terça-feira, 25 de agosto de 2015

TU ÉS PEDRO! (PAPA JOÃO VIII)


João VIII foi o 108º papa da Igreja, sendo eleito em 13 de dezembro de 872, como sucessor do papa Adriano II. João VIII nasceu em Roma, em 820. Promoveu uma importante reorganização da cúria papal à época e tentou, sem sucesso, em grande parte devido ao auxílio pífio dos monarcas europeus, expulsar os sarracenos (muçulmanos) da Itália, pelo que teve de lhes pagar pesado tributo. Defendeu São Metodio contra aqueles que se opunham ao uso da língua eslava na liturgia e, em 879, reconheceu a legitimidade de Fócio (condenado em 869 pelo Papa Adriano II) como patriarca de Constantinopla. Em 878, coroou Luis II, rei da França, e dois imperadores do Sacro Império Romano: Carlos II e Carlos III. Morreu em 16 de dezembro do ano de 882, depois de 10 anos de um fecundo pontificado, marcado por uma farsa injuriosa e abominável ao longo da história - a suposta existência da papisa Joana*. 


Dos seus documentos pontifícios:

'Certamente não é contra a fé e a doutrina cantar a missa em língua eslava, ou ler os santos Evangelhos ou os escritos do Novo ou do Antigo Testamento, bem traduzidos e interpretados, ou cantar os outros ofícios de horas, pois Aquele que fez as três principais línguas, o hebraico, o grego e o latim, criou também as outras línguas para seu louvor e sua glória'.

(Papa João VIII, Bula Industriae Tuae, ano 880, em defesa dos santos Cirilo e Metodio, monges gregos que evangelizaram os povos eslavos no século IX na língua eslava e que, por causa disso, haviam sido acusados de heresia por alguns bispos francos)


'Vós tendes nos manifestado humildemente o desejo de saber se aqueles que morreram recentemente na guerra, combatendo em defesa da Igreja de Deus e pela preservação da religião e do Estado cristãos, ou aqueles que podem no futuro cair pela mesma causa, podem obter a indulgência de seus pecados.

Com toda segurança, nós vos respondemos que aqueles que, por amor à religião cristã, morram na batalha lutando bravamente contra os pagãos ou incrédulos, ganharão a vida eterna. Porque o Senhor disse pela boca de seu profeta: 'Qualquer que seja a hora em que um pecador se converta, eu não lembrarei mais de seus pecados'. Pela intercessão de São Pedro, que tem o poder de abrir e fechar no Céu e na terra, eu absolvo, em toda à medida que me é possível, todos eles e os encomendo com as minhas orações ao Senhor'.

(Papa João VIII, aos bispos do reino de Luiz II da França, proclamando solenemente a indulgência pelo perdão dos pecados para aqueles que morriam nas cruzadas em defesa da fé cristã)

* Essa lenda afirma ter existido uma papisa na história da Igreja (com milhares de versões esdrúxulas e repetidas à exaustão na internet) e diferentes versões atribuem a sua aparição em algum momento nos séculos nono, décimo ou décimo primeiro. Na variante mais radical, a papisa teria inclusive dado à luz em pleno percurso público, morrendo no parto ou sendo morta (juntamente com o seu filho) pelo 'povo revoltado'. As duas referências mais explícitas à chamada Papisa Joana a colocam entre os anos de 855 e 857, eleita como 'João Ânglico' ou em 872, na pessoa do papa João VIII que, na verdade, não seria 'ele', mas 'ela'. 

No primeiro caso, é muitíssimo bem documentada a sucessão imediata do Papa Leão IV (falecido em junho de 855) pelo Papa Bento III (sem lacuna possível para a tal papisa). No segundo caso, a crendice ganha ares de pantomina, porque este papado, que sucedeu o de Adriano II, teve início em 13 de dezembro de 872 e prolongou-se até o ano de 882, por longos dez anos do que teria sido uma farsa colossal. E, para compartilhar ainda o imaginário já fantasioso ao extremo, este papa teria sido a primeira vítima de magnicídio (nome que se dá ao assassinato de um papa), uma vez que teria sido envenenado por um parente ou por um membro do seu convívio direto. Um relato em particular revela que, em virtude da lenta ação do veneno, o papa teria tido a cabeça esmagada por marteladas, sem entrar muito no mérito da ação de trocar um meio escuso (veneno) por outro absolutamente explícito, visando, sabe-se lá por quê, acelerar o processo mortal já em andamento!