domingo, 3 de fevereiro de 2013

QUEM PROCURA A SI MESMO, PECA CONTRA O AMOR

'Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria' (Lc, 4,24). Na sua terra natal, entre os seus, Jesus proclama a verdade que incomodou e doeu brutalmente naqueles que buscaram nEle um amor de livre possessão: 'Faze aqui... o que fizeste em Cafarnaum' (Lc 4, 23). A princípio, predominou em Nazaré um rumor crescente de admiração, mas Jesus perscrutou-lhes o coração e anteviu o sentimento geral em transformá-lo do 'filho de José' em 'salvador da pátria' dos privilegiados de Nazaré. Eles não foram capazes de compreender que, naquela sinagoga, diante deles, estava toda a resposta de séculos de profecias messiânicas.

E os seus O viram e O escutaram, tangidos pela mesma crença superficial e vazia de tantas viúvas e leprosos de Israel. Naquele tempo, em Nazaré da Galileia, na perplexidade dos mistérios de Deus e da incredulidade dos homens, nenhum Naamã elevou a sua prece, nenhuma viúva de Sarepta estremeceu de espanto diante do Filho de Deus vivo. Todos aqueles homens e mulheres viram diante de si apenas o 'filho de José' e se encheram de ira quando este negou-se a ser a cômoda versão de suas crenças insensatas. E o expulsaram de Nazaré, e o ameaçaram de morte, e o renegaram daí em diante:  'Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam' (Jo, 1, 11).

'Jesus, porém, passando no meio deles, continuou o seu caminho' (Lc, 4, 30). 'Passando no meio deles'... Sua divindade é manifestada aqui sem parcimônia e foi tão explícita que deixa os seus enlouquecidos perseguidores impotentes e desarmados em sua fúria diabólica de lançá-lO num abismo. Algum tempo depois, no Calvário, Ele vai permitir o júbilo de algozes ainda mais enlouquecidos. 'E continuou o seu caminho'... Porque a salvação não seria manifesta apenas aos judeus, mas a todos os povos e nações. Porque a redenção deveria ser um tributo de bênçãos e graças aos homens de todos os tempos.

De todos os pecados daquela Nazaré de outros tempos, o maior foi exigir um amor condicionado pelo egoísmo da posse. Quem procura a si mesmo, peca contra o amor, por lhe faltar a capacidade de amar sem interesses e sem imposições. Para aquela gente, Jesus seria amado se cumprisse o modelo de seus interesses mesquinhos: uma Nazaré repleta dos feitos de Jesus em Cafarnaum era a única expectativa de um amor de recompensa. Nesta falsa esperança, não houve acolhida para o amor sem medidas, faltou a caridade. E, assim, Jesus seguiu em frente, em busca de outros caminhos, porque 'a caridade não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade' (1 Cor 13, 6).