quinta-feira, 2 de maio de 2013

A FÉ EXPLICADA: O PURGATÓRIO (II)


A opinião mais comum, que está mais de acordo com a linguagem da Escritura e é geralmente mais aceita entre os teólogos, coloca o Purgatório nas entranhas da Terra, não longe do Inferno dos réprobos. [...] Lá não reina horror, desordem, desespero nem trevas eternas. A esperança divina difunde sua luz, e esse lugar de purificação é chamado também “estadia da esperança”. [A venerável Cônega Matteotti] viu lá almas que sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus sofrimentos. [...]

No Purgatório as almas estão confirmadas em graça, marcadas com o selo dos eleitos, e, desse modo, isentas de todo vício. [...] Há no Purgatório, como no Inferno, uma dupla pena: a da privação da visão de Deus (temporária) [...]. E a dos sentidos, ou sofrimento sensível. [...] Consiste no fogo e em outras espécies de sofrimento.

Com relação à severidade desses sofrimentos, uma vez que são infligidos pela infinita justiça, são eles proporcionados à natureza, gravidade e número dos pecados cometidos. Cada um recebe de acordo com suas obras, cada um tem que saldar os débitos de que se vê culpado diante de Deus. Esses débitos diferem enormemente em qualidade. [...] As almas sofrem vários tipos de sofrimentos, uma vez que há inumeráveis graus de expiação no Purgatório, e que alguns são incomparavelmente mais severos que outros. No entanto, falando em geral, os Doutores concordam em dizer que as dores do Purgatório são as mais dilacerantes. 'O mesmo fogo, diz São Gregório, atormenta os réprobos e purifica os eleitos'. [...]

Santa Catarina de Gênova, em seu tratado sobre o Purgatório, diz: 'As almas sofrem um tormento tão extremo, que a língua não pode descrever, nem pode o entendimento ter dele a menor noção, se Deus não o torna conhecido por uma graça particular'. [...]  Santo Tomás vai ainda além; ele afirma que a menor dor do Purgatório ultrapassa todos os sofrimentos desta vida, quaisquer que sejam. [...] Para provar essa doutrina, afirma-se que as almas do Purgatório sofrem a dor da perda da visão de Deus. Ora, essa dor ultrapassa os mais agudos sofrimentos. [...]

Entretanto as almas do Purgatório estão em contínua união com Deus e perfeitamente resignadas com sua vontade; ou melhor, sua vontade está tão transformada na de Deus, que elas não podem querer senão o que Deus quer. [...]  O Purgatório é uma espécie de Inferno no que diz respeito aos sofrimentos; é um Paraíso no que diz respeito ao deleite infundido nos corações pela caridade — caridade maior que a morte e mais poderosa que o Inferno.

A fé não nos fala sobre a duração precisa das dores do Purgatório. Sabemos em geral que elas são medidas pela Justiça Divina, e que cada uma delas é proporcionada ao número e à gravidade das faltas ainda não expiadas. Deus pode, no entanto, sem prejuízo de sua Justiça, abreviar esses sofrimentos aumentando sua intensidade; a Igreja Militante pode também obter sua remissão pelo Santo Sacrifício da Missa [principalmente pela chamada 'Missa Gregoriana', isto é, uma série ininterrupta de 30 Missas] e outros sufrágios oferecidos pelos falecidos.

De acordo com a comum opinião dos Doutores, as penas expiatórias são de longa duração. 'Não há dúvida, diz São Roberto Bellarmino, de que as penas do Purgatório não são limitadas a dez ou vinte anos, e de que elas duram, em muitos casos, séculos'. [...] Por que as almas devem sofrer antes de serem admitidas a ver a face de Deus? Qual é a matéria, qual o objeto dessas expiações? O que tem o fogo do Purgatório que purificar, que consumir? Dizem os Doutores que são as manchas deixadas pelos pecados.

Mas, o que se entende por manchas? De acordo com a maioria dos teólogos, não é a culpa do pecado, mas a dor ou débito de dor vindo do pecado. Para entender bem isso, devemos nos lembrar de que o pecado produz um duplo efeito na alma, a que chamamos débito (reatus) de culpa e débito de sofrimento. O pecado torna a alma não somente culpada, mas merecedora da dor ou castigo. Ora, depois que a culpa é perdoada [pela confissão], geralmente acontece que a dor permanece para ser sofrida, inteiramente ou em parte, e isso tem que ser sofrido na presente vida ou na vida futura. [...]

O débito vem de todas as faltas cometidas durante a vida, especialmente de pecados mortais [perdoados] não expiados quanto à culpa, e que se negligenciou em expiar com frutos meritórios ou penitência exterior. [...] Toda mancha de culpa desapareceu então, mas a dor permanece para ser sofrida em todo seu rigor e longa duração, pelo menos pelas almas que não são assistidas pelos vivos. Elas não podem obter o menor alívio por si próprias, porque o tempo do mérito passou; não podem merecer mais, não podem senão sofrer, e desse modo pagar à terrível justiça de Deus tudo o que devem, até o último ceitil.

Esses débitos de sofrimento são os remanescentes do pecado e uma espécie de mancha, que intercepta a visão de Deus e coloca um obstáculo na união da alma com seu fim último. Uma vez que as almas do Purgatório fiquem livres da culpa do pecado – escreve Santa Catarina de Gênova – não há outra barreira entre elas e sua união com Deus, salvo os remanescentes do pecado, dos quais têm que ser purificadas. [...]

Almas que se permitem ser ofuscadas pelas vaidades do mundo, mesmo que tenham a boa fortuna de escapar à danação, terão que sofrer terrível punição. [...]  Aqueles que tiveram o infortúnio de dar mau exemplo, ferir ou causar a perda das almas pelo escândalo, devem ter o empenho em reparar tudo neste mundo, se não querem ser sujeitos à mais terrível expiação no outro.

(Excertos da obra: 'Purgatory, illustrated by the lives and legends of the Saints', do Pe. Padre F.X. Schouppe, TAN Books and Publishers, 1973, originais da Revista Catolicismo, 2005).

A FÉ EXPLICADA: O PURGATÓRIO (I)


Está muito esquecido pela maioria dos fiéis o dogma do purgatório. A Igreja Padecente, onde eles têm tantos parentes para socorrer, e para onde eles sabem que um dia poderão ir, parece-lhes uma terra estranha. Esse esquecimento verdadeiramente deplorável era um grande sofrimento para São Francisco de Sales. Observa o pio Doutor da Igreja: 'Nós não nos lembramos suficientemente de nossos queridos falecidos; sua memória parece terminar com o som dos sinos do funeral'.

As principais causas disso são a ignorância e a falta de fé; nossas noções sobre o purgatório são muito vagas, e nossa fé muito fraca. A fim de que nossas idéias se tornem mais claras e nossa fé mais viva, devemos lançar um olhar para essa vida de além-túmulo, para esse estado intermediário das almas justas, não ainda dignas de entrar na Jerusalém Celeste. [...]

Não nos propomos provar para as mentes céticas a existência do purgatório, mas torná-lo melhor conhecido pelos fiéis piedosos, que acreditam com fé divina nesse dogma revelado por Deus. Este livro está endereçado propriamente a eles, para dar-lhes uma ideia mais clara do purgatório. Eu disse propositadamente 'uma ideia mais clara' em relação à que em geral o povo tem, colocando essa grande verdade sob a luz mais forte possível.

Para produzir esse efeito, dispomos de três fontes de luz muito distintas: primeiro o ensino dogmático da Igreja; depois a doutrina, como vem explicada pelos Doutores da Igreja; e, em terceiro lugar, as revelações e aparições aos santos, que servem para confirmar os ensinamentos dos Doutores. [...]

Acrescentemos que os católicos devem precaver-se contra uma incredulidade excessiva em fatos sobrenaturais ligados aos dogmas de Fé. São Paulo nos diz que a Caridade tudo crê (Cor. 13,7); quer dizer, acredita como os intérpretes o explicam, em tudo o que se pode prudentemente crer, e cuja crença não nos será prejudicial.

Se é verdade que a prudência rejeita uma cega e supersticiosa credulidade, também é verdade que devemos evitar outro extremo, que nosso Salvador censurou no Apóstolo São Tomé: 'Tu creste porque viste e tocaste'. Era melhor ter crido no testemunho de teus irmãos. Sendo mais exato, tu foste culpado de incredulidade; esta é uma falta que meus discípulos devem evitar. 'Bem-aventurados aqueles que não viram e acreditaram. Não sejas incrédulo, mas fiel' (Jo. 20, 27).

O Purgatório ocupa um importante papel em nossa santa Religião; forma uma das principais partes da obra de Jesus Cristo, e tem uma função essencial na economia da salvação das almas. Preces pelos falecidos, sacrifícios e sufrágios pelos mortos formam uma parte do culto cristão. Lembremo-nos de que a Santa Igreja de Deus, considerada como um todo, está composta de três segmentos: a Igreja Militante (na Terra), a Igreja Triunfante (no Céu) e a Igreja Padecente (no Purgatório). Essa tríplice Igreja constitui o Corpo Místico de Jesus Cristo, e as almas do Purgatório não são menos seus membros do que os fiéis na Terra e os eleitos no Céu. No Evangelho, a Igreja é ordinariamente chamada Reino do Céu; o Purgatório, tanto quanto as Igrejas celestial e terrena, é uma província desse vasto reino.

As três Igrejas irmãs mantêm incessantes relações entre si, uma contínua comunicação a que chamamos de Comunhão dos Santos. Essas relações não têm outro objetivo senão conduzir almas para a eterna glória, o termo final para o qual todos os eleitos tendem. [...] Preces pelos falecidos, sacrifícios e sufrágios pelos mortos formam uma parte do culto cristão, e a devoção pelas almas do Purgatório é uma devoção que o Espírito Santo infunde com a caridade nos corações dos fiéis. É um pensamento santo e salutar fazer um sacrifício expiatório pelos mortos, para que eles sejam livres de suas faltas, diz a Sagrada Escritura.

Para ser perfeita, a devoção às almas do Purgatório deve ser animada por um espírito tanto de temor quanto de confiança. De um lado, a santidade de Deus e sua justiça inspira-nos um salutar temor. De outro, sua infinita misericórdia dá-nos uma confiança sem limites. [...]

A justiça de Deus é terrível, e pune com extremo rigor até as faltas mais triviais. Isso porque essas faltas, leves a nossos olhos, não o são de nenhum modo aos de Deus. O menor pecado desagrada a Deus infinitamente. Em relação à infinita santidade que é ofendida, a mais ligeira transgressão toma proporções enormes e pede enorme reparação. Isso explica a terrível severidade das penas da outra vida, e deveria penetrar-nos de um santo temor.

O temor do Purgatório é um temor salutar; seu efeito é não só nos inclinar a uma caridosa compaixão para com as pobres almas sofredoras [do Purgatório], mas também ter um zelo vigilante por nosso próprio interesse espiritual. Pensa no fogo do Purgatório, e empenhar-te-ás em evitar as mais leves faltas; pensa no fogo do Purgatório e farás penitência de modo a satisfazer a divina justiça neste mundo, em vez de reparares [teus pecados] no outro.

Guardemo-nos, entretanto, do temor excessivo, e não percamos a confiança. [...] Caso estejamos animados desse duplo sentimento, se nossa confiança na misericórdia de Deus é igual ao temor que sua justiça nos inspira, teremos o verdadeiro espírito de devoção às almas do purgatório. Esse duplo sentimento surge naturalmente do dogma do Purgatório retamente entendido — um dogma que contém o duplo mistério da justiça e da misericórdia: da justiça que pune, da misericórdia que perdoa.

(Excertos da obra: 'Purgatory, illustrated by the lives and legends of the Saints', do Pe. Padre F.X. Schouppe, TAN Books and Publishers, 1973, originais da Revista Catolicismo, 2005).

terça-feira, 30 de abril de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (49)


Tocar as sagradas espécies, receber a eucaristia de homens comuns, trajar roupas vulgares na procissão eucarística, transformar a comunhão num ato mecânico ou em um rito social, comungar em pecado mortal: rol de sacrilégios que transforma o homem em réu de condenação; seria melhor que estes insensatos colocassem mós ao pescoço e se lançassem no mais profundo dos abismos ...

A FÉ EXPLICADA (IX)

A EXCOMUNHÃO

Uma pessoa torna-se membro da Igreja quando recebe o sacramento do Batismo e somente poderá ser separado dela por cisma (negação ou contestação da autoridade papal), por heresia (negação de alguma das verdades de fé proclamadas pela Igreja) ou por excomunhão (exclusão da Igreja por manifestar matéria gravemente ofensiva à doutrina da Igreja, sem posicionamentos de arrependimento e reparação). A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, em que Cristo é a Cabeça, o Espírito Santo é a alma e cujos membros somos nós, os batizados como Filhos de Deus. Por razões de cisma, heresia e ou excomunhão, a pessoa está 'fora da Igreja' e, portanto, destituída da graça da salvação eterna. 

A excomunhão, prevista no Direito Canônico, constitui uma pena de caráter medicinal ou de censura imposta pela Igreja, relacionada à pronta suspeição e interdição de um delito ou pecado de extrema gravidade, cometido por uma ou mais pessoas batizadas, bem como à mitigação do escândalo correspondente e à imediata e contundente correção do responsável (ou responsáveis) pelo fato cometido. Além do fato consumado, a imposição da pena da excomunhão implica necessariamente a natureza contumaz dos delitos praticados. Assim, impõe-se sempre que o rito da excomunhão seja precedido pela advertência formal feita por autoridade constituída da Igreja, pela oportunidade ampla de reparação, pelo pleno conhecimento dado ao delituoso da gravidade dos fatos cometidos, bem como da imperiosa necessidade da retratação e de arrependimento pelos atos cometidos. É na contumácia (obstinação) dos fatos e ações delituosas cometidas pela pessoa que se impõe à mesma a validade da censura gravíssima da excomunhão. 

A excomunhão pode ser imposta latae sententiae (aplicável a partir do momento em que o delito foi cometido) ou ferendae sententiae (aplicável à pessoa a partir do momento em que foi imposta). No primeiro caso, incorrem todos aqueles que, por exemplo, participam voluntariamente de um aborto e a excomunhão resulta automática no próprio fato de se cometer tal delito (embora, em alguns casos e por razões que se impuserem oportunas, tais excomunhões possam ser também declaradas formalmente). No segundo caso, ao contrário, a excomunhão exige a caracterização formal do delito por meio de um decreto do bispo diocesano ou por sentença judicial (cf. cânon 1341 e seguintes). 

A excomunhão não caracteriza uma expulsão da Igreja, simplesmente porque esta ação não pode apagar o elo batismal que nos uniram indelevelmente, um dia, à Santa Igreja. Um excomungado está separado, mas não expulso da Igreja e, embora passe a ser réu de inúmeras proibições (ver restrições impostas pelo cânon 1331, dadas abaixo) e, por esta razão, continua sujeito igualmente às leis da Igreja (um católico excomungado comete pecado mortal ao cometer adultério, como qualquer outro católico). E, é sempre bom lembrar, a excomunhão poderá ser revista e cessada, nos termos constantes do Direito Canônico.

§1 - Proíbe-se ao excomungado (Cânon 1331):

1. Possuir qualquer participação ministerial na celebração do Sacrifício Eucarístico ou em quaisquer outras cerimônias de culto;
2. Celebrar os sacramentos ou sacramentais e receber os sacramentos;
3. Desempenhar ofícios, ministérios ou cargos eclesiásticos ou realizar atos de regime.
§2 - Quando a excomunhão foi imposta ou declarada, o réu:
1. Se quiser agir contra o que é prescrito no §1, deverá ser rejeitado ou deve cessar a cerimônia litúrgica, a não ser que obste uma causa grave;
2. Realiza invalidamente os atos de regime, que conforme o §1,3 são ilícitos;
3. Está proibido de gozar dos privilégios que anteriormente lhe foram concedidos;
4. Não pode obter validamente uma dignidade, ofício ou outra função na Igreja;
5. Não tem para si os frutos de uma dignidade, ofício, função ou pensão que tenha na Igreja.

O §1 se refere ao excomungado em geral, sem oferecer maiores especificações. Portanto, diz respeito a todos os excomungados, sejam latae sententiae ou ferendae sententiae. Por outro lado, o §2 refere-se apenas àqueles que foram excomungados ferendae sententiae (excomunhão imposta) ou latae sententiae declarada; excluem-se aqueles que incorreram em excomunhão latae sententiae não-declarada.

Estas observações são particularmente relevantes neste momento, em que o bispo de Bauru/SP infligiu a pena da excomunhão a um padre de sua diocese, em face da natureza e contumácia dos graves delitos por ele cometidos, há tempos. O sacerdote, diante de pena tão terrível, diz-se sentir 'honrado' em recebê-la. Diante da imperiosa característica de contenção do escândalo que se insere tal censura, inúmeros fiéis participam da 'última missa' do sacerdote, mobilizam-se em sua defesa de formas diversas, difamam a Igreja e se sentem consternados com a 'posição radical' do bispo diocesano. Quantos pecados, quanto escândalo, quanta heresia; e quantos se condenando por meros e tresloucados apegos humanos, consumidos em erros doutrinários de gravidade extrema. A Igreja sangra sob a loucura e a insensatez dos seus próprios filhos...

segunda-feira, 29 de abril de 2013

DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM

§ I. As práticas comuns.

115. Há muitas práticas interiores da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. As principais são, abreviadamente, as seguintes:

1. Honrá-la, como a digna Mãe de Deus, com o culto de hiperdulia, isto é, estimá-la e honrá-la sobre todos os outros santos, como a obra-prima da graça e a primeira depois de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
2. Meditar suas virtudes, seus privilégios e seus atos.
3. Contemplar suas grandezas.
4. Fazer-lhe atos de amor, de louvor e reconhecimento.
5. Invocá-la cordialmente.
6. Oferecer-se e unir-se a ela.
7. Em todas as ações ter a intenção de agradar-lhe.
8. Começar, continuar, e acabar todas as ações por ela, nela, com ela e para ela, a fim de fazê-las por Jesus Cristo, em Jesus Cristo, com Jesus Cristo e para Jesus Cristo, nosso último fim. Mais adiante explicaremos esta última prática (Ver cap. VIII, art, II).

116. A verdadeira devoção à Santíssima Virgem tem também muitas práticas exteriores, das quais as principais são:

1º Alistar-se em suas confrarias e ingressar em suas congregações;
2º ingressar numa das ordens instituídas em sua honra;
3º publicar seus louvores;
4º dar esmolas, jejuar e mortificar-se o espírito e o corpo em sua honra;
5º trazer consigo suas insígnias, como o santo rosário ou o terço, o escapulário ou a cadeiazinha;
6º recitar com devoção, atenção e modéstia ou o santo rosário, composto de quinze dezenas de Ave-Maria, em honra dos quinze mistérios principais de Jesus Cristo, ou o terço de cinco dezenas, contemplando os cinco mistérios gozosos: anunciação, a visitação, a natividade de Jesus Cristo, a purificação e o encontro de Jesus no templo; os cincomistérios dolorosos: a agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras, sua flagelação, a coroação de espinhos, Jesus levando cruz, e a crucificação; os cinco mistérios gloriosos:a ressurreição de Jesus, sua ascensão, a descida do Espírito Santo, a assunção da Santíssima Virgem em corpo e alma ao céu, e sua coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade.

Pode-se recitar também uma coroa de seis ou sete dezenas em honra dos anos que se crê a Santíssima Virgem ter vivido na terra; ou a coroinha da Santíssima Virgem, composta de três Pai-nosso e doze Ave-Marias, em honra de sua coroa de doze estrelas ou privilégios; outrossim o ofício da Santíssima Virgem universalmente conhecido e recitado pela Igreja; o pequeno saltério da Santíssima Virgem que São Boaventura compôs em sua honra, tão terno e devoto que não se pode recitá-lo sem enternecimento; quatorze Pai-nosso e Ave-Marias em honra de suas quatorze alegrias; quaisquer outras orações, enfim, hinos e cânticos da Igreja, como o 'Salve Rainha', o Alma', o 'Ave Regina caelorum', ou o 'Regina caeli', conforme os diferentes tempos; ou o 'Ave, Maris Stella', 'O gloriosa Domina', etc., ou o 'Magnificat', e outras orações e hinos de que andam cheios os devocionários;

7º cantar e fazer cantar em sua honra cânticos espirituais;
8º fazer-lhe um certo numero de genuflexões ou reverências, dizendo-lhe, p. ex., todas as manhãs, sessenta ou cem vezes: 'Ave, Maria, Virgo Fidelis', para, por meio dela, obter de Deus a fidelidade às graças durante o dia; e à noite: 'Ave, Maria, Mater Misericordiae', para, por intermédio dela, alcançar de Deus o perdão dos pecados cometidos durante o dia;
9º ter zelo por suas confrarias, ornar seus altares, coroar e enfeitar suas imagens;
10º carregar nas procissões ou fazer que se conduza sua imagem nas procissões, e trazê-la consigo como uma arma eficaz contra o demônio;
11º mandar fazer imagens que a representem, ou seu nome, e colocá-los nas igrejas, nas casas, nos pórticos ou à entrada das cidades, igrejas e casas;
12º consagrar-se a ela, de uma maneira especial e solene.

117. Há uma quantidade de outras práticas da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, que o Espírito Santo tem inspirado às almas de escol, e que são muito santificantes. Pode-se encontrá-las mais extensamente no livro 'Paraíso aberto a Filágia' do Padre Paulo Barry, da Companhia de Jesus. Aí o autor coligiu grande número de devoções praticadas pelos santos em honra da Santíssima Virgem, devoções maravilhosamente úteis para santificar as almas, desde que sejam praticadas como devem, isto é:
1º Com reta e boa intenção de agradar só a Deus, de unir-se a Jesus Cristo como o nosso fim último, e de edificar o próximo;
2ª com atenção, sem distrações voluntárias;
3º com devoção, sem precipitação nem negligência;
4º com modéstia e compostura, em atitude respeitosa e edificante.

§ II. A prática perfeita.

118. Depois de ler quase todos os livros que tratam da devoção à Santíssima Virgem e de conversar com as pessoas mais santas e instruídas destes últimos tempos, declaro firmemente que não encontrei nem aprendi outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor-próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo, e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santificante para a alma e útil ao próximo.

119. O essencial desta devoção consiste no interior que ela deve formar, e, por este motivo, não será compreendida igualmente por todo o mundo. Alguns hão de deter-se no que ela tem de exterior, e não passarão avante, e estes serão o maior número; outros, em número reduzido, entrarão em seu interior, mas subirão apenas um degrau. Quem alcançará o segundo? Quem se elevará ao terceiro? Quem, finalmente, se identificará nesta devoção? Aquele somente a quem o Espírito de Jesus Cristo revelar este segredo. Ele mesmo conduzirá a esse estado a alma fiel, fazendo-a progredir de virtude em virtude, de graça em graça e de luz em luz, para que ela chegue a transformar-se em Jesus Cristo, e atinja a plenitude de sua idade sobre a terra e de sua glória no céu.

('Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria' de São Luís Maria Grignion de Montfort)

domingo, 28 de abril de 2013

28 DE ABRIL - SÃO LUÍS DE MONTFORT

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Missionário do Espírito Santo e da Virgem Santíssima, São Luís Maria Grignion de Montfort foi o portador da graça divina de uma mensagem de transcendência extraordinária: a necessidade de uma devoção ardente à Mãe de Deus e do conhecimento da missão ímpar de Nossa Senhora no Segundo Advento do seu Filho. Nasceu em 31 de janeiro de 1637 em Montfort (França), sendo ordenado sacerdote em 1700. Em 1706, foi recebido pelo Papa Clemente XI que, confirmando a sua vocação missionária, outorgou-lhe o título de 'Missionário Apostólico'. Nesta missão, combateu duramente a doutrina jansenista na França, que, crendo na predestinação, apresentava um Deus tirânico e sem misericórdia. Fundou três instituições religiosas: a Companhia de Maria (congregação de sacerdotes missionários), as Filhas da Sabedoria (freiras dedicadas à assistência aos doentes nos hospitais e à instrução de meninas pobres) e os Irmãos de São Gabriel (congregação de leigos voltados para o ensino). Escreveu várias obras, dentre ela o 'Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem', referência básica da mariologia cristã. Morreu em 28 de abril de 1716, aos 43 anos e apenas 16 anos como sacerdote, em Saint-Laurent-sur-Sèvre (França). Foi beatificado em 1888 e canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII.