domingo, 15 de novembro de 2020

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!' (Sl 127)

 15/11/2020 - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

51. A PARÁBOLA DOS TALENTOS


Como herdeiros das alegrias eternas, somos administradores e não proprietários dos bens recebidos nesta vida. Tudo vem de Deus e tudo há de voltar para Deus na medida em que cada um de nós deverá prestar as devidas contas da infinitude das graças recebidas por Deus para se cumprir o seu plano de nossa salvação. Como nada nos pertence, nem nosso corpo, nem os nossos pensamentos, viver a santidade consiste em fazer em tudo e por todos a Santa Vontade de Deus, colocando todos os nossos dons e talentos a serviço do Reino.

O 'homem (que) ia viajar para o estrangeiro' (Mt 25, 14) não é outro senão Jesus que subiu ao Céu e que, chamando os seus empregados, 'lhes entregou seus bens' (ainda Mt 25, 14). Bens, portanto, que pertencem a Deus e que são distribuídos aos homens de forma diversa, por meio de um, de dois, de cinco talentos, de acordo com os desígnios da Providência e na medida certa para levar a todos ao cumprimento ideal da sua missão salvífica. Desta forma, a glória de Deus é fruto não da graça de se ter mais ou menos talentos, mas da resposta de cada um de nós, pela própria vocação, de cumprir santamente a Vontade de Deus na administração coerente dos bens recebidos em benefício próprio e dos nossos irmãos.

Mérito que tiveram os empregados que receberam cinco e dois talentos: bens que renderam outros bens, na medida do amor de ambos: 'servo bom e fiel' (Mt 25, 21.23); talentos que se multiplicaram e que se distribuíram fartamente, pela medida expressa por um rendimento em dobro: 'Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei' (Mt 25, 20) e 'Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei' (Mt 25, 22). Quem se mostra fiel na administração dos bens recebidos, será merecedor de bens ainda maiores e herdeiro das alegrias eternas: 'Vem participar da minha alegria!’ (Mt 25, 21.23).

Glória que será tirada dos servos infiéis, dos empregados maus e preguiçosos que, diante os dons e talentos recebidos, os enterram nos buracos de sua insensatez, do egoísmo e da busca desenfreada por posses e bens materiais, aviltando a graça de Deus e se consumindo nos próprios interesses e mesquinhez. Ao prestar contas de sua má administração, o servo infiel busca em vão refúgio na tentativa de culpar o patrão, mediante a concepção desvairada de um Deus injusto e severo, para apenas se condenar pelas próprias palavras e pelos pecados de negligência e omissão. E, condenado, perde até o pouco que porventura tenha feito em favor de outros e ganha a perdição eterna: 'Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25, 29 - 30).

sábado, 14 de novembro de 2020

'PELOS SEUS FRUTOS OS RECONHECEREIS'


1. O CATÓLICO crê firmemente que Deus nos ama com um amor único e absoluto e quer de nós, de cada um de nós, os seus filhos fieis, apenas o nosso amor 'infinitamente humano'.

2. O CATÓLICO crê firmemente que quem encontra-se em pecado mortal só pode ser perdoado por meio da confissão sacramental.

3. O CATÓLICO crê firmemente que quem comunga em estado de pecado mortal torna-se réu de condenação eterna.

4. Para um CATÓLICO, o casamento, o sexo e a família são realidades naturais e divinas e não convenções culturais, para as quais cada um, portanto, poderia assumir a concepção que quiser.

5. No sentido CATÓLICO, o casamento é um matrimônio pois constitui uma união de esposos que faz a mulher ser mãe (mater em latim); quando se exclui a possibilidade de geração, essa união não é mais matrimônio. A natureza heterossexual da união fecunda não decorre de nenhuma ideologia, cultura ou religião, mas é uma realidade originária e natural e, apenas neste sentido, é um pré-conceito e, mais que isso, uma realidade universal.

6. Os divorciados recasados não  deixam de ser CATÓLICOS e não estão excluídos da Igreja, mas não podem receber a Sagrada Eucaristia em hipótese alguma.

7.  Um CATÓLICO deve ser apenas CATÓLICO e não um 'católico conservador', ou 'católico progressista', ou 'católico convicto', ou 'católico coerente' ou ainda 'católico praticante'. Porque não se serve a Deus pela metade ou com 99% de devoção.

8. O demônio existe. Um CATÓLICO não pode negar a existência do diabo, mas também não pode ceder à tentação do temor, porque até essa tenebrosa realidade é razão de alegria e de esperança na infinita bondade de Deus.

9. A Sagrada Escritura não é letra morta, mas espírito e vida para um CATÓLICO, porque é a palavra de Deus que se fez carne e habitou entre nós.

10. Um CATÓLICO deve ser integralmente humilde e profundamente orgulhoso: humilde por inteiro por saber que não somos nada, e possuir um legítimo orgulho firmado na esperança e na certeza de que somos herdeiros das alegrias eternas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: O ESPÍRITO DE ORAÇÃO


A oração é, segundo a definição de Santa Teresa, uma conversa de amizade íntima em que a alma dialoga sozinha com Deus e não se cansa de expressar seu amor por Aquele por quem sabe ser amada. Estar a sós com nosso Deus para dizer a Ele que o amamos: isso é a oração. Daí se tem o claro entendimento da inteligência de que nada vale sem o espírito de oração, aquela inclinação constante de cada alma, coração, inteligência e vontade para o diálogo com Deus.

Deus é pouco conhecido. E é ainda menos amado. É nesta conversa íntima que o coração adquire uma afeição cada vez mais sólida e profunda por Ele, uma afeição que cresce sem cessar. Toda a nossa ocupação deve ser essa: a de estarmos a sós na presença de Deus. Tudo nos deve falar sobre Ele: o grão de areia em que se pisa, a corrente de um riacho, a flor exposta ao nosso olhar, o canto de um pássaro, a estrela que brilha no céu à noite, um sofrimento, uma alegria, uma ordem. Tudo nos deve fazer pensar nEle, levar-nos até Ele, vê-lo em todos os lugares. Porque é dEle todas as coisas e tudo Ele tem suas mãos, envolvendo e em tudo penetrando, criando e continuando a criação. E, mais do que tudo, pela graça Ele habita no mais íntimo do nosso coração.

Ele não se contenta em nos tornar os seus filhos, mas quer viver em intimidade conosco. Ele está dentro de todos nós para que nossos corações possam amá-lo como se ama alguém que está verdadeiramente presente. E todo o nosso desejo deve ser o de penetrar nas profundezas de Deus por meio da nossa inteligência, de conhecê-lo não só pelas suas obras, mas em si mesmo, na medida do que isso seja possível, permitindo-nos, assim, no recolhimento e no silêncio, que Ele nos abra os olhos e nos fale ao coração. Deixando que nos ensine... deixando que Ele nos diga: 'Eu sou o tesouro, a misericórdia e a sabedoria. Eu sou o bem, a verdade, a vida, a beleza, a bondade e o amor. Eu sou este tudo e, ao mesmo tempo, sou a Trindade em sua intimidade mais perfeita e mais profunda, sem distinção alguma, a não ser pela relação de origem [ou seja, o Pai gera; o Filho é gerado; o Espírito Santo é quem procede; de forma que ao Pai atribui-se a criação, ao Filho atribui-se a redenção e ao Espírito Santo atribui-se a santificação].

Deixa, então, o seu coração se expandir em amor. O amor divino é uma coisa misteriosa. Não podemos dá-lo a nós mesmos, mas Deus se derrama na alma silenciosa, na alma de oração. Sem dúvida, esse amor nem sempre é consciente e sentido, mas como é real! E quer tudo dirigir e a tudo envolver; está sempre presente como uma fonte de calor, como uma língua de fogo. É aquele fogo interior de que fala São João da Cruz que, submerso na alma, a queima e a incendeia.

Devemos empreender a busca de Deus, chamá-lo, correr para Ele e dizer-lhe sem cessar, de manhã à noite: 'Onde estais, ó meu Deus? Entregai-vos a mim pois vos quero, vos chamo, vos procuro e porque preciso de Vós. Vós não sereis mais feliz por causa de mim mas eu só poderei ser feliz por meio de Vós. O meu coração foi feito para Vós e viverá inquieto enquanto não repousar em Vós. Ele sofre quando percebe que não o ama, que não o possui inteiramente'. Esse é o espírito de oração: uma troca contínua de conhecimento e de amor, face a face, num diálogo de corações.

Pode existir vida mais bela do que esta? Isso implica o alheamento do mundo e a imposição do silêncio; quem se distrai com ruídos externos não consegue ouvir a voz interior; é impossível. O silêncio provê a liberdade da alma para se abrir com Deus, falar com Ele e contemplá-lo; porque é necessário, deve ser praticado e não apenas em termos do silêncio exterior, mas também pelo silêncio interior. Silencie a sua imaginação, do que se ocupa e do que se preocupa, do que se deve fazer; desligue-se de tudo isso. Liberte o seu coração das mil ninharias inúteis que o possam oprimir.

Sacrifica tudo e então serás livre. No fundo, se não amais a vós mesmos, amareis mais e, necessariamente, amareis a Deus. O amor há de vos elevar e vos unir a Deus. Tereis uma uma vida de oração, ou seja, uma vida de intimidade com Deus, sempre mais amado e sempre melhor amado. Não busqueis outra coisa. Que a vossa vida seja uma vida de recolhimento, imitando a Santíssima Virgem. O que ela fez, durante toda vida, senão dialogar com a Santíssima Trindade? Ele viveu apenas para o seu Jesus, ela pensou apenas em seu Jesus, seu Deus e seu Filho. Era também a verdadeira Esposa do Louvor. Viveu pela oração e, pode-se dizer,  que morreu em oração. Uma alma de oração se aparta, se recolhe, se desprende, se mortifica e a tudo renuncia: tudo para encontrar a Deus; por outro lado, essa alma se dá a Deus. Então, um foco de luz ilumina, uma fonte de energia se expande, uma fagulha de amor incendeia. Não se precisa buscar ou se inquietar como isso haverá de acontecer.

Pelo simples fato de possuirdes uma alma de oração, sereis contados no número daquelas almas verdadeiramente mortificadas e apostólicas, que espraiam pelo mundo inteiro um pouco mais do conhecimento de Deus, e um pouco mais de caridade.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

VÍDEOS CATÓLICOS: A VIDA DO CURA D'ARS

Documentário em francês - legendado - sobre a vida e a obra de São João Maria Vianney, o Cura d'Ars.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

GLÓRIAS DA CRISTANDADE: OS LIMITES DA PENITÊNCIA


Na antiga casa paroquial de Ars, conservam-se como troféu de vitória as disciplinas e os cilícios do Cura d'Ars, o Pe. João Maria Vianney. Mas o seu principal instrumento de penitência não está ali; deixaram-no na igreja: é o confessionário. Pode-se dizer que o servo de Deus ali se crucificou livremente. Foi 'um mártir da confissão', conforme as palavras de uma testemunha de sua vida. 

... Algumas horas de confessionário bastam para alquebrar o sacerdote mais robusto. Sai-se dele com os membros entumecidos, a cabeça congestionada e incapaz de fixar um pensamento. Perde-se o sono e o apetite, e a quem quiser passar, todos os dias, longas horas assentado, faltar-lhe-ão as forças. Pois bem, conforme escreveu a condessa de Garets, o Cura d'Ars impôs-se um trabalho que extenuaria seis confessores. 'Eis', diz o Pe. Raymond que o viu exercer este ministério, 'eis o que sempre me pareceu milagroso e superior às forças humanas: que um sacerdote tão achacado e de um regime tão austero pudesse, de qualquer maneira, passar a vida no confessionário!... A minha saúde, graças a Deus, é excelente, contudo, confesso que me seria impossível suportar aquele modo de vida durante uma semana, e o mesmo ouvi dizer por outros sacerdotes acostumados a confessar em peregrinações'.

Sim; foi ali entre aquelas tábuas, naquele ataúde antecipado, onde o Cura d'Ars mais teve que sofrer. No verão, a igreja era como um forno. O calor no confessionário, como ele mesmo dizia, dava-lhe uma ideia do inferno. Algumas vezes tinha que ouvir confissões com compressas na fronte, a tal ponto o torturavam as enxaquecas. Era por este motivo que trazia o cabelo muito curto na parte anterior da cabeça. Nos dias de tempestade ou de forte calor, o ar estava tão viciado na estreita nave do templo que o heroico confessor sentia náuseas e não as podia evitar, a não ser aspirando um vidro de vinagre ou de água de colônia. No inverno, pelo contrário, naquela região de Dombes, sobretudo quando sopra o vento dos Alpes, até as pedras se fendem. 

Muitas vezes, refere o Pe. Dubouis, desmaiou no confessionário, ora por causa do frio, ora por causa das suas enfermidades. Perguntei-lhe uma ocasião: 'Como pode V. Revma estar tantas horas assim num tempo tão cruel, sem nada para lhe aquecer os pés?'
- 'Ah! meu amigo, é por uma razão muito simples: Desde o dia de Todos os Santos até a Páscoa não sinto que tenho pés'.

O cônego Aleixo Tailhades, de Montpellier, que passou com ele parte do inverno de 1838, conta que 'os pés do pobre Cura se achavam tão lastimados que a pele dos calcanhares saía com as meias quando à noite se descalçava'. Para atenuar a dureza da tábua em que se assentava, experimentaram colocar sobre ela umas almofadas de palha. Ele as rejeitou (...)

A assiduidade do Pe. Vianney ao confessionário e os sofrimentos que nele suportava teriam bastado para fazê-lo alcançar um grau de alta santidade. Mas procurando as mortificações com o mesmo ardor com que outros buscam os prazeres, jamais estava saciado de penitência. Impôs-se o sacrifício de nunca olhar para uma flor, de não comer frutas e de não tomar uma gota de água em dias de grande calor. Jamais espantava as moscas que lhe pousavam na fronte. Permanecia ajoelhado sem apoio algum. Impusera-se a lei de nunca manifestar os desgostos e de ocultar todas as repugnâncias da natureza. Dominava a curiosidade ainda a mais legítima: nem sequer manifestou o desejo de ver a estrada de ferro que passava a poucos quilómetros de Ars, e que cada dia trazia para ele um maior número de peregrinos.

O seu coração estava sem pecado, e contudo, jejuou durante 40 anos: jejuou e flagelou-se pelos pecadores. Vimo-lo no princípio do seu apostolado como tomava sangrentas disciplinas para obter de Deus a conversão dos seus paroquianos. Quando estes se converteram, não deixou, apesar disso, que os seus instrumentos de penitência se enferrujassem. A diminuição das forças obrigou-o a servir-se menos deles e a tratar com menos crueldade o seu cadáver. Algumas vezes teve que fazer intervalos entre as flagelações e deixar que as feridas cicatrizassem para poder novamente flagelar-se (...)

Trazia em cada braço um bracelete de ferro eriçado de pontas agudas. 'Pela rigidez dos seus movimentos e pela maneira como se movia, no púlpito e no altar, era fácil ver' - diz uma senhora de Garets, 'que estava coberto de cilícios e de outros instrumentos de penitência'. Uma vez o cilício provocou-lhe uma ferida que causou inquietação pelo perigo da gangrena.

Tais mortificações debilitavam-no ainda mais. Como poderia este sacerdote manter-se em pé quando vivia daquilo que a outros faria morrer? Depois das suas 'loucuras da juventude', daqueles jejuns completos de dois ou três dias, que a princípio se impunha, resignar-se-ia, em vista da sua debilidade e do seu trabalho, a tomar o alimento necessário? (...) 

Pura ilusão! Consentir em comer todos os dias era contudo muito pouca coisa. O jejum, até então nunca interrompido, continuou da mesma maneira. De ordinário, ao meio-dia, entrava na cozinha do orfanato, e ali num canto do fogão esperava-o uma tigela de leite ou sopa. Quase nunca chegava a saborear a comida. Às vezes, além da sopa, comia alguns gramas de pão torrado. Durante muito tempo não tomava nada durante a manhã. Em 1834, estando muito fraco, foi obrigado por Monsenhor Devie a tomar um quebra-jejum. Desde então, depois da Missa, sorvia um pouco de leite, mas nos dias de jejum nem disso se servia.

Nas Quaresmas de 1849, 1850 e 1851, o Irmão Atanásio revelou que ele comia só uma vez por dia. Foi visto aceitar algumas vezes um pouco de sobremesa, ou seja, um pouco de doce; mas nos últimos anos também disso se absteve. Até à sua grave doença de 1843, nunca tomava nada à noite (...)

Quinhentos gramas de pão duravam mais de uma semana. 'Vi um dia no seu aposento, refere o Sr. Camilo Monnin, um pãozinho com aparentes sinais de ter sido roído por um rato; de fato, era um pedaço de pão que o servo de Deus havia tomado para alimentar-se durante uma grande parte do dia' (...) 'Para chegar a essa sobriedade excessiva ter-lhe-ia custado horrivelmente'. Assim se expressou o conde de Garets, testemunha emocionante de uma existência totalmente mortificada.

E se para apreciar o Cura d'Ars penitente é mister ouvir um especialista em matéria de penitência, eis aqui o testemunho de um padre da Grande Cartuxa: 'Vemo-nos obrigados a confessar, nós os solitários eremitas, monges e penitentes de toda a classe, que não nos atrevemos a seguir o Cura d'Ars senão com o olhar de nossa afetuosa admiração, e que não somos dignos de beijar os seus pés, nem a poeira dos seus sapatos'.

(Excertos da obra 'O Santo Cura d'Ars', de Francis Trochu)

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

AS TRÊS DIMENSÕES DA FÉ

1. A fé é um ato da inteligência

Antes de crer examinamos primeiro se o que devemos crer é realmente revelado, Deus quer esta investigação porque exige uma obediência racional.

2. A fé é um ato da vontade

Logo que a inteligência adquiriu a certeza de que a doutrina proposta foi revelada por Deus, a vontade deve logo submeter-se à palavra divina ainda que a razão não compreenda esta doutrina em si mesma.

3. A fé é um ato da graça

A virtude ou ato é sobrenatural, quer dizer, exige a cooperação da graça. A graça é necessária por três razões: (i) Para iluminar e nortear o espírito, a fim de que não se deixe arrastar pelo erro impedindo assim que reconheça o fato da Revelação e aceite as verdades contidas nela; (ii) Para purificar e fortalecer a vontade; é preciso que a justiça comova o coração, dispondo-o a abraçar as verdades que contrariam as paixões; (iii) Para ter a faculdade de acreditar; para crer nas verdades de ordem revelada é necessária uma facilidade de ordem sobrenatural - a graça da fé.

Assim como Deus nos deu olhos e com eles a força de ver as coisas, a inteligência e com ela a força de conhecermos; assim também nos dá a fé e com a fé, a potência, a força para crermos na sua palavra, que nos é anunciada pela Igreja.

A fé dá-nos a conhecer as verdades de ordem sobrenatural, desta ordem que, elevando-nos acima dos sentidos e da simples razão nos faz viver na eternidade da vida e da glória. A fé é uma luz colocada pelo Salvador nas nossas mãos para nos conduzir e guiar no caminho do Céu. A fé é para a razão o que o telescópio é para a vista. O que já não podemos ver a olho nu, o telescópio no-lo descobre em novos mundos e novas maravilhas. Longe de contrariar a razão, a fé só lhe serve de luz ou apoio.

(Excertos da obra 'O Crucifixo - Meu Livro de Estudos', do Pe. júlio Antônio dos Santos, 1950)

terça-feira, 10 de novembro de 2020

10 DE NOVEMBRO - SÃO LEÃO MAGNO

 

Com o falecimento do Papa São Sixto III em 440, assumiu o pontificado Leão I, arquidiácono da Igreja romana, conselheiro pontifício e homem de doutrina e palavra eloquente que, ao longo de 21 anos, defendeu a fé cristã e enfrentou heresias e a fúria das hordas invasoras que se lançavam à conquista da Europa e de Roma, mantendo, do Ocidente até o Oriente, a primazia da Sé de Roma. 

No campo dogmático, Leão I enunciou, de forma clara e contundente, a doutrina cristológica das duas naturezas - humana e divina - na pessoa única do Verbo, dogma da Igreja ratificado pelo Concílio de Calcedônia em 451, condenando de forma definitiva os desvios doutrinários de Nestório ('duas pessoas em Cristo') e dos monofisitas de Eutiques ('uma única natureza em Cristo'). 


A maior vitória de Leão I, entretanto, foi a defesa de Roma contra a barbárie pagã que invadira a Europa. Átila, o terrível chefe dos hunos, autoproclamado 'flagelo de Deus', havia cruzado os Alpes, tomado Milão e Pavia e chegado à Mântua, às portas de Roma, agora abandonada à própria sorte pelos governantes em fuga. Com muitos cardeais e membros do clero romano, e revestido das insígnias pontifícias, Leão I foi até Mântua para intimar o invasor a não empreender o ataque à Roma, a deixar a Itália e voltar às suas terras de origem. 

Contra todas as expectativas possíveis, foi exatamente isso que aconteceu. Aceitando a proposta do pontífice mediante um tributo anual por não saquear a cidade romana, Átila volveu seu exército em retirada. O que aconteceu naquele dia em Mântua? O que terá dito Leão I ao bárbaro invasor, reconhecido e aclamado por sua brutal impiedade, para tal reconsideração espantosa?  Os registros históricos revelam uma singular visão do invasor: 'Enquanto ele me falava, eu via, de pé a seu lado, um Pontífice de majestade sobre-humana (São Pedro). De seus olhos jorravam raios, e tinha na mão uma espada desembainhada; seu olhar terrível e seu gesto ameaçador me ordenavam conceder tudo quanto solicitava o enviado dos romanos'. Desta extraordinária intervenção divina, Leão I, para louvor e ação de graças, mandou fundir a estátua de bronze de Júpiter Capitolino e fazer com esse metal uma grande imagem do Apóstolo Pedro, que até hoje se venera na Basílica Vaticana.

O grande papa e santo faleceu em Roma no dia 10 de novembro de 461. Pelo enorme acervo de documentos teológicos, sermões admiráveis e devotada defesa dos dogmas, São Leão foi chamado Magno e declarado Doutor da Igreja em 1754.