Nice, França, 14 de julho de 2016. Num atentado insano, um terrorista tunisiano investiu um grande caminhão contra uma multidão em festa, que comemorava o feriado nacional na principal avenida à beira mar da cidade de Nice, no sul da França. 84 mortos confirmados, dezenas de feridos em estado grave, o terrorista morto pela polícia francesa. Corpos atropelados e esmagados ao longo de quase dois quilômetros, corpos de crianças mortas ao lado dos seus brinquedos, corpos de franceses e de turistas cobertos pelas toalhas brancas das mesas dos restaurantes da orla. Consternação e dor diante do inexplicável, tangida pela maldade sórdida e demoníaca do inferno quando ele é aqui...
sexta-feira, 15 de julho de 2016
quinta-feira, 14 de julho de 2016
O SÍMBOLO ATANASIANO
O Símbolo Atanasiano (ou Credo de Atanásio), embora atribuído a Santo Atanásio de Alexandria (295-373), foi escrito bem mais tarde, já no século VI, provavelmente por São Cesário, bispo de Arles. Escrito originalmente em latim, constitui uma síntese da doutrina cristã, centrada particularmente nos dogmas da Santíssima Trindade e da Encarnação, pelo que constitui uma oração de especial devoção à Trindade Santa. Infelizmente, no rito litúrgico atual, é utilizado tão somente no domingo dedicado à solenidade da Santíssima Trindade e em ritos de exorcismo, conforme especificação expressa da carta Summorum Pontificum do Papa Bento XVI.
Antífona. Glória a Vós, Trindade igual, única Divindade, antes dos séculos, e agora e sempre (T. P. Aleluia).
- Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica.
- Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade.
- A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus.
- Sem confundir as Pessoas nem separar a substância.
- Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo.
- Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
- Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo.
- O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.
- O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso.
- O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
- E contudo não são três eternos, mas um só eterno.
- Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso.
- Da mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.
- E contudo não são três onipotentes, mas um só onipotente.
- Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.
- E contudo não são três deuses, mas um só Deus.
- Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor.
- E contudo não são três senhores, mas um só Senhor.
- Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores.
- O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém.
- O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado.
- O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho.
- Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos.
- E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si.
- De sorte que, como se disse acima, em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.
- Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.
- Mas, para alcancar a salvacão, é necessário ainda crer firmemente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
- A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.
- É Deus, gerado na substância do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância da sua Mãe.
- Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana.
- Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade.
- E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo.
- É um, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade.
- Um, finalmente, não por confusão de substâncias, mas pela unidade da Pessoa.
- Porque, assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim também a divindade e a humanidade formam um só Cristo.
- Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu aos infernos e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos.
- Subiu aos Ceus e está sentado a direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
- E quando vier, todos os homens ressuscitarão com os seus corpos, para prestar conta dos seus atos.
- E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno.
- Esta é a fé católica, e quem não a professar fiel e firmemente não se poderá salvar.
Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Antífona. Glória a Vós, Trindade igual, única Divindade, antes dos séculos, e agora e sempre (T. P. Aleluia).
V. Senhor, escutai a minha prece.
R. E chegue até Vós o meu clamor.
Oremos. Ó Deus todo-poderoso e eterno, que com a luz da verdadeira fé destes aos vossos servos que conhecessem a glória da Trindade eterna e adorassem a Unidade no poder de vossa majestade: fazei, Vos suplicamos, que, pela firmeza dessa mesma fé, sejamos defendidos sempre de toda a adversidade. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.
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Antíphona. Glória tibi, Trínitas æquális, una Déitas, et ante ómnia saécula, et nunc, et in perpétuum (T. P. Allelúia).
1. Quicúmque vult salvus esse, ante ómnia opus est, ut téneat cathólicam fidem:
2. Quam nisi quisque íntegram inviolatámque serváverit, absque dúbio in ætérnum períbit.
3. Fides autem cathólica hæc est: ut unum Deum in Trinitáte, et Trinitátem in unitáte venerémur.
4. Neque confundéntes persónas, neque substántiam separántes.
5. Alia est enim persóna Patris ália Fílii, ália Spíritus Sancti:
6. Sed Patris, et Fílii, et Spíritus Sancti una est divínitas, æquális glória, coætérna maiéstas.
7. Qualis Pater, talis Fílius, talis Spíritus Sanctus.
8. Increátus Pater, increátus Fílius, increátus Spíritus Sanctus.
9. Imménsus Pater, imménsus Fílius, imménsus Spíritus Sanctus.
10. Ætérnus Pater, ætérnus Fílius, ætérnus Spíritus Sanctus.
11. Et tamen non tres ætérni, sed unus ætérnus.
12. Sicut non tres increáti, nec tres imménsi, sed unus increátus, et unus imménsus.
13. Simíliter omnípotens Pater, omnípotens Fílius, omnípotens Spíritus Sanctus.
14. Et tamen non tres omnipoténtes, sed unus omnípotens.
15. Ita Deus Pater, Deus Fílius, Deus Spíritus Sanctus.
16. Et tamen non tres dii, sed unus est Deus.
17. Ita Dóminus Pater, Dóminus Fílius, Dóminus Spíritus Sanctus.
18. Et tamen non tres Dómini, sed unus est Dóminus.
19. Quia, sicut singillátim unamquámque persónam Deum ac Dóminum confitéri christiána veritáte compéllimur: ita tres Deos aut Dóminos dícere cathólica religióne prohibémur.
20. Pater a nullo est factus: nec creátus, nec génitus.
21. Fílius a Patre solo est: non factus, nec creátus, sed génitus.
22. Spíritus Sanctus a Patre et Fílio: non factus, nec creátus, nec génitus,sed procédens.
23. Unus ergo Pater, non tres Patres: unus Fílius, non tres Fílii: unus Spíritus Sanctus, non tres Spíritus Sancti.
24. Et in hac Trinitáte nihil prius aut postérius, nihil maius aut minus: sed totæ tres persónæ coætérnæ sibi sunt et coæquáles.
25. Ita ut per ómnia, sicut iam supra dictum est, et únitas in Trinitáte, et Trínitas in unitáte veneránda sit.
26. Qui vult ergo salvus esse, ita de Trinitáte séntiat.
27. Sed necessárium est ad ætérnam salútem, ut incarnatiónem quoque Dómini nostri Iesu Christi fidéliter credat.
28. Est ergo fides recta ut credámus et confiteámur, quia Dóminus noster Iesus Christus, Dei Fílius, Deus et homo est.
29. Deus est ex substántia Patris ante saécula génitus: et homo est ex substántia matris in saéculo natus.
30. Perféctus Deus, perféctus homo: ex ánima rationáli et humána carne subsístens.
31. Æquális Patri secúndum divinitátem; minor Patre secúndum humanitátem.
32. Qui, licet Deus sit et homo, non duo tamen, sed unus est Christus.
33. Unus autem non conversióne divinitátis in carnem, sed assumptióne humanitátis in Deum.
34. Unus omníno, non confusióne substántiæ, sed unitáte persónæ.
35. Nam sicut ánima rationális et caro unus est homo: ita Deus et homo unus est Christus.
36. Qui passus est pro salúte nostra: descéndit ad ínferos: tértia die resurréxit a mórtuis.
37. Ascéndit ad cælos, sedet ad déxteram Dei Patris omnipoténtis: inde ventúrus est iudicáre vivos
et mórtuos.
38. Ad cuius advéntum omnes hómines resúrgere habent cum corpóribus suis: et redditúri sunt de factis própriis ratiónem.
39. Et qui bona egérunt, ibunt in vitam ætérnam: qui vero mala, in ignem ætérnum.
40. Hæc est fides cathólica, quam nisi quisque fidéliter firmitérque credíderit, salvus esse non póterit.
Glória Patri...
Antíphona: Glória tibi, Trínitas æquális, una Déitas, et ante ómnia saécula, et nunc, et in perpétuum (T. P. Allelúia).
V. Dómine, exáudi oratiónem meam.
R. Et clamor meus ad te véniat.
Orémus. Omnípotens sempitérne Deus, qui dedísti fámulis tuis, in confessióne veræ fídei, ætérnæ Trinitátis glóriam agnóscere, et in poténtia maiestátis adoráre unitátem: quaésumus; ut eiúsdem fídei firmitáte, ab ómnibus semper muniámur advérsis. Per Dóminum nostrum Iesum Christum Fílium tuum; qui tecum vivit et regnat in unitáte Spíritus Sancti, Deus, per ómnia saécula sæculórum. Amen.
segunda-feira, 11 de julho de 2016
DOS CUIDADOS COM OS MORTOS (VI)
Tudo o que foi escrito até agora serve para resolvermos esta questão: 'como os mártires que se interessam pelas coisas humanas se manifestam, atendendo as nossas orações, uma vez que os mortos ignoram o que fazem os vivos?' Com efeito, sabemos, não por vagos rumores, mas por testemunhas dignas de fé, que o confessor Félix - cujo túmulo tu veneras piedosamente como santo asilo - deu não apenas mostras de seus benefícios, mas até de sua presença, ao aparecer aos olhos dos homens durante o cerco da cidade de Nola pelos bárbaros.
Esses fatos excepcionais acontecem graças à permissão divina e estão longe de entrar na ordem normalmente estabelecida para cada espécie de criatura. Não podemos concluir pelo fato da água ter se transformado em vinho pela palavra do Senhor (Jo 2,9), que a água tenha poder de operar por si mesma essa transformação pela propriedade natural de seus elementos, visto que tratou-se de uma operação divina excepcional e até única! Também o fato de Lázaro ter ressuscitado (Jo 11,44) não significa que todo morto possa se levantar quando quiser ou que possa ser normalmente acordado como qualquer homem adormecido. Uns são os limites do poder humano; outras são as marcas do poder divino. Uns são fatos naturais; outros, miraculosos, ainda que Deus esteja presente na natureza para a manter na existência e a natureza tenha seu lugar inclusive para os milagres.
Assim, é necessário não crer que todos os defuntos - sem exceção - podem intervir nos problemas dos vivos apenas pelo fato de que os mártires tenham obtido curas ou prestado outros socorros. É preciso compreender, ao invés, que é por causa do poder de Deus que os mártires intervêm nos nossos interesses, pois os mortos não possuem tal poder por sua própria natureza.
Há, porém, uma questão que ultrapassa os limites da minha inteligência: como os mártires, que sem sombra de dúvida socorrem seus devotos, aparecem em pessoa e no mesmo momento? Em vários lugares e afastados uns dos outros? A sua ação se faz notar apenas onde se encontra o seu túmulo ou em qualquer outro lugar? Se permanecem confinados na morada reservada aos seus méritos, longe de qualquer relacionamento com os mortais, contentam-se em interceder pelas necessidades daqueles que lhes suplicam? Oram da mesma forma que nós oramos pelos mortos, sem estar presentes e sem saber onde estão e o que fazem?
Não será Deus, o Deus onipotente e onipresente, que não se acha confinado em nós e muito menos afastado de nós, que atende as orações dos mártires, servindo do ministério dos anjos, cuja ação se estende sobre todas as coisas, para distribuir o consolo aos homens que Ele julga ser necessário para enfrentar as misérias da vida presente? Não será Ele que, com poder admirável e infinita bondade, faz resplandecer os méritos dos mártires onde Ele o quer, quando quer, como quer, especialmente nos locais onde se ergueram suas sepulturas, por saber que a lembrança dos sofrimentos suportados em confissão a Cristo, nos é útil para nos confirmar na fé?
Repito: esta é uma questão muito elevada e complexa para mim, de forma que não a posso explicá-la a fundo. Dessas duas hipóteses que indiquei, qual será a verdadeira? Talvez os dois processos sejam empregados em conjunto, de maneira que, às vezes, os mártires nos atendem com sua presença pessoal, e, às vezes, por intermédio dos anjos que tomam a sua forma. Não ouso decidir e preferiria esclarecer-me junto a homens sábios que conheçam o assunto. Não digo que ignore ou imagine que saiba pois é impossível que não haja alguém que saiba porque Deus, em suas liberalidades, concede certos dons a alguns e outros dons a outros, conforme o ensino do Apóstolo que diz que a ação do Espírito Santo manifesta-se em cada um de acordo com uma utilidade comum.
Eis o que diz Paulo: 'Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para utilidade de todos. A um, o Espírito dá a mensagem da sabedoria; a outro, a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro, ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro, ainda, o dom de as interpretar. Mas tudo isso é realizado pelo único e mesmo Espírito, que distribui os seus dons a cada um conforme lhe apraz ' (1Cor 12,7-11). Ora, entre todos esses dons elencados pelo Apóstolo, quem recebeu o dom do discernimento dos espíritos é que conhece essas questões - que agora tratamos - da forma como é necessário conhecer.
Eis o que diz Paulo: 'Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para utilidade de todos. A um, o Espírito dá a mensagem da sabedoria; a outro, a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro, ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro, ainda, o dom de as interpretar. Mas tudo isso é realizado pelo único e mesmo Espírito, que distribui os seus dons a cada um conforme lhe apraz ' (1Cor 12,7-11). Ora, entre todos esses dons elencados pelo Apóstolo, quem recebeu o dom do discernimento dos espíritos é que conhece essas questões - que agora tratamos - da forma como é necessário conhecer.
CAPÍTULO XVII
Creio que esse é o caso do famoso monge João, a quem o imperador Teodósio Magno consultou a respeito de uma guerra civil. De fato, ele possuía o dom da profecia. Mas eu não duvido que os dons sejam distribuídos um por pessoa, isto é, acho que é possível a uma mesma pessoa receber diversos dons.
Certa vez, esse monge João soube que uma mulher muito piedosa desejava vê-lo. Então, através de seu marido, ela insistiu em marcar uma entrevista, mas ele recusou, como costumava a fazer quando se tratava de mulheres. Contudo, disse ao marido: 'Ide e dize à tua esposa que ela me verá esta noite durante o sono'. E, de fato, ela o viu dando-lhe conselhos convenientes a uma mulher cristã casada. Quando acordou, essa mulher contou tudo a seu marido, que conhecera pessoalmente esse homem de Deus e o reconheceu tal como ela o descreveu. O casal, então, revelou esse fato a um senhor que me comunicou, senhor esse sério, nobre e digno de fé.
Ora, se me fosse possível encontrar esse santo monge que, como me disseram, se deixava interrogar pacientemente, sabendo responder tudo com grande sabedoria, perguntar-lhe-ia algo que nos interessa aqui: se ele realmente se apresentou a essa mulher que dormia, pessoalmente, sob os traços aparentes do seu corpo, tal como os nossos corpos se apresentam a nós mesmos durante nossos sonhos; ou se a visão ocorreu pelo ministério dos anjos ou outra modalidade, enquanto ele mesmo fazia outra coisa ou até mesmo dormia, tendo seus próprios sonhos. E, caso confirmasse esta segunda hipótese, perguntar-lhe-ia se foi por uma revelação do Espírito de profecia que pôde prometer sua aparição naquela noite, durante o sonho da mulher.
Ora, se ele se apresentou pessoalmente em sonho à mulher, ele o fez por uma graça extraordinária e não por meios naturais, isto é, por um dom de Deus e não por seu próprio e natural poder. Mas, se essa mulher o viu enquanto ele fazia uma outra coisa (por exemplo: estivesse ele dormindo e tendo seus próprios sonhos), o fato se assemelhará ao que lemos nos Atos dos Apóstolos, quando o Senhor Jesus, falando a Ananias sobre Saulo, revela-lhe que Saulo vê Ananias ir até ele, ao passo que este nada sabia sobre isso ( At 9,12).
Porém, qualquer que fosse a resposta dada pelo monge João, esse homem de Deus, às minhas perguntais, eu ainda o teria questionado sobre os mártires. Perguntar-lhe-ia se eles aparecem pessoalmente durante o sono ou outro modo, sob figura que lhes apraz. E perguntaria, principalmente, como explicar o fato de demônios que habitam pessoas possessas queixarem-se de ser atormentados pelos mártires, a ponto de suplicarem que sejam poupados. Ainda lhe perguntaria se a sua intervenção se produz por ordem de Deus e pelo ministério dos anjos, para a glorificação dos santos e utilidade dos homens, já que os mártires encontram-se em repouso, longe de nós, em visões mais altas, contentando-se em orar por nossa intenção.
De fato, em Milão, junto à sepultura de Gervásio e Protásio, quando se pronunciava os nomes desses heróis e dos falecidos comemorados com eles, os demônios gritavam o nome de Ambrósio, que ainda era vivo, suplicando-lhe que os poupasse. E o bispo encontrava-se longe dali, ignorando o que se passava e entretido com outras ocupações. Será que podemos pensar que os mártires às vezes agem por presença efetiva e outras vezes pelos ministérios dos anjos? Podemos discernir o modo empregado por eles? Sob quais sinais podemos reconhecer isso? Somente quem recebeu esse dom do Espírito Santo é que pode discernir, pois é o Espírito que distribui os favores particulares a cada um, conforme lhe apraz.
De fato, em Milão, junto à sepultura de Gervásio e Protásio, quando se pronunciava os nomes desses heróis e dos falecidos comemorados com eles, os demônios gritavam o nome de Ambrósio, que ainda era vivo, suplicando-lhe que os poupasse. E o bispo encontrava-se longe dali, ignorando o que se passava e entretido com outras ocupações. Será que podemos pensar que os mártires às vezes agem por presença efetiva e outras vezes pelos ministérios dos anjos? Podemos discernir o modo empregado por eles? Sob quais sinais podemos reconhecer isso? Somente quem recebeu esse dom do Espírito Santo é que pode discernir, pois é o Espírito que distribui os favores particulares a cada um, conforme lhe apraz.
Creio que o monge João, a meu pedido, poderia me esclarecer sobre essas dificuldades. Em sua escola eu poderia aprender o verdadeiro e correto conhecimento, ou até mesmo poderia crer - mesmo sem o compreender - naquilo que me afirmasse saber com certeza. Talvez até ele me responderia com as seguintes palavras da Escritura: 'Não procures saber o que excede a tua capacidade e não especules o que ultrapassa as tuas forças; mas creia sempre no que Deus te mandou (Ecl 3,22). Com gratidão, eu também acolheria esse conselho, pois não é de pouco proveito, nas coisas obscuras e incertas - e que não podemos compreender, adquirir a convicção clara e correta de que elas não devem ser investigadas, ou seja, convencer-se de que não é nocivo ignorar aquilo que se quer saber, imaginando que poderíamos tirar proveito em o saber.
PARTE V
CAPÍTULO XVIII
Conforme o que expomos anteriormente, eis o que devemos pensar a respeito dos benefícios prestados aos mortos a quem dedicamos os nossos cuidados: nossas súplicas só lhes serão proveitosas se forem oferecidas de modo conveniente, no sacrifício do altar, em nossas orações e esmolas. Também é necessário dizer que [nossas súplicas] não serão proveitosas a todos a quem pretendemos ajudas, mas tão somente àqueles que tornaram-se dignos, durante a vida, de receber tal benefício.
Contudo, como não podemos discernir quem sejam, convém apresentar súplicas a todos os regenerados, para que não venhamos a omitir alguém entre aqueles que possam se servir desses benefícios. Melhor ainda é que haja sobras dessas boas obras, mesmo oferecidas para aqueles que não podem se beneficiar delas, para que não venham a faltar para aqueles que podem tirar proveito. Entretanto, é mais natural que sejam oferecidas pelos amigos, a fim de que tais cuidados também sejam prestados mais tarde a nós.
Contudo, como não podemos discernir quem sejam, convém apresentar súplicas a todos os regenerados, para que não venhamos a omitir alguém entre aqueles que possam se servir desses benefícios. Melhor ainda é que haja sobras dessas boas obras, mesmo oferecidas para aqueles que não podem se beneficiar delas, para que não venham a faltar para aqueles que podem tirar proveito. Entretanto, é mais natural que sejam oferecidas pelos amigos, a fim de que tais cuidados também sejam prestados mais tarde a nós.
Tudo o que se faz quanto ao sepultamento digno dos falecidos não é para obter a sua salvação, mas para cumprir um dever de humanidade, conforme o sentimento natural de que 'ninguém odeia a sua própria carne' ( Ef 5,29). Portanto, é certo que se tenha pelo corpo do próximo o cuidado que ele próprio não pode mais se dar por ter deixado esta vida. E, já que esse cuidado é tido até mesmo por aqueles que negam a ressurreição da carne, nada mais justo que aqueles que creem [na ressurreição] o façam ainda com maior solicitude. Assim, que o cuidado tributado a esse corpo sem vida - mas que haverá de ressuscitar e permanecer por toda a eternidade - se constitua no testemunho claro dessa mesma fé. Quanto à sepultura próxima ao túmulo dos mártires, eis a única utilidade que me parece trazer para o defunto: colocando-a sob a proteção dos mártires, ela torna mais viva a caridade daqueles que oram por ele.
Tais são as respostas que posso apresentar às tuas questões. Desculpa-me se me estendi por demais, mas isso decorre do prazer e afeição que sinto ao conversar contigo. Peço-te que me escrevas, para que eu possa conhecer as impressões que Vossa Venerável Caridade sentiu ao ler este trabalho. Sem sombra de dúvida, o portador desta carta torna-la-á mais agradável. Trata-se do nosso irmão no sacerdócio, Candidiano, que conheci por ter-me trazido as tuas cartas. Acolhi-o de coração e vejo-o partir com pesar, pois sua presença na caridade de Cristo foi grande consolo para mim. Graças à sua insistência - devo confessar - vi-me obrigado a responder-te, pois o meu coração está sobrecarregado por muitas e muitas preocupações; se ele não me lembrasse frequentemente, certamente teria me esquecido e o teu pedido ficaria sem resposta.
Tais são as respostas que posso apresentar às tuas questões. Desculpa-me se me estendi por demais, mas isso decorre do prazer e afeição que sinto ao conversar contigo. Peço-te que me escrevas, para que eu possa conhecer as impressões que Vossa Venerável Caridade sentiu ao ler este trabalho. Sem sombra de dúvida, o portador desta carta torna-la-á mais agradável. Trata-se do nosso irmão no sacerdócio, Candidiano, que conheci por ter-me trazido as tuas cartas. Acolhi-o de coração e vejo-o partir com pesar, pois sua presença na caridade de Cristo foi grande consolo para mim. Graças à sua insistência - devo confessar - vi-me obrigado a responder-te, pois o meu coração está sobrecarregado por muitas e muitas preocupações; se ele não me lembrasse frequentemente, certamente teria me esquecido e o teu pedido ficaria sem resposta.
('De Cura pro Mortuis Gerenda' - O Cuidado Devido aos Mortos, de Santo Agostinho - Parte VI e Final)
domingo, 10 de julho de 2016
O BOM SAMARITANO
Páginas do Evangelho - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum
E Jesus, então, lhes conta uma pequena história: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó...' (Lc 10, 30). Um certo homem... provavelmente um judeu como eles, deslocando-se de Jerusalém para Jericó, a cerca de 30 km e em altitude bem mais baixa que Jerusalém. Sem dúvida, tratava-se de um homem de posses e descuidado de sua segurança, pois viajava sozinho. E eis que, então, o homem é assediado por assaltantes, tem os seus bens saqueados e, mais que isso, é espancado e ferido brutalmente, até ser abandonado semimorto à beira da estrada.
E no local da encenação deste drama comovente, vão passar três personagens singulares: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros, anestesiados pelos seus interesses e preocupações mundanas e imbuídos do frio calculismo dos incômodos e perturbações que uma tal ação de socorro poderia lhes causar, vão passar insensíveis ao largo do homem ferido. Muito diferente será a reação do viajante samaritano que, não apenas pára para socorrer o pobre homem, como alivia as suas dores e, mais ainda, assume a responsabilidade pelo completo restabelecimento da sua saúde e pela cura dos seus ferimentos.
'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!
'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!
sábado, 9 de julho de 2016
09 DE JULHO - SANTA PAULINA DO CORAÇÃO AGONIZANTE DE JESUS
A primeira santa brasileira nasceu Amábile Lúcia Visintainer em Vigolo Vittaro (Itália), em 16 de dezembro de 1865. A família imigrou para o Brasil quando Amábile tinha apenas 9 anos, fixando-se no povoado de Vigolo, em Nova Trento (SC), que recebeu o mesmo nome de sua terra natal. Aos 25 anos, após a morte da mãe, deu início, junto à amiga Virgínia Rosa Nicolodi, à obra que hoje é conhecida no Brasil inteiro e em muitos países como Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada pela santa madre no dia 12 de julho de 1890.
Em dezembro de 1895, Amábile e as duas primeiras companheiras (Virgínia e Teresa Anna Maule) fizeram os votos religiosos e Amábile recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. A santidade e a vida apostólica de Madre Paulina e de suas Irmãs atraíram muitas vocações, apesar da pobreza e das dificuldades em que viviam.
Em 1903, Madre Paulina foi eleita Superiora Geral por toda a vida pelas Irmãs da nascente congregação, que deixou Nova Trento e estabeleceu-se em São Paulo. Neste período, sofreu grandes perseguições que culminaram em sua destituição e afastamento da própria Congregação que havia fundado. Somente em 1918, foi readmitida na mesma, passando, então, a morar na casa-sede da congregação no Bairro do Ipiranga em São Paulo, onde permaneceu até a sua morte.
Em 1938, tiveram início os sérios problemas de diabetes, que a levaram a amputar um braço e a ficar completamente cega. Morreu piedosamente aos 76 anos, em 9 de julho de 1942, sendo suas últimas palavras as de sua habitual jaculatória: "Seja feita a vontade de Deus".
Em 1933, o Papa Pio XI assinou o Decreto de Louvor reconhecendo a importância de sua obra de caridade. O processo de canonização de Madre Paulina teve início em 1965. A primeira Santa do Brasil foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 18 de outubro de 1991, em Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil.
Hoje, com a cerimônia da beatificação professamos nossa fé na Comunhão dos Santos. E ao mesmo tempo, consolida-se nossa esperança de santidade, de participação na vida de Deus. Ora, os santos nos indicam o caminho desta esperança. Deste modo cumprem eles uma particular tarefa dentro da missão evangelizadora da Igreja sobre a terra, e proclamam a vocação cristã à santidade. Eles nos exortam: “Revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cfr. Cl 3, 14).
4. Foi precisamente esta capacidade de manter-se constantemente unida a Deus e, ao mesmo tempo, de desenvolver um intensíssimo trabalho pelo bem das almas, que caracterizou a vida da Beata Paulina do Coração de Jesus Agonizante. A Igreja a propõe, a partir de hoje, como modelo de vida a ser admirado e imitado.
5. Deus disse a Abraão: “Deixa tua terra, tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que eu te mostrar” (Gn 12, 1). Ele repete hoje a todos nós, a cada um de nós: deixa tua terra, que é um lugar de passagem, deixa o lugar da casa dos teus pais, lugar de tantas gerações - e vai para a terra que eu te indicar. A Beata Paulina do Coração de Jesus Agonizante seguiu este chamado de Cristo. Que o exemplo de Madre Paulina possa inspirar a todos uma resposta decidida, generosa, ao chamado de Cristo à santidade! Confio à proteção materna da Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Desterro como A venerais aqui em Florianópolis, o presente e o futuro da Igreja no Brasil. Ela precisa, hoje, mais do que nunca, de santos!
EXCERTOS DA HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
NA CELEBRAÇÃO DA MISSA DE BEATIFICAÇÃO
DE MADRE PAULINA
NA CELEBRAÇÃO DA MISSA DE BEATIFICAÇÃO
DE MADRE PAULINA
Florianópolis, 18 de Outubro de 1991
1. Minha alegria no dia de hoje, queridos irmãos e irmãs de Florianópolis e de Santa Catarina, tem um motivo todo especial: a beatificação da Madre Paulina do Coração de Jesus Agonizante. Ela é, na verdade, uma representante bem legítima do povo catarinense. Como os pais e os avós de muitos dos que aqui estão, pertence ela a uma destas famílias que aqui chegaram no século passado e deram uma feição toda especial à terra catarinense.Foi uma destas famílias, vindas do Tirol e radicadas na região de Nova Trento, que deu ao Brasil e à Igreja a Madre Paulina. Hoje, diante de vós, ela será elevada pelo Papa à glória dos altares.
2. Como foi que a Madre Paulina, que hoje proclamaremos beata, se revestiu desta caridade? O que mais se destaca na vida dos santos é sua capacidade de despertar o desejo de Deus, naqueles que tem a felicidade de deles se aproximar. Foi precisamente este o dom vivido em sumo grau por Madre Paulina. Soube ela converter todas as suas palavras e ações, num contínuo ato de louvor a Deus. Durante a juventude pediu a Deus a graça de entrar na vida religiosa com o único fim de amá-Lo e de servi-Lo com a maior perfeição possível. Sua conformidade com a vontade de Deus, levou-a a uma constante renúncia de si mesma, não recusando qualquer sacrifício para cumprir os desígnios divinos, especialmente no período, particularmente heróico, da sua destituição como Superiora Geral da Congregação por ela fundada.
Fruto desse grande amor de Deus, foi a caridade vivida pela Serva de Deus, desde menina até o último instante de sua vida terrena, em relação a todos que conviveram com ela. No seu testamento espiritual ela escreveu: Muito vos encareço que haja entre todas a santa Caridade, especialmente para com os doentes das Santas Casas, (os velhos) dos asilos, etc. Tende grande apreço pela prática da santa Caridade. Esse estar-para-os-outros, constituiu-se como o pano de fundo de toda sua vida. Os pobres e os doentes, foram os dois ideais da vida ascética da Madre Paulina, que, no seu serviço encontrava o incentivo para crescer no amor de Deus e na prática das virtudes.
3. Queridas filhas da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, o exemplo de santidade de vossa Madre Fundadora, recolhe esta mensagem perene que a Santa Igreja guarda como tesouro precioso.Ser santo significa opor-se ao pecado, à ruptura com Deus.A Igreja existe para a santificação dos homens em Cristo. É esta santidade que ela deve levar também aos homens do mundo secularizado para que não se profanizem. Por isso ela ensina também que santidade não é “alienação”, como às vezes se ouve dizer, mas uma maior familiaridade com as realidades mais profundas de Deus.
sexta-feira, 8 de julho de 2016
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