terça-feira, 11 de janeiro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (122/124)

 

122. OITO CADÁVERES!

Há homens, que parecem feras. Entre os comunistas vermelhos há alguns desses homens. Foi no tempo do Movimento Nacional, que libertou a Espanha das garras do comunismo. O que vamos narrar passou-se perto de Cordoba. Triunfaram ali, desde os primeiros instantes, as hordas comunistas. Saíram como saem as feras de seus covis e, em poucas horas, mais de cem cadáveres de nobres e cristãos jaziam por terra junto aos muros do cemitério.

Enfureceram-se principalmente contra uma família de fé arraigada, de coração generoso e de fortuna regular. Jamais negaram os direitos dos operários. Jamais um pobre bateu às portas de sua casa e dali foi despedido sem auxílio. O pai, os filhos, as filhas, todos naquela numerosa família se distinguiam pela firmeza de suas crenças católicas.

➖ 'Agora, estes!' - bradaram aquelas feras humanas. E nadando em sangue, caiu o velho pai, homem fidalgo e distinto.. E nadando em sangue, caíram três filhos seus, jovens na flor da idade e nadando em sangue, caíram também dois genros, que eram o encanto de suas esposas e o orgulho da religião. Havia ainda outros dois jovens que eram noivos das duas filhas solteiras. 
➖ 'Agora, estes!' - rugiram aquelas hienas. E os dois caíram, também, nadando em sangue.

Oito cadáveres jaziam às portas daquela residência, onde até poucas horas viviam felizes aqueles corações cristãos. Oito cadáveres! Eram os seres mais amados, eram a esperança da família, eram o amor de todos... Oito cadáveres!

➖ 'Agora, estes!' - continuavam uivando aquelas feras sedentas de sangue humano. E em desordenado tropel penetraram naquela fidalga residência, espalhando-se por ela, roubando, saqueando, destruindo tudo o que encontravam. Enfim, cansados de tantas fadigas, estiraram-se nos sofás e cadeiras de braço, bebendo e cantando, estavam satisfeitos de sua obra. Oito cadáveres!

E a esposa? E as filhas casadas? E as solteiras? E os tenros e delicados netinhos? Não os esqueceram, aqueles vis criminosos. Trancaram-nos num quarto, dizendo-lhes que esperassem a decisão do povo: ao povo pertencia dispor o destino deles. E o povo dispôs que fossem enxotados de sua própria casa, que desde aquele momento passava a ser propriedade do comunismo.

E de sua casa teve de sair a infeliz família. Ia adiante a velha mãe, de cabelos brancos; atrás, as filhas casadas, carregando seus tenros filhinhos e, por fim, as filhas solteiras sem pai, sem irmãos, sem amores, sem um pedaço de pão e, assim, foram batendo de porta em porta e viram que as portas de muitas famílias que julgavam amigas se fecharam para elas. E por isso levavam a maldição da 'Casa do Povo'. Ó como foi triste, foi doloroso, foi revoltante! Foi, em suma, a obra do comunismo ateu, do qual nos livre a misericórdia de Deus.

123. BAILANDO COM O DIABO

Uma jovem francesa, que frequentava as salas de baile, atraída pela fama do santo Cura d'Ars, resolveu procurá-lo para se confessar. Vejamos como ela narrou o seu colóquio com o santo.
➖ Lembras-te - disse ele - da última vez que foste ao baile? Estava lá um moço que te parecia bonito, e te causou sentimentos de ciúme e de inveja, porque bailava somente com as outras e não se dignava dirigir-te um olhar sequer? 
➖ É verdade. Lembro-me, sim.
➖ Lembras-te que, em dado momento, ele retirou-se da sala, deixando-te desiludida, por não se ter dignado dançar contigo nem uma vez?
➖ Sim.
➖ E notaste, então, um pequeno fenômeno: duas como chamazinhas entre as solas dos sapatos dele e o pavimento da sala, quando se retirou. E não fizeste caso, atribuindo aquilo a uma ilusão de ótica do contraste entre as luzes e a obscuridade da porta de saída... lembras-te disso?
➖ Sim; lembro-me.
➖ Pois bem. Aquele que te parecia um rapaz encantador, que te causou tantos ciúmes, tanta inveja, tanto despeito... quem era?
➖ ....
➖ Aquele era o diabo. Dançou com aquelas que já lhe pertencem, com aquelas que não tem o menor escrúpulo da impureza. Contigo não quis dançar, porque ainda eras pura, e sabia que virias te confessar.
A moça ficou impressionadíssima com aquelas revelações do santo e prometeu que nunca mais iria a um baile. E tu, jovem leitora, não achas que contigo poderia acontecer?

124. UM PREFEITO LIVRE-PENSADOR LEVA NA CABEÇA

Há cerca de quarenta anos, estava em uma vila da Áustria o coronel Dobner von Dobenau com o seu batalhão. Ia estabelecer ali o seu quartel de inverno. A população alegrou-se com isso, pois esperava fazer bons negócios com os oficiais e soldados e contava, além disso, com o bom número de distrações. O prefeito da cidade, acompanhado de seus conselheiros municipais, saiu a saudar o coronel. Este era fervoroso católico e um de seus filhos era padre. Mas, ignorando essas circunstâncias, e julgando-o livre-pensador, o prefeito dirigiu-lhe longo discurso, insistindo na alegria que os habitantes da cidade sentiam com a presença da tropa que, certamente, viria quebrar a monotonia da estação hibernal. 

Não pôde deixar, porém, de mostrar o seu desagrado pelas práticas religiosas, dizendo:
➖ Uma só coisa desagradável há aqui, meu coronel. É que hoje, precisamente, os padres deram início a uma grande missão que vai durar mais de oito dias. Infelizmente não a podemos impedir, apesar de vermos na mesma um grande desmancha-prazeres. O batalhão deve, entretanto, consolar-se com o pensamento de que esses dias passarão e, logo depois, a alegria será muito maior.

Terminado o discurso, o coronel, carregando os sobrolhos, respondeu em tom seco:
- Senhor prefeito, não vejo na missão absolutamente nenhum desmancha-prazeres. Pelo contrário; eu só não assistirei aos sermões da missão, quando o serviço assim me permitir como meus oficiais, bem como toda a tropa, terão o prazer de me acompanhar. Eu só sinto não ter o poder, senhor prefeito, de mandar também a vós e aos vossos conselheiros a também ir a todos os sermões. As pregações não vos fariam mal nenhum; muito ao contrário, elas fariam imenso bem.
Após o seu destemido discurso, retirou-se friamente o coronel, deixando bastante desapontados e confusos os seus visitantes. E a lição foi bem merecida.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)