segunda-feira, 16 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (IV)

 

Cristo, ouvi-nos.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

domingo, 15 de maio de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Bendirei o vosso nome, ó meu Deus, meu Senhor e meu Rei para sempre' (Sl 144)

 15/05/2022 - Quinto Domingo da Páscoa

25. O NOVO MANDAMENTO 


Deus, em sua infinita misericórdia, destinou ao homem, não apenas a plenitude de uma felicidade puramente natural mas, muito mais que isso, por desígnios imensuráveis à condição humana, a plenitude da eterna felicidade com Ele. E, para nos tornar co-participantes de sua glória, nos escolheu, um a um, desde toda a eternidade, como criaturas humanas privilegiadas e especiais, moldadas pelo infinito amor do divino intelecto. Glória aos homens bem-aventurados que, nascidos e criados pelo infinito amor, foram e serão redimidos pelo amor de Cristo para toda a eternidade!

Neste Quinto Domingo da Páscoa, somos chamados a vivenciar este amor de Deus em plenitude. Jesus encontra-se no Cenáculo, pouco antes de sua ida ao Horto das Oliveiras e da sua prisão e morte na cruz. E acaba de revelar aos seus discípulos amados, mais uma vez, a identidade do amor divino entre Pai e Filho, regida pelo Espírito Santo: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele' (Jo 13, 31). Do amor intrínseco à Santíssima Trindade, medida infinita do amor sem medidas, Jesus vai nos dar o princípio do amor humano verdadeiro e recíproco ao amor divino: 'Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros' (Jo 13, 34).

Sim, como Cristo nos amou. Na nossa impossibilidade humana de amar como Cristo nos ama, isso significa amar sem rodeios, amar sem vanglória, amar sem zelos de gratidão, amar de forma despojada e sincera aos que nos amam e aos que não nos amam, a quem não conhecemos, a quem apenas tangenciamos por um momento na vida, a todos os homem criados pelos desígnios imensuráveis do intelecto divino, à sombra e imersos na dimensão do infinito amor de Cristo por nós.

Nesta proposição distorcida e acanhada do amor divino, o amor humano se projeta a alturas inimagináveis de santificação, e expressa a sua identificação incisiva no projeto de redenção de Cristo: 'Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros' (Jo 13, 35). Eis aí a essência do novo mandamento: amar, com igual despojamento, toda a dimensão da humanidade pecadora, a exemplo de um Deus que se entregou à morte de cruz para nos redimir da morte e mostrar que o verdadeiro amor não tem limites nem medida alguma.

sábado, 14 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (III)

 

Senhor, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

OS MAIS BELOS LIVROS CATÓLICOS DE TODOS OS TEMPOS (7)

 13. CORNELIUS A LAPIDE TESOUROS

Cornelius a Lapide ou Cornelis Cornelissen Van den Steen (1567 – 1637) foi um jesuíta e exegeta flamengo, natural da cidade de Bocholt, na Bélgica. Ingressou na Companhia de Jesus em 15 de julho de 1592 e foi ordenado sacerdote em 24 de dezembro de 1595. Atuou por mais de 40 anos de sua vida religiosa ensinando as Sagradas Escrituras, inicialmente na Universidade de Louvain, entre 1598 e 1616 e depois no Colégio dos Jesuítas em Roma, entre 1616 e 1636, falecendo nesta cidade em 12 de março de 1637. 

Muitos dos seus comentários (como aqueles relativos às Epístolas de São Paulo, Atos dos Apóstolos, o Apocalipse ou Livro do Eclesiástico) foram compilados, revistos e publicados pelo próprio autor, mas muitos deles somente foram publicados após a sua morte. Os seus textos e comentários traduzem uma dura resposta às heresias da Reforma Protestante (principalmente às introduzidas por Lutero e Zwinglio), com ênfase em uma devoção especial à Santíssima Virgem e na defesa intransigente das doutrinas e ensinamentos da Santa Igreja. É obra de um homem profundamente apaixonado pela Igreja e dominado pela erudição bíblica das eras patrística e medieval, que fala e comenta as Sagradas Escrituras no contexto único dos ensinamentos dos Grandes Padres e da mais pura tradição da Igreja.

A coletânea dos seus volumosos comentários sobre passagens e textos de praticamente todos os livros das Sagradas Escrituras (com exceção do Livro dos Salmos e do Livro de Jó) tem sido sistematizada em uma obra de cunho geral, comumente designada com o nome de Tesouros de Cornelius a Lapide, ainda não integralmente traduzida para o português (existem versões traduzidas para o português apenas de alguns comentários isolados de sua obra monumental).

14. JEAN-BAPTISTE CHAUTARD A ALMA DE TODO APOSTOLADO

A Alma de Todo Apostolado é uma obra clássica da literatura cristã do século XX e tem como tema central a inserção e o aperfeiçoamento da vida interior, como base, sustentação e instrumento para quaisquer obras de apostolado. O seu autor foi um monge trapista francês chamado Jean-Baptiste Chautard, nascido em Briançon em 12 de março de 1858. Ingressou como noviço no mosteiro de Aiguebelle em 1877, situado numa das regiões mais ermas e agrestes da França. Revestido do hábito branco da Ordem Cisterciense, ali iniciou os seus estudos religiosos, sendo ordenado sacerdote em junho de 1884.

A obra é um grito de resistência a uma época histórica de perseguições. No início do século XX, a Igreja da França passou a ser alvo de um singular período de perseguições e a Ordem Cistercience ficou então muito ameaçada de expulsão e fechamento no país, sob a tibieza e indiferentismo do povo cristão. À época, Dom Jean-Baptiste Chautard era o prior da Abadia de Sept-Fons, função que iria exercer até a sua morte em 29 de setembro de 1935.

Escrita originalmente com o objetivo definido de manter e sustentar o ânimo dos seus confrades e demais religiosos da Ordem Cisterciense diante das perseguições do Estado, a obra tornou-se um clássico da espiritualidade católica. Nestas páginas, o autor apresenta a síntese dos princípios que devem nortear aqueles que lutam pela Igreja por meio de uma vida de piedade, mortificação e sacrifícios, na estrita compreensão de que os meios de ação naturais devem ser canais da graça de Deus, e que o apóstolo – clérigo ou leigo – precisa ser ele próprio um reservatório das graças que devem vivificar em todas as suas obras. Para prover um fecundo apostolado e ser instrumento da salvação para muitos dos seus irmãos, cada homem deve buscar na vida interior uma íntima união com Deus, impregnando-se com o verdadeiro espírito de Jesus Cristo para agir, desta forma, em tudo, com todos, todo o tempo. A tradução da obra em português encontra-se disponível por diferentes editoras.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

FÁTIMA - 105 ANOS

 

'Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores'.

Ver Postagem Especial na Biblioteca Digital do Blog
(a história completa de Fátima resumida em 100 questões):


FÁTIMA EM 100 FATOS E FOTOS

quinta-feira, 12 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (II)


Cristo, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

SOBRE A ESCRAVIDÃO DO PECADO

Que situação mais triste, mais infeliz, mais desgraçada e deplorável que a do filho pródigo! Reduzido à pobreza, tendo fome, abandonado de todos os seus inimigos, escravo de um patrão sem compaixão, o qual lhe envia a guardar os porcos; deseja poder nutrir-se com os vis alimentos daqueles animais imundos! Eis aqui uma débil imagem do estado de servidão a que pode levar o pecado mortal.

Um pássaro atado com um fio trata de voar; porém, preso, não pode escapar; assim também o pecador, cativo de suas más inclinações, dá alguns passos, porém, sem adquirir a liberdade, detém-no os laços de seus desgraçados hábitos. O homem terrestre e carnal crer ser livre, porém, na realidade, é escravo. Quer ser livre, e o querer tal liberdade é o que lhe lança na escravidão. Assim é que a liberdade afoga a liberdade de tal modo que o excesso de liberdade é uma extraordinária escravidão; porque, então, não há mais freio para as concupiscências, e chegamos a ser escravos de tantos tiranos cruéis quantas são as paixões diferentes que nos subjugam.

O furor do Eterno acendeu-se contra o povo, diz o Salmista; e entregou o povo ao poder das nações, e seus inimigos chegaram a ser seus donos. Seus inimigos oprimiram-nos e fizeram-no sofrer a humilhação de seu poder (Sl 115, 39-41). Estavam sentados nas trevas e nas sombras da morte, encadeados pelo ferro e pela fome: sedentes in tenebris et umbra mortis, vinctos in mendicitate et ferro (Sl 106, 10). Porém, aquela não era mais que uma sombra da escravidão dos pecadores!

Ouvi, pecadores, os gemidos dos hebreus escravos e cativos; entregai-vos aos mesmos lamentos, posto que o vosso estado é o mesmo, e ainda muito pior. Próximo aos rios da Babilônia, exclamam por meio do Real Profeta, nós nos sentávamos, e derramávamos lágrimas recordando-nos de Sião. Nos salgueiros de suas margens, penduramos nossas harpas. E ali, aqueles que nos levaram para o cativeiro, pediram o canto de nossos hinos. Aqueles que nos arrastaram cativos, disseram-nos: ‘Cantai os cânticos de Sião’. Como havemos de cantar os cânticos do Senhor em uma terra estrangeira? (Sl 136, 1).

Escravos do demônio e das paixões, dai um eterno adeus à felicidade e à vossa antiga alegria; porque perdestes tudo, perdendo a liberdade dos filhos de Deus pelo pecado mortal! Encontramo-nos aqui na terra em uma escravidão semelhante à de uma criança ainda no ventre de sua mãe, diz São João Crisóstomo: sicut in úteropuellus, sic in mundo vivimus interclusi angustiis. Estamos aqui nesta terra de desterro e de maldição em uma situação análoga àquela em que se encontrava Jonas no ventre da baleia.

Ainda que fosse rei, o homem insensato e pecador seria sempre escravo de suas paixões e servente de seus desejos, diz São Jerônimo; não pode, nem de noite nem de dia, sacudir o domínio deles, porque estão em seu coração; e experimenta interiormente uma servidão intolerável: Stultus esto imperet, servit propriis passionibus, servit suis cupiditatibus, quorum dominatio, nec nocte, nec die, fugari potest; quia intra se dominas habet, intra servitium potitur intolerabile. Toda paixão escraviza, diz Santo Ambrósio: servilis est omnis passio.

Ainda que seja um escravo, o homem virtuoso é livre, diz Santo Agostinho, porém, ainda que que o culpável seja rei, é escravo, e escravo não de um só senhor, senão que – o que é pior – é escravo de tantos senhores quantos vícios tenha: Bonus, etiamsi serviat, liver est: malus autem, si regnat, servus est, non unius hominis, sed quodgravius est, tot dominorum quot vitiorum. O rei Lisímaco entregou seu exército ao inimigo somente para apagar sua sede física. Feito cativo, depois de ter recebido e bebido água, exclamou: Desgraçado de mim, por um momento de prazer, que bens e que reino eu perdi! Era rei, e me acho convertido em escravo: Pro deum fidem, quam exiguae voluptatis gratia, quantum bonum, quantum regnum perditi; meque ex rege servum effeci!

'Ai de mim!'… Não tem mil vezes mais motivos de falar da mesma maneira o desgraçado pecador? Ó Deus, por uma gota de água, por um vil e passageiro deleite, quantos bens perdi! Perdi minha alma, perdi a graça, perdi as delícias do Céu, e encontro-me convertido em escravo do demônio, da morte e do Inferno por toda uma eternidade!

Servirá a teu inimigo com fome, com sede, nu e em maior penúria, diz o Senhor, e porá em teu pescoço um jogo de ferro até que te esmague: Servies inimico tuo in fame, et siti, et nuditate, et omni penúria, et ponet jugum ferreum super cervicem tuam, donec te conterat (Dt 28, 48). E ele devorará o fruto de teus ganhos e todos os frutos de tua terra até que pereças; e não te deixará trigo, nem vinho, nem azeite, nem rebanho de vacas, nem rebanho de ovelhas até que, enfim, te destruas inteiramente (Dt 28, 51). E te pisoteará, e os teus muros fortes e elevados serão derrubados, e comerás o fruto de tuas entranhas e as carnes de teus filhos e de tuas filhas que o Senhor te der, na angústia e desolação com que te oprimirá teu inimigo (Sl 28, 51-53). Porém, todas estas desgraças não são nada quando comparadas com a desgraça de um pecador escravo do demônio!

Temos pecado em Vossa presença, Senhor, exclama a rainha Ester, por cujo motivo vemo-nos entregues nas mãos de nossos inimigos: Peccavimus in conspectu tuo, et idcirco tradidisti nos in manus inimicorum nostrorum (Est 14, 6). Ao ímpio envolvem suas próprias iniquidades, dizem os Provérbios, e está acorrentado nos laços de seu pecado: Iniquitaes suae capiunt impium, et funibus peccatorum suorum constringitur (Pr 5, 22). Além das algemas de seu crime, o pecador carrega as de suas penas e a de sua penitência; porque estas também o atam, sobrecarregando-o e torturando-o. Penas temporais e eternas!

É necessário que sejamos escravos e que soframos todas as consequências e desgraças quando a carne comanda o espírito, ela que deveria ser escrava deste. Quando esta carne rebelde é bajulada e honrada, ela quer mandar, em vez de estar subordinada à razão. Que coisas mais desiguais em valor que a razão e a concupiscência, a alma e o corpo! A concupiscência e a carne são terrestres, semelhantes ao selvagem; porém, a razão e a alma são espirituais, grandes, nobres e semelhantes aos anjos pela inteligência e pela espiritualidade. A concupiscência e a carne são a mesma pobreza, a baixeza; porém, a razão e a alma tem um preço imenso! São, pois, absurdos abomináveis: que a alma sirva ao corpo, pois a ela deve estar este submetido; e que a razão seja escrava da concupiscência.

Edificastes ao meu redor, diz Jeremias, rodeaste-me de fel e trabalho: Aedificavit in gyro meo, et circundedit me felle et labore (Lm 3, 5). Edificastes ao meu redor para que eu não saia, e aumentastes o peso de minhas cadeias: Circunaedificavit adversum me ut non ingrediar; aggravavit compendem meum (Lm 3, 7). Semeastes meu caminho de pedras cortantes, e destruístes minhas veredas: Conclusit vias meas lapidibus quadris, semitas meas subvertit (Lm 3, 9). E a paz foi extirpada de meu coração, esqueci a alegria, e disse: 'Minha força está perdida' (Lm 3, 17-18). Ó profeta Jeremias, ainda não é bastante hábil o teu pincel para pintar-nos as desgraças reais da escravidão do pecador!

(Excertos da obra 'Tesouros de Cornelius a Lapide')