segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (119/121)

 

119. O CONSOLADOR DOS QUE SOFREM

Lembremos o exemplo daquela gloriosa mártir francesa, Santa Joana d'Arc. Pôs-se à frente das tropas de sua pátria e as conduziu de vitória em vitória. À frente dos exércitos vencedores, entrou pelas portas da cidade de Reims e ali foi ungido, consagrado e proclamado Carlos VII, o verdadeiro rei de França.

Algum tempo depois, aquela valorosa heroína caiu em poder dos ingleses, seus inimigos, e foi condenada à morte. Ergueu-se o patíbulo no meio da cidade de Ruão, onde se ajuntou enorme multidão. Serena, com a serenidade da justiça, e formosa com a formosura da inocência, subiu Joana as escadas da morte e amarraram-na a um poste de ferro. Momentos depois, no meio de um imponente silêncio, o algoz põs fogo à lenha que a circundava e as chamas vorazes subiram e alcançaram os seus vestidos. 

Ardia aquela carne virginal. Em frente dela, estava um frade com um crucifixo na mão.
➖ Padre - dizia-lhe a mártir - levantai-o um pouco; quero vê-lo...
Seus olhares pregavam-se naquele divino Crucificado e uma força divina punha em suas faces e beleza do amor...
➖ Mais lenha - diziam os algozes - mais lenha!

E atiravam na fogueira feixes de lenha. As chamas envolviam a mártir por todos os lados e a carne ardia como vítima de santidade. Ela gritava com ânsias ainda maiores: 'Padre, levantai-o mais alto, mais alto, que não o vejo'. E o frade atou o Cristo a um pau e levantou-o bem alto, acima das chamas que formavam uma fogueira gigantesca.

E Joana rezava e olhava para o seu Deus crucificado e dizia: 'Jesus! Jesus!' E caiu morta, quase convertida em cinzas no meio daquelas horríveis chamas. A vista desse Deus crucificado de tal modo consola as vítimas da dor, que Santa Madalena de Pazzi dizia, louca de amor: 'Senhor, sofrer e não morrer!' Sim, olhai para o céu: ali se enxugarão as vossas lágrimas; ali está o reino da felicidade e do amor.

120. SOU UM ASSASSINO! SOU UM ASSASSINO!

Dia inesquecível naquele colégio! Era a festa de Nossa Senhora que se venerava na igreja e, ao mesmo tempo, a festa do Padre Diretor. Felicidade, alegria, entusiasmo por toda parte. Pela manhã, comunhão geral; às dez, missa soleníssima com sermão; à tarde, esplêndida procissão. Como rezavam! Como cantavam aqueles alunos! Que dia formoso! Quem poderia imaginar o desenlace trágico que iria acontecer!

Às seis da tarde haveria uma representação teatral, em que se levaria ao palco a peça 'A morte de Garcia Moreno'. Meia hora antes que soasse a sineta para aquela festa, dois rapazes de uns quinze anos entraram num quarto contíguo ao cenário. Ali estava sobre a mesa um revólver. Com ele iam disparar pela janela, quando no palco se representasse a pantomima de se disparar o tiro em Garcia Moreno. 

Um dos rapazes, precisamente o que ia fazer o papel de assassino no palco, toma o revólver e diz ao seu amigo:
➖ Toma posição para veres como te vou apontar no palco.
O outro, que ia fazer o papel de Garcia Moreno, a nobre vítima, apruma-se com energia e diz:
➖ Atira, traidor!
O amigo aperta o gatilho, soa um disparo, sai uma bala que se enterra na cabeça do desventurado rapaz, que cai prontamente, derramando um rio de sangue pela ferida.

O inocente assassino atira-se sobre o ferido, lançando gritos de dor.
➖ Amigo, o que eu fiz? Eu te matei, eu te matei. Foi sem querer. Perdoa-me. Não, amigo, eu não queria te matar. Amigo, levanta-te... não, não morras!
E, tirando o lenço, procurava estancar o sangue. Mas era inútil; o ferido não se movia.
➖ Amigo - continuava gritando - levanta-te, não morras... não queria matar-te... perdoa-me.
E pegava-o e levantava-o um pouco, mas não podia com ele. Ensopava-se naquele sangue.
➖ Morreu - gritava - morreu; eu o matei; sou um assassino! ai! sou um assassino!

Entretanto, os outros alunos estavam nos pátios do colégio, em conversa animada à espera do som da sineta. De repente ouvem gritos, olham... Lá, no fundo do pátio, aparece o rapaz todo cheio de sangue. Levantava os braços e gritava como desesperado, correndo de um lado para outro:
➖ Eu o matei! Sou um assassino!
E corria sem rumo nem destino, como um louco.

Por nossos pecados somos também assassinos. Por nossos pecados sofre e morre Jesus. Nossos sacrilégios, impurezas e profanações são os punhais que cravamos no coração de Nosso Senhor. Somos assassinos! Com que grande, imensa e infinita dor deveríamos chegar ao confessionário. E que santa seria então a nossa confissão!

121. DEUS RECOMPENSA OS SACRIFÍCIOS

Os sacrifícios escolhidos voluntariamente fazem que Deus seja generoso e bom para conosco. Os pequenos presentes que lhe oferecemos espontaneamente exercem grande e irresistível poder sobre Ele. Forçado então pela bondade do seu coração, Deus, que não se deixa vencer em generosidade, não se cansa de cumular de bênçãos aqueles que se mostram generosos para com Ele. Dou, a propósito o seguinte exemplo.
 
Num colégio de Friburgo, na Suíça, achava-se, poucos anos atrás, uma menina que fazia extraordinários progressos nos estudos, e sentia-se feliz. Certo dia a superiora do colégio recebeu uma carta do pai da criança, comunicando-lhe que, por dificuldades financeiras, não lhe era possível manter a filha no colégio por mais tempo.

O que fez a superiora? Mandou chamar a menina e lhe disse:
➖ Minha filha, uma notícia bem desagradável. Teu pai acaba de escrever-me que se acha em grandes dificuldades e que talvez seja obrigado a retirar-te do colégio.
A menina, muito aflita, pôs-se a chorar e dizer:
➖ Madre, o que será de mim? Ajudai-me, Madre, ajudai-me! Dizei-me o que devo fazer.
➖ Minha filha - disse a superiora muito comovida - tu podes modificar tudo isso. Sabes que dentro de algumas semanas teremos o Santo Natal; sabes, igualmente, que até lá temos todos os dias de devoção ao Menino Jesus, não é?
➖ Sim, Madre...
➖ Pois bem; faze um fervoroso pedido diariamente ao Menino Jesus, para que Ele te conserve aqui e oferece-lhe alguns pequenos sacrifícios. Verás que Jesus não rejeitará os teus pedidos.
➖ Sim, Madre, farei tudo para que Jesus me ouça, e peço também as vossas orações.

A menina, que tinha grande desejo de continuar os seus estudos na companhia das Irmãs, cheia de confiança, sentou-se e escreveu ao Menino Jesus uma cartinha. Prometia não só orações fervorosas, mas fazia também o propósito de, por amor de Jesus, abster-se, todos os dias até o Natal, de queijo e frutas, de que gostava muito. E tudo isso para que Deus socorresse o seu querido pai e ela pudesse continuar no colégio.

No dia do Natal achou a superiora debaixo da imagem do Menino Jesus a cartinha da menina. Leu-a e ficou profundamente comovida. Dois dias depois chegava uma carta do pai, que, entre outras coisas, dizia: 'Madre, não sei como agradecer a Deus; de modo prodigioso e inesperado veio o auxílio do céu. Minha filha pode continuar estudando aí...' Podemos imaginar a alegria de ambas, da aluna e da Superiora, vendo que a sua confiança em Deus não falhara.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)