terça-feira, 30 de junho de 2020

segunda-feira, 29 de junho de 2020

COMBATER O BOM COMBATE

Na estreiteza do cárcere, Paulo parecia habitar no céu. Recebia os açoites e feridas com mais alegria do que outros que recebem coroas de triunfo; e não apreciava menos as dores do que os prêmios, porque considerava estas mesmas dores como prêmios que desejava, e até as chamava de graças. Considerai com atenção o significado disto: prêmio, para ele, era partir, para estar com Cristo (Fl 1,23), ao passo que viver na carne significava o combate. Mas, por causa de Cristo, sobrepunha ao desejo do prêmio a vontade de prosseguir o combate, pois considerava ser isto mais necessário.

Estar longe de Cristo representava para ele o combate e o sofrimento, mais ainda, o máximo combate e a mais intensa dor. Pelo contrário, estar com Cristo era um prêmio único. Paulo, porém, por amor de Cristo, prefere o combate ao prêmio.

Talvez algum de vós afirme: 'Mas ele sempre dizia que tudo lhe era suave por amor de Cristo!' Isso também eu afirmo, pois as coisas que são para nós causa de tristeza eram para ele enorme prazer. E por que me refiro aos perigos e tribulações que sofreu? Na verdade, seu profundo desgosto o levava a dizer: 'Quem é fraco, que eu também não seja fraco com ele? Quem é escandalizado, que eu não fique ardendo de indignação?' (2Cor 11,29).

Rogo-vos, pois, que não vos limiteis a admirar este tão ilustre exemplo de virtude, mas, imitai-o. Só assim poderemos ser participantes da sua glória. E se algum de vós se admira por eu dizer que quem imita os méritos de Paulo participará da sua recompensa, ouça o que ele mesmo afirma: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa' (2Tm 4,7-8). Por conseguinte, já que é oferecida a todos a mesma coroa de glória, esforcemo-nos todos por ser dignos dos bens prometidos.

Não devemos considerar em Paulo apenas a grandeza e a excelência das virtudes, a prontidão de espírito e o propósito firme, pelos quais mereceu tão grande graça; mas pensemos também que a sua natureza era em tudo igual à nossa; e assim, também a nós, as coisas que são muito difíceis parecerão fáceis e leves. Suportando-as valorosamente neste breve espaço de tempo em que vivemos, ganharemos aquela coroa incorruptível e imortal, pela graça e misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo. A ele a glória e o poder, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

(Das Homilias de São João Crisóstomo)

domingo, 28 de junho de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa' (2Tm 4, 6-8)

sexta-feira, 26 de junho de 2020

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
                                                                                                                  (É Cristo que Passa)

O PENSAMENTO VIVO DE SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ


1. 'Essa palavra acertada, a 'piada' que não saiu da tua boca, o sorriso amável para quem te incomoda, aquele silêncio ante a acusação injusta, a tua conversa afável com os maçadores e com os importunos, não dar importância cada dia a um pormenor ou outro, aborrecido e impertinente, de pessoas que convivem contigo... Isto, com perseverança, é que é sólida mortificação interior'.

2. 'Não digas: essa pessoa aborrece-me' Pensa: 'essa pessoa santifica-me'.

3. 'Procura mortificações que não mortifiquem os outros'.

4. 'Não acredito na tua mortificação interior, se vejo que desprezas, que não praticas a mortificação dos sentidos'.

5. 'O mundo só admira o sacrifício como espetáculo, porque ignora o valor do sacrifício escondido e silencioso'.

6. 'Tudo o que não te leva a Deus é um estorvo. Arranca-o e atira-o para longe'.

7. 'Vence-te em cada dia desde o primeiro momento, levantando-te pontualmente a uma hora fixa, sem conceder um só minuto à preguiça. Se, com a ajuda de Deus, te venceres, muito terás adiantado para o resto do dia. Desmoraliza tanto sentir-se vencido na primeira escaramuça!' 

8. 'Não sejas frouxo, mole. Já é tempo de repelires essa estranha compaixão que sentes por ti mesmo'. 

9. Acertou quem disse que a alma e o corpo são dois inimigos que não se podem separar e dois amigos que não se podem ver'. 

10. 'Estes são os saborosos frutos da alma mortificada: compreensão e transigência para as misérias alheias; intransigência para com as próprias'. 

11. 'Quantos, que se deixariam cravar numa Cruz, perante o olhar atônito de milhares de espectadores, não sabem sofrer cristãmente as alfinetadas de cada dia! Pensa então no que será mais heroico'. 

12. 'O minuto heroico é a hora exata de te levantares. Sem hesitar: um pensamento sobrenatural e... fora! O minuto heroico: aí tens uma mortificação que fortalece a tua vontade e não debilita a tua natureza'. 

quinta-feira, 25 de junho de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (VI)


CASULA

É a veste que o sacerdote coloca pela cabeça, caindo pela frente e por detrás até quase aos pés, para celebrar o sacrifício da Missa. É o último ornamento que veste. É sinal da caridade que deve revestir inteiramente o sacerdote, da caridade que nos faz compadecer das misérias alheias, cobrindo-as com um manto de misericórdia que as oculte aos olhos dos homens, como a casula oculta todos os outros ornamentos. Antes de ser usada deve ser benzida.

CATACUMBAS 

Dá-se este nome aos antigos cemitérios subterrâneos, onde os cristãos sepultavam os seus mortos. Durante as perseguições que os cristãos sofreram nos três primeiros séculos, também as catacumbas serviam de lugar de refúgio para aí se reunirem e celebrarem os atos do culto divino. As mais célebres são as catacumbas romanas, que ainda existem no campo dos arredores de Roma.

CATECÚMENOS 

São as pessoas adultas que se preparam com a instrução religiosa para receberem o sacramento do batismo.

CELIBATO 

É o estado das pessoas que renunciam ao sacramento do matrimônio. Uns renunciam ao matrimônio para entrarem no sacerdócio; outros para abraçarem a vida, religiosa; outros para dedicarem a sua vida ao exercício da piedade e da caridade; outros por motivo de incapacidade para os deveres matrimoniais, como é a doença do corpo ou do espírito; outros por motivo de egoísmo, para gozaram plena liberdade de afeições, mesmo criminosas. O celibato eclesiástico, religioso e piedoso é de vocação divina. O celibato de incapacidade é de defeito natural. O celibato de egoísmo é de defeito moral.

CATOLICIDADE 

É um dos quatro caracteres da Igreja, e exprime a sua universalidade. A Igreja é universal quanto aos seus adeptos, os quais habitam em todas as nações conhecidas e em obediência ao mesmo Chefe, que é o Papa. É universal quanto à doutrina, porque em toda a parte ensina a mesma doutrina e condena os mesmos erros. É universal quanto à sucessão, porque abraça todos os tempos desde os Apóstolos, isto é, começou com os Apóstolos e, desde então, não se pode dizer que a Igreja Católica tenha principiado em algum lugar da terra, como se diz de cada seita religiosa aparecida em tal ou tal tempo.

CIBÓRIO 

Também chamado PÍXIDE, é um vaso largo com pé, feito de ouro, de prata ou de outros metais, mas o interior é sempre dourado, para conter as hóstias consagradas, que se guardam no sacrário para se dar a comunhão fora da missa e para Jesus Sacramentado estar entre os cristãos. Deve ser benzido com a bênção litúrgica e é coberto com um véu branco quando contém o Santíssimo.

CÍNGULO

É um cordão de linho ou de cânhamo, que aperta a alva na cintura do sacerdote quando se paramenta para algum ato litúrgico. Deve ser benzido e é branco ou da cor dos paramentos. Lembra ao sacerdote que deve ter em volta dos rins um cinto de inocência e pureza, a fim de conservar a virtude da castidade. Em certas associações piedosas também se usa um cíngulo, como o cíngulo da Milícia Angélica ou de Santo Tomás de Aquino para se obter a pureza.

CÍRIO PASCAL

É uma vela grande e muito grossa que se benze durante as cerimônias de Sábado Santo e que se conserva junto do altar do lado do Evangelho, para ser aceso durante as missas até ao dia da Ascensão de Jesus. O círio é o símbolo de Jesus Cristo ressuscitado e ainda entre nós.

CÍRIOS 

São cortejos religiosos que se fazem por ocasião de uma festa religiosa, nos quais é levada uma bandeira com mais ou menos solenidade. Não se podem fazer sem licença do bispo, requerida pelo superior da igreja ou pelos interessados. É proibida qualquer festa religiosa por ocasião da qual haja tal cortejo sem a licença devida, que tem de ser requerida com grande antecedência.

CISMA

É a separação voluntária dos católicos da unidade da Igreja, recusando obediência ao Romano Pontífice.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

quarta-feira, 24 de junho de 2020

NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA


Além dos dias consagrados aos nascimentos de Jesus e de Maria, apenas o nascimento de João Batista (24 de junho) é comemorado pela Santa Igreja Católica (todos os demais santos são venerados pelas datas de suas mortes), glória ímpar para aquele que foi aclamado, pelo próprio Cristo, como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11).

'Houve um homem mandado por Deus. Seu nome era João… Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz' (Jo 1,6-8)

'Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente. Ele preparará o teu caminho diante de ti' (Mt 11,7).

'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo' (Lc 1,41)

'Eu sou a voz que clama no deserto: aplainai o caminho do Senhor' (Is 40,3)

'Eu vos batizo com água, mas vem Aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Lc 3, 16) 

terça-feira, 23 de junho de 2020

SE PROCURAS UM EXEMPLO...

Se procuras um exemplo de caridade: 'Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos' (Jo 15,13). Assim fez Cristo na cruz. E se ele deu sua vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por causa dele.

Se procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente! Podemos reconhecer uma grande paciência em duas circunstâncias: quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita. Ora, Cristo suportou na cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque atormentado, não ameaçava (1Pd 2,23); foi levado como ovelha ao matadouro e não abriu a boca (Is 53,7; At 8,32).

É grande, portanto, a paciência de Cristo na cruz. Corramos com paciência ao combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infâmia (Hb 12,1-2).

Se procuras um exemplo de humildade, contempla o Crucificado: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer.

Se procuras um exemplo de obediência, segue aquele que se fez obediente ao Pai até à morte: como pela desobediência de um só homem, isto é, de Adão, a humanidade toda foi estabelecida numa condição de pecado, assim também pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça (Rm 5,19).

Se procuras um exemplo de desprezo pelas coisas da terra, segue aquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2,3), e que na cruz está despojado de suas vestes, escarnecido, cuspido, espancado, coroado de espinhos e, por fim, tendo vinagre e fel como bebida para matar a sede.

Portanto, não te preocupes com as vestes e riquezas, porque repartiram entre si as minhas vestes (Jo 19,24); nem com honras, porque fui ultrajado e flagelado; nem com a dignidade, porque tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em minha cabeça (Mc 15,17); nem com os prazeres, porque em minha sede ofereceram-me vinagre (Sl 68,22).

Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na perfeição, nada mais tem a fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na cruz e desejar o que ele desejou. Na cruz, pois, não falta nenhum exemplo de virtude.

(São Tomás de Aquino)

segunda-feira, 22 de junho de 2020

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Deus não te pede muitas coisas porque, por si mesma, a caridade é o pleno cumprimento da Lei (Rm 13,10). Mas este amor é duplo: amor a Deus e amor ao próximo. Quando Deus te manda amar o próximo, não te diz: ama-o com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente; mas diz-te: ama o teu próximo como a ti mesmo. Portanto, ama a Deus com todo o teu ser, porque Ele é maior do que tu; ama o teu próximo como a ti mesmo, porque ele é como tu. Mas, se há três objetos do nosso amor, porque é que há apenas dois mandamentos? Vou dizer-te: Deus não julgou necessário encarregar-te de te amares a ti próprio porque não há ninguém que não se ame a si mesmo. Mas muita gente se perde porque se ama mal. Ao mandar-te amá-Lo com todo o teu ser, Deus deu-te a regra segundo a qual deves amar. Queres amar-te? Então ama a Deus com todo o teu ser. Com efeito é nele que te encontrarás, evitando assim perderes-te em ti. Deste modo é-te dada a regra segundo a qual deves amar-te: ama Aquele que é maior do que tu e amar-te-ás a ti mesmo.
(Santo Agostinho)

domingo, 21 de junho de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram... A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos' (Rm 5, 12.15)

sábado, 20 de junho de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (1/3)


1. 'MENINA, LEVANTA-TE!' 

Jairo, o presidente de uma das sinagogas de Cafarnaum, está angustiadíssimo. Sua filhinha de doze anos acha-se gravemente enferma, e sua cura é desesperadora. Como última e extrema solução recorre a Jesus. Sabe que Ele acaba de regressar de Gerasa e vai ao seu encontro. 'Senhor' diz-lhe com voz angustiada, 'minha filha está morrendo. Vem, impõe a tua mão sobre ela para que sare e viva'. 

O Mestre, sempre misericordioso e amicíssimo das crianças, acede e imediatamente se põe a caminho; mas a multidão o rodeia e o aperta de tal forma, nas ruas estreitas da cidade, que o detém mais tempo do que Jairo o quisera e a enfermidade da menina o permitiria. Por isso, antes de chegarem a casa, encontram-se com alguns criados, que dão ao seu amo a fatal notícia da morte da pequena. Pobre pai! Cheio de esperanças recorrera ao Redentor; no caminho vira crescer seu otimismo com a cura milagrosa da hemorroíssa, mas agora todas as suas ilusões se desmoronam. 

E' tarde. Morrera a criança. Têm razão seus criados: para que incomodar e cansar mais o Mestre? Jesus, porém, consola-o, dizendo: 'Não temas, crê e tua filha será salva'. Chegam à casa coberta de luto. Ali estão a exercer o seu ofício mercenário as carpideiras e os flautistas funerários - importação pagã introduzida nos costumes judeus - e também os parentes e amigos rodeiam a família. 

'Por que chorais e estais alvoroçados?' - pergunta-lhes Jesus. 'A menina não está morta, mas dorme'. Os que o ouvem falar assim riem-se dele, pois viram o cadáver e têm a certeza de que está morta. Não sabem que, para o Senhor da vida, aquela morte é um breve sono, cujo despertar está próximo. Jesus ordena que aquela gente se retire e penetra na câmara mortuária, acompanhado só dos pais da defunta e de três dos seus discípulos. 

Sobre o leito, estendem-se rígidos e frios os membros pálidos do cadáver. Jesus se aproxima e toma, entre as suas, a mão pálida da menina, e ordena com autoridade: talitha, cumi! 'menina, levanta-te!' E com grande espanto de seus pais, a menina levanta-se e começa a andar. Ressuscitou? Sim; não só ressuscitou mas está, além disso, completamente curada; tanto assim que logo começa a alimentar-se. Operado o milagre, Jesus retira-se, ordenando silêncio, porque quer evitar aclamações e demonstrações de entusiasmo. Apesar disso, como seria natural, a notícia do prodígio espalhou-se por toda aquela região.


2. O FILHO DA VIÚVA 

Naim, aldeia situada na encosta setentrional do Pequeno Hermon, a trinta e oito quilômetros aproximadamente de Cafarnaum, foi teatro de um dos maiores milagres de Jesus. Caía a tarde. O sol estava a ponto de esconder-se atrás das montanhas, quando o Salvador, acompanhado de seus discípulos e de uma multidão que não podia separar-se dele, subia pelo estreito caminho que dava acesso ao lugar. 

Próximo à porta da aldeia, a multidão teve de ceder o passo a outro cortejo que dali saía em direção contrária. Era um enterro. Sobre um esquife, sem caixão, conduziam o cadáver de um jovem, envolto num lençol. Atrás vinha, com os parentes e amigos, a mãe muito triste e desolada. Era viúva e o defunto, quase menino ainda, era o seu único filho e seu futuro arrimo. 

O filho morrera. Que seria dela dali em diante? Informado do que se passava, Jesus, sempre misericordioso e compassivo, disse àquela viúva inconsolável: 'Não chores, filha'. E, aproximando-se do féretro, fez sinal para que parassem e deitassem o esquife no solo. Toda gente se apinhou ao redor do Salvador. Que iria acontecer? Os entusiastas do divino Taumaturgo estavam acostumados a vê-lo operar estupendos milagres; mas, com um morto, que era já levado à sepultura, o que poderia Ele fazer? 

Os olhos daquela gente, arregalados pela curiosidade, não perdiam os menores movimentos do Mestre. Jesus, olhando para o cadáver daquele rapaz, pálido e rígido pelo frio da morte, ordenou-lhe em tom imperativo: 'Moço, eu te digo, levanta-te!' Um calafrio da emoção eletrizou os circunstantes. Não havia dúvida, o morto ressuscitara. Todos podiam ver como o cadáver se movia e a sua cor lívida desaparecia; os olhos brilhavam, os lábios abriam-se; o defunto falava. Já não estava morto. Vive e vive sua vida plena. E Jesus, tomando-o pela mão, entrega-o à mãe que, derramando lágrimas de comoção e de alegria, prostra-se por terra para dar graças ao Senhor da vida e da morte.

3. A CURA DE UM CRIADO

Depois do sermão da Montanha, entrou Jesus em Cafarnaum. Achava-se ali um centurião que, embora gentio, simpatizava com os judeus a ponto de edificar-lhes, à sua custa, uma sinagoga. Certamente ouvira talar de Jesus, e é muito provável que o conhecesse de vista e até tivesse ouvido, mais de uma vez, suas pregações e presenciado algum milagre. 

Cai-lhe enfermo um servo 'a quem amava muito'. Sofre um ataque de paralisia e está quase à morte. O centurião, que o ama deveras, deseja a todo custo a sua cura e, ao inteirar-se de que Jesus está no povoado, pensa poder alcançar dele o que, por meios naturais, parece impossível. E' humilde e não se atreve a ir em pessoa ter com o Mestre. 

Como pretender um tal favor, sendo ele um gentio? Mas, como está bem relacionado, envia uma comissão de pessoas principais do lugar. Estas, apresentando-se diante o Salvador, transmitem a Ele o pedido do centurião. E, para mais pesarem o ânimo do benfeitor, elogiam o centurião e enumeram os benefícios recebidos. Jesus, todo atenção e bondade, acolheu amavelmente os representantes do militar, dizendo: 'Eu irei e o curarei'. E pôs-se imediatamente a caminho. 

Avisado de que o Salvador se dirigia a sua casa, e assustado com a grandeza do favor, o centurião enviou-lhe alguns amigos que lhe dissessem: 'Senhor, não te incomodes. Não sou digno de que entres em minha casa; dize, pois, uma só palavra e meu servo ficará curado'. E explicou mais claramente o seu pensamento, dizendo que, embora fosse um simples oficial subalterno, bastava dar uma ordem a seus inferiores que estes lhe obedeciam. Não poderia Jesus, sem o incômodo de ir à sua casa, ordenar que a enfermidade cessasse? Jesus mostrou-se admirado ao ouvir tais palavras e disse aos que o seguiam: 'Em verdade, em verdade vos digo que nem em Israel encontrei tamanha fé'. Em seguida, operou o milagre à distância e, naquele momento, o servo que estava em perigo de morte curou-se instantaneamente.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

sexta-feira, 19 de junho de 2020

UM ANJO CHAMADO ANNE-GABRIELLE CARON


A vida de Anne-Gabrielle Caron durou 8 anos (2002 - 2010). E, como poucas, foi um testemunho extraordinário de fé e de santificação cotidiana. Desde tenra idade, já manifestava especial predileção pelos sofrimentos alheios. E esta predileção haveria de se tornar o ideal de toda a sua curtíssima vida. Aos seis anos, com fortes dores em uma das pernas, foi diagnosticada com câncer ósseo, extremamente agressivo e que evoluiu rapidamente por todo o seu corpo.

Diante dos sofrimentos crescentes e das intermináveis sessões de quimioterapia, aceitou convictamente todas as provações por amor a Jesus ('Embora eu não goste de estar doente, tenho sorte porque posso ajudar o bom Deus a trazer as pessoas de volta a Ele. Quero ajudar aqueles que sofrem') e no foco de seguir Santa Teresa de Lisieux, sua santa de predileção ('quero ser santa como ela'). 


Em março de 2009, expressou vivamente o desejo de fazer a Primeira Comunhão: 'Gostaria de fazer minha primeira comunhão para poder fazer ainda mais sacrifícios'. E se preparou para isto: 'Quero receber Jesus. Você percebe que Ele vai entrar no seu coração.' Sua primeira comunhão estava marcada para um domingo, dia 07 de junho de 2009, em Toulon, mas mesmo nisso ela foi submetida a uma grande provação.

Dois dias antes, sua condição de saúde piorou consideravelmente e ela teve que ser internada às pressas num hospital de Marselha (cerca de 50 km de Toulon). Ela pediu então a intercessão de Nossa Senhora para lhe permitir participar da primeira comunhão. E foi atendida. Recuperando uma condição estável, recebeu alta do hospital no domingo pela manhã. Vestiu sua roupa branca da comunhão e seu pai fez o trajeto Marselha-Toulon o mais rápido que pôde, e rezaram à Virgem pelo caminho para chegar a tempo. Não contavam, porém, com o tráfego intenso que encontraram na entrada da cidade. Superando todos estes imprevistos, chegaram à igreja quando a missa havia terminado e as crianças se preparavam para sair em procissão final. Em prantos, a menina entrou correndo na igreja, momento em que o coro interrompeu o canto e o sacerdote fez parar o cortejo. Naquele momento, Anne recebeu a sua primeira comunhão e ficou recolhida com o seu Jesus, diante de uma igreja lotada e em absoluto silêncio.

(Anne-Gabrielle em sua primeira comunhão)

A partir daí, sua saúde se deteriorou rapidamente e a menina passou a receber a eucaristia em casa. Nas suas últimas semanas, ela viveu sua própria paixão e, por fim, após 30 horas de agonia, morreu em 23 de julho de 2010. No seu funeral, o padre Dubrule disse: 'Ver Anne-Gabrielle era como estar vendo o próprio Deus'. Sua mãe, Marie-Dauphine Caron, deu o seguinte testemunho: 'a perda de um filho é terrível, ver o sofrimento de um filho também é terrível porque você se sente impotente', mas 'a minha filha me mostrou o caminho para o céu'.

Seu testemunho de vida saiu de Toulon e viajou pelo mundo: seu exemplo tem ajudado muitas famílias a superar as provações impostas por doenças e sofrimentos que afligem crianças e pessoas muito jovens. Muitas outras famílias se esmeraram muito mais na oferta e preparação dos seus filhos para a recepção da primeira comunhão e para a sagrada eucaristia. No próximo dia 12 de setembro, a diocese de Fréjus-Toulon dará início à abertura oficial do processo de beatificação de Anne-Gabrielle Caron.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (LII)

XLVII

DO JUÍZO OU ATO EM QUE SE CLASSIFICAM OS DESTINADOS AO CÉU, AO PURGATÓRIO E AO INFERNO

Quando se apartam e segregam os que imediatamente hão de entrar no Céu dos destinados a ir para o Purgatório ou para o Inferno?
No ato do Juízo.

Que entendeis por Juízo?
O ato em que a Justiça divina decide sobre a sorte eterna do indivíduo, pronunciando sentença de prêmio ou castigo.

Quando se realiza o Juízo?
Imediatamente depois da morte, isto é, no momento em que a alma se separa do corpo.

Onde se realiza?
Onde ocorrer a morte.

Quem o realiza?
O mesmo Deus, cujo poder reside na humanidade de Jesus Cristo, desde o dia da sua gloriosa ascensão.

As almas vêem a Deus ou a sacratíssima humanidade de Jesus Cristo?
Somente vêem a essência divina e a humanidade de Cristo as almas que hão de entrar imediatamente na glória.

De que forma se celebra o juízo das outras?
Fazendo com que elas contemplem, instantaneamente e de um só golpe, todo o curso de sua vida, donde tirarão a convicção íntima e inquebrantável de que, com justiça, merecem o lugar que se lhes destina, quer no Inferno, quer no Purgatório.

Logo, quando morre um homem, no mesmo instante e quase no mesmo ato, é a alma julgada, sentenciada e colocada no Céu, no Purgatório ou no Inferno?
Sim, senhor, porque o poder divino obra instantaneamente.

De que coisas se examina e se acusa a alma neste tremendo juízo?
De todos os atos de sua vida moral e consciente, desde o primeiro, executado com o uso da razão, até ao que precede o último suspiro.

Pode suceder que o último ato consciente decida, por si só, a sorte eterna de uma alma e lhe franqueie a entrada no Céu?
Sim, senhor; porém, requer-se uma graça especialíssima de Deus, que somente costuma concedê-la quando o homem, de certo modo, a preparou com obras boas anteriormente feitas e a rogos e vivas instâncias dos justos.

Que coisas entende e vê a alma submetida a juízo, mercê da ilustração instantânea que lhe põe diante dos olhos o curso inteiro da sua vida?
Verá, dia por dia, e momento por momento, todos e cada um dos atos por ela praticados e de que pode ser responsável, com as suas mais insignificantes circunstâncias e pormenores; todos os seus pensamentos, por íntimos e rápidos que tenham sido; todos os movimentos afetivos, qualquer que fosse o seu objeto e caráter; todas as palavras, ainda as mais leves, inconsideradas, vãs ou ociosas, todas as suas ações e a parte que nelas tomaram os sentidos, os órgãos e os membros corporais. Compreenderá o alcance, a conformidade ou desconformidade de todos os seus atos com todas as virtudes e vícios, começando pela virtude da Temperança e suas numerosas aplicações, seguindo pela da Fortaleza e suas anexas, a Justiça e suas infinitas ramificações, a Prudência e seu constante exercício na prática das demais, quer se considerem estas virtudes como hábitos naturais, quer como sobrenaturais e infusas, e sobretudo compreenderá como se ajustaram as suas ações às grandes virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade que deviam ter sido a norma da sua vida. Verá a estimação em que teve o sangue de Cristo e os meios de salvação com que a presenteou o Redentor nos sacramentos administrados pela Igreja; como utilizou a grande virtude da penitência e como se aproveitou das facilidades que, por intermédio do soberano poder das chaves, se lhe davam para satisfazer por suas culpas e pecados. Este conhecimento universal, compreensivo e instantâneo, será o que lhe fará exclamar com a plácida alegria dos bem-aventurados, ou com a doce resignação dos justos no Purgatório, ou com a raiva desesperada dos condenados no Inferno: 'Vosso juízo e vossa sentença, ó Deus, são a mesma justiça'.

XLVIII

DO LUGAR DESTINADO AOS QUE NÃO SÃO JULGADOS: O LIMBO DAS CRIANÇAS

Há homens que, ao morrerem, não são julgados?
Sim, senhor; todos os que, por qualquer motivo, não tiveram uso da razão (LXIX, 6)*.

Correm todos a mesma sorte?
Não, senhor; porém, também se lhes não dá destino diverso, no ato do juízo, em atenção aos seus méritos ou deméritos.

Logo a que se atende?
A que uns hajam recebido o batismo e outros não.

Para onde vão os que o recebem?
Para o Céu diretamente.

E os que o não recebem?
Para um lugar especial conhecido com o nome de Limbo.

É o Limbo lugar distinto do Purgatório e do Inferno?
Sim, senhor; porque ali não se padece a pena do sentido, pelos pecados pessoais (Ibid).

Padece-se ali a pena de dano?
Sim, senhor; porque os seus habitantes compreendem que estarão eternamente privados da felicidade proveniente da visão beatífica, se bem que neles não se reveste o caráter de suprema tortura, como nos condenados ao Inferno (Apêndice, 1, 2).

Por que esta diferença na dureza da pena de dano?
Porque os condenados do Limbo compreendem que, se estão privados da visão beatífica, não é em castigo de qualquer pecado pessoal, mas por serem filhos de Adão pecador, isto é, pelo pecado de natureza que pessoalmente contraíram pelo simples fato de terem nascido (Ibid).

Logo, conhecem os mistérios da Redenção?
Certamente que sim, ainda que o conhecimento que deles têm é superficial e puramente externo, se assim nos podemos exprimir (Ibid).

Podemos dizer que possuem a luz da fé?
Se por luz da fé entendemos a claridade interior sobrenatural que aperfeiçoa a inteligência e de algum modo lhe permite penetrar no mais íntimo dos mistérios, e sentir no seu conhecimento gosto e complacência sobrenaturais e desejo eficaz de possuir o que se crê, não, senhor; posto que conhecem as verdades da fé especulativamente, à maneira dos que estão convencidos da verdade da revelação, porém, incapacitados para crê-la sobrenaturalmente e aprofundar-se no seu conhecimento, por faltar-lhes o impulso da graça.

Logo, podemos dizer que vêem os mistérios da fé à claridade de uma luz mortiça e fria que não tem cores nem comunica vigor?
Sim, porque, nem é luz a cujos resplendores se destaquem as negras cores da ingratidão, nem que ocasione acessos de raiva impotente como a raiva dos condenados, nem calor de adesão, de esperança e de caridade como a dos justos na terra, nem a luz ardente e embriagadora da felicidade que ilumina os santos no céu; é uma luz sem radiações sobrenaturais, sem esperança, que não causa remorso nem pesar, e que se limita a dar-lhes conhecimento da existência de um bem que não lhes pertence, de uma felicidade que jamais possuirão, notícia que não lhes causa tristeza, pranto, nem ranger de dentes; pelo contrário, experimentam intensa alegria, ao pensar nos dotes e qualidades naturais recebidas de Deus e nas da mesma ordem com que as dotará o dia da ressurreição (Ibid, ad 5).

Não fala a Igreja de outro limbo situado junto ao das crianças que morrem sem batismo?
Sim, senhor; o limbo em que aguardavam a vinda do Redentor os justos completamente isentos de estorvos pessoais para entrar no céu.

Está agora desabitado?
Recordando que Jesus Cristo baixou a esse limbo no instante de ressuscitar, levando consigo as almas dos que ali estavam detidos, é evidente que não tem nem pode ter o primitivo destino; pode ser, sem embargo disso, que hoje sirva de morada aos inocentes, formando um só com o limbo das crianças.

XLIX

DO FIM DO MUNDO E DO QUE A ELE SE SEGUIRÁ

Dissestes que, no momento em que o último predestinado chegue ao grau de preparação e merecimento a que Deus o destina, sobrevirá o fim do mundo; em que consistirá tal fim e que ordem de coisas se seguirá? Consistirá, exclusivamente em trasladar para o céu o último eleito, e em determinar o estado e lugar definitivo que hão de ocupar os condenados no inferno e as crianças no limbo?
Não, senhor; ao fim do mundo se seguirão os dois atos mais transcendentais e importantes da obra e plano divino; a ressurreição e o Juízo final.

Como acabará este mundo?
O Apóstolo São Pedro nos ensina que no momento em que Jesus Cristo descer, envolto em nuvens de glória para julgar os vivos e os mortos, o mundo terá acabado por meio do fogo (LXXIV, 1, 2).

Logo, a conflagração universal será o ato preparatório do Juízo?
Sim, senhor; pois que servirá para purificar todos os elementos e dispô-los para serem úteis no novo estado de coisas.

O fogo da conflagração final queimará e destruirá somente com a sua energia natural ou possuirá qualidades superiores como instrumento de Deus?
Atuará como instrumento da divina justiça para que nele possam expiar as suas faltas, as almas que deveriam estar mais ou menos tempo no Purgatório (LXXIV, 3-8).

Logo, o tempo de purificação dos que então morrerem durará um só instante?
Sim, Senhor; porque Deus graduará a intensidade e a energia dos tormentos conforme ao que cada um deve, em Justiça, padecer.

Sabemos quando se dará o fim do mundo?
Não, senhor; porém, estamos certos de que à vinda do Juiz Supremo precederão certos sinais e formidáveis avisos.

Quais serão?
Extraordinários transtornos e comoções em toda a natureza, a cuja vista, na expressão do Evangelho, andarão os homens desfalecidos de terror.

Podemos determinar, em concreto, quais serão?
Não, senhor; porém, serão tais que, à sua vista, os justos ou os homens simples e sinceros e não obstinados em cegueira voluntária, reconhecerão a próxima vinda do Juiz.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

quarta-feira, 17 de junho de 2020

PARA AQUÉM DOS TEMPOS DA TRIBULAÇÃO...

'O dia do Senhor será trevas e não claridade; escuridão, e não luz' 
(Am 5, 20)

Há uma certeza latente nesta e em tantas profecias similares: o dia do Senhor virá e será tremendo. Certeza absoluta, evidência cristalina. Se o homem não se conforma à Vontade de Deus, Deus age sobre a humanidade pecadora. Eventos diversos da história humana comprovam estas intervenções extremadas da onipotência divina. O que podemos esperar então de uma geração singular dos tempos que abandonou Deus até nos rudimentos mais sensíveis da Graça, senão tempos de grande tribulação? Mas, o que Deus espera dos seus escolhidos nestes tempos tremendos? O que Jesus conclama aos justos de toda a terra diante do aviltamento crescente do mal e da impiedade do mundo? O que Nossa Senhora pediu com tanta insistência em Fátima e tem pedido em tantos outros lugares aos seus filhos diletos e amados?

Os Céus pedem o nosso medo? Desespero? Que nos desfaleçamos de terror e espalhemos aterrados os horrores dos castigos universais que nos esperam? Medo, desespero, terror... não são virtudes, não são armas espirituais, não são consolo, não são escudo. Se o medo impera, vacila a fé. Se o desespero assola, a esperança torna-se inútil. Se o horror se manifesta, não há lugar para a temperança e a paz interior. Se o mal é capaz de sitiar as almas em tais angústias, não existirá bem capaz de as livrar de desfalecer de medo.

Deus não quer isso de nós. Jesus não pode aspirar o triunfo da graça com o nosso medo. Nossa Senhora não nos consola para nos adaptarmos à escuridão mas para que possamos enfrentar e superar as trevas. A realidade do mal não pode ser obscurecida, mas sua superação será completa e definitiva: 'Por fim, meu Imaculado Coração triunfará'. O pecado é um vômito repugnante que inunda a face da terra, de todos os modos e formas possíveis. A humanidade parece esmagada pela banalidade do mal que, qual um sorvedouro universal, engole e impulsiona o homem a desatinos e infâmias cada vez mais terríveis. O mal impera, domina, gargalha, reina absoluto. Vivemos a sexta-feira das trevas. 

E tudo isso é nada, é vômito que será ressecado.  É vendaval que se desfaz depois de colossal tormenta de ventos embriagados de fúria; são ondas gigantescas que se arrebentam nos contrafortes dos rochedos; são trevas pastosas e repulsivas que vão se esvair lentamente nas fissuras e crateras da terra sacudida em dinâmica espantosa. É fumaça, porque é só fumaça o poder possível do maligno sobre o homem.

Se o mal que aí está não lhe perturba, é natural que a hora da provação possa lhe amedrontar ... e muito! Se você não tem tempo agora para fazer penitência e mortificação pelos pecadores, como pode achar que terá tempo para você mesmo naquelas horas tremendas?  Se o conformismo modela as suas atitudes e uma descrença generalizada é o acervo do que restou de uma fé católica tíbia e anêmica, o que quaisquer apelos do Céu, por mais assertivos e repetitivos que possam ser, poderiam fazer em seu socorro? Deus tem formas diversas de converter os homens além de fazê-los cair do cavalo como fez com Paulo em alguma estrada de Damasco...

O que Deus quer de nós é oração. O que Jesus nos conclama é buscar a sua misericórdia. O que Nossa Senhora nos impele a fazer é a nossa oferta de nós mesmos, com todas as nossas limitações e dificuldades, com toda a nossa miséria e pequenez, como oferecimento despojado das nossas angústias, sofrimentos, dores, contrariedades e todas as provações cotidianas, como instrumentos dóceis que imploram a conversão dos pecadores e que buscam reparar a avalanche de ofensas e blasfêmias cometidas em golfadas contra o Coração Divino. 

O que você pode oferecer a Deus - hoje, agora! - é amor. Nada mais que isso. Manifeste a Ele este amor agora: em tudo, em todos, o tempo todo!  Ele pode fazer maravilhas com o seu amor abstraído de afeições e sensibilidades humanas; Deus precisa destes pedaços, destas migalhas de amor, para converter o mundo. Deus precisa de suas orações e das minhas! E faça também uma outra coisa pequena: estanque a curiosidade, a angústia e o medo dos tempos que hão de vir no abismo de sua pequenez: pois não há vento em fúria nem terra em transe que possa fazer jorrar as trevas, nem em um momento sequer de toda a eternidade, em uma alma incendiada pela luz que é Cristo. 

terça-feira, 16 de junho de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (XIV)

PARTE XIV (Dn 1 - Zc 6)

[O profeta Daniel era exímio na interpretação de sonhos e visões (Dn 1, 17)]

 [Sidrac, Misac e Abdênago na fornalha ardente (Dn 3, 21)]


  [Daniel decifra a inscrição da parede do palácio do rei Baltazar (Dn 5, 17-)]

  [Daniel é confinado na cova dos leões (Dn 6,17)]

 [A visão de Daniel das quatro bestas (Dn 7, 1-)]

  [Suzana é importunada por dois anciãos durante o banho (Dn 13, 17-19)


  [A revolta da multidão contra o falso testemunho dos dois anciãos contra Suzana (Dn 13, 61)]

 [Daniel desmascara os sacerdotes do ídolo Bel (Dn 14, 7]

 [Oráculo do Senhor pelo profeta Amós (Am 1, 1-)]

  [O grande peixe vomita Jonas de suas entranhas (Jn 2,11)]

 [Jonas pregando aos ninivitas (Jn 3,4)]

  [Oráculo do Senhor pelo profeta Miqueias (Mq 1, 1-)]

 [A visão de Zacarias dos quatro carros (Zc 6, 1-6)]

segunda-feira, 15 de junho de 2020

CANTOS DA MISSA TRADICIONAL (IV): DEUS, DEUS MEUS

Na missa tradicional, o introito muda a cada missa e constitui um esboço da natureza da missa que será rezada. O canto litúrgico a seguir é específico para o Domingo de Ramos.

Introito - Domingo de Ramos

Deus, Deus meus

(Salmo 21, 2-9.18.19.22.24.32)


Deus, Deus meus, respice in me: quare me dereliquisti? Longe a salute mea verba delictorum meorum. Deus meus, clamabo per diem, nec exaudies: in nocte, et non ad insipientiam mihi. Tu autem in sancto habitas, laus Israël. In te speraverunt patres nostri: speraverunt, et liberasti eos. Ad te clamaverunt, et salvi facti sunt: in te speraverunt, et non sunt confusi. Ego autem sum vermis, et non homo: opprobrium hominum et abjectio plebis. Omnes, qui videbant me, aspernabantur me: locuti sunt labiis et moverunt caput. Speravit in Domino, eripiat eum: salvum faciat eum, quoniam vult eum. Ipsi vero consideraverunt et conspexerunt me: diviserunt sibi vestimenta mea, et super vestem meam miserunt sortem. Libera me de ore leonis: et a cornibus unicornium humilitatem meam. Qui timetis Dominum, laudate eum: universum semen Jacob, magnificate eum. Annuntiabitur Domino generatio ventura: et annuntiabunt coeli justitiam ejus. Populo, qui nascetur, quem fecit Dominus.

Ó Deus, Deus meu, olhai para mim; por que me desamparastes? O clamor dos meus pecados afasta de mim a salvação. Meu Deus, clamo de dia e não me respondeis; de noite, e não tenho sossego. Mas Vós, no santuário habitais, louvor de Israel. Em Vós esperam e Vós os livrastes. A Vós clamaram, e foram salvos; em Vós esperaram e não foram confundidos. Eu, porém, sou verme, não homem; opróbrio dos homens e objeção da plebe. Todos os que me veem zombam de mim, e, meneando a cabeça, dizem: Esperou no Senhor, Ele o livre, salve-o agora, pois ele o ama. Eles estão me vendo, e atentam em mim; dividem sobre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sorte. Livrai-me da boca do leão, e dos chifres do unicórnio, salvai a minha humildade. Vós que temeis o Senhor, louvai-O: e vós todos que sois da raça de Jacó, glorificai-O. Do Senhor se falará à geração vindoura; e os céus anunciarão a sua justiça. Ao povo que nascerá, e que o Senhor criou.

domingo, 14 de junho de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores' (Rm 5, 6-8)