quarta-feira, 2 de julho de 2014

O AMOR SEM MEDIDAS

'Nosso Senhor Jesus Cristo quer estabelecer em nós um amor apaixonado por Ele. Toda virtude, todo pensamento que não termina numa paixão, que não acaba por tornar-se uma paixão, nada de grande produzirá jamais. (...)

O amor só triunfa quando é, em nós, uma paixão vital. Sem isso, podem produzir-se atos isolados de amor, mais ou menos frequentes; a vida não é tomada, não é nada (...). Nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer as leis das paixões humanas. Falo das paixões honestas, naturalmente boas; pois as paixões são diferentes em si mesmas; nós as tornamos más quando as dirigimos para o mal, mas só de nós depende utilizá-las para o bem.

Ora, a paixão que domina o homem, concentra-o. Tal homem quer chegar a uma determinada posição honrosa e elevada. Só para isso trabalhará dez, vinte anos, não importa. Chegarei, diz ele; faz unidade: tudo se acha reduzido a servir esse pensamento, esse desejo, deixa de lado tudo quanto não o conduzir a seu objetivo. Eis como se chega no mundo ao que se deseja; essas paixões podem tornar-se más, e ai! Muitas vezes não são mais que um crime contínuo; mas enfim podem ser e são ainda honoríficas. Sem uma paixão, nada se alcança: a vida carece de objetivo; arrasta-se uma vida inútil.

Pois bem, na ordem da salvação, é preciso ter também uma paixão que nos domine a vida e a faça produzir, para a glória de Deus, todos os frutos que o Senhor espera. Amai tal virtude, tal verdade, tal ministério apaixonadamente. Devotai-lhe a vossa vida, consagrai-lhes os vossos pensamentos e trabalhos; sem isso, nada alcançareis jamais, sereis apenas um assalariado, jamais um herói (...)

Ah! no Juízo, não serão tanto os nossos pecados que nos aterrorizarão e nos serão censurados; estão irrevogavelmente perdoados. Nosso Senhor nos censurará pela nossa falta de amor! 'Vós me amastes menos que às criaturas! Vós não fizestes de Mim a felicidade de vossa vida! Vós me amastes o bastante para não me ofender mortalmente; mas não para viver de Mim!' (...)

Podeis dizer: Mas é exagero tudo isso. Mas que é o amor, senão exagero? Exagerar é ultrapassar a lei; pois bem, o amor deve exagerar! (...) Vamos! Exageremos no amor a Nosso Senhor! Amemos um pouco mais por Ele; saibamos nos esquecer e nos dar ao nosso Salvador! Imolemo-nos um pouco! Considerai-vos como estes círios, esta lâmpada, que se consomem sem deixar vestígios, sem nada reservar'.

(Excertos da obra 'O Santíssimo Sacramento' , de São Pedro Julião Eymard)