sexta-feira, 1 de março de 2013

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DE MARÇO

Sexta 'Sexta-Feira' da Devoção

Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu coração, que meu amor onipotente concederá a todos os que comunguem nas primeiras sextas-feiras de mês, durante nove meses consecutivos, a graça da penitência final, e que não morram em minha desgraça, nem sem receber os Santos Sacramentos, assegurando-lhes minha assistência na hora final. 

Ó bom Jesus, que prometestes assistir em vida, e especialmente na hora da morte, a quem invoque com confiança vosso Divino Coração! Eu vos ofereço a comunhão do presente dia, a fim de obter, por intercessão de Maria Santíssima, vossa Mãe, a graça de poder fazer as minhas nove primeiras sextas-feiras, de modo a alcançar uma santa morte e a merecer a glória do céu. Amém.



Oração Final

Meu Jesus, eu vos dou meu coração, consagro-vos toda minha vida e em vossas mãos ponho a eterna sorte de minha alma. Eu vos peço a graça especial de fazer as minhas nove primeiras sextas-feiras com todas as disposições necessárias para ser participante da maior de vossas promessas, a fim de, um dia, estar convosco por toda a eternidade no céu. Amém.


ORAÇÃO REPARADORA AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Divino Salvador Jesus! Dignai-vos baixar um olhar de misericórdia sobre vossos filhos, que reunidos em um mesmo pensamento de Fé, Reparação e Amor, vêm chorar a vossos pés suas infidelidades e a de seus irmãos, os pobres pecadores! Possamos nós, pelas promessas unânimes e solenes que vamos fazer, tocar o vosso divino Coração, e dele alcançar misericórdia para o mundo infeliz e criminoso e para todos aqueles que não têm a felicidade de vos amar! Daqui por diante, sim, todos nós vo-lo prometemos:

Do esquecimento e da ingratidão dos homens,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Do abandono em que sois deixado no santo Tabernáculo,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Dos crimes dos pecadores,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Do ódio dos ímpios,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Das blasfêmias que se vomitam contra vós,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Das injúrias feitas à vossa divindade,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Dos sacrilégios com que se profana o vosso Sacramento de amor,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Das imodéstias e irreverências cometidas em vossa presença adorável,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Da tibieza do maior número de vossos filhos,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Do desprezo que se faz de vossos convites cheios de amor,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Das infidelidades daqueles que se dizem vossos amigos,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Do abuso de vossas graças,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De nossas próprias infidelidades,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Da incompreensível dureza de nossos corações,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De nossa longa demora em vos amar,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De nossa frouxidão em vosso santo serviço,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Da amarga tristeza em que sois abismado pela perda das almas,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Do vosso longo esperar às portas de nossos corações,
Nós vos consolaremos, Senhor!
Das amargas repulsas de que sois saciado,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De vossos suspiros de amor,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De vossas lágrimas de amor,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De vosso cativeiro de amor,
Nós vos consolaremos, Senhor!
De vosso martírio de amor,
Nós vos consolaremos, Senhor!

Oração: Divino Salvador Jesus, que de vosso Coração deixastes escapar esta queixa dolorosa: "Eu procurei consoladores e não os achei", dignai-vos aceitar o pequeno tributo de nossas consolações e assistir-nos tão poderosamente com o socorro de vossa graça que, para o futuro, fugindo cada vez mais de tudo o que vos poderia desagradar, nos mostremos em tudo, por toda a parte e sempre, vossos filhos, os mais fiéis e devotados. Nós vo-lo pedimos por vós mesmo, que sendo Deus, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais nos séculos dos séculos. Amém.

POR QUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque  durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número de almas possível.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

PAPA EMÉRITO BENTO XVI

'Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam'


Tempus est optimus judex rerum omnium


(NÃO CONSTANDO DO VÍDEO) Caríssimos irmãos:

Convoquei-os para este consistório, não apenas para as três canonizações, mas também para comunicar a vocês uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado minha consciência perante Deus, 

(INÍCIO DO VÍDEO) eu tive certeza de que minhas forças, devido à avançada idade, não são mais apropriadas para o adequado exercício do ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à sua natureza essencialmente espiritual, deve ser levado não apenas com com palavras e fatos, mas não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar o barco de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado. 

(SEGUNDA PÁGINA) Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado a mim pelos cardeais em 19 de abril de 2005, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um conclave para eleger o novo Sumo Pontífice terá de ser convocado por quem tem competência para isso.

Caros irmãos, agradeço sinceramente por todo o amor e trabalho com que vocês me apoiaram em meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos cuidados de nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua santa mãe Maria, para que ajude os cardeais com sua solicitude maternal, para eleger um novo Sumo Pontífice. Em relação a mim, desejo também devotamente servir a Santa Igreja de Deus no futuro, através de uma vida dedicada à oração.'




 




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

SOBRE A PENITÊNCIA

INTRODUÇÃO

A partir da quarta feira de cinzas começa a Quaresma e, com ela, recordamos o jejum de Nosso Senhor Jesus Cristo no deserto durante quarenta dias. Portanto, o caráter deste tempo é o da penitência. Daí a exortação ao jejum, à mortificação e de recolhimento; daí os convites mais prementes aos pecadores para que voltem a Deus, para que se purifiquem dos seus pecados e obtenham o perdão.

Entretanto, em muitos lugares, muitas pessoas de diferentes fés cristãs e inclusive muitos católicos questionam, dizendo: Para que a Quaresma e tanta oração e penitência? Jesus não morreu por todos e pagou todas as nossas dívidas? É um insulto acreditar que não foi o suficiente o que Ele fez para nos salvar a todos. Se já estamos salvos pela morte de Cristo, para que os seus pastores para nos evangelizar? ... Em resposta a essas objeções, somente nos cabe dizer que, como católicos, não devemos nos apegar ao que estes dizem, mas no que Jesus fez e disse. Pois Ele, o nosso único Redentor, é também o nosso mestre e modelo, e como católicos assim o cremos.

E assim é. O Evangelho de S. Mateus (4,2), que é a leitura da Igreja no primeiro domingo da Quaresma, nos diz que o Senhor passou 40 dias em oração e penitência. Por que não devemos de imitá-lO, à nossa maneira, nos quarenta dias da Quaresma?

Além disso, em certa ocasião, os discípulos de João e os fariseus perguntaram a Jesus: 'Por que os teus discípulos não jejuam?" E ele usou a comparação das bodas em que, em se estando com o esposo, não era este o tempo propício para se jejuar. 'Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão.' (Mc 2, 20). Como a esposa de Jesus, a Igreja fez e faz depois de sua ascensão.

É verdade que Jesus morreu por todos e pagou toda a dívida do pecado, mas também nos deu por sua Igreja os meios de salvação. Não deveria, pois, os homens usá-los para obtê-la? Exigiu tão claramente que enviou os seus apóstolos para pregar a todas as nações, e fazer-lhes ver o que havia ordenado, dizendo: 'Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.' (Mc 16,16). Quantos se condenaram ou se condenam por não crerem ou não cumprirem este mandato...

Por isso, quando os apóstolos começaram suas pregações, e os judeus, 'compungidos de coração', lhes perguntaram: 'O que devemos fazer ?' não responderam: 'Alegrai-vos, Jesus morreu por todos e sereis salvos' mas o que Pedro falou: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados' (Atos 2, 38). Não lhes bastava a sua fé em Jesus Cristo pela pregação ouvida.

E Paulo ensinou coisas sublimes sobre a nossa redenção: 'Cristo morreu por nós ... deu a si mesmo em resgate por todos ... cancelou o decreto firmado contra nós, etc, etc. Ainda assim, ponderou a necessidade da fé para a justificação e a salvação. Ele certamente tinha uma fé muito grande e muito forte em Cristo, pois pregava que nada nem ninguém poderia separá-lo de seu amor (Romanos 8, 35-39).

Entretanto, disse aos coríntios: 'castigo o meu corpo e o mantenho em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pregado aos outros.' (I Cor 9, 27). Se peço penitência e que se mortifique, é para vencer e garantir a sua salvação! ... Em outra carta, ele diz que, se seus oponentes vangloriam de ser ministros de Cristo, assim também o era, e ainda mais do que eles, pelos trabalhos sofridos por Cristo, pelas muitas fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez!' (II Cor 11, 27). Antes ele havia assinalado que as privações devem marcar os ministros de Deus (II Cor 6, 5).

Mais ainda, o mesmo Apóstolo chega a dizer aos Colossenses: 'O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo(místico) que é a Igreja.' (Col 1,24).

Isso nos mostra que, apesar de ter Cristo morrido por todos e ter satisfeito todos os nossos pecados, há que se padecer os membros de seu corpo místico, que somos nós. E é isso que deseja a Igreja na Quaresma: que o jejum, a abstinência e outras privações, nestes padecimentos do corpo místico de Cristo, possam assegurar, como diz São Pedro, nossa vocação e eleição, a nossa salvação por meio de boas obras; 'procedendo deste modo, não tropeçareis jamais; assim vos será aberta largamente a entrada no reino eterno' (2 Pe, 10-11).

Até agora temos tratado sobre a correta interpretação que a Igreja dá à penitência; agora vamos analisar o seu conceito, suas classes e sua importância como meio eficaz para realizar a nossa salvação. Para isso, a Igreja recorda-nos que, para se salvar, há dois caminhos: a inocência e a penitência. Para quantos, é este o único caminho! E por causa da importância do mesmo, vamos, com a ajuda de Deus, ilustrar das melhor maneira esta virtude.

A PENITÊNCIA

Esta pode ser considerada como Sacramento, ou como virtude ou ato de virtude; dela nos diz Santo Inácio em seus Exercícios Espirituais - é sentir dor pelos seus pecados, com a firme determinação de não cometer aqueles e nem outros mais. O Concílio de Trento a chama 'contrição': ' uma vez que que ocupa o primeiro lugar entre os atos do penitente, e consiste em uma dor intensa e ódio ao pecado cometido, com o propósito de não pecar mais.'

Dor dos pecados - Esta é um dos principais frutos da Quaresma: condoer-se, arrepender-se dos próprios pecados, com um sincero arrependimento que chegue, embora não se sinta, ao mais íntimo da alma. Para isso, é necessário que se peça ao Senhor e também considerar cuidadosamente o que é o pecado em si mesmo e em relação a Deus, e seus efeitos desastrosos sobre a alma. Quando olhamos os efeitos funestos de certas doenças do corpo, como não as abominarmos? ... Se pudéssemos ver o que faz o pecado na alma! ... O pior é que nem mesmo se quer pensar sobre isso! ... Daí o pouco fruto de nossas poucas confissões e o fracasso de certas 'conversões' ...

Propósito de não pecar - Novamente muitos têm a mesma dificuldade, pelo mesmo motivo de não considerar suficientemente a malícia e as punições do pecado. Às vezes acontece o que sucedeu à cidade de Nínive: seus habitantes aterrorizados ante a ameaça da destruição da cidade, correram a fazer penitência (Jonas 3, 5). Mas quanto tempo dura isso? ...

A PENITÊNCIA EFICAZ

Para isso, recordemos outra vez o que dizia São Paulo: ' castigo o meu corpo e o mantenho em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pregado aos outros.' (I Cor 9, 27). Se isso fazia São Paulo, o que nós devemos fazer? ... Para fazer uma penitência eficaz, é essencial:

Combater o pecado - 'Cada um é tentado, atraído e lisonjeado pela própria concupiscência", diz Santiago (I, 14). A raiz do pecado está em nós mesmos e a luta para evitá-lo deve começar pelo 'escravizar a carne', ou seja, dominar as próprias paixões. São Paulo chega a dizer que 'os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências.' (Gal 5,24). Para isso, eles devem refrear seus instintos e sentidos, que são como janelas por onde entra a morte do pecado (Jer 9,21).

Reparar os efeitos do pecado - 'Fazendo frutos dignos de penitência'. Quais são esses frutos? ... Os que são diretamente contrários ao pecado: reparar o furto ou roubo com a restituição; contra a murmuração e a calúnia, com a restauração da honra e da reputação; da raiva e injúrias, com a humildade da satisfação; contra os pecados da inimizade e do ódio, com a sinceridade da reconciliação, e assim todos os demais. Assim como o remédio é aplicado para sarar a parte doente, a penitência visa corrigir o que está defeituoso. Tem-se a língua demasiado solta? ... Aplica-se a ela o remédio.

Evitar as ocasiões de pecado - Os moralistas distinguem a ocasião próxima e a remota, segundo a facilidade ou dificuldade de cair em pecado diante dela; a voluntária ou a fortuita, etc, etc... Se somos cuidadosos o suficiente para evitar ocasiões que colocam em risco a saúde ou a vida do corpo, por que não as da alma?

A PENITÊNCIA FALSA

Existem vários tipos de penitência falsa:

Penitência Suspeita - A penitência interna, ou seja, a contrição indispensável à confissão, é sempre sincera, verdadeira? Não se reduz, muitas vezes, a uma mera formalidade externa, superficial, inadequada? A rapidez que é praticada e a facilidade com que se volta a cometer os mesmos pecados não são sinais de que tal 'penitência' deixa a desejar? ...

Penitência Frágil - é aquela baseada em motivos sólidos. Durante a Quaresma, muitos se arrependem verdadeiramente, choram, lamentam e detestam os seus pecados e parecem ter um desejo sincero de evitá-los, mas se apoiam em uma sincera convicção de mudar suas vidas para se salvarem ou em impressões fugazes, que logo se desvanecem? ... 'A penitência que evita a ocasião de pecado traz consigo as nuances de uma penitência falsa'.

Penitências Inúteis - Muitos se queixam de que não podem manter o jejum, e às vezes com razão, por razões de trabalho. Porém, quanta 'penitência' é feita hoje em dia em dietas de emagrecimento, para garantir padrões de beleza, para preservar a saúde, em uma palavra, por puras razões temporais... se houvesse mais fé e amor de Deus, não haveria mais espírito de penitência e sacrifício? ...

Peço a Deus que estas reflexões os ajudem, queridos irmãos, para viver da melhor maneira e de acordo com a graça de Deus, esta Quaresma que está apenas começando. 

Sinceramente em Cristo,

Mons. Martin Davila Gandara (Superior de La Sociedad Sacerdotal Trento, tradução do autor)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

DITOS ESPIRITUAIS DOS PAIS DO DESERTO - VIDA DE ORAÇÃO

1. A purificação, da alma, através da plenitude das virtudes, torna a disposição da inteligência inabalável e apta a receber o estado procurado. 

2. A oração é uma conversa da inteligência com Deus: que estado não é, pois, necessário, para essa tensão sem retorno, para ir a seu Senhor e conversar com ele, sem nenhum intermediário? 

3. Moisés, quando quis aproximar-se da sarça ardente, foi impedido de fazê-lo, até que tirasse os sapatos. E tu, que pretendes ver Aquele que ultrapassa todo pensamento e todo sentimento, como não te libertas de todo pensamento apaixonado? 

4. Primeiramente, ora para obter o dom das lágrimas; assim, poderás suavizar, pela compunção, a dureza inerente à tua alma e, confessando tua iniquidade contra ti, ao Senhor, obter dele o perdão. 

5. Mantém-te corajoso e ora com energia; afasta as preocupações e as reflexões que se apresentarem, pois elas te perturbam e te agitam, debilitando o teu vigor. 

6. Os demônios te vêem cheio de ardor pela verdadeira oração? Eles te sugerem, então, o pensamento de certas coisas, que te apresentam como necessárias. Depois, não tardam a avivar a lembrança que a elas se liga, levando a inteligência a procurá-las. A inteligência não as encontra, entristece-se profundamente e se aflige. Chegado o momento da oração, eles devolvem então à memória os objetos de suas buscas e de suas lembranças; assim, enfraquecida por essas associações, ela não, vai conseguir realizar a oração proveitosa. 

7. Esforça-te por manter teu intelecto surdo e mudo durante a oração: assim poderás orar. 

8. A oração é produto da doçura e da ausência de ira. 

9. A oração é fruto da alegria e do reconhecimento. 

10. A oração é exclusão da tristeza e do desalento. 

11. 'Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e depois pega a tua cruz e nega-te a ti mesmo', para poderes orar sem distração. 

12. Se queres orar dignamente, renuncia-te a todo instante; se suportas toda sorte de provações, resigna-te sabiamente por amor da oração. 

13. Na hora de orar, encontrarás o fruto de todo sofrimento aceito com sabedoria. 

14. Se queres orar como convém, não entristeças nenhuma alma; senão, oras em vão. 

15. O rancor cega a faculdade mestra de quem ora e derrama-lhe trevas sobre as orações. 

16. Armado contra a ira, não admitirás jamais a cobiça, pois é a cobiça que alimenta a ira; esta por sua vez, turva os olhos da inteligência e destrói, assim, c, estado de oração. 

17. Não te contentes de orar nas atitudes exteriores, mas leva tua inteligência ao sentimento da oração espiritual, com grande temor. 

18. Não ores para que tuas vontades se cumpram: elas não concordam necessariamente com a vontade de Deus. Ora, sim, segundo o ensinamento recebido, dizendo: 'que vossa vontade se cumpra em mim.' Em tudo, pede-lhe que se faça a sua vontade, pois ele quer o bem e o benefício para tua alma; tu, porém, não é isso necessariamente que procuras. 

19. O que há de bom fora de Deus? Deixemos, pois, a ele, todos os nossos interesses e isso será vantajoso para nós. Aquele que é Bom é também, necessariamente, Aquele que concede dons excelentes. 

20. Não te aflijas quando não receberes imediatamente, de Deus, o objeto de teu pedido: é que ele quer fazer-te ainda maior bem, por tua perseverança em permanecer com ele na oração. O que é de mais sublime, de fato, do que conversar com Deus e abstrair-se numa íntima comunicação com ele?

21. A oração sem distração é a intelecção mais alta da inteligência. 

22. A oração é uma ascensão da inteligência para Deus. 

23. Ora, em primeiro lugar, para te purificares das paixões;. em segundo lugar, para te libertares da ignorância; em terceiro lugar, para te libertares de toda tentação e abandono. 

24. Orando com teus irmãos ou orando só, esforça-te por orar, não por hábito, mas com sentimento. 

25. Tua inteligência divaga durante a oração? É que ela ainda não ora como monge; ela ainda é do mundo e se ocupa em enfeitar a tenda exterior. 

26. Enquanto oras, vigia intensamente a tua memória, para que, ao invés de sugerir-te as suas lembranças, ela te leve à consciência da tua prática; pois, a inteligência tem uma perigosa tendência: deixar-se pilhar pela memória, no momento da criação. 

27. Qual o objetivo dos demônios, quando excitam em nós a gula, a impudicícia, a cobiça, a ira, o rancor e as outras paixões? Querem que a nossa inteligência, estupidificada por elas, não possa orar convenientemente; pois, as paixões da parte irracional, vencedoras, impedem-na de mover-se de acordo com a razão (de acordo com as razões dos seres como objeto de contemplação) para procurar atingir a Razão (o Logos: o Verbo) de Deus. 

28. Nós vamos às virtudes (primeiro degrau: vida ativa) em vista das razões dos seres criados (segundo degrau: contemplação inferior); vamos a estas, em vista do Senhor, que as estabeleceu (terceiro degrau: teologia); quanto ao Senhor, ele costuma aparecer no estado de oração. 

29. O estado de oração é um 'hábito' impassível que, por um amor supremo, arrebata aos cimos intelectuais a inteligência possuída nela sabedoria " 

30. Quem ama a Deus conversa incessantemente com ele, como com um Pai, despojando-se de te do pensamento apaixonado. 

31. Não é porque se tenha atingido a apatheia que se irá orar verdadeiramente, pois é possível ficar nos pensamentos simples (isto é, purificados de laços sensíveis) e distrair-se na meditação deles, estando, portanto, longe de Deus. 

32. Suponhamos que a inteligência não permaneça nos pensamentos simples; nem por isso terá atingido o lugar da oração e, pois ela pode encontrar-se na contemplação dos objetos e ocupar-se em suas razões: ora, essas razões, sendo ao mesmo tempo expressões simples, em sua qualidade de considerações de objetos, imprimem uma forma na inteligência e a afastam muito de Deus. 

33.  Suponhamos que a inteligência se eleve acima da contemplação da natureza corpórea; ela ainda não tem a visão perfeita do lugar de Deus pois pode encontrar-se na ciência dos inteligíveis e partilhar sua multiplicidade. 

34. Quem ora em espírito e em verdade, não tira mais das criaturas os louvores que dá ao Criador: é do próprio Deus que ele louva Deus. 

35. Se és teólogo, vais orar verdadeiramente; e se oras verdadeiramente, és teólogo! 

36. Quando tua inteligência, num ardente amor de Deus, sai, por assim dizer, pouco a pouco, de tua carne; . quando rejeita todos os pensamentos que vêm dos sentidos, da memória ou do temperamento; quando ela se enche, aa mesmo tempo de respeito e de alegria, então podes considerar-te próximo dos limites da oração. 

37. Não imagines possuir a Divindade em ti, quando oras, nem deixes tua inteligência aceitar a marca de uma forma qualquer; mantém-te como imaterial diante do Imaterial e compreenderás. 

38. Fica atento às armadilhas dos adversários: acontece, enquanto oras puramente e sem perturbação, que se te apresente, de súbito, uma forma desconhecida e estranha. Ela quer levar-te à presunção de que ali localizas Deus e fazer com que vejas a Divindade no objeto quantitativo que de repente apareceu diante dos teus olhos; porém, a Divindade não tem quantidade nem rosto. 

39. Quando o demônio ciumento fracassa na excitação da memória durante a oração, age sobre a compleição do corpo, para despertar na inteligência algum fantasma desconhecido e, assim, dar-lhe forma. A inteligência, acostumada a limitar-se a conceitos, é então facilmente subjugada; aquela que tendia à gnose imaterial e sem forma, deixa-se iludir e pensa que a fumaça é luz. 

40. Sê prudente, protegendo tua inteligência de todo conceito, na hora da oração, para que ela seja firme na sua tranqüilidade própria (de sua natureza original). Então, Aquele que tem piedade dos ignorantes virá também sobre ti e receberás um dom de oração muito glorioso. 

41. Não poderias possuir a oração pura, estando perturbado com coisas materiais e agitado por inquietações contínuas, pois a oração é abandono dos pensamentos. 

42. Impossível correr entrevado; a inteligência sujeita às paixões também não poderia ver o lugar da oração espiritual, pois ela é solicitada de todos os lados pelo pensamento apaixonado e não consegue manter-se inflexível. 

43. Se oras verdadeiramente, sentirás uma grande segurança; os anjos te escoltarão como a Daniel e te iluminarão sobre as razões dos seres. 

44. A salmodia vence as paixões e acalma a intemperança do corpo; a oração faz a inteligência exercer sua atividade própria. 

45. A oração é atividade que convém à dignidade da Inteligência; é a aplicação mais admirável e mais completa desta. 

46. A salmodia depende da sabedoria multiforme; a oração é o prelúdio da gnose imaterial e uniforme. 

47. Se ainda não recebeste o carisma da oração e da salmodia, insiste: tu o receberás. 

48. No momento das tentações dessa espécie, recorre a uma oração breve e veemente. 

49. O corpo tem o pão por alimento; a alma, a virtude; a inteligência, a oração espiritual. 

50. Não escutes as exigências de teu corpo no exercício da oração; não deixes que uma picada de piolho, pulga, pernilongo ou mosca, te prive da melhor vantagem da oração. 

51. A respeito de um outro irmão espiritual, lemos que uma víbora atacou-lhe o pé durante a oração. Mas ele não moveu os braços até acabar a oração habitual, e escapou ileso, porque amara a Deus mais que a si mesmo. 

52. Não eleves os olhos enquanto oras; renuncia à carne e à alma e vive segundo a inteligência. 

53. Um outro santo, cheio do amor de Deus e de zelo na oração, encontrou, quando andava pelo deserto, dois anjos que se puseram, um à sua direita, outro à sua esquerda, e caminharam juntos. Mas ele não lhes deu a mínima atenção, para não perder o melhor. Pois, lembrava-se da palavra do Apóstolo: 'Nem os anjos, nem os principados, nem os poderes, poderão separar-nos da caridade de Cristo' (Rm 8,38). 

54. Aspiras a ver a face do Pai, que está no céu: não procures, por nada deste mundo, perceber forma ou rosto durante a oração. 

55. Feliz o espírito livre de qualquer forma durante a oração. 

56. Bem-aventurada a inteligência que, no momento da oração, torna-se imaterial e despojada de tudo. 

57. Aquele outro leva à perfeição a oração que não cessa de fazer frutificar para Deus toda a sua intelecção primeira (a do estado original) 

58. A atenção em busca de oração vai encontrá-la, pois se a oração vem depois de alguma coisa, é justamente da atenção. Apliquemo-nos nisso. 

59. A vista é o melhor de todos os sentidos; a oração é a mais divina de todas as virtudes. 

60. A excelência da oração não reside na simples quantidade, mas na qualidade. São testemunhas os dois que subiram ao templo (Lc 18,10s) e as palavras: 'Nas vossas orações, não useis de vãs repetições' (Mt 6,7). 

61. Enquanto ainda tens atenção para o que provém do corpo; enquanto tua inteligência considera os atrativos externos, ainda não viste o lugar da oração: estás mesmo longe do caminho abençoado que conduz a ele. 

62. Pois, quando em tua oração tiveres conseguido ultrapassar qualquer outra alegria, é que finalmente, em toda verdade, terás encontrado a oração.

(Excertos da obra 'Tratado sobre a Oração'; Evrágio Pôntico - Século IV; tradução de Jean Gouillard)