segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O ANJO QUE APAGAVA OS PECADOS

Conta-se que, certa vez, São João Clímaco, superior do Mosteiro do Monte Sinai no século VII, recebeu em confissão um homem profundamente perturbado pelos seus muitos pecados e ansioso por uma conversão definitiva.

'Padre, sou um grande pecador, mas Deus tocou-me o coração. Venho arrependido pedir perdão e fazer penitência neste mosteiro. Quero que os exemplos de tantos santos que vivem aqui me ajudem a me tornar santo também. Padre, aceita-me aqui como mais um dos seus servos!'

'Meu filho' - respondeu o santo - 'bendito seja Deus que te abriu os olhos para conheceres a gravidade das tuas culpas. Entra neste santo abrigo e procura com a oração e a penitência reparar os teus muitos erros cometidos'. 

'Padre' - insistiu o pecador arrependido - 'Deus lhe pague tanta caridade. Mas vou lhe pedir um pouco mais; concede-me agora a permissão especial de tornar pública a minha confissão, de modo que, confessando todos os meus pecados diante destes piedosos monges, eles possam ter compaixão de mim e, assim, todos possam rezar pela minha completa conversão'.

São João Clímaco julgou conveniente satisfazer os desejos daquele homem arrependido e fez reunir todos os frades na sala do convento para o ouvirem em confissão. Ajoelhado no meio da sala, o homem começou a declarar publicamente os seus muitos pecados. Todos os presentes, em profundo silêncio e recolhimento, ouviam a confissão.

Um velho frade, entretanto, mantinha os olhos concentrados no altar, tão apreensivo que parecia estar sendo testemunha de alguma visão. Num certo momento, reclinou-se quase até o chão em um ato que parecia revelar profunda reverência e oração. São João Clímaco observava toda a cena com vívido interesse e atenção, tendo percepção voltada principalmente para o homem em confissão e para o velho frade.

Terminada a confissão pública, o homem lhe perguntou: 'Padre, estou realmente perdoado de todos os meus pecados que possa merecer ser um servo a mais neste mosteiro? Será que Deus teria tanta piedade em favor de um pecador tão miserável?'

'Meu filho, o nome de Deus é Misericórdia!  Jesus veio ao mundo, como Ele próprio disse, 'não para condenar, mas para salvar o mundo' (Jo 3, 16). Você agora é um de nós e Deus acaba de envolvê-lo em seus braços e já não tem memória de nenhum dos seus pecados. Crê nisso?'

'Eu creio, Padre, eu creio firmemente nisso e que a salvação me encontrou neste santo dia. E que Deus me console na sua paz todos os dias da minha vida!'

O superior do mosteiro despediu-se do homem convertido e chamou reservadamente, então, o velho frade e lhe sondou o motivo do seu estranho comportamento durante o ato da confissão pública - 'Meu bom frade, percebi a sua atenção concentrada no altar, durante a confissão pública deste pecador arrependido. Por acaso, o Senhor Deus lhe favoreceu com alguma visão particular?'

'Sim, meu Padre' - respondeu o velho frade ainda claramente emocionado - 'para corrigir o meu coração mau e ainda insincero. Quando o senhor nos chamou para a confissão desse homem, aqui vim contrariado por interromper meus afazeres no jardim do mosteiro e para ter que ouvir o que eu pensei ser nada mais que uma cantilena de desvarios e pecados que eu não precisava ouvir. Mas o Bom Deus cuida de todos os seus filhos e olhou por este nosso irmão e pela minha pobreza espiritual  também. E, com certeza absoluta, nos curou a ambos'.

E continuou: 'Eu vi um anjo sobre o altar com um grande livro nas mãos e, à medida que o homem fazia a sua confissão pública, o anjo sorria e passava a sua mão sobre as páginas do livro, apagando os registros de todos os pecados. Ao final da confissão, ele me fez ver que todas as páginas do livro agora estavam em branco, tal como agora estava limpa e sã a alma daquele homem. E, com toda a certeza, também a minha'.