sábado, 22 de julho de 2023

DOUTORES DA IGREJA (XVIII)

18Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo (†1787)

Doutor Zelantíssimo

Concessão do título: 1871 - Papa Pio IX

Celebração: 01 de agosto (Memória Obrigatória)

 Obras e Escritos 

  • Teologia Moral
  • As Glórias de Maria
  • A Prática do Amor a Jesus Cristo
  • A Oração
  • A Selva
  • O Caminho da Cruz
  • A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo
  • Preparação para a Morte
  • História das Heresias e suas Refutações
  • Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
  • Meditações para Todos os Dias do Ano
  • Tratado da Castidade
  • Tratado da Conformidade com a Vontade de Deus
  • O Sagrado Coração de Jesus
  • A Vocação Religiosa
  • Uma Estrada de Salvação
  • Visitas ao Santíssimo Sacramento
  • A Verdadeira Esposa de Cristo
  • Novena do Divino Espírito Santo
  • Reflexões Úteis aos Bispos
  • Cartas 
  • Hinos

sexta-feira, 21 de julho de 2023

453 ANOS DA BULA DE PIO V

'Da mesma forma, decretamos e declaramos que os Prelados, Administradores, Cônegos, Capelães e todos os outros Padres seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal, e a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a sua força'.



SÃO PIO V, ROGAI POR NÓS!

E livrai a Santa Igreja do modernismo, do islamismo ressurgente, do ecumenismo, do indiferentismo e do mundanismo. Intercedei junto a Deus pelos vossos sucessores, pela conversão dos pecadores, pela restauração da liturgia, pela santificação dos sacerdotes, pelo triunfo do Reino de Maria! 

Em 07 de fevereiro de 1571, as forças da cristandade, reunidas pelo Papa São Pio V no golfo de Lepanto, derrotaram a esquadra muçulmana em muito maior poderio (que já tomara Constantinopla e a ilha de Creta e se encontrava às portas da Europa), levando à frente um estandarte do Santo Rosário, enquanto o mesmo era rezado em Roma e em vários lugares e paróquias, na intenção da vitória de Cristo. A estupenda e histórica batalha de Lepanto barrou a ascensão do Islã sobre a Europa cristã e deu origem à devoção de Nossa Senhora do Rosário, cuja festa é celebrada no dia 07 de outubro de cada ano.


Nas fontes brancas dos pátios do sol as águas escoam,
E o Sultão de Bizâncio sorri enquanto esboroam;
Há risos qual fontes na face por todos temida
Agitando a selva escura, sua barba escurecida,
Curvando a rubra lua crescente, crescente nos lábios bravios,
Pois o mar mais íntimo da terra treme com seus navios.
Às repúblicas brancas foram pelos cabos da Itália a desafiar,
Mosquearam o Adriático em torno ao Leão do Mar,
E o Papa abriu os braços ante a perda e a ansiedade,
E invocou sob a Cruz as espadas dos reis da Cristandade.

(Lepanto, G.K. Chesterton)

quinta-feira, 20 de julho de 2023

OS GRANDES DOCUMENTOS DA IGREJA (XXI)

Bula QUO PRIMUM TEMPORE 

 [14 de julho de 1570]

Papa São Pio V (1566 - 1572)

sobre a Santa Missa de sempre


1. Desde que fomos elevados ao ápice da Hierarquia Apostólica, de bom grado aplicamos nosso zelo e nossas forças e dirigimos todos os nossos pensamentos no sentido de conservar na sua pureza tudo o que diz respeito ao culto da Igreja; o que nos esforçamos por preparar e, com a ajuda de Deus, realizar com todo o cuidado possível.

2. Ora, entre outros decretos do Santo Concílio de Trento, cabia-nos estabelecer a edição e correção dos livros santos: Catecismo, Missal e Breviário.

3. Com a graça de Deus, já foi publicado o Catecismo, destinado à instrução do povo, e corrigido o Breviário, para que se tributem a Deus os devidos louvores. Outrossim, para que ao Breviário correspondesse o Missal, como é justo e conveniente (já que é soberanamente oportuno que, na Igreja de Deus, haja uma só maneira de salmodiar e um só rito para celebrar a Missa), parecia-nos necessário providenciar, o mais cedo possível, o restante desta tarefa, ou seja, a edição do Missal.

4. Para tanto, julgamos dever confiar este trabalho a uma comissão de homens eruditos. Estes começaram por cotejar cuidadosamente todos os textos com os antigos de nossa Biblioteca Vaticana e com outros, quer corrigidos, quer sem alteração, que foram requisitados de toda parte. Depois, tendo consultado os escritos dos antigos e de autores aprovados, que nos deixaram documentos relativos à organização destes mesmos ritos, eles restituíram o Missal propriamente dito à norma e ao rito dos Santos Padres.

5. Este Missal assim revisto e corrigido, nós, após madura reflexão, mandamos que seja impresso e publicado em Roma, a fim de que todos possam tirar os frutos desta disposição e do trabalho empreendido, de tal sorte que os padres saibam de que preces devem servir-se e quais os ritos, quais as cerimônias, que devem observar doravante na celebração das Missas.

6. E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por nós, em todas as Igrejas: nas Igrejas Patriarcais, Catedrais, Colegiais, Paroquiais, quer seculares quer regulares, de qualquer Ordem ou Mosteiro que seja, de homens ou de mulheres, inclusive os das Ordens Militares, igualmente nas Igrejas ou Capelas sem encargo de almas nas quais a Missa conventual deve, segundo o direito ou por costume, ser celebrada em voz alta com coro, ou em voz baixa, segundo o rito da Igreja Romana, ainda quando estas mesmas Igrejas, de qualquer modo isentas, estejam munidas de um indulto da Sé Apostólica, de costume, de um privilégio, até de um juramento, de uma confirmação apostólica ou de quaisquer outras espécies de faculdades. A não ser que, ou por uma instituição aprovada desde a origem pela Sé Apostólica ou então em virtude de um costume, a celebração destas Missas nessas mesmas Igrejas tenha um uso ininterrupto superior a 200 anos. A estas Igrejas nós, de maneira nenhuma, suprimimos nem a referida instituição, nem seu costume de celebrar a Missa; mas, se este Missal que acabamos de editar lhes agrada mais, com o consentimento do Bispo ou do Prelado, junto com o de todo Capítulo, concedemos-lhes a permissão, não obstante quaisquer disposições em contrário, de poder celebrar a Missa segundo este Missal.

7. Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por nossa presente Constituição, que será valida para sempre, nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao nosso presente Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem modificado. Ordenamos a todos e a cada um dos Patriarcas, Administradores das referidas Igrejas, bem como a todas as outras pessoas revestidas de alguma dignidade eclesiástica, mesmo Cardeais da Santa Igreja Romana, ou dotados de qualquer outro grau ou preeminência, e em nome da santa obediência, rigorosamente prescrevemos que todas as outras práticas, todos os outros ritos, sem exceção, de outros missais, por mais antigos que sejam, observados por costume até o presente, sejam por eles absolutamente abandonados para o futuro e totalmente rejeitados; cantem ou rezem a Missa segundo o rito, o modo e a norma por nós indicados no presente Missal, e na celebração da Missa, não tenha a audácia de acrescentar outras cerimônias nem de recitar outras orações senão as que estão contidas neste Missal.

8. Além disso, em virtude de nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura, e isto para sempre.

9. Da mesma forma, decretamos e declaramos que os Prelados, Administradores, Cônegos, Capelães e todos os outros Padres seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal, e a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a sua força.

10. Não obstante todas as decisões e costumes contrários anteriores, de qualquer espécie: Constituições e Ordenações Apostólicas, ou Constituições e Ordenações, tanto gerais como especiais, publicadas em Concílios Provinciais e Sinodais; não obstante também o uso das Igrejas acima enumeradas, ainda que autorizado por uma prescrição bastante longa e imemorial, mas que não remonte a mais de 200 anos.

11. Queremos e, pela mesma autoridade, decretamos que, depois da publicação de nossa presente Constituição e deste Missal, todos os padres sejam obrigados a cantar ou celebrar a Missa de acordo com ele: os que estão na Cúria Romana, após um mês; os que habitam aquém dos Alpes, dentro de três meses; e os que habitam além das montanhas, após seis meses ou assim que encontrem este Missal à venda.

12. E para que em todos os lugares da Terra este Missal seja conservado sem corrupção e isento de incorreções e erros, por nossa Autoridade Apostólica e em virtude das presentes, proibimos a todos os impressores domiciliados nos lugares submetidos, direta ou indiretamente, à nossa autoridade e à Santa Igreja Romana, sob pena de confiscação dos livros e de uma multa de 200 ducados de ouro, pagáveis à Câmara Apostólica, bem como aos outros domiciliados em qualquer outro lugar do mundo, sob pena de excomunhão ipso facto e de outras penas a nosso alvitre, se arroguem, por temerária audácia, o direito de imprimir, oferecer ou aceitar esta Missa, de qualquer maneira, sem nossa permissão, ou sem uma licença especial de um Comissário Apostólico por nós estabelecido, para estes casos, nos países interessados, e sem que antes, este Comissário ateste plenamente que confrontou com o Missal impresso em Roma, segundo a impressão típica, um exemplar do Missal destinado ao mesmo impressor, que lhe sirva de modelo para imprimir os outros, e que este concorda com aquele e dele não difere absolutamente em nada.

13. E como seria difícil transmitir a presente Bula a todos os lugares do mundo cristão e levá-la imediatamente ao conhecimento de todos, ordenamos que, segundo o costume, ela seja publicada e afixada às portas da Basílica do Príncipe dos Apóstolos e da Chancelaria Apostólica, bem como no Campo de Flora. Ordenamos igualmente que aos exemplares mesmo impressos desta Bula, subscritos pela mão de um tabelião público e munidos, outrossim, do selo de uma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, seja dada, no mundo inteiro, a mesma fé inquebrantável que se daria à presente, caso mostrada ou exibida.

14. Assim, portanto, que a ninguém absolutamente seja permitido infringir ou, por temerária audácia, se opor à presente disposição de nossa permissão, estatuto, ordenação, mandato, preceito, concessão, indulto, declaração, vontade, decreto e proibição. Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

SERMÕES DO CURA D'ARS (XI)

 SOBRE A NOSSA ALMA

'Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela' (Lc 19,41)

Quando Jesus estava prestes a entrar na cidade de Jerusalém, chorou sobre ela, dizendo: 'Se ao menos tivesses compreendido a graça que te trago, e dela tivesses tirado proveito, ainda terias obtido o perdão; mas não, a tua cegueira foi tão longe que todas essas graças serviram apenas para te endurecer e aumentar a tua desgraça; mataste os profetas e os filhos de Deus, e agora chegarás ao ápice dos teus crimes, matando o próprio Filho de Deus'. Foi isso, meus caros amigos, que fez com que Jesus derramasse copiosas lágrimas quando estava prestes a entrar na cidade. Na calamidade assim anunciada, Ele previu e deplorou a perda de tantas almas, muito mais culpadas, porque favorecidas com muito mais graças, do que a de outros judeus. O que o comoveu profundamente foi o fato de que, apesar dos seus méritos e da sua amarga paixão, que teriam sido suficientes para redimir mais de mil mundos, a maior parte da humanidade se perderia. De fato, mesmo entre nós, Ele percebeu aqueles que desprezam as suas graças e as utilizam apenas para a sua própria destruição. Quem não tremeria, ao pensar seriamente que pode perder a sua alma? Estaremos nós, porventura, entre o número desses infelizes? Estaria Jesus Cristo a referir-se a nós quando, em lágrimas, disse: 'Se a minha morte e o meu sangue não servirem para a vossa salvação, despertarão a ira eterna de meu Pai, que cairá sobre vós por toda a eternidade!': Deus perdido, uma alma condenada, o Céu rejeitado...

É concebível, meus amigos, que, apesar de tudo o que Jesus fez pela salvação da nossa alma, possamos ser tão indiferentes? Com o propósito de expulsar esta indiferença dentre nós, deixem-me tentar mostrar-vos: (i) o que é uma alma; (ii) o que custa nossa alma a Jesus Cristo; (iii) o que o demônio faz para perder a nossa alma.

I

Meus caros amigos, se apreciássemos realmente o valor da nossa alma, com que cuidado e zelo não a tentaríamos salvar! Mas nunca compreendemos realmente o seu valor. Mostrar o grande valor de uma alma é impossível ao homem mortal. Só Deus conhece as belezas e perfeições com que adornou uma alma. Deixai-me dizer-vos que Deus criou o céu e a terra, e tudo o que eles contêm, e todas estas maravilhas foram criadas para o benefício da alma. O nosso catecismo dá-nos uma indicação da magnificência da alma. Se perguntardes a uma criança: 'O que é que se entende quando se diz que o homem é uma criatura cuja alma é feita à imagem e semelhança de Deus?', ela responderá: 'Que a alma, como Deus, possui as faculdades de raciocinar, de amar e de agir por sua livre vontade'. Este, meus amigos, é o maior testemunho das qualidades com que Deus adornou a alma, que foi criada pelas três pessoas da Santíssima Trindade à sua própria semelhança. Um espírito semelhante a Deus, capaz de reconhecer, para toda a eternidade, as sublimidades e as perfeições de Deus; uma alma que é objeto do amor das três pessoas divinas, uma alma capaz de adorar Deus em todas as suas obras; uma alma cujo destino será cantar os louvores do Todo-Poderoso; uma alma que tem liberdade nas suas ações, de modo a poder dar o seu afeto e o seu amor onde quiser. Ela é livre para amar a Deus ou não amá-lo, mas quando tem a sorte de se voltar para Deus em amor, então o próprio Deus parece se comprazer em fazer a vontade de tal alma. Podemos mesmo afirmar que, desde a criação do mundo, nunca houve nada recusado a uma alma se ela se entregasse inteiramente ao amor de Deus. Deus incutiu em nossas almas desejos que não encontram sua gratificação neste mundo. Dai a uma alma todas as alegrias e tesouros deste mundo, e ela não ficará satisfeita, pela simples razão de que Deus criou a alma para si. Só Ele é capaz de satisfazer todos os seus desejos.

Sim, meus amigos, a nossa alma é capaz de amar a Deus, e só o amor de Deus constitui a sua felicidade. Se o amamos, todos os bens e prazeres que podemos desejar na terra ou no céu são nossos. Além disso, somos capazes de servir a Deus, isto é, de o glorificar nas nossas obras e ações. Não há nada, até a mais insignificante ação, pela qual não seja possível glorificarmos o Senhor, desde que a façamos por amor a Ele. As nossas ocupações na Terra são diferentes das ocupações dos anjos no Céu apenas na medida em que ainda não podemos contemplar o Senhor com os nossos olhos humanos, mas apenas com os olhos da fé. Nossa alma é tão nobre, adornada com tão belas qualidades, que Deus confiou cada alma aos cuidados de um príncipe de sua casa celestial, a um anjo da guarda. A nossa alma é tão preciosa aos olhos de Deus que, na sua sabedoria, Ele não poderia encontrar alimento mais digno para ela do que o seu próprio corpo divino, do qual a alma pode participar como o seu pão cotidiano, se assim o desejar. Santo Ambrósio diz que Deus estima tanto a nossa alma, que, se houvesse uma só alma no mundo, não teria considerado demasiado grande sacrifício morrer por essa alma. Disse a Santa Teresa: 'Tu és tão agradável a mim que, se não houvesse um céu, eu teria criado um só para ti'.

'Ó corpo, como és feliz!' - exclama São Bernardo - 'por abrigar uma alma adornada com tão belas graças!' A nossa alma é algo tão grande e tão precioso, que só Deus é maior do que ela. Um dia, Deus mostrou uma alma a Santa Catarina. Achou-a tão bela que exclamou: 'Oh, meu Senhor, se a minha fé não me ensinasse que só há um Deus, eu acreditaria que esta alma é outro Deus. Agora compreendo que tenhas morrido por uma alma tão bela!' A nossa alma, meus caros amigos, será tão imortal como o próprio Deus. Podemos, pois, admirar-nos que Deus, conhecendo tão bem o valor de uma alma, chore lágrimas tão amargas pela perda de uma alma assim?

II

Agora, consideremos quanto cuidado devemos empregar para preservar em nossa alma suas grandes belezas. Ó, meus amigos, Deus está tão triste com a perda de uma alma, que até chorou por ela. Já nos seus profetas, Ele chora e lamenta a perda de almas. Podemos ver isso claramente na pessoa do profeta Amós. O profeta diz: 'Quando me retirei para a solidão e meditei no número terrível de crimes que o próprio povo de Deus cometia todos os dias, e quando vi que a ira de Deus estava prestes a descer sobre eles, e que o abismo do inferno estava prestes a abrir-se e a devorá-los, então reuni-os e disse-lhes, com lágrimas amargas: Ó, meus filhos, sabeis qual é a minha ocupação, de dia e de noite? É lembrar-me, na amargura do meu coração, de todos os vossos pecados. Se adormeço de cansaço, desperto imediatamente e grito, com os olhos banhados em lágrimas e o coração dilacerado pela dor: Ó, meu Deus, meu Deus! Há ainda alguma alma em Israel que não Te ofenda? E então, com a mente cheia deste triste e deplorável estado de coisas, falo com o Senhor e, suspirando amargamente na sua presença, digo: Ó, meu Deus, que devo fazer para obter o perdão para eles? E agora ouve o que o Senhor me disse: Profeta, se queres obter o perdão para este povo ingrato, vai às suas ruas e lugares públicos e deixa-os ressoar com as tuas lamentações; vai às lojas dos comerciantes e às oficinas; vai aos tribunais; vai às casas dos ricos e às cabanas dos pobres, diz a todos, onde quer que os encontres dentro ou fora das portas da cidade: Ai de vós, ai de vós, que pecastes contra o Senhor'.

O profeta Jeremias, caros irmãos, vai ainda mais longe. Para nos mostrar como a perda de uma alma é dolorosa para Deus, ele exclama num momento em que foi inspirado pelo espírito de Deus: 'Ah, meu Deus, que será de mim? Confiaste aos meus cuidados um povo rebelde, uma nação ingrata, que não vos ouve nem se sujeita à vossa tua orientação. Que hei de fazer? Que resolução hei de tomar?' E o Senhor respondeu-me: 'Para lhes mostrar como me entristece a perda das suas almas, toma o teu cabelo, arranca-o da tua cabeça e atira-o para longe de ti, porque os pecados deste povo obrigaram-me a abandoná-lo, e a minha cólera acendeu-se no mais íntimo das suas almas'. Quando a ira de Deus se acende por causa do pecado, essa é a maior doença do coração. 'Mas, ó Senhor' - disse o profeta - 'que farei eu para vos induzir a desviar do vosso povo o vosso olhar irado? 'Toma um saco como vestimenta' - disse-me o Senhor - 'espalha cinzas sobre a tua cabeça e chora sem cessar e em tal abundância que as tuas lágrimas cubram o teu rosto, e chora tão amargamente que os pecados deles sejam afogados nas tuas lágrimas'.

Percebem, queridos irmãos, como é dolorosa a perda das vossas almas para Deus? Vedes como somos miseráveis quando destruímos uma alma que Deus amou tanto que Ele, quando ainda não tinha olhos para chorar, pediu emprestados os olhos do profeta para derramar lágrimas amargas pela sua perda. O Senhor diz pelo seu profeta Joel: 'Chorai a perda das almas, como uma jovem esposa que acaba de perder o marido, que era a sua única consolação, e que está exposta agora a toda a espécie de desgraças'. Se considerarmos então o que custou a Cristo salvar as nossas almas; se considerarmos toda a sua vida, desde o seu humilde nascimento até o seu último suspiro no Calvário, todo este sofrimento de um Homem-Deus, infinito em valor, dir-nos-á o valor da nossa alma, porque tudo o que Ele fez foi redimir essa alma, foi pagar o preço pelas nossas almas.

III

Santo Agostinho nos pergunta: 'Quereis saber quanto vale a vossa alma? Ide perguntar ao diabo e ele vos dirá. O demônio anseia tanto pela nossa alma que, mesmo que vivêssemos quatro mil anos, se depois desses quatro mil anos de tentação nos conseguisse conquistar, consideraria o seu trabalho bem feito'. Este santo homem, que sofreu as tentações do demônio de uma forma tão especial, diz-nos que a nossa vida é uma tentação contínua. O próprio demônio disse um dia, pela boca de um possesso, que enquanto houvesse um homem na terra, ele estaria lá para o tentar. Porque, dizia ele, não posso suportar que os cristãos, mesmo depois de tantos pecados, possam ainda esperar o céu que perdi de uma só vez, sem nunca mais o poder recuperar.

Mas, infelizmente, sim, podemos experimentar em nós mesmos que, em quase todas as nossas ações, somos tentados, seja pela soberba, seja pela vaidade, seja por pensar na opinião que os outros farão de nós, seja por conceber a inveja, o ódio, o desejo de vingança... Outras vezes, o demônio vem até nós para nos apresentar as imagens mais imundas e impuras. Vede como, quando rezamos, ele agita o nosso espírito, transportando-o de uma parte para outra. E, além disso, desde Adão até nós, não encontrareis um santo que não tenha sido tentado de uma forma ou de outra; e os maiores santos foram precisamente aqueles que experimentaram as maiores tentações. O próprio Jesus Cristo quis ser tentado, para nos dar a entender que também nós seríamos tentados: é necessário, portanto, que tenhamos consciência disso. Se me perguntardes qual é a causa das nossas tentações, responder-vos-ei que é a beleza e o valor da nossa alma, que o demônio ama e deseja tanto que se contentaria em sofrer dois infernos, se necessário, para a poder arrastar com ele para partilhar as suas penas.

Devemos, pois, estar sempre vigilantes, com medo de que, no momento menos esperado, o demônio nos possa enganar. Para repelir as tentações, diz-nos Santo António, devemos usar as mesmas armas do demônio: assim, quando ele nos tenta com a soberba, devemos logo humilhar-nos e rebaixar-nos diante de Deus; se nos quer tentar contra a santa virtude da pureza, devemos esforçar-nos por mortificar o nosso corpo e os nossos sentidos, vigiando-nos mais do que nunca. Se nos quiser tentar com aborrecimentos na hora da oração, devemos redobrar as nossas orações e prestar mais atenção; e quanto mais o demônio nos induzir a abandonar as nossas orações habituais, tanto mais perseveramos em rezá-las. 

Se vemos então o que o demônio faz para destruir a nossa alma, então a nossa alma deve ser muito valiosa, se ele usa todas as suas forças para a destruir. Não vamos, no entanto, debruçar-nos sobre este triste quadro. Basta saber que ele é o nosso maior inimigo, que devemos lutar contra ele e que, com a graça de Cristo, podemos vencê-lo. Como são verdadeiras, portanto, as palavras da Escritura: 'Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?' Ó amados irmãos, o conhecimento do valor da vossa alma deve levar-vos a guardá-la como o vosso maior tesouro. Não permitais que o pecado a manche ou destrua. Como sabeis que o pecado causará a perda da vossa bela alma, guardai-a, e que esta seja a vossa resolução nesta manhã, não só para evitar todo o pecado mortal, mas também todo o pecado venial voluntário, de modo a salvar a vossa alma para o Céu, e permitir que ela alcance o seu destino, o seu lar, e a sua recompensa, a visão eterna da grande glória de Deus. Amém.

terça-feira, 18 de julho de 2023

DECÁLOGO SOBRE A DESESPERAÇÃO

1. Nada é mais execrável que o desespero. Aquele que nele cai perde o fruto de todos os seus trabalhos e, o que é mais terrível, perde também o valor de defender-se e de combater em defesa da fé (Venerável Beda)

2. Cometer um pecado é matar a alma; porém, desesperar é descer ao Inferno (Santo Agostinho)

3. A esperança anima porque é o manancial da paciência e o princípio da vitória; dilata e fortifica a alma, manifestando-lhe o prêmio e o triunfo da virtude. Porém, a desesperação tonteia e empequenece o coração, extingue o seu vigor, e aumenta as tentações e os combates (São Tomás de Aquino)

4. Aquele que se enforca não pode respirar; tampouco aquele que se entrega nos braços da desesperação pode receber o sopro vivificador do Espírito Santo (Santo Agostinho).

5. Lançai para longe de vós a desesperação, e não aflijais ao Espírito, o qual em vosso coração habita. Se vos desesperais, Ele retirar-se-á porque o Espírito de Deus não suporta o desespero. O desespero é o mais danoso dos ventos que ressecam a alma. Uma oração feita por meio do desespero não sobe ao trono de Deus (Cornélio à Lápide)

6. Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo; ele é minha salvação e meu Deus (Sl 41,6-7)

7. Pelo desesperoo homem deixa de esperar de Deus a sua salvação pessoal, os socorros para a atingir, ou o perdão dos seus pecados. Opõe-se à bondade de Deus, à sua justiça (porque o Senhor é fiel às suas promessas) e à sua misericórdia (Catecismo da Igreja Católica, 2091) 

8. Entre o último suspiro e a eternidade, há um abismo de misericórdia (São Francisco de Sales)

9. Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda, a paciência tudo alcança; quem a Deus tem, nada lhe falta: só Deus basta (Santa Teresa de Ávila)

10. Onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz (Oração de São Francisco)

segunda-feira, 17 de julho de 2023

ESCUTAI ESTAS PALAVRAS!

Escutai estas palavras! Foram escritas para os nossos tempos, foram escritas para você e eu, criados e escolhidos como criaturas de Deus para viver durante estes tempos terríveis!

'O maior sinal da ira de Deus sobre um povo e a mais terrível punição que sobre ele pode descarregar neste mundo é permitir que, em castigo dos seus crimes, venha a cair nas mãos de pastores que mais o são de nome do que de fato, que mais exercitam contra ele a crueldade de lobos famintos que a caridade de solícitos pastores, e que, em lugar de o alimentar cuidadosamente, o dilacera e devora com crueldade; que, em vez de levar o povo a Deus, o vende a Satanás; que em lugar de o encaminhar para o Céu, o arrasta com eles para o inferno; e, em vez de serem o sal da terra e a luz do mundo, são o seu veneno e as suas trevas'.

 (São João Eudes)

Para que olhar em volta e buscar escudos ou consolos humanos? Para tão graves e tremendos pecados da humanidade, como buscar solução no homem? Na política, na economia, na cultura, nas artes, nos exércitos, nas instituições, nas ordens e nas universidades: tempos de homens medíocres, covardes, amestrados, homens sem Deus. Tempos tremendos de muitíssimos maus sacerdotes, maus bispos, maus clérigos no vértice da hierarquia da Igreja, produzindo maus frutos, destilando veneno, corrompendo a santa Vinha do Senhor. 

Diante o triunfo da iniquidade na terra, na terra não há remédio ou solução possível. Não há solução humana. A ira divina nos impõe os castigos que merecemos com relação ao clero. A Igreja e a legião dos justos padecem do mesmo Calvário, e vão gemer e compartilhar das dores e sofrimentos da Paixão do Senhor. Se não há a quem recorrer, para onde fugir, onde se esconder? Nas cavernas, nos altos dos montes, em lugar ermo e perdido, no fundo do mar?

Não, não há lugar possível para onde fugir ou onde esconder. O nosso lugar é onde estamos, onde Deus nos colocou nestes tempos. Um lugar que deve ser moldado pelo recolhimento e pela oração, junto com uma legião de outros homens como nós e com os bons sacerdotes, como juntos estavam os Apóstolos, as santas mulheres e a Virgem Maria. Um lugar forjado aos pés da Cruz. Com o terço na mão e a certeza absoluta do glorioso triunfo do imaculado coração de Maria, quando tudo parecer irremediavelmente perdido.

domingo, 16 de julho de 2023

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO

   


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.