terça-feira, 14 de janeiro de 2014

II SÃO PEDRO, 2

Perseverança, fidelidade, retidão, obediência, pureza de coração. Num mundo cada vez mais dominado pela ação devastadora do demônio e da demência do mal provocada por homens que se fizeram seus escravos, é preciso, contra a onda avassaladora desta loucura diabólica, manter-se de pé e vigilantes na oração. Viver a cada dia, a perseverança nAquele que, pregado na cruz, na cruz cravou a salvação do mundo! Tomai tento, pois, das santas palavras de Pedro contra os filhos da perdição:



1. Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina.

2. Muitos os seguirão nas suas desordens e serão deste modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado.

3. Movidos por cobiça, eles vos hão de explorar por palavras cheias de astúcia. Há muito tempo a condenação os ameaça, e a sua ruína não dorme.

4. Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os precipitou nos abismos tenebrosos do inferno onde os reserva para o julgamento;

5. se não poupou o mundo antigo, e só preservou oito pessoas, dentre as quais Noé, esse pregador da justiça, quando desencadeou o dilúvio sobre um mundo de ímpios;

6. se condenou à destruição e reduziu à cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra para servir de exemplo para os ímpios do porvir;

7. se, enfim, livrou o justo Lot, revoltado com a vida dissoluta daquela gente perversa

8. (esse justo que habitava no meio deles sentia cada dia atormentada sua alma virtuosa, pelo que via e ouvia dos seus procedimentos infames),

9. é porque o Senhor sabe livrar das provações os homens piedosos e reservar os ímpios para serem castigados no dia do juízo,

10. principalmente aqueles que correm com desejos impuros atrás dos prazeres da carne e desprezam a autoridade. Audaciosos, arrogantes, não temem falar injuriosamente das glórias,

11. embora os anjos, superiores em força e poder, não pronunciem contra elas, aos olhos do Senhor, o julgamento injurioso.

12. Mas estes, quais brutos destinados pela lei natural para a presa e para a perdição, injuriam o que ignoram, e assim da mesma forma perecerão. Este será o salário de sua iniquidade.

13. Encontram as suas delícias em se entregar em pleno dia às suas libertinagens. Homens pervertidos e imundos, sentem prazer em enganar, enquanto se banqueteiam convosco.

14. Têm, os olhos cheios de adultério e são insaciáveis no pecar. Seduzem pelos seus atrativos as almas inconstantes; têm o coração acostumado à cobiça; são filhos da maldição.

15. Deixaram o caminho reto, para se extraviarem no caminho de Balaão, filho de Bosor, que amou o salário da iniquidade.

16. Mas foi repreendido pela sua desobediência: um animal mudo, falando com voz humana, refreou a loucura do profeta.

17. Estes são fontes sem água e nuvens agitadas por turbilhões, destinados à profundeza das trevas.

18. Com palavras tão vãs quanto enganadoras, atraem pelas paixões carnais e pela devassidão aqueles que mal acabam de escapar dos homens que vivem no erro.

19. Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois o homem é feito escravo daquele que o venceu.

20. Com efeito, se aqueles que renunciaram às corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador nelas se deixam de novo enredar e vencer, seu último estado torna-se pior do que o primeiro.

21. Melhor fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, depois de tê-lo conhecido, tornarem atrás, abandonando a lei santa que lhes foi ensinada.

22. Aconteceu-lhes o que diz com razão o provérbio: 'O cão voltou ao seu vômito' e 'a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal'.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

CONFIANÇA EM DEUS

Meu Deus, estou tão persuadido de que velais pelos que em Vós confiam, e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que determinei viver para o futuro sem preocupação alguma, e descarregar em Vós o peso dos meus cuidados. Eu ao mesmo tempo dormirei em paz, porque Vós, Senhor, me constituístes na esperança (Sl 4, 9-10).

Podem os homens despojar-me dos bens e da honra, podem as doenças privar-me das forças e dos meios para Vos servir, posso até perder a graça, pelo pecado, mas o que nunca perderei é a confiança. Conservá-la-ei até o último alento da minha vida, apesar de todas as potências infernais empregarem então, ainda que debalde, esforços para arrancá-la de mim. Eu ao mesmo tempo dormirei e descansarei em paz.

Senhor, toda a minha confiança é esta mesma confiança. Ela nunca enganou ninguém. Ninguém confiou no Senhor e ficou confundido (Ecl. 2, 11).

Estou, pois, certo de que serei eternamente feliz, porque firmemente espero sê-lo. E é de Vós, ó meu Deus, que o espero. Confiei em Vós, Senhor, e jamais serei iludido (Sl 30, 2).

Eu conheço e demasiado sei como sou frágil e volúvel. Não ignoro o que podem as tentações contra as virtudes mais firmes, pois vi cair os astros do céu e as colunas do firmamento. Mas nada disso me aterroriza. Enquanto eu esperar, ficarei a coberto de todas as desgraças. E estou seguro de esperar sempre, porque espero até esta invariável esperança.

Enfim, estou convencido de que não é demais tudo o que espero de Vós, e que não poderei ter menos do que aquilo que de Vós tiver esperado. Deste modo, confio que freareis as minhas inclinações mais impetuosas, que me defendereis até dos assaltos mais violentos e fareis triunfar a minha fraqueza dos meus mais temíveis inimigos.

Espero que me amareis sempre, e que também Vos hei de amar incessantemente. E para levar de vez a minha confiança tão longe quanto pode ir, de Vós mesmo Vos espero, ó meu Criador, para o tempo e para a eternidade. Amém.

(Bem-aventurado Cláudio de la Colombière)

domingo, 12 de janeiro de 2014

O BATISMO DE JESUS

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo do Tempo Comum 

O Batismo de Cristo - Bartolomé Murillo (1618 - 1682)

No Evangelho do Batismo do Senhor, encerra-se na liturgia o tempo do Natal. João Batista, nas águas do Jordão, realizava um batismo de penitência, de ação meramente simbólica, pois não imprimia ao batizado o caráter sobrenatural e a graça santificante imposta pelo Batismo Sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso mesmo vai protestar diante o Senhor: 'Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?' (Mt 3, 14). Mas Jesus vai consolar suas preocupações em nome das palavras dos profetas: 'Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!' (Mt 3, 15).

O Batismo de Jesus constitui, ao contrário, um ato litúrgico por excelência, pois o Senhor se manifesta publicamente em sua missão salvífica. Chega ao fim o tempo dos Profetas: o Messias tão anunciado torna-se realidade diante o Precursor nas águas do Jordão. E o batismo de Jesus é um ato de extrema humildade e de misericórdia de Deus: assumindo plenamente a condição humana, Jesus quis ser batizado por João não para se purificar pois o Cordeiro sem mácula alguma não necessitava do batismo, mas para purificar a humanidade pecadora sob a herança dos pecados de Adão. Ao santificar as águas do Jordão e nelas submergir os nossos pecados, Jesus santificou todas as águas do Batismo Sacramental de todos os homens assim batizados.

Após ter recebido o batismo de João, 'o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus...' (Mt, 3, 16). Nas margens do Jordão, no mistério insondável do Filho na intimidade com o Pai, manifesta-se pela primeira vez a Santíssima Trindade, ratificada pela pomba e pela voz que vem do Céu: 'Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado' (Mt 3, 17). No batismo do Jordão, manifesta-se em plenitude a divindade de Cristo. 

Eis a síntese da nossa fé cristã, expressa nas palavras da primeira Carta de João: 'Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele' (1 Jo 4, 16). No Jordão, o céu se abriu para o Espírito Santo descer sobre a terra. No Jordão, igualmente, manifestou-se por inteiro o perdão e a misericórdia de Deus e a graça da salvação humana por meio do batismo. Com o batismo de Jesus, e a partir do batismo de Jesus, tem início a vida pública do Messias preanunciado por gerações. Esta liturgia marca o início do Tempo Comum, período em que a Igreja acompanha, a cada domingo, a cada semana,  as pregações, ensinamentos e milagres de Jesus sobre a terra, o tempo em que o próprio amor de Deus habitou em nós. 


Páginas do Evangelho - Festa da Epifania do Senhor

Reis Magos, Andrea Mantegna (1431-1506)

Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente. 

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus  é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt 2, 11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra ' (Gn, 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria:   'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt, 2, 11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás 'seguindo outro caminho' (Mt, 2, 12). 

sábado, 11 de janeiro de 2014

AS PALAVRAS DE MARIA



Na Anunciação:

'Como vai acontecer isto, se não conheço nenhum homem?' (Lc 1, 34)

 
'Eis aqui a escrava do senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra' (Lc 1, 38)




Em visita à Isabel: 


'Minha alma proclama a grandeza do Senhor... conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre' (Lc 46-55)





Na perda e reencontro de Jesus no templo: 


'Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição' (Lc 2, 48).





Nas bodas de Caná: 


'Eles não têm mais vinho!' (Jo 2, 3) 


'Façam o que ele vos mandar!' (Jo 2, 5) 



(Palavras de Nossa Senhora nos textos bíblicos)




OS SILÊNCIOS DE MARIA

A vida de Maria possui muitos e eloquentes silêncios, desses que falam mais que mil discursos. O primeiro deles é aquele que se refere à vida antes da anunciação. Quem era Maria? Os Evangelhos nada falam sobre o passado de Maria. Omitem o nome de seus pais e não nos dão qualquer informação. O evangelista Lucas revela que ela era imaculada, cheia da graça de Deus, virgem prometida a José. E só. Antes disso, um grande e misterioso silêncio, que nos deixa curiosos e sem respostas. 

Somente Maria sabia quando seria a plenitude dos tempos (cf. Gl 4, 4), o kairós em que a Palavra se haveria de transformar. O segundo silêncio de Maria sobre o mistério da encarnação gerou a dúvida de José, que depois seria visitado em sonhos pelo anjo (cf. Mt 1, 20s). O terceiro silêncio de Maria poderíamos buscá-lo em sua vida oculta, no lar de Nazaré. Desde a gruta de Belém, ao exílio no Egito e no retorno à Galileia, a mãe de Jesus guardou silencioso recolhimento em seu coração. Ela, até o início da vida pública, não diria nada, a ninguém, a respeito de seu Filho. Ela não procurava, como nós, as glórias do mundo que os homens dão às pessoas importantes. Ela apenas curtiu os grandes e fecundos silêncios de Deus. Um silêncio que nós hoje não sabemos fazer... 

Na vida pública de Jesus encontramos o quarto silêncio de Maria. Mesmo acompanhando o filho em tantas atividades missionárias, enquanto Jesus evangelizava com discursos, denúncias, curas e grande sinais, ela o fazia de outro modo. Com oração, presença e silêncio. Nesse período, ela só falou em Caná, lugar privilegiado do primeiro milagre. Primeiro disse ao Filho que o vinho faltara naquela festa. Depois, aos serventes (e continua dizendo a nós) o façam tudo que ele disser a vocês! (cf. Jo 2, 5). 

Maria esteve presente e silenciosa na cruz. De pé e calada (cf. Jo 19, 25). O quinto e expressivo silêncio de Maria, que coroa sua vida terrena, aconteceu depois da ascensão de Jesus. Depois da subida do Filho aos céus, cai um silêncio profundo sobre a vida de Maria. Onde morou depois ? Quantos anos mais ainda viveu? Na caminhada da Igreja que nasce sente-se a presença de Maria; sente-se um silêncio, uma animação. No silêncio de Maria a Igreja aprende a caminhar na direção do Reino. Do Antigo Testamento, Maria tirou as lições silenciosas de aceitação à soberana vontade de Javé: Por acaso a argila pergunta ao oleiro: ‘O que estás fazendo ?’(cf. Is 45, 9b). 

Sentindo-se barro nas mãos do artista, Maria acolhe, no silêncio da fé e da humildade, suas missões. Em suas pregações, Jesus haveria, posteriormente, de exaltar essa silenciosa humildade: ‘Quem se humilha será exaltado’ (cf. Lc 14, 11)”. Nos livros sapienciais do Antigo Testamento, encontramos o silêncio como figura de algo eficaz: Enquanto um silêncio profundo envolvia todas as coisas, e a noite estava pela metade, a tua Palavra, todo-poderosa veio do alto do céu, do seu trono real, e lançou-se sobre a terra (cf. Sb 18, 14ss). 

Jesus, há quem diga, aprendeu o cerne das bem-aventuranças no silêncio do seio de Maria, sua mãe. Nesse silêncio expressivo Cristo foi gerado. Ali 'o verbo se fez carne', a Palavra tornou-se homem, a salvação começou a tomar corpo, a Igreja surgiu. Silêncio pode significar uma porção de coisas. No caso de Maria, não é passividade, mas introspecção; não é apatia, mas revolucionária e transformante atividade. É seiva humilde alimentando um majestoso cedro. 

O silêncio de Maria não é estéril ou inócuo. Pelo contrário, ele é rico em revelações, prodigioso em encontros. É difícil tirar-se lições do silêncio. Em geral o que comove, convence e efetua mudanças, são as palavras, os discursos, os debates. No caso de Maria, mãe de Jesus, dá-se o inverso. Ela é a mãe silenciosa que ama, crê, sofre, espera... e por isso seu exemplo de silêncio traz consigo uma carga evangelizadora superior a milhares de palavras.

(Excertos da obra 'O silêncio de Maria', de A.M. Galvão) 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A PENA DE MORTE E A LEI DE DEUS

A pena de morte não constitui um ato contrário à Lei de Deus: 

Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem (Gn 9,6).

Deus permite a aplicação da pena de morte e deu autoridade ao governo formal para a sua aplicação:

Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus. Assim, aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação. Em verdade, as autoridades inspiram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor. Porque ela é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal (Rom 13, 1-4).

Por amor do Senhor, sede submissos, pois, a toda autoridade humana, quer ao rei como a soberano, quer aos governadores como enviados por ele para castigo dos malfeitores e para favorecer as pessoas honestas (I Pe, 2, 13-14).

A Lei do Antigo Testamento impunha a pena de morte a todos os que cometessem assassinato (Ex 21,12); sequestro (Ex 21, 16), deitar-se com animais (Ex 22, 19), adultério (Lev 20, 10), homossexualismo (Lev 20, 13), incesto (Lev 20, 14), falso profetismo (Deut 13, 5) e vários outros crimes. 

Jesus, diante das ofensas do mau ladrão e da súplica do bom ladrão no Calvário, não se pronunciou contra a morte deles na cruz pelos crimes cometidos, fato inclusive reconhecido e acatado como justo e merecido pelo bom ladrão (Lc 23, 41). Mas Jesus concedeu a ele, como fruto de sua misericórdia, o perdão destes pecados e a salvação eterna de sua alma (Lc 23, 43). Esse ato extremado de misericórdia de Jesus não prescindiu do ladrão arrependido a morte na cruz, como expiação pelos crimes cometidos. 

Assim, a Igreja aplica essa mesma misericórdia ao mais vil dos pecadores diante do patíbulo ou do cadafalso, diante do pelotão de fuzilamento ou na cadeira elétrica, seja qual for a forma da aplicação da pena de morte, não no sentido de detê-la ou de contestá-la, mas na súplica a Deus pela conversão, no limite máximo da vida humana, de uma alma criada pela glória de Deus desde a eternidade. Do mesmo modo e segundo o mesmo exemplo do Bom Jesus no Calvário.



quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A FÉ EXPLICADA (XII)

OS CINCO 'NÃO' IMUTÁVEIS DA IGREJA ...

Com base nos ensinamentos e documentos doutrinários da Igreja, no Catecismo da Igreja Católica e em Encíclicas Papais, existem cinco questões que são absoluta e irrevogavelmente imorais para a Santa Igreja Católica, contempladas per si como intrinsecamente más, constituindo atos imorais por princípio e de condenação expressa e imutável. As ações intrinsecamente más são aquelas que conflitam com a lei moral, não podendo ser realizadas nunca, quaisquer que sejam as circunstâncias. Resulta, portanto, pecado grave (mortal) consentir, endossar ou promover qualquer uma dessas ações de forma consciente e deliberada, que são as seguintes:

1. Aborto

A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida (do Catecismo da Igreja Católica).

Antes mesmo de te formares no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei (Jr 1,5). Meus ossos não te foram escondidos quando eu era feito, em segredo, tecido na terra mais profunda (Sl 139,15).

O aborto é a morte intencional e direta de um ser humano inocente, e, portanto, é uma forma de homicídio. O nascituro é sempre parte inocente, e nenhuma lei pode permitir o sacrifício de sua vida. Ainda que uma criança seja concebida por meio de estupro ou incesto, a culpa não é da criança e ela não deve sofrer a pena de morte pelos pecados terríveis de outras pessoas.

Questões correlatas (e igualmente não-negociáveis) compreendem as tecnologias de reprodução humana, incluindo os métodos de fertilização in vitro e os processos de contracepção e de esterilização.

2. Eutanásia

A eutanásia também é uma forma de homicídio. Nenhuma pessoa tem o direito de tirar sua própria vida e ninguém tem o direito de tirar a vida de qualquer pessoa inocente. Assim, uma ação ou uma omissão que, em si ou na intenção, consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas, a fim de suprimir a sua dor, constitui um ato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito pelo Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo no qual se pode ter caído de boa-fé não muda a natureza deste ato assassino, que sempre deve ser condenado e excluído.

3. Pesquisas com células embrionárias

Os embriões humanos são seres humanos. Uma vez que deve ser tratado como pessoa desde a concepção, o embrião terá de ser defendido na sua integridade, tratado e curado, na medida do possível, como qualquer outro ser humano. Avanços científicos recentes mostram que os tratamentos médicos que os pesquisadores esperam desenvolver, a partir de experiências com células-tronco embrionárias, podem muitas vezes ser desenvolvido usando células-tronco adultas em seu lugar. Assim, não há argumento médico válido em favor do uso de células-tronco embrionárias. E mesmo que houvesse tais benefícios, estes não podem ser justificados mediante a destruição de seres humanos embrionários inocentes.

4. Clonagem Humana

Quaisquer tentativas para a obtenção de um ser humano, dissociando o ato sexual como ato procriador, são contrárias à lei moral, uma vez que eles estão em oposição à dignidade tanto da procriação humana como da própria união conjugal. A clonagem humana envolve também o aborto porque os clones mal sucedidos ou rejeitados (que são seres humanos) são destruídos.

5. 'Casamento' homossexual


O casamento é um ato de união livre entre um homem e uma mulher e nunca entre pessoas do mesmos sexo. Por serem intrinsecamente desordenados e contrários à lei natural, os atos de homossexualidade são gravemente imorais e não podem ser aprovados em hipótese alguma pelos católicos, o que torna o chamado 'casamento' homossexual um acordo objetivamente imoral.

E OS QUE NÃO SÃO IMUTÁVEIS...

Um católico pode e deve ter posições políticas bem definidas. Um católico pode ter posições políticas diversas sobre muitos assuntos: educação dos filhos, investimentos, vida saudável, defesa do meio ambiente, políticas públicas, segurança, etc. Um católico pode ter abordagens distintas a muitos assuntos polêmicos. Assim, pode ser legitimamente a favor ou contra a pena de morte ou a favor ou contra a imposição de um estado de guerra; isso porque a Igreja não estabelece a estas questões um não definitivo e imutável, como às cinco questões apresentadas acima. Evidentemente, a Igreja exorta as autoridades civis a conviverem na paz e a exercer discrição e misericórdia ao impor punição aos criminosos, mas reconhece que a autoridade legítima tem o direito de atribuir a pena capital e o estado de guerra em circunstâncias específicas.