto de arrogância.

E Jesus, então, lhes conta uma pequena história: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó...' (Lc 10, 30). Um certo homem... provavelmente um judeu como eles, deslocando-se de Jerusalém para Jericó, a cerca de 30 km e em altitude bem mais baixa que Jerusalém. Sem dúvida, tratava-se de um homem de posses e descuidado de sua segurança, pois viajava sozinho. E eis que, então, o homem é assediado por assaltantes, tem os seus bens saqueados e, mais que isso, é espancado e ferido brutalmente, até ser abandonado semimorto à beira da estrada.

E no local da encenação deste drama comovente, vão passar três personagens singulares: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros, anestesiados pelos seus interesses e preocupações mundanas e imbuídos do frio calculismo dos incômodos e perturbações que uma tal ação de socorro poderia lhes causar, vão passar insensíveis ao largo do homem ferido. Muito diferente será a reação do viajante samaritano que, não apenas pára para socorrer o pobre homem, como alivia as suas dores e, mais ainda, assume a responsabilidade pelo completo restabelecimento da sua saúde e pela cura dos seus ferimentos.   

'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!