quarta-feira, 21 de março de 2018

SOBRE A INTERCESSÃO DOS SANTOS

Que aproveitam aos santos o nosso louvor, a nossa glorificação e até esta mesma solenidade? Para que tributar honras terrenas a quem o Pai celeste glorifica, segundo a promessa verdadeira do Filho? De que lhes servem os nossos panegíricos [discursos de louvor]? Os santos não precisam das nossas honras e nada podemos oferecer-lhes com a nossa devoção. Realmente, venerar a sua memória interessa a nós e não a eles. Por mim, confesso, com esta evocação sinto-me inflamado por um anseio veemente. 

O primeiro desejo que a recordação dos santos excita ou aumenta em nós é o de gozar da sua amável companhia, de merecermos ser concidadãos e comensais dos espíritos bem aventurados, de sermos integrados na assembleia dos Patriarcas, na falange dos Profetas, no senado dos Apóstolos, no inumerável exército dos Mártires, na comunidade dos Confessores, nos coros das Virgens; enfim, de nos reunirmos e nos alegrarmos na comunhão de todos os Santos. 

Aguarda-nos aquela Igreja dos primogênitos e nós ficamos insensíveis; desejam os santos a nossa companhia e nós pouco nos importamos; esperam-nos os justos e nós parecemos indiferentes. Despertemos, finalmente, irmãos. Ressuscitemos com Cristo, procuremos as coisas do alto, saboreemos as coisas do alto. Desejemos os que nos desejam, corramos para os que nos aguardam, preparemo-nos com as aspirações da nossa alma para entrar na presença daqueles que nos esperam. Não devemos apenas desejar a companhia dos santos, mas também a sua felicidade, ambicionando com fervorosa diligência a glória daqueles por cuja presença suspiramos. Na verdade, esta ambição não é perniciosa, nem o desejo de tal glória é de modo algum perigoso.

Ao comemorarmos os santos, um segundo desejo se inflama em nós: que, tal como a eles, Cristo, nossa vida, se nos manifeste também e que nos manifestemos também nós com Ele revestidos de glória. É que de momento a nossa Cabeça revela-se-nos não como é, mas como encarnou por nós, não coroada de glória, mas rodeada dos espinhos dos nossos pecados. Envergonhemo-nos de sermos membros tão requintados sob uma Cabeça coroada de espinhos, à qual por agora a púrpura não proporciona honras mas afronta. Chegará o momento da vinda de Cristo; e já não se anunciará a sua morte, para sabermos que também nós estamos mortos e que a nossa vida está escondida com Ele. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela resplandecerão os membros glorificados, quando Ele transformar o nosso corpo mortal e o tornar semelhante ao corpo glorioso da Cabeça que é Ele mesmo.

Desejemos pois esta glória com total e segura ambição. Mas para podermos esperar tal glória e aspirar a tamanha felicidade, devemos desejar também ardentemente a intercessão dos santos, a fim de nos ser concedido, pelo seu patrocínio, o que as nossas possibilidades não alcançam.

(Dos Sermões de São Bernardo)

terça-feira, 20 de março de 2018

FOTO DA SEMANA

Santa Teresinha do Menino Jesus vestida como Santa Joana d'Arc
(para uma peça de teatro do seu convento, final do século XIX)

segunda-feira, 19 de março de 2018

19 DE MARÇO - SÃO JOSÉ


São José, esposo puríssimo de Maria Santíssima e pai adotivo de Jesus Cristo, era de origem nobre e sua genealogia remonta a Davi e de Davi aos Patriarcas do Antigo Testa­mento. Pouquíssimo sabemos da vida de José, além de suas atividades de carpinteiro em Nazaré. Mesmo o seu local de nascimento é ignorado: poderia ser Nazaré ou mesmo Belém, por ter sido a cidade de Davi. Ignora-se igualmente a data e as condições da morte de São José, mas existem fortes razões para afirmar que isso deve ter ocorrido an­tes da vida pública de Jesus. Com certeza, José já teria falecido quando da morte de Jesus, uma vez que não se explicaria, então, a recomendação feita aos cuidados mútuos à mãe e ao filho, dados, da cruz,  por Jesus a Maria e a São João Evangelista.

Não existem quaisquer relíquias de São José e se desconhece o local do seu sepultamento. Muitos pais da Igreja defendiam que, devido à sua missão e santidade, São José, a exemplo de São João Batista, teria sido consagrado antes do nasci­mento e já gozava de corpo e alma da glória de Deus no céu, em companhia de Jesus e sua santíssima Esposa. As virtudes e as graças concedidas a São José foram extraordinárias, pela enorme missão a ele confiada pelo Altíssimo. A dig­nidade, humildade, modéstia e pobreza, a amizade íntima com Je­sus e Maria e o papel proeminente no plano da Redenção, são atributos e méritos extraordinários que lhe garantem a influência e o poder junto ao tro­no de Deus. Pedir, portanto, a intercessão de São José, é garantia de ser ouvido no mais alto dos céus. Santa Tereza, ardorosa devota de São José, dizia: 'Não me lembro de ter-me dirigido a São José sem que tivesse obtido tudo que pedira'.

A devoção a São José na Igreja Ca­tólica é antiquíssima. A Igreja do Oriente celebra-lhe a festa, desde o século nono, no domingo depois do Natal. Foram os carmelitas que in­troduziram esta solenidade na Igreja Ocidental; os franciscanos, já em 1399, festejavam a comemoração do Santo Pa­triarca. Xisto IV inseriu-a no bre­viário e no missal; Gregório XV ge­neralizou-a em toda a Igreja. Cle­mente XI compôs o ofício, com os hinos, para a celebração da Festa de São José em 19 de março e colocou as missões na China sob a proteção do Santo. Pio IX introdu­ziu, em 1847, a festa do Patrocínio de São José e, em 1871, declarou-o Pa­droeiro da Igreja; muitos pontífices promoveram solenemente a devoção a São José, por meio de orações, homilias, encíclicas e devoções diversas.

domingo, 18 de março de 2018

A GLORIFICAÇÃO DE JESUS

Páginas do Evangelho - Quinto Domingo da Quaresma


Aproxima-se a consumação do sacrifício de Jesus na Paixão e Morte de Cruz. E, neste cenário de antecipação do cumprimento integral de sua missão salvífica, o evangelho de hoje prenuncia que o triunfo messiânico de Jesus perpassa pela conversão dos gentios. O sinal da natureza universal deste triunfo e da aproximação da hora final de sua missão na terra estava dado, pela presença de alguns gregos (símbolo de todos os gentios) que queriam 'ver Jesus' (Jo 12, 21), no sentido de não apenas conhecer, mas também de aceitar e viver em plenitude a doutrina cristã.

Eis definida, então, num episódio aparentemente pouco relevante da subida daqueles gregos até Jerusalém, a revelação contundente da proximidade do calvário e, com ela, da manifestação da glorificação do Filho do Homem, ratificada prontamente pelo Mestre: 'Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado' (Jo 12, 23). A morte próxima de Jesus é prenunciada neste momento como um triunfo da glória de Deus, como expressa claramente logo na sequência: 'quando for elevado da terra, atrairei todos a mim. Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer' (Jo 12, 32 - 33).

A correlação direta entre sacrifício e glorificação é ensinada por Jesus pelo exemplo da semente que deve morrer para produzir muitos frutos: 'Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto' (Jo 12, 24). A glória perpassa pelo sacrifício, a vida humana nada mais é que uma estreita via de sofrimentos e tribulações rumo à pátria celeste; morrer para o mundo traduz a percepção cristã da debilidade da semente que morre, não apenas para não sucumbir às paixões humanas, mas para produzir frutos de salvação: 'Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna' (Jo 12, 25).

Jesus, diante a proximidade de sua hora final na terra, contempla, à luz da ciência divina, a vitória final da Cruz sobre as forças do mal ('julgamento do mundo'), na proclamação universal da sua Palavra e da conversão futura dos gentios. E, como a glória de Cristo é a glória do Pai, Jesus assim o manifesta: 'Pai, glorifica o teu nome!' (Jo 12, 28) e, de imediato, assim o faz também o Pai: 'Então veio uma voz do céu: Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!' (Jo 12, 28). Assim, pela terceira vez, Deus Pai glorifica o seu Filho (a primeira tinha sido no batismo de Jesus e a segunda, na transfiguração do Senhor); desta vez, como manifestação dirigida a todos os homens, povos, raças, nações e gentios, como revelação antecipada dos frutos da Paixão e do Triunfo e Glória do Verbo Encarnado.

sábado, 17 de março de 2018

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (X)

A região central da Itália é uma área especialmente crítica a sismos violentos pela colisão local das placas tectônicas africana e euroasiática e pela presença de inúmeras falhas geológicas superficiais, que tendem a induzir terremotos devastadores porque estes tendem a ocorrer muito próximos à superfície da crosta. Em 1908, estima-se que ao menos 70 mil pessoas morreram quando um tremor de magnitude 7,2 atingiu a cidade siciliana de Messina; em 1915, outro sismo violento em Avezzano deixou uma cidade arrasada e pelo menos 30 mil mortos. Os eventos sísmicos mais recentes na região ocorreram em 2016 (terremotos em agosto e outubro) e 2017 e deixaram um legado de destruição e de morte. 

No terremoto de magnitude 6.6 de outubro de 2016, a igreja de Santa Maria Assunta, na cidade de Arquata, desapareceu sob um cenário de escombros, poeira e entulho. Um ano e meio depois, em meio aos trabalhos de remoção dos escombros, o tabernáculo do altar, peça do século XVI, foi resgatado em boas condições (foto abaixo) e devolvido à diocese local. 


Aberto o tabernáculo, encontraram a píxide tombada no seu interior, mas perfeitamente fechada. E, fato extraordinário, 40 hóstias encontravam-se perfeitamente conservadas na píxide, sem nenhum sinal de mofo ou umidade, sem qualquer odor ou outro sinal de deterioração de qualquer natureza. As 40 hóstias, materialmente uma mistura simples de farinha e água, pareciam ter sido colocadas ali no dia anterior, tendo permanecidas isentas dos efeitos do tempo, dos destroços e do sismo e estavam, inexplicavelmente, absolutamente íntegras para uma próxima e imediata santa eucaristia. 

INDULGÊNCIA PLENÁRIA DAS SEXTAS-FEIRAS DA QUARESMA


Indulgência Plenária: rezar com piedosa devoção a oração En ego, o bone et dulcissime Iesu (Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus!) nas sextas-feiras da Quaresma, diante de uma imagem de Jesus Crucificado e depois da comunhão.

En ego, o bone et dulcissime Iesu, ante conspectum tuum genibus me provolvo, ac maximo animi ardore te oro atque obtestor, ut meum in cor vividos fidei, spei et caritatis sensus, atque veram peccatorum meorum paenitentiam, eaque emendandi firmissimam voluntatem velis imprimere; dum magno animi affectu et dolore tua quinque vulnera mecum ipse considero ac mente contemplor, illud prae oculis habens, quod iam in ore ponebat tuo1 David propheta de te, o bone Iesu: Foderunt manus meas et pedes meos: dinumeraverunt omnia ossa mea. Amen.

Eis-me aqui, ó bom e dulcíssimo Jesus! De joelhos me prostro em vossa presença e vos suplico com todo o fervor de minha alma que vos digneis gravar no meu coração os mais vivos sentimentos de fé, esperança e caridade, verdadeiro arrependimento de meus pecados e firme propósito ele emenda, enquanto vou considerando com vivo afeto e dor as vossas cinco chagas, tendo diante dos olhos aquilo que o profeta Davi já nos fazia dizer, Ó bom Jesus: ‘Transpassaram minhas mãos e meus pés e contaram todos os meus ossos’.

(SI 21,17; cf. Missal Romano, ação de graças depois da missa)

É sempre importante lembrar que a indulgência não é o perdão dos pecados, mas a reparação das penas e danos devidos aos pecados. Para se obter a indulgência plenária é preciso:

1. ter uma disposição interior de afastamento total de todo o pecado, mesmo do pecado venial;
2. ter feito confissão recente;
3. receber a Sagrada Comunhão;
4. rezar pelas orações do Santo Padre e da Santa Igreja (orações livres, mas que a Santa Sé recomenda fazer na forma de um 'Pai Nosso' e de uma 'Ave Maria').

sexta-feira, 16 de março de 2018

CATECISMO MAIOR DE PIO X (III)

Promessa do Redentor

23. Mas Deus não abandonou Adão e sua descendência em tão miserável sorte. Em sua infinita misericórdia, então, prometeu um Salvador (Messias) que viria libertar a humanidade da escravidão do pecado e do diabo e merecer-lhes a glória. Esta promessa foi repetida por Deus seguidas vezes para os outros Patriarcas, por meio dos Profetas, ao povo hebreu.

Os filhos de Adão e os Patriarcas

24. Adão e Eva, depois que foram lançados do Paraíso terrestre, tiveram dois filhos, a quem deram os nomes de Caim e Abel. Já crescidos, Caim dedicou-se à agricultura, e Abel ao pastoreio. Tendo Deus mostrado que estava satisfeito com os sacrifícios de Abel que, piedoso e inocente, ofereceu o melhor do seu rebanho, e desdém para o sacrifício de Caim, que lhe oferecia os piores frutos da terra, este, cheio de raiva e inveja contra seu irmão, levou-o consigo ao campo para se entreterem, arrojou-se sobre ele e o matou.

25. Para consolar Adão e Eva da morte de Abel, o Senhor deu-lhes outro filho, que chamaram Seth, que foi bom e temente a Deus. Adão, durante sua longa vida de novecentos e trinta anos, teve muitos outros filhos e filhas, que se multiplicaram e pouco a pouco povoaram a terra.

26. Entre os descendentes de Seth e os outros filhos de Adão, os anciãos, pais de imensa descendência, estavam à frente das tribos das famílias de seus filhos e netos, e foram príncipes, juízes e sacerdotes. A história os honra com o venerando nome de Patriarcas. A Providência deu-lhes vida muito longa para ensinar seus filhos a religião revelada e que, velando a verdadeira tradição das promessas divinas, perpetuassem a fé no futuro Messias.

O dilúvio

27. Ao longo dos séculos os descendentes de Adão perverteram-se e toda a terra estava repleta de vícios e desonestidades. Por tanta corrupção, em primeiro lugar ameaçou, depois Deus puniu o gênero humano com um dilúvio universal. Então choveu quarenta dias e quarenta noites, até que as águas cobriram as montanhas mais altas. Morreram afogados todos os homens; não se salvaram mais que Noé e sua família.

28. Noé, por ordem de Deus, recebida cem anos antes do dilúvio, havia começado a construir sua Arca, ou um tipo de navio, na qual depois entrou ele com sua mulher e seus filhos, Sem, Cam e Jafet, com as três mulheres destes e com os animais que Deus lhe indicara.

(Do Catecismo Maior de Pio X)