quarta-feira, 17 de julho de 2013

TRATADO DA CASTIDADE (I)

§ I. DA EXCELÊNCIA DA CASTIDADE

Bem-aventurados os puros!

Ninguém melhor que o Espírito Santo saberá apreciar o valor da castidade. Ora, Ele diz: 'Tudo o que se estima não pode ser comparado com uma alma continente' (Ecli 26, 20), isto é, todas as riquezas da terra, todas as honras, todas as dignidades, não lhe são comparáveis. Santo Efrém chama a castidade de 'a vida do espírito'; São Pedro Damião, 'a rainha das virtudes'; e São Cipriano diz que, por meio dela, se alcançam os triunfos mais esplêndidos. Quem supera o vício contrário à castidade, facilmente triunfará de todos os mais; quem, pelo contrário, se deixa dominar pela impureza, facilmente cairá em muitos outro vícios e far-se-á réu de ódio, injustiça, sacrilégio, etc. 

A castidade faz do homem um anjo. 'Ó castidade, exclama Santo Efrém (De cast.), tu fazes o homem semelhante aos anjos'. Essa comparação é muito acertada, pois os anjos vivem isentos de todos os deleites carnais; eles são puros por natureza; as almas castas, por virtude. 'Pelo mérito desta virtude, diz Cassiano (De Coen. Int., 1. 6, c. 6), assemelham-se os homens aos anjos'; e São Bernardo (De mor. et off., ep., c. 3): 'O homem casto difere do anjo não em razão da virtude, mas da bem-aventurança; se a castidade do anjo é mais ditosa, a do homem é mais intrépida'. 'A castidade torna o homem semelhante ao próprio Deus, que é um puro espírito', afirma São Basílio (De ver. virg.). 

O Verbo Eterno, vindo a este mundo, escolheu para Sua Mãe uma Virgem, para pai adotivo um virgem, para precursor um virgem, e a São João Evangelista amou com predileção porque era virgem, e, por isso, confiou-lhe Sua santa Mãe, da mesma forma como entrega ao sacerdote, por causa de sua castidade, a santa Igreja e Sua própria Pessoa. 

Com toda a razão, pois, exclama o grande doutor da Igreja, Santo Atanásio (De virg.): 'Ó santa pureza, és o templo do Espírito Santo, a vida dos Anjos e a coroa dos Santos!'. Grande, portanto, é a excelência da castidade; mas também terrível é a guerra que a carne nos declara para no-la roubar. Nossa carne é a arma mais poderosa que possui o demônio para nos escravizar; é, por isso, coisa muito rara sair-se ileso ou mesmo vencedor deste combate. Santo Agostinho diz (Serm. 293): 'O combate pela castidade é o mais renhido de todos: ele repete-se cotidianamente, e a vitória é rara'. 'Quantos infelizes que passaram anos na solidão, exclama São Lourenço Justiniano, em orações, jejuns e mortificações, não se deixaram levar, finalmente, pela concupiscência da carne, abandonaram a vida devota da solidão e perderam, com a castidade, o próprio Deus!' Por isso, todos os que desejam conservar a virtude da castidade devem ter suma cautela: 'É impossível que te conserves casto, diz São Carlos Borromeu, se não vigiares continuamente sobre ti mesmo, pois negligência traz consigo mui facilmente a perda da castidade'.

§ II. DA VIGILÂNCIA SOBRE OS PENSAMENTOS

1) A respeito dos maus pensamentos encontra-se, muitas vezes, um duplo engano: 

(i) almas que temem a Deus e não possuem o dom do discernimento e são inclinadas aos escrúpulos, pensam que todo mau pensamento que lhes sobrevêm é já um pecado. Elas estão enganadas, porque os maus pensamentos em si não são pecados, mas só e unicamente o consentimento neles. A malícia do pecado mortal consiste toda e só na má vontade, que se entrega ao pecado com claro conhecimento de sua maldade e plena deliberação de sua parte. E, por isto, Santo Agostinho ensina que não pode haver pecado onde falta o consentimento da vontade. 

Por mais que sejamos atormentados pelas tentações, pela rebelião de nossos sentidos, pelas comoções ou sensações desregradas de nossa natureza corpórea, não existe pecado algum enquanto faltar o consentimento, como ensina também São Bernardo, dizendo: 'O sentimento não causa dano algum, contanto que não sobrevenha o consentimento'. 

Para consolar tais almas timoratas e escrupulosas, quero oferecer-lhes aqui uma regra prática, aceita por quase todos os teólogos: Quando uma alma que teme a Deus e detesta o pecado, duvida se consentiu ou não em um mau pensamento, não está obrigada a confessar-se disso, porque, em tal caso, se tivesse realmente cometido um pecado mortal, não estaria em dúvida a esse respeito, porque o pecado mortal, para uma alma que teme a Deus, é um monstro tão horrendo, que não poderá ter entrada em seu coração sem o perceber. 

(ii) Outros, que possuem uma consciência mais relaxada e são mal instruídos, julgam, pelo contrário, que os maus pensamentos nunca são pecados, mesmo havendo consentimento neles, contanto que não se chegue a praticar. Este erro é muito mais pernicioso que o primeiro. O que se não pode fazer, não se pode também desejar; por isso, o mau pensamento em si contêm toda a malícia do ato. Assim como as más obras nos separam de Deus, também os maus pensamentos nos afastam d'Ele e nos privam de Sua graça. 'Pensamentos perversos nos separam de Deus' (Sab 1, 3). 

Como as más obras estão patentes aos olhos de Deus, também Sua vista alcança todos os nossos maus pensamentos para condená-los e puni-los, pois 'um Deus de ciência é o Senhor, e diante d'Ele estão patentes todos os pensamentos' (I Rs 2, 3)2) Logo, nem todos os maus pensamentos são pecados, e nem todos os que são pecados trazem em si o mesmo cunho de malícia. Devemos considerar três coisas quando se trata de um pecado de pensamento, a saber: a sugestão, a deliberação e o consentimento. Alguns esclarecimentos a esse respeito: 

a) Sob a palavra sugestão entende-se o primeiro pensamento que nos incita a praticar o mal que nos vem à mente. Esta instigação ou incitamento ainda não é pecado; se a vontade a repele imediatamente, é mesmo uma fonte de merecimentos. 'Para cada tentação a que opuseres resistência, se te deverá uma coroa', diz Santo Antão. Até os Santos foram perseguidos por tais pensamentos. São Bento revolveu-se sobre os espinhos para vencer uma tentação impura, e São Pedro de Alcântara lançou-se em poço de água gelada. São Paulo nos informa que também ele foi tentado contra a pureza: 'E para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi-me dado um espinho em minha carne, um anjo de satanás para me esbofetear' (2 Cor 12, 7). O Apóstolo suplicou várias vezes ao Senhor que o livrasse desse inimigo: 'Por essa causa roguei ao Senhor três vezes que o afastasse de mim'. O Senhor não quis, porém, dispensá-lo do combate, e respondeu-lhe: 'Basta-te a minha graça'. E por que não queria o Senhor livrá-lo? Para que adquirisse maiores méritos por sua resistência à tentação: 'Porque a virtude se aperfeiçoa na fraqueza'. 

São Francisco de Sales diz que quando um ladrão procura arrombar uma porta, é porque não está ainda dentro da casa; assim também, quando o demônio tenta uma alma, é porque se acha ela ainda na graça de Deus. Santa Catarina de Sena foi uma vez horrivelmente atormentada pelo demônio, durante três dias, com fortes tentações impuras. Apareceu-lhe então o Senhor para consolá-la, e ela perguntou-lhe: 'Mas onde estivestes, Senhor meu, durante estes três dias?' Jesus respondeu-lhe: 'Dentro do teu coração, dando-te força para resistires à tentação'. E o Senhor deu-lhe a conhecer que o seu coração estava, depois da tentação, mais puro que antes. 

b) À sugestão segue-se a deleitação. Quando nos damos ao trabalho de repelir imediatamente a tentação, sentimos nela uma certa complacência ou prazer, que nos vai arrastando ao consentimento. Mesmo então, se a vontade não dá seu assentimento, não há pecado mortal; quando muito, poderá haver pecado venial. Se, porém, não recorrermos então a Deus e não nos esforçarmos por resistir à tentação, facilmente nos sentiremos arrastados ao consentimento e perdidos, segundo as palavras de Santo Anselmo (De similit., c. 40): 'Se não procuramos impedir a deleitação, ela se transformará em consentimento e matará a alma'. 

Uma senhora, que tinha fama de santa, teve, um dia, um mau pensamento, que não repeliu imediatamente, e pecou por pensamento. Por vergonha deixou de confessar esse pensamento criminoso e morreu, pouco depois, em estado de pecado. Porque morreu com fama de santidade, mandou o bispo que fosse sepultada em sua própria capela. No dia seguinte, porém, apareceu-lhe ela, toda circundada de fogo, e confessou-lhe, infelizmente já tarde demais, que estava condenada por ter consentido num mau pensamento. 

c) Toda a malícia do mau pensamento está, porém, no consentimento. Havendo pleno consentimento, perde-se a graça de Deus e chama-se sobre si a condenação eterna, quer se tenha o desejo de cometer um pecado determinado, quer se pense ou reflita com prazer no pecado como se o estivesse cometendo. Esta última espécie de pecado chama-se uma deleitação deliberada ou morosa, e deve-se distinguir bem da primeira, isto é, do pecado de desejo. 

(iii) Se fores, pois, molestada por tais tentações, alma cristã, não deves perder a coragem, antes, animosamente combater, empregando os meios que te vou indicar, e não sucumbirás: 

a) O primeiro é humilhar-se continuamente diante de Deus. O Senhor castiga muitas vezes os espíritos soberbos, permitindo que caiam em qualquer pecado impuro. Sê, pois, humilde, e não confies em tuas próprias forças. Davi confessa que caiu no pecado por não ter se humilhado e ter confiado demais em si mesmo: 'Antes de me haver humilhado, eu pequei' (Sl 118, 67). Devemos temer sempre a nossa própria fraqueza e colocar em Deus toda a nossa confiança, esperando firmemente que nos preserve desse vício. 

b) O segundo meio é recorrer imediatamente a Deus, sem entrar em diálogo com a tentação. Logo que se apresentar ao nosso espírito um pensamento impuro, devemos elevar a Deus imediatamente o nosso pensamento ou dirigi-lo a qualquer objeto indiferente. A coisa melhor será invocar imediatamente os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria, e não cessar de repeti-los até desaparecer a tentação. Se ela for muito forte, será bom repetir muitas vezes o seguinte propósito: 'Ó meu Deus, prefiro morrer a Vos ofender'. Peça-se socorro, dizendo: 'Ó meu Jesus, socorrei-me'. 'Maria, assisti-me'. Os Nomes de Jesus, Maria e José possuem uma força especial para afugentar as tentações do demônio. 

c) O terceiro meio é a recepção assídua dos Santos Sacramentos da Confissão e da Comunhão. É de suma importância revelar quanto antes ao confessor as tentações impuras. 'Uma tentação revelada já está meio vencida', diz São Filipe Néri. E se alguém teve a infelicidade de consentir em uma tentação, não se demore nenhum instante em se confessar disso. São Filipe Néri livrou um rapaz desse vício, induzindo-o a confessar-se logo depois de cada queda. A Santa Comunhão, está fora de dúvida, confere uma grande força na resistência às tentações desonestas. O Sangue de Jesus Cristo, que recebemos na Sagrada Comunhão, é chamado pelos Santos de 'Vinho gerador de Virgens' (Zac 9, 17). O vinho natural é um perigo para a castidade; este Vinho Celestial é o seu conservador. 

d) O quarto meio é a devoção à Imaculada Mãe de Deus, que é chamada a Virgem das Virgens. Quantos jovens não se conservaram puros e castos como Anjos, devido à devoção à Santíssima Virgem! 

e) O quinto meio é a fuga da ociosidade. O Espírito Santo diz (Ecli 33, 21): 'A ociosidade ensina muita coisa má', isto é, ensina a cometer muitos pecados. E o profeta Ezequiel (Ez 16, 49), assevera que foi a ociosidade a causa das abominações e ruína final dos habitantes de Sodoma. Conforme São Bernardo, a ociosidade motivou a queda de Salomão. Por isso São Jerônimo exorta a Rústico (Ep. ad Rust., 2) que esteja sempre ocupado, para que o demônio não o preocupe com suas tentações. 'Quem trabalha é tentado por um demônio só; quem vive ocioso, é atacado por uma multidão deles', diz São Boaventura.

f) O sexto meio consiste no emprego de todas as precauções exigidas pela prudência, tais como a modéstia dos olhos, a vigilância sobre as inclinações do coração, a fuga das ocasiões perigosas, etc. 

(Excertos da obra 'Escola da Perfeição Cristã', Santo Afonso Maria de Ligório; textos compilados pelo Pe. Saint-Omer, tradução do Pe. José Lopes, Editora Vozes, 1955)

terça-feira, 16 de julho de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora  para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A MORTE DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

(São Tomás de Aquino: 1224 ou 1225 - 1274)

Depois de lhe terem apresentado o Santíssimo corpo do Senhor, perguntaram-lhe, como se faz a todo o Cristão para se assegurar da sua fé neste sacramento essencial, se ele acreditava que esta hóstia consagrada era o verdadeiro corpo do Filho de Deus, que nasceu das entranhas da Virgem Maria e foi suspenso do patíbulo da cruz, que morreu por nós e ressuscitou ao terceiro dia. Ele respondeu com uma voz clara, com vibrante devoção, e deitando lágrimas: 

'Se nesta vida pode haver sobre este sacramento uma ciência maior que aquela que nos é dada pela fé, nesta eu respondo que sei verdadeiramente, e com toda a certeza que este Deus é verdadeiramente homem, Filho de Deus Pai e da Virgem mãe. Creio de todo o meu coração e confesso pela minha boca o que o padre afirmou acerca deste Santíssimo Sacramento.' Pronunciou então as palavras cheias de piedade, que os presentes não puderam reter e que foram, segundo dizem, as seguintes: 

Adoro te devote 
Adoro te devote, latens 
Deitas, Quæ sub his figuris vere latitas: 
Tibi se cor meum totum subiicit, 
Quia te contemplans totum deficit. 
Visus, tatus, gustus in te fallitur, 
Sed auditu solo tuto creditur. 
Credo quidquid dixit Dei Filius: 
Nil hoc verbo Veritatis verius. 
In cruce latebat sola Deitas, 
At hic latet simul et humanitas; 
Ambo tamen credens atque confitens, 
Peto quod petivit latro pænitens. 
Plagas, sicut Thomas, non intueor; 
Deum tamen meum te confiteor. 
Fac me tibi semper magis credere, 
In te spem habere, te diligere. 
O memoriale mortis Domini! 
Panis vivus, vitam præstans homini! 
Præsta meæ menti de te vivere 
Et te illi semper dulce sapere. 
Pie pellicane, Iesu Domine, 
Me immundum munda tuo sanguine. 
Cuius una stilla salvum facere 
Totum mundum quit ab omni scelere. 
Iesu, quem velatum nunc aspicio, 
Oro fiat illud quod tam sitio; 
Ut te revelata cernens facie, 
Visu sim beatus tuæ gloriæ. 
Amen.

Adoro-te devotamente, divindade escondida, 
Que sob esta figura verdadeiramente Te escondes: 
A Ti o meu coração se submete, 
Porque te contemplando, tudo falta. 
Visão, tato e paladar em Ti falham, 
Só o ouvido tudo crê. 
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus: 
A verdade da Verdade é melhor recebida. 
Na cruz escondia-se só a divindade, 
Mas aqui esconde-se também a humanidade; 
No entanto ambos acredito e confesso, 
Peço o que pedia o ladrão penitente. 
Chagas, como Tomé viu, não vejo, 
Mas, meu Deus, em Ti confio. 
Faz-me sempre mais em Ti acreditar, 
Em Ti esperar, Te amar. 
Oh memorial da morte do Senhor! 
Pão vivo, vida dás ao homem! 
Concede à minha alma de Ti viver, 
Pelo Teu sabor sempre ser alimentado. 
Senhor Jesus, pio pelicano, 
A mim imundo lava o Teu sangue. 
Do qual uma só gota chega para salvar 
Todo o mundo de todos os pecados. 
Jesus, que velado agora contemplo, 
Rezo para que se faça o que tanto anseio; 
Que a Tua face revelada eu olhe. 
E bem-aventurado veja a Tua glória. 
Amém.

E recebendo o Santíssimo Sacramento, pronunciou a seguinte oração:

'Sumo te pretium redemptionis anime mee, sumo te viaticum peregrinationis mee, pro cuius amore studui, vigilavi et laboravi; te predicavi, te docui, nichil umquam contra te dixi, sed si quid dixi, ignorans dixi nec sum pertinax in sensu meo; sed si quid male dixi de hoc sacramento et aliis, totum relinquo correctioni sancte Romane Ecclesie, in cuius obedientia nunc transeo ex hac vita'. 

«Recebo-Te, preço da redenção da minha alma. Recebo-Te, viático da minha peregrinação, por cujo amor estudei, vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Nunca disse nada contra Ti. Se o fiz, foi por ignorância, e não sou persistente na minha opinião. Mas o que de mal eu disse deste sacramento ou de outras coisas, tudo entrego à correção da santa Igreja Romana, de cuja obediência eu nunca me desviei nesta vida'. 

Depois de ter recebido o sacramento, pediu, com uma devoção que só podia acrescentar ao seu mérito e dar aos outros exemplo, que lhe fosse trazido no dia seguinte o óleo da santa unção, o sacramento dos moribundos, afim que o Espírito desta unção, que o tinha enviado para guiar os seus companheiros, o conduzisse ao Céu a que aspirava. Pouco tempo depois de o ter recebido, entregou ao Senhor a sua alma, que ele tinha conservado tão santa quanto a tinha recebido. Ela deixou o corpo tão alegremente que parecia viver maravilhosamente fora deste. 

Feliz doutor que correu tão ligeiro no estádio, que travou corajosamente o combate e que obteve uma vitória triunfal! Ele merecia dizer como o Apóstolo: 'Combati até ao fim o bom combate, acabei a minha corrida, guardei fé. E agora eis que está preparada para mim a coroa de glória' (2Tm 4, 7-8), coroa que ele era verdadeiramente digno de receber pelo seu estudo da doutrina inspirada!

domingo, 14 de julho de 2013

O BOM SAMARITANO

Páginas do Evangelho - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum


'Quem é o meu próximo?' (Lc 10, 29). Diante da pergunta capciosa do mestre da lei, Jesus não responde diretamente. Era preciso um ensinamento maior: para quem pratica a caridade, o próximo são todas as outras pessoas; para quem se exalta na malícia do pecado, o próximo é algo tão intangível quanto a enorme soberba do douto perscrutador do evangelho deste domingo, tão cheio de artimanhas, tão  farto de arrogância.

E Jesus, então, lhes conta uma pequena história: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó...' (Lc 10, 30). Um certo homem... provavelmente um judeu como eles, deslocando-se de Jerusalém para Jericó, a cerca de 30 km e em altitude bem mais baixa que Jerusalém. Sem dúvida, tratava-se de um homem de posses e descuidado de sua segurança, pois viajava sozinho. E eis que, então, o homem é assediado por assaltantes, tem os seus bens saqueados e, mais que isso, é espancado e ferido brutalmente, até ser abandonado semimorto à beira da estrada.

E no local da encenação deste drama comovente, vão passar três personagens singulares: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros, anestesiados pelos seus interesses e preocupações mundanas e imbuídos do frio calculismo dos incômodos e perturbações que uma tal ação de socorro poderia lhes causar, vão passar insensíveis ao largo do homem ferido. Muito diferente será a reação do viajante samaritano que, não apenas pára para socorrer o pobre homem, como alivia as suas dores e, mais ainda, assume a responsabilidade pelo completo restabelecimento da sua saúde e pela cura dos seus ferimentos.   

'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!

sábado, 13 de julho de 2013

VÍDEOS CATÓLICOS

Alguns gestos simples nos mostram o quanto podemos ser criaturas miseráveis...


... mas certas palavras confirmam que fomos criados à Imagem de Deus.

Gianna Jessen - Sobrevivente de um Aborto (Parte I)



Gianna Jessen - Sobrevivente de um Aborto (Parte II)




sexta-feira, 12 de julho de 2013

A ORAÇÃO DA PAZ QUE SÃO FRANCISCO NÃO ESCREVEU

A bela e famosa 'Oração de São Francisco' pela paz não foi escrita por São Francisco de Assis (1182 - 1226), e tem história muito mais recente. A referência mais antiga da oração data de 1912, em um texto em francês, publicado em Paris, em uma pequena revista católica chamada La Clochette (O Sininho) pertencente à chamada La Ligue de la Sainte-Messe (A Liga da Santa Missa), cujo fundador foi Fr. Esther Bouquerel, que poderia ter sido o seu provável autor. Mas isso também não é certo e, portanto, a oração tem autor desconhecido. 

A referência a São Francisco se deve ao fato de que a versão original (ou alguma das primeiras impressões do texto) foi impressa junto a uma imagem deste santo, o que teria resultado em uma associação direta (e equivocada) do texto da oração com a autoria atribuída a São Francisco de Assis. Abaixo, são apresentados o texto original da oração e a tradução da mesma mais difundida em português.

Seigneur, fais de moi un instrument de ta paix,
Là où est la haine, que je mette l’amour
Là où est l’offense, que je mette le pardon
Là où est la discorde, que je mette l’union
Là où est l’erreur, que je mette la vérité
Là où est le doute, que je mette la foi
Là où est le désespoir, que je mette l’espérance
Là où sont les ténèbres, que je mette la lumière
Là où est la tristesse, que je mette la joie.

O Seigneur, que je ne cherche pas tant à
être consolé qu’à consoler,
à être compris qu’à comprendre,
à être aimé qu’à aimer.
Car c’est en se donnant qu’on reçoit,
c’est en s’oubliant qu’on se retrouve,
c’est en pardonnant qu’on est pardonné,
c’est en mourant qu’on ressuscite à l’éternelle vie.

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó mestre, fazei que eu procure mais: consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado;
E é morrendo que se vive
Para a vida eterna.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

AS REGRAS DA HUMILDADE DE SÃO BENTO

São Bento de Núrsia (480 - 547), monge italiano e irmão gêmeo de Santa Escolástica, foi o fundador da Ordem dos Beneditinos e autor das chamadas 'Regras de São Bento' (excerto abaixo), uma série de regulamentos e prescrições para a vida monástica, que serviram de modelo para várias outras comunidades religiosas. Sua festa litúrgica é comemorada no dia 11 de julho (ver também Medalha de São Bento).

DAS REGRAS DE HUMILDADE

[1] Irmãos, a Escritura divina nos clama dizendo: 'Todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado". [2] Indica-nos com isso que toda elevação é um gênero da soberba, [3] da qual o Profeta mostra precaver-se quando diz: 'Senhor, o meu coração não se exaltou, nem foram altivos meus olhos; não andei nas grandezas, nem em maravilhas acima de mim'. [4] Mas, que seria de mim se não me tivesse feito humilde, se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que é desmamado de sua mãe, assim retribuirias a minha alma.

[5] Se, portanto, irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, [6] deve ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a Jacó, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. [7] Essa descida e subida, sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce e pela humildade se sobe. [8] Essa escada ereta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha. [9] Quanto aos lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.

[10] Assim, o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o monge diante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, [11] e esteja, ao contrário, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no espírito, não só que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam a Deus, mas também que a vida eterna está preparada para os que temem a Deus; [12] e, defendendo-se a todo tempo dos pecados e vícios, isto é, dos pecados do pensamento, da língua, das mãos, dos pés e da vontade própria, como também dos desejos da carne, [13]considere-se o homem visto do céu, a todo momento, por Deus, e suas ações vistas em toda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos. [14] Mostra-nos isso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente aos nossos pensamentos: 'Deus que perscruta os corações e os rins'. [15] E também: 'Deus conhece os pensamentos dos homens'. [16] E ainda: 'De longe percebestes os meus pensamentos' [17] e 'o pensamento do homem vos será confessado'. [18] Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre, em seu coração, o irmão empenhado em seu próprio bem: 'se me preservar da minha iniquidade, serei, então, imaculado diante d’Ele'.

[19] Assim, é-nos proibido fazer a própria vontade, visto que nos diz a Escritura: 'Afasta-te das tuas próprias vontades'. [20] E, também, porque rogamos a Deus na oração que se faça em nós a sua vontade.

[21] Aprendemos, pois, com razão, a não fazer a própria vontade, enquanto nos acautelamos com aquilo que diz a Escritura: 'Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha até o fundo do inferno', [22] e enquanto, também, nos apavoramos com o que foi dito dos negligentes: 'Corromperam-se e tornaram-se abomináveis nos seus prazeres'. [23] Por isso, quando nos achamos diante dos desejos da carne, creiamos que Deus está sempre presente junto a nós, pois disse o Profeta ao Senhor: 'Diante de vós está todo o meu desejo'.

[24] Devemos, portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada junto à porta do prazer. [25] Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: 'Não andes atrás de tuas concupiscências'. [26] Logo, se os olhos do Senhor 'observam os bons e os maus', [27] e 'o Senhor sempre olha do céu os filhos dos homens para ver se há algum inteligente ou que procura a Deus' [28] e se, pelos anjos que nos foram designados, todas as coisas que fazemos são, cotidianamente, dia e noite, anunciadas ao Senhor, [29] devemos ter cuidado, irmãos, a toda hora, como diz o Profeta no salmo, para que não aconteça que Deus nos veja no momento em que caímos no mal, tornando-nos inúteis, [30] e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasião porque é Bom e espera sempre que nos tornemos melhores, não venha a dizer-nos no futuro: 'Fizeste isto e calei-me'.

[31] O segundo grau da humildade consiste em que, não amando a própria vontade, não se deleite o monge em realizar os seus desejos, [32] mas imite nas ações aquela palavra do Senhor: 'Não vim fazer a minha vontade, mas a d’Aquele que me enviou'. [33] Do mesmo modo, diz a Escritura: 'O prazer traz consigo a pena e a necessidade gera a coroa'.

[34] O terceiro grau da humildade consiste em que, por amor de Deus, se submeta o monge, com inteira obediência ao superior, imitando o Senhor, de quem disse o Apóstolo: 'Fez-se obediente até a morte'.

[35] O quarto grau da humildade consiste em que, no exercício dessa mesma obediência abrace o monge a paciência, de ânimo sereno, nas coisas duras e adversas, ainda mesmo que se lhe tenham dirigido injúrias, [36] e, suportando tudo, não se entregue nem se vá embora, pois diz a Escritura: 'Aquele que perseverar até o fim será salvo'. [37] E também: 'Que se revigore o teu coração e suporta o Senhor'. [38] E a fim de mostrar que o que é fiel deve suportar todas as coisas, mesmo as adversas, pelo Senhor, diz a Escritura, na pessoa dos que sofrem: 'Por vós, somos entregues todos os dias à morte; somos considerados como ovelhas a serem sacrificadas'. [39] Seguros na esperança da retribuição divina, prosseguem alegres dizendo: 'Mas superamos tudo por causa daquele que nos amou'. [40] Também, em outro lugar, diz a Escritura: 'Ó Deus, provastes-nos, experimentastes-nos no fogo, como no fogo é provada a prata: induzistes-nos a cair no laço, impusestes tribulações sobre os nossos ombros'. [41] E para mostrar que devemos estar submetidos a um superior, continua: 'Impusestes homens sobre nossas cabeças'. [42] Cumprindo, além disso, com paciência o preceito do Senhor nas adversidades e injúrias, se lhes batem numa face, oferecem a outra; a quem lhes toma a túnica cedem também o manto; obrigados a uma milha, andam duas; [43] suportam, como Paulo Apóstolo, os falsos irmãos e abençoam aqueles que os amaldiçoam.

[44] O quinto grau da humildade consiste em não esconder o monge ao seu Abade todos os maus pensamentos que lhe vêm ao coração, ou o que de mal tenha cometido ocultamente, mas em lho revelar humildemente, [45] exortando-nos a este respeito a Escritura quando diz: 'Revela ao Senhor o teu caminho e espera nele'. [46] E quando diz ainda: 'Confessai ao Senhor porque ele é bom, porque sua misericórdia é eterna'. [47] Do mesmo modo o Profeta: 'Dei a conhecer a Vós a minha falta e não escondi as minhas injustiças. [48] Disse: acusar-me-ei de minhas injustiças diante do Senhor, e perdoastes a maldade de meu coração'.

[49] O sexto grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o que há de mais vil e com a situação mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, se considere mau e indigno operário, [50] dizendo-se a si mesmo com o Profeta: 'Fui reduzido a nada e não o sabia; tornei-me como um animal diante de Vós, porém estou sempre convosco'.

[51] O sétimo grau da humildade consiste em que o monge se diga inferior e mais vil que todos, não só com a boca, mas que também o creia no íntimo pulsar do coração, [52] humilhando-se e dizendo com o Profeta: 'Eu, porém, sou um verme e não um homem, a vergonha dos homens e a abjeção do povo: [53]exaltei-me, mas, depois fui humilhado e confundido'. [54] E ainda: 'É bom para mim que me tenhais humilhado, para que aprenda os vossos mandamentos'.

[55] O oitavo grau da humildade consiste em que só faça o monge o que lhe exortam a Regra comum do mosteiro e os exemplos de seus maiores.

[56] O nono grau da humildade consiste em que o monge negue o falar a sua língua, entregando-se ao silêncio; nada diga, até que seja interrogado, [57] pois mostra a Escritura que 'no muito falar não se foge ao pecado' [58] e que 'o homem que fala muito não se encaminhará bem sobre a terra'.

[59] O décimo grau da humildade consiste em que não seja o monge fácil e pronto ao riso, porque está escrito: 'O estulto eleva sua voz quando ri'.

[60] O undécimo grau da humildade consiste em, quando falar, fazê-lo o monge suavemente e sem riso, humildemente e com gravidade, com poucas e razoáveis palavras e não em alta voz, [61] conforme o que está escrito: 'O sábio manifesta-se com poucas palavras'.

[62] O duodécimo grau da humildade consiste em que não só no coração tenha o monge a humildade, mas a deixe transparecer sempre, no próprio corpo, aos que o vêem, [63] isto é, que no ofício divino, no oratório, no mosteiro, na horta, quando em caminho, no campo ou onde quer que esteja, sentado, andando ou em pé, tenha sempre a cabeça inclinada, os olhos fixos no chão, [64] considerando-se a cada momento culpado de seus pecados, tenha-se já como presente diante do tremendo juízo de Deus, [65] dizendo-se a si mesmo, no coração, aquilo que aquele publicano do Evangelho disse, com os olhos pregados no chão: 'Senhor, não sou digno, eu pecador, de levantar os olhos aos céus'. [66] E ainda, com o Profeta: 'Estou completamente curvado e humilhado'.

[67] Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor; [68] por meio dela tudo o que observava antes não sem medo começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente, pelo costume, [69] não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio costume bom e pela deleitação das virtudes.

[70] Eis o que, no seu operário, já purificado dos vícios e pecados, se dignará o Senhor manifestar-Se por meio do Espírito Santo.

(Excertos da 'Regras de São Bento', tradução de Dom João Evangelista Enout)