125. OLÁ! VOCÊ VIROU CAROLA?
Pedro Jorge Frassati, falecido santamente em Turim em 4 de abril de 1925, era filho de um ilustre embaixador. Muito rico, conservou, entretanto, sua inocência, sua fé e um coração extremamente sensível às misérias alheias. Tornou-se um campeão de Cristo e um apóstolo do bom exemplo. Frassati não era desses que só praticam a religião quando encerrados dentro de quatro paredes. A propósito lê-se em sua biografia o seguinte fato.
Um dia, ao sair de uma igreja, conservava ainda na mão o seu rosário. Um conhecido passando por ali justamente naquele momento e, não perdendo a ocasião, diz-lhe, mofando:
➖ Olá, Jorge! você virou carola?
E Jorge, sem se perturbar, respondeu prontamente:
➖ Não; eu continuo apenas um bom cristão; e disso não me envergonho, antes me glorio.
Antes de expirar - e contava então somente vinte e quatro anos de idade - Frassati fez a seguinte profissão de fé: 'Cada dia compreendo melhor a graça de ser católico. Pobres, infelizes os que não têm fé. Viver sem a fé, sem uma herança que se possa defender, sem uma verdade que se possa sustentar por um combate contínuo, não é viver, é vegetar. Não devemos vegetar, devemos viver; porque, apesar de todas as decepções, devemos lembrar-nos sempre que somos os únicos a possuir a verdade. Temos uma fé que defender, e a esperança de chegar à nossa Pátria. Para o alto os corações e avante sempre pelo triunfo do reinado de Cristo na sociedade. E Jorge Frassati foi um desses apóstolos do reino de Cristo na sociedade; foi um militante da Ação Católica, foi um combatente ardoroso até à morte.
126. A COLEGIAL QUE SE CONVERTEU
Estudava em um colégio de irmãs uma menina de treze anos apenas. Era uma alma forte; era um coração indômito. Não sei o que tinha aquela criatura, mas exercia uma influência poderosa sobre todas as colegas que viviam com ela. Quando pregava a revolução entre as suas companheiras, contra as ordens das Irmãs, a revolução estalava tumultuosa, e só a mão forte da Superiora conseguia impor de novo a disciplina.
Um dia aquela menina altiva e insolente foi severamente repreendida e castigada. Aquela tarde não poderia sair a passeio com as colegas. Tinha que ficar no colégio, escrevendo cem vezes estas palavras: 'Primeiro mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças'.
Ficou na sala vigiada por uma professora. Pôs o papel diante de si e começou a escrever: 'Primeiro mandamento da lei de Deus: Amarás o senhor, teu Deus...' E continuou escrevendo... Logo estava cansada. Largou a pena e passou os olhos pela sala. Bem em frente, pendurada na parede, estava uma imagem de Jesus Crucificado. Contemplou-o como jamais o contemplara. Parecia-lhe que aquelas palavras que acabava de escrever, a ela eram dirigidas por aquele santo Cristo, que tinha diante dos olhos. Lentamente, solenemente, com acento de ternura, com olhos cheios de lágrimas, dizia-lhe aquele Deus amoroso: 'Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração'...
O que se passou então naquela alma forte e naquele coração indômito, que lhe saltaram as lágrimas e ali mesmo se ajoelhou e se fixaram longo tempo os olhos daquele Deus-Amor e daquela menina-revolução? Em seguida levantou-se e pediu humildemente licença à mestra para ir uns instantes à capela. Tinha sede de falar de mais perto com Deus e Deus estava ali, a dois passos dela, no sacrário.
Quando se levantou estava transformada. Desde aquele dia foi a santa do colégio. Anos mais tarde, quando o capelão e o confessor falavam dela, diziam: 'as almas ou são grandes santas ou grandes pecadoras'. Naquela tarde de sua vida começou a ser santa e o foi até o fim, até o heroísmo.
127. COMO MORRE UM VIGÁRIO
O pároco de Constantina, em terras de Sevilha, era um homem de fé ardente. Prenderam-no os bárbaros comunistas, lançaram-no numa asquerosa prisão, deram-lhe muitas pauladas, negaram-lhe todo o alimento e, por fim, fizeram em nome do comunismo o que não poderiam deixar de fazer, isto é, saquearam a casa paroquial e a igreja.
Mas foram mais longe: conduziram-no à praça pública e ali o apresentaram àqueles mesmos paroquianos pelos quais ele havia trabalhado durante vinte e seis anos. A multidão, enfurecida pelos vermelhos, saciou contra ele o seu ódio vil. Levaram-no outra vez à igreja. Cinco dias durava já o martírio; há cinco dias que não via sua querida igreja paroquial. Ao entrar nela voltou-se com grave dignidade para aqueles sacrílegos, e lhes disse:
➖ Perdoo-vos o que a mim me tendes feito; mas profanastes a igreja de Deus e sentireis o peso da justiça divina.
Aproximou-se do altar do Santíssimo e... que dor! Viu que as sagradas partículas tinham sido atiradas ao chão. Quis ajuntá-las, mas não pôde. Derrubaram-no por terra e ali mesmo o golpearam barbaramente. Quando quis dizer: 'Viva Cristo Rei!' não terminou, pois um vil assassino atravessou-lhe a cabeça com uma bala.
Alguns meses mais tarde, em 15 de dezembro, quando a cidade de Constantina caiu em poder das tropas espanholas, ordenou a câmara que desenterrassem o cadáver do pároco. Estava perfeitamente incorrupto. Tinha sobre o peito um crucifixo. Aquele santo Cristo se lhe incrustara completamente na carne. Conseguiram separá-los, mas a cruz ficou para sempre gravada no peito do mártir. Ficou incrustada a cruz em seu peito. Trazei também vós no coração o espírito de Jesus Cristo e, estou certo, não deixareis de perdoar a todos os vossos inimigos.
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)